Wilson Ferreira
Wilson Roberto Vieira Ferreira - Mestre em Comunição Contemporânea (Análises em Imagem e Som) pela Universidade Anhembi Morumbi.Doutorando em Meios e Processos Audiovisuais na ECA/USP. Jornalista e professor na Universidade Anhembi Morumbi nas áreas de Estudos da Semiótica e Comunicação Visual. Pesquisador e escritor, autor de verbetes no "Dicionário de Comunicação" pela editora Paulus, e dos livros "O Caos Semiótico" e "Cinegnose" pela Editora Livrus.
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“Coletes Amarelos” na França: a revolução não será televisionada!

Por Wilson Ferreira

“Coletes Amarelos” na França: a revolução não será televisionada!

Até aqui a grande mídia passa batida para “o déjà vu” dos protestos dos “coletes amarelos” na França: em 2013 as chamadas “Jornadas de Junho” no Brasil foram narradas da mesma maneira como hoje noticiam os protestos franceses – “espontâneos”, “apartidários” e que “começam de forma pacífica, mas que acabam tendo atos de vandalismo…”. Também como em 2013, surgem analistas que veem “o novo” na Política ou “quebra do monopólio da narrativa midiática”. Aqui no Brasil vimos no que deram as Revoluções Populares Híbridas. Na Europa estão sincronicamente conectadas com o tour de Steve Bannon (ex-assessor da campanha de Trump) pelo continente para unificar a direita num “movimento internacional de nacionalistas”. Os “coletes amarelos” são icônicos e as câmeras os amam, saturando de significados suas fotografias e vídeos. A revolução não será televisionada:  a mídia não está relatando o que as pessoas fazem; relatam apenas o que as pessoas fazem para obter a atenção da mídia para o Capitalismo dar um novo salto – o populismo de direita.

“O protesto dos coletes amarelos, que surgiu de maneira espontânea nas redes sociais contra o alto preço dos combustíveis, começou de forma pacífica, mas acabou tendo atos de vandalismo e violência…”. Variações dessa frase estão presentes em matérias jornalísticas na TV, portais da Internet e jornais, nos relatos sobre as manifestações dos “coletes amarelos” na França – movimento de protesto contra o imposto sobre o combustível, taxa ecológica defendida pelo presidente francês Emmanuel Macron.

 

Caro leitor, esse excerto narrativo, recorrente na grande mídia ao noticiar a atual onda de protestos na França, não lembra nada? Será que o leitor não tem uma estranha sensação de déjà vu diante das fotos dos chamados coletes amarelos, em poses black bloc, mascarados e desafiadores?  

São imagens e relatos noticiosos que imediatamente nos fazem lembrar as “jornadas de junho” de 2013 no Brasil. Claro, o cenário é bem diferente: das ruas e avenidas brasileiras para as emblemáticas ruas de Paris.

“Flash mobs” ou Guerra Híbrida?

Um movimento com marca icônica (“coletes amarelos”), surgido de forma “espontânea”, convocado nas redes sociais como fossem flash mobs, supostamente apartidário, pacífico. Mas que, repentinamente, saltam não se sabe de onde black blocs (dessa vez com o doce sabor retro dos protestos estudantis de maio de 1968 na França) que quebram, picham, incendeiam, apanham da polícia e fazem poses desafiadoras para a primeira câmera (celulares não valem!) de um cinegrafista de grande mídia mais próximo. 

Brasil, 2013; França, 2018 – o mesmo script midiático

Os protestos que explodem nesse momento na França têm todos os elementos daquilo que é denominado Revolução Popular Híbrida (RPH), parte da estratégia da Guerra Híbrida tal como definida pelo pesquisador Andre Korybko, Conselheiro do Institute for Strategic Studies e jornalista da Sputnik News:

As Guerras Híbridas são conflitos identitários provocados por agentes externos, que exploram diferenças históricas, étnicas, religiosas, socioeconômicas e geográficas em países de importância geopolítica por meio da transição gradual das revoluções coloridas para a guerra não convencional, a fim de desestabilizar, controlar ou influenciar projetos de infraestrutura multipolares por meio de enfraquecimento do regime, troca do regime ou reorganização do regime ( “Agentes externos provocaram uma guerra híbrida no Brasil, diz escritor”, Brasil de Fatoclique aqui).

Para ele, a dinâmica das RPH é provocar um “caos administrado” para provocar grandes movimentos de protesto que podem então ser cooptados e dirigidos para determinados fins políticos.

Até aqui, de um lado a grande mídia e, do outro, a mídia alternativa, não conseguiram ou não se interessaram em entender como os “coletes amarelos” se articulam com a geopolítica do Departamento de Estado norte-americano. Inclusive, muitas análises mais apressadas começam a incorrer nas mesmas avaliações ingênuas idênticas a que cercaram as “jornadas de Junho no Brasil: uma “rebelião peculiar”, “movimento espontâneo”, “rebelião contra Macron que favorece apenas os mais ricos” e assim por diante sempre dentro do raciocínio maniqueísta – a luta do Bem contra o Mal.

Assim como em 2013, começam as avaliações apressadas de que se trata da “insatisfação da população periférica” cujos partidos, sindicatos ou canais institucionais ou de representação política não conseguiriam dar expressão. E toca a se insinuar que há por trás de tudo o chamado “novo” na Política.

A verdade é que em todas essas manifestações há um, por assim dizer, doce sabor de “anarco-capitalismo”: movimentos “espontâneos”, sem lideranças da carcomida Política e sindicatos, sempre contra impostos e o Estado que insiste em incomodar a liberdades das ambições individuais.

E a grande mídia parece estar à espera desses protestos, sempre com um script pronto.

 

Protestos iconoclatas

Olhando o conjunto dos vídeos e fotografias dos protestos franceses, é inegável que em todas elas há um quê de fotogenia e telegenia – parecem escolhidas à dedo, saturadas de significados (o black bloc cuja máscara é própria a bandeira francesa, o manifestante parado solitário em frente ao Arco do Triunfo pichado, mulheres se abraçando desesperadas – uma delas com uma pequena bandeira nacional tapando a boca – diante do avanço da polícia de choque etc.), a impressão de violência coreografada lembrando as investidas da gangue de Alex no filme Laranja Mecânica, poses desafiadoras de manifestantes tendo ao fundo chamas e grossos rolos de fumaça negra e muitos personagens em contra luz, perfis humanos colocado em frente a incêndios.

Como sempre, toda RPH tem que ser icônica: Revolução Verde (Irã), Revolução Laranja (Ucrânia), Primavera Árabe (Egito, Tunísia, Síria, Líbia), Umbrella Revolution (Hong Kong). E, claro, transformar-se em verbetes da Wikipedia: “Yellow Vests Movement” ou “Gilets Jaune Protests”, “O Movimento dos Coletes Amarelos” etc. Uma autêntica e profissional estratégia de branding.

E ainda análises, como a da socióloga Angelina Peralva, veem nesses movimentos um fenômeno de “quebra do monopólio da mídia institucional sobre as narrativas política…” (clique aqui). Pelo contrário: certamente a revolução jamais será televisionada! Uma verdadeira revolução não é fotogênica ou telegênica – será irruptiva o suficiente para câmeras e cinegrafistas fugirem sob as ordens de uma grande mídia em pânico.

Muito além dos ícones

É sincrônico que Steve Bannon, ex-assessor da campanha vitoriosa do presidente Trump e atual líder de um projeto para “unificar a direita” em toda Europa, estivesse na França no primeiro semestre, quando foi o astro da abertura do congresso do partido francês de direita Frente Nacional. Lá, Bannon defendeu um “movimento internacional de nacionalistas” e descreveu o “Estado-Nação como uma joia que deve ser polida, desejada e cuidada”. E completou: “estamos cheios de globalistas!”.

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Wilson Ferreira

Wilson Roberto Vieira Ferreira - Mestre em Comunição Contemporânea (Análises em Imagem e Som) pela Universidade Anhembi Morumbi.Doutorando em Meios e Processos Audiovisuais na ECA/USP. Jornalista e professor na Universidade Anhembi Morumbi nas áreas de Estudos da Semiótica e Comunicação Visual. Pesquisador e escritor, autor de verbetes no "Dicionário de Comunicação" pela editora Paulus, e dos livros "O Caos Semiótico" e "Cinegnose" pela Editora Livrus.

26 Comentários

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  1. Há quase um mês vi uma

    Há quase um mês vi uma entrevista de Leonardo Attuch com Pepe Escobar, o jornalista independente, longe há décadas do Brasil para se dedicar aos movimentos geopolíticos sobretudo da Eurásia. Mas Pepe Esccobar, sempre atento a tudo que acontece no mundo, sabe do que acontece dentro e fora dos Estados Unidos e aqui no Brasil também. No dia dessa entrevista, ele descreveu Stevie Bannon como antes não vira. E, na ocasião, dissera que o maldito se encontrava na Europa – ele, Pepe estava em Paris – a convite dos governos da Espanha e da Itália, para implementar suas ideias de extrema direita nesses países, usando os métodos aplicados nos EUA e aqui, com Trump e Bolsonaro já vitoriosos.

    Assim que tomei conhecimento desses movimentos na Frnaça, além de poder comparar com os das jornadas de 2013 no Brasil, lembrie-me das previsões de Pepe Escobar. E parece não haver dúvida de que essa guerra híbrida tomou conta do Ociendente. 

     

  2. Construir o futuro

    A análise me parece parcialmente correta do ponto de vista teórico mas falha ao desconsiderar as evidentes diferenças tanto entre Brasil e França como países e culturas, quanto aos aspectos sociais, políticos e econômicos  específicos envolvidos.

    1 – A França, ao contrário do Brasil em 2013, é um  país acostumado a manifestações de rua e protestos violentos, portanto, seu povo não é tão sujeito à manipulação quanto o nosso, é melhor informado, mais habituado ao debate. Não será tão fácil para a extrema-direita cooptar a manifestação como foi nos outros lugares mencionados, até porque os eventos anteriores podem funcionar como uma vacina. 

    2 – A manifestação na França me parece uma mistura de 2013 e a greve dos caminhoneiros de 2018, pela forma de apresentação sem liderança admitida (a liderança é “horizontalizada” e rotativa, descentralizada), com bloqueios da movimentação e circulação, e por ter apoio popular pelo reconhecimento de que suas demandas por redução de preços de combustíveis são do interesse de uma população maior do que a que tem ido às ruas. Mas há diferenças fundamentais ignoradas por analistas que preferem o caminho fácil da comparação automática com o que a história já deu sua resposta, os profetas do passado: a questão tributária na Europa e na França é diferente do Brasil e não foi objeto das jornadas de junho aqui – elas foram muito diferentes nos lugares onde ocorreram, na capital de SP começaram com exigência de passe livre, e foram anabolizadas por uma classe média-alta incomodada com os gastos com grandes eventos esportivos, e insatisfeitos avulsos que acorreram a elas para se enturmar. Não houve uma reclamação clara e permanente contra o sistema tributário brasileiro, porque os maiores prejudicados, os pobres, não participaram dela. 

    A questão ambiental, que é a justificativa para a taxa do combustível que foi o primeiro mobilizador para as manifestações francesas, teria potencial para o que pretende a extrema-direita, contrapor  justiça social e ambiental, mas essa armadilha já foi desfeita porque os inteligentes franceses entendem e alegam que o problema não é a justificativa para o aumento – a adesão francesa ao Acordo de Paris – mas que seus custos sejam indevidamente cobrados dos mais pobres e não das corporações e dos mais ricos – não lembro de ter visto alegação semelhante aqui sobre injustiça social e tributária, raras manifestações no Brasil têm plataformas claras e definidas em geral e sobre isso em particular, o que permitiu à imprensa porta-voz dos ricos mudar de opinião e acolher as manifestações quando dirigidas apenas contra o governo federal e não contra seus privilégios. À diferença do que houve aqui, em todo o mundo e principalmente na França as manifestações estão sendo discutidas com desconfiança da legitimidade do tipo de organização (se são artificiais, a serviço de quais reais interesses, se são irresponsáveis ou representativas de demandas justas ignoradas pelo governo), sobre o que significam, quem são os manifestantes, e mais importante, discutindo as demandas apresentadas de maneira isenta em comparação com o panfletismo que substituiu o jornalismo brasileiro, tradicional ou alternativo.

    3 – Sobre Bannon, é óbvio que ele pode estar envolvido no levante, mas não necessariamente como o líder, pode apenas, tendo tomado conhecimento dela, infiltrado gente de sua confiança e preparada para se passar por manifestante, de modo a que nem o próprio movimento saiba ou possa reagir. E é óbvio que ele vai, como fez aqui e isso é mais perigoso do que estar pessoal e diretamente por trás das manifestações, cooptá-las de modo a que pareça tudo uma consequência natural: o povo, com razões para estar insatisfeito, “decidir”, ou ser dirigido a pensar que decidiu,  que a extrema-direita atende aos seus anseios de mudança. Foi o que houve aqui, as jornadas de junho não foram iniciadas pela extrema-direita, até onde se conhece do movimento, mas sua desorganização e imprevidência abriram as portas para que, não suas demandas mas sua insatisfação generalizada fosse cooptada e canalizada por seus verdadeiros oponentes, ou seja, houve um tipo de ingenuidade e de irresponsabilidade que não parece encontrar terreno fértil na França. Acho que mais importante que “disputar” as manifestações em ato, enquanto se realizam e nas ruas, e o que os partidos de esquerda continuam falhando em fazer, é disputar os projetos e soluções para as demandas que elas apresentam, o que a extrema-direita e direita nunca fazem, espertamente, preferindo canibalizar o motor passional e reativo que as move e sustenta, que parece ser de algum modo também o interesse de alguns partidos e sindicatos. Não seria tarefa de esquerdas e sindicatos, cuja falha original justifica sua rejeição por manifestantes e população em geral, apresentar propostas, projetos, caminhos, alternativas factíveis e confiáveis, e não apenas “jus espernear”? 

    4 – Outra diferença, o povo brasileiro não sabe o que são esquerda e direita politicamente, e até este ano sequer reconhecia – a Falha de SP ainda não reconhece – que temos extrema-direita, já na França a extrema-direita tem partido e identidade conhecidos pelo povo há algum tempo, então o potencial para exploração lá é conhecido pela esquerda, pelos meios de comunicação e pela população e pode ser reduzido ou dar mais trabalho para transformar uma pauta de aumento de salário mínimo e recuperação do imposto sobre fortuna (ISF) que Macron aboliu no ano passado (duas demandas que aqui nunca foram objeto de manifestação nem em rede social, rs), repentinamente, em pauta da extrema-direita. 

    5 – As pesquisas de opinião mostram que a população é majoritariamente a favor das manifestações e das pautas apresentadas para justificá-las, mas contrária ao uso de meios violentos: no último fim de semana a violência estava com os manifestantes, neste a violência é obra da polícia, que já foi truculenta com os estudantes outro dia; ou seja, existe uma tensão positiva entre o apoio popular condicionado à não violência e o aparente interesse dos manifestantes em organizar as manifestações de modo não violento e mantê-las por mais tempo (alguns já falam em acampar até o final do ano). Quanto mais exposição, maior a possibilidade de serem conhecidos e menor a chance de exploração oportunista de sua repercussão, ou que seja feita da maneira como foi visto nos eventos mencionados.  

    6 – Não são apenas os gilet jaune que estão tomando as ruas da França, há protestos de estudantes e de ambientalistas sobre a mudança climática. Ou seja, a questão que pode ser cooptada pela extrema-direita de explorar uma falsa oposição entre justiça social e ambiental, como se mutuamente excludentes, tem tudo para promover o mais intenso e interessante debate de que precisamos: a mudança climática é um assunto que deve interessar a todos que pretendam viver neste planeta e comunga, de maneira ainda despercebida por boa parte das pessoas e quase totalidade no Brasil, do mesmo interesse que os movimentos por direitos e pautas econômicas, a transformação estrutural para que a maioria tenha condições dignas de vida, ou seja, o inimigo comum tanto de ambientalistas quanto de trabalhadores é o capitalismo e sua hiperexploração de todas as formas de vida (naturais e sociais, da força de trabalho da Natureza e de sua espécie dominante, o ser humano). E este debate já é feito na França na TV, em alto nível, de maneira acessível e sem o frisson apolitizado que por aqui se vê. 

    7 – A discussão e os movimentos na França serão importantes para o desenrolar da revolução civil mundial que está surgindo, tendo a questão ambiental e particularmente climática como pano de fundo que vai tomar a cena central se tiverem o mérito de ligar as duas pontas que interessa à extrema-direita manter não só desconectadas como em oposição violenta, quais sejam, a luta por justiça ambiental e social como parte equitativa e simultânea e de imbricação obrigatória, da transição mundial que será inevitável, para o bem ou para o mal. O mundo chegou ao seu limite, social e ambientalmente. E essa consciência deve ser discutida sem o medo de que, porque há abutres rondando, todas as manifestações de descontentamento necessariamente são conspiratórias e ilegítimas, pois essa atitude apenas afasta os descontentes mais ingênuos  para os braços de quem finge  representá-los, a extrema-direita ou direita conservadora. A esquerda precisa reconhecer que tem falhado em propor a revolução e as transformações necessárias para que ela seja possível. É fácil reclamar passivamente, e é por esta atitude que tem sido moleza para a direita e extrema-direita ocuparem o espaço deixado por negligência e inapetência pela esquerda, e a maior prova é o quanto as esquerdas tradicionais demoram em se posicionar sobre a questão ambiental e da mudança climática, que não são exclusivamente preocupação de cientistas ou ativistas pois demandam transformações radicais nas formas de organização da vida social, que deveriam ser seu objeto de interesse e ação. Não me espantará que a extrema-direita brasileira tenha em breve campanhas de desinformação massivas por aplicativo para dizer que “querem impedir você de tomar banho ou andar de carro, querem atacar os pobres, são contra o povo, querem salvar uma baleia mas não se importam com você, pobre de direita” – como já vi gente que se diz intelectual dizer, ou na música ingênua e falaciosa “troque seu cachorro por uma criança pobre”), enquanto a esquerda será pega de calça curta afogada em lama sem saber o que fazer. Será por que a esquerda brasileira e mundial é mesmo caviar, é contra o capitalismo dos outros mas não verdadeiramente socialista, e capitalista ela própria? 

    8 – Sobre a recusa a vinculações partidárias e sindicais, acho que precisamos avançar nessa desconfiança e pensar que é legítimo não quererem ser “vampirizados” por partidos e sindicatos que falham em cumprir seu próprio papel, e podem parecer a alguns apenas querer surfar na energia de contestação alheia. Pois bem, amadureci o que pensava em 2013 e acho que a esquerda organizada, partidos políticos e sindicatos devem parar de reclamar, com razão ou não, de que são rejeitados por manifestações pluri ou monotemáticas e pensar em eles próprios voltarem a ser representativos da vontade popular, se desburocratizarem, encontrarem seu próprio caminho de apontar os problemas (que é basicamente o que as manifestações fazem) e seu projeto de solução (que as esquerdam ou não têm ou falham em comunicar ao povo e à sociedade em geral). Assim como o exército de Bannon migrou do Facebook, muito manjado, para o Whatsapp nas eleições no Brasil, a extrema-direita não poderá por muito tempo reeditar sua farsa de cooptação de movimentos de rua, e quando elas ficarem desgastadas irão migrar para formas ainda inimaginadas de manipulação e teatralização revoltosa. O objetivo deles é mais que criar a confusão, é se aproveitar delas permanentemente quando surgem com aparência ou realidade de insatisfação representativa do mal estar popular mundial.  

    A esquerda honesta e responsável tem que reconhecer que há insatisfação generalizada e temas urgentes que ela ignora, por conveniência, preguiça ou mero desinteresse, como é a questão ambiental, precisam ser entendidos e discutidos com humildade e ousadia de definir sua participação neles, independente de pegarem carona em manifestações de rua que fazem o que ela tem falhado em fazer, demonstrações públicas de insatisfação ou de defesa de pautas a que o povo possa se identificar. 

     

    Democracy Now! – Progressive International: Yanis Varoufakis & Bernie Sanders Launch New Global Mvt Against Far Right

    [video:https://www.youtube.com/watch?v=AcMNhl7SlEc%5D 

    https://www.youtube.com/watch?v=AcMNhl7SlEc 

     

    Sampa/SP, 08/12/2018 – 13:44 – alterado às 14:02 e 14:28  (em luto). 

      1. O mundo vai exigir cada vez mais pensamento complexo

        Não vi o vídeo, mas suponho que você esteja sugerindo que todos os movimentos de rua são manipulados. Eu acho essa uma visão tosca e amedrontada, e que ao pretender denunciar práticas utilizadas pela direita recentemente, comete o erro de não analisar a singularidade de cada movimento e permitir que seja cooptado pela direita – sabe qual é uma das reclamações dos gilets jaunes? a arrogância do presidente francês e sua incapacidade de ouvir os manifestantes, que atinge também muita gente na esquerda. 

        Tivemos uma greve geral pacífica no Brasil em 28/04/2017: o que a esquerda fez com essa massiva demonstração de descontentamento? Esperou a eleição, para a qual não se preparou como devia, e a insatisfação que parou o país numa greve inimaginável foi, na hora e da maneira calculada para os seus fins de manipulação,  canalizada por aplicativo de mensagem para eleger uma versão piorada do projeto que foram às ruas combater. Como explicar? A culpa é dos manifestantes, como muitos chegaram a dizer em relação ao movimento #elenão? Então não vamos mais às ruas protestar porque necessariamente é manipulado ou manipulável? – pois a direita usa a mesma retórica em relação aos protestos da esquerda, e o povo acredita. 

        Quem tem razão? 

        Antes de opinar de orelhada, para não corrermos o risco de sermos injustos, ou de depreciarmos algo valioso para que seja apropriado por canalhas, devemos acompanhar o que acontece, ouvir o que as pessoas dizem, a cobertura jornalística que pareça a mais honesta – estou assistindo o canal France 24 (no streaming) há alguns dias e hoje o dia todo – e não partirmos de nossos preconceitos ou experiência prévia sem estarmos certos de que as analogias se aplicam ou de como se relacionam, e em qual extensão. 

        Hoje na França também teve manifestação de ativistas ambientais, alguns gilets jaunes  participaram – segundo o canal France 24, agricultores  e ferroviários pretendem fazer protestos em breve – e é isso que estou esperando, que os insatisfeitos percebam que a origem dos problemas é comum, o capitalismo neoliberal cada vez mais corporativista, antipopular e depredador da diversidade de formas e modos de vida. Também segundo o canal, um jornal de negócios da Índia acendeu o alarme de que o que ocorre na França é perigoso, na perspectiva dos financistas, porque em seu país os agricultores têm feito protestos recorrentes nos últimos meses. Isso é o precisamos! Agora se vão ser manipulados ou não depende do trabalho de informação e conscientização  não apenas de jornalistas honestos mas de cidadã/os atenta/os e participativa/os, e da ação de partidos políticos, sindicatos, movimentos sociais e quem mais tiver interesse em mudar o mundo para um  lugar melhor, mais compassivo, igualitário, justo, diverso, pacífico, solidário, menos ganancioso, materialista, injusto, agressivo, e predatório em todos os sentidos. Sempre há o risco de que outros movimentos, como o de nacionalistas antiimigração, aproveitem a situação para canalizar parte da atenção e apoio para sua causa. Mas isso é tão legítimo quanto a esquerda e sindicatos tentarem o mesmo, se feito com transparência e conhecimento da população. Acho que temos que observar o desenrolar dos fatos. Pelo que venho acompanhando, a pauta e as principais reclamações passam longe de um menu de direita ou conservador, ainda que não tenham, que se saiba, uniformizado suas ações, demandas e formas de comunicação com o governo francês e com  a população. É esperar e observar, sem demonizar ou divinizar antes do tempo, segundo nossas próprias intenções. 

         

         

        Sampa/SP, 08/12/2018 – 19:48 – alterado às 19:52  e 20:15 (em luto). 

        1. Não vi, não gostei

          Se esconder debaixo da árvore enquanto a floresta pega fogo não vai nos livrar das chamas, e nem abaixar para pegar a bolsa que caiu vai nos impedir de sermos pisoteados pela multidão em pânico.

          1. Autorreferente

            Acho que o título e o comentário se aplicam a você em relação a um assunto que duvido que você esteja acompanhando, tanto que fez um comentário padrão que vem se repetindo de maneira duvidosa e simplista. 

            Você subscreve a mensagem do vídeo? Por que não fala o que realmente pensa do assunto? Qual a sua análise sobre o que eu respondi no comentário ao seu vídeo? O que acha do movimento francês e por que? 

            Quem parece se esconder do problema com uma resposta pré-definida por terceiros e se recusa a observar o que está acontecendo no mundo é que precisa se preocupar em não ser levado pelos fatos ou pelas desinformação, ainda que bem disfarçada de precaução ou conhecimento histórico. 

            Pois o que permite a manipulação de movimentos e manifestações é exatamente a mistificação que se faz a seu respeito, precipitadamente, e pretensamente a favor ou contra. 

            Afinal, quem está se escondendo aqui? 

             

            Sampa/SP, 08/12/2018 – 21:24 

          2. Duvidoso e simplista

            Falar muito não significa falar bem.

            Uma boa escrita, tanto quanto possível deve considerar três requisitos básicos que são

            -clareza

            -objetividade

            -concisão.

            Especialmente neste espaço, onde damos opiniões e não desenvolvemos teses, eis que gentilmente cedido pelo proprietário do blog, o quanto mais objetivamente pudermos expressar a nossa opinião o mais interessante poderá ser o diálogo.

            Ainda que algumas pessoas entendam que idéias devem ser debatidas e impostas, o diálogo é muito mais salutar e permite um ambiente de urbanidade onde o respeito preservará os contatos.

            No mais, se coloco uma informação compatível com o assunto da pauta e a pessoa comenta sem se ater à informação, a resposta dada subsume-se tão somente ao âmbito pessoal, o que não está em discussão.

            De modo geral não há necessidade de grandes comentários com os demais comentadores porque ” pra bom entendedor meia palavra basta”

            Não é demérito não entender. 

            A busca do conhecimento é cheia de perguntas

            Mas há que se ler as respostas.

            Inté!

          3. Contradição pouca é bobagem – ou concisão?

            (Você) “Falar muito não significa falar bem.”

            (Eu) É por isso que seu orgulho lhe impede de expor suas opiniões, espera que calado, ou pela boca de terceiros seja considerado um gênio? Não é a quantidade que explica a qualidade, a sua métrica de twitter deve achar Trump o mestre da síntese, rs. 

            (Você) “Uma boa escrita, tanto quanto possível deve considerar três requisitos básicos que são

            -clareza

            -objetividade

            -concisão.”

            (Eu) E porque você não aplica o que aprendeu no manual do “gerente minuto” para redigir “memo/es” que ninguém lê? Dispenso a “lição” – para ser professor é necessário mais que a pretensão e um ego hipertrofiado – porque tenho minha própria avaliação sobre o que tais significam, e seus comentários dão a dimensão do que significam para você… Portanto, desnecessário discutir ou apelar para falsa erudição, que curiosamente caracteriza seus comentários – leu Olavo de Carvalho? 

            (Você) “Especialmente neste espaço, onde damos opiniões e não desenvolvemos teses, eis que gentilmente cedido pelo proprietário do blog, o quanto mais objetivamente pudermos expressar a nossa opinião o mais interessante poderá ser o diálogo.” 

            (Eu) Pois eu informo expressamente em alguns comentários meus que são apenas opiniões e não pretendem dar lições a ninguém – ao contrário de sua expressa e arrogante intenção -; se considera o que eu escrevo “desenvolver tese” não entendeu o que leu no manual do gerente minuto. Sobre espaço gentilmente cedido, não precisa bajular, ou sabujar,  porque o blogue não estipula – e eu já perguntei para falar do que sei e não  do que pretendo saber – tamanho de comentário (não se esconda atrás de limitações de caracteres, que não existem, para não dizer exatamente o que pensa ou pretende lecionar a terceiros que não iniciaram diálogo com você. O espaço cedido pelo blogue eu respeito segundo meus critérios e o que é definido como norma ética e não métrica, e a objetividade, seja lá o que você pretenda mascarar com a palavra, cabe a cada um decidir o que ela é ou o papel que terá na exposição de seu pensamento (não se ofenda com a palavra). Repito: não estabeleci nenhum diálogo com você, inicialmente; você que entrou na conversa com a arrogância de sempre, e como sempre, foge do assunto e repete definições de manual que não se aplicam sequer ao seu próprio comportamento. Se quer dar lições a alguém, ou desenvolver teses – que é o que insinuou –  prefiro ser direta, e insinuação é só um jeito cínico de não se responsabilizar pelo que diz, o que não está entre meus inumeráveis defeitos – que fosse minha pretensão, rs -, o faça em comentário individual, ou estabeleça “diálogo” com quem ele já tenha sido possível anteriormente – acho que nossa última interação antes dessa não deixou  dúvidas sobre a incompatibilidade pessoal e opinativa (odoriquês) que compartilhamos. Ou seja, o que pretendia quando enviou o vídeo? Estabelecer diálogo é que não foi porque eu tive a paciência e o respeito – podia, e devia ter ignorado – de provocar o diálogo e o debate, e você causou o que talvez fosse sua real intenção, confusão e bate-boca para exibir o que tem de sobra, presunção e palavras vazias – o que deve ajudar na concisão, rs.  

            “Ainda que algumas pessoas entendam que idéias devem ser debatidas e impostas, o diálogo é muito mais salutar e permite um ambiente de urbanidade onde o respeito preservará os contatos.”

            (Eu) Debater e impor costumam ser contraditórios e antônimos, em tese. Quem quer impor não precisa debater. Sobre o diálogo, ele só será sadio se a pessoa que pretende dialogar não fugir do debate e nem pretender dar lições de uma moral que não tem. Sobre urbanidade e respeito, lembre disso antes de fazer seus comentários preconceituosos, onde são comuns referências pejorativas como “a gorda”, e idéias ou palavras misóginas e racistas. 

            (Você) “No mais, se coloco uma informação compatível com o assunto da pauta e a pessoa comenta sem se ater à informação, a resposta dada subsume-se tão somente ao âmbito pessoal, o que não está em discussão.” 

            (Eu) Sua informação foi questionada por mim e você não respondeu, preferindo, em lugar de se expor e correr o risco de ser contraditado, dar lições de falsa moral e ética em seção de comentários. Dica, e não lição: para de ler manual ruim para “fazer amigos e influenciar pessoas”. Sobre “comentar sem se ater à informação e isso fazer da resposta “uma opinião pessoal que não está em discussão”, primeiro, contraria sua “teoria” sobre esse espaço ser para opinião e não teses, rs; segundo, não justifica por que você foge do debate e não responde ao que foi dito nas minhas respostas às suas “informações” (os vídeos são de reportagens ou de opiniões de terceiros? podem ser teses, não há problema nisso) . 

            (Você) “De modo geral não há necessidade de grandes comentários com os demais comentadores porque ” pra bom entendedor meia palavra basta”

            (Eu) Essa é a desculpa mais esfarrapada de todas. Se é o caso, os meus comentários sem objetividade e concisão, se você não entendeu, você é um mau entendedor? 

            (Você) “Não é demérito não entender.”

            (Eu) Concordo. Por isso que perdi tempo tentando fazer você entender meu comentário, mas é inútil, ainda que não seja falta de mérito – ai, a meritocracia – mas talvez de humildade ou interesse real em diálogo. 

            (Você) “A busca do conhecimento é cheia de perguntas

            Mas há que se ler as respostas.”

            (Eu) Mais uma frase do manual, rs. Concordo com a idéia, mas acho que você não entendeu o que ela significa, em especial se aplicada a si mesmo, que é sempre é o mais importante, o começo da sabedoria, rs. (o manual de onde tirei esta é a Bíblia). 

            (Você) “Inté!”

            (Eu) Se me permite, só volte quando tiver algo interessante a dizer relacionado ao objeto do comentário. 

             

            Sampa/SP, 09/12/2018 – 11:54 – alterado às 12:05 e 12:16 (em luto). 

        2. Respeitosamente, gostaria de contra-argumentar

          Boa noite, e minhas condolências. Sem o intuito de questionar pela mera contestação, principalmente em um momento difícil, apenas acho que deveria trazer algumas considerações ao seu post, que me pareceu muito interessante mas do qual devo discordar em alguns pontos:

          Se é bem verdade que a França tem mais familiaridade com manifestações de rua, embora raramente de caráter agressivo como neste movimento dos “gillets jaunes”, não me parece assim tão fácil que ela esteja mais imune à manipulação de direita que outros povos. Seria o caso se se tratasse de um movimento encabeçado pela classe média esclarecida francesa, mas não é o que acontece. Os principais grupos participantes do movimento são os pouco esclarecidos “paysans” e os jovens “lycéens”, que são atualmente tão pouco preparados quanto a estudantada de muitos países, Brasil inclusive (com o devido reparo de gradação do fenômeno), expostos que são à armadilha das redes sociais e da informação rasa.

          Os secundaristas franceses buscam mais similaridade com seus congêneres estadunidenses que com a ideia de revolucionários, sua consciência coletiva torna-se menos e menos aguçada frente ao comezinho estímulo ao consumismo, e suas lutas identitárias são muito locais e específicas, particularmente os descendentes de imigrantes. Difícil imaginar que os  “banlieusards” entrariam em uma atividade contra um capitalismo ao qual, na verdade almejam incluir-se; já a “classe moyenne”, está mais e mais distante das esquerdas. Que o diga Jean-Luc Mélenchon.

          Os “campaignards”, estes são claramente favoráveis à plataforma da extrema-direita francesa, nem é preciso manipulação para que estejam alinhados aos seus cânones. São ressentidos frente à autoridade de l’Élysée, acham que todo poder lhes é hostil se atinge suas fontes de renda, do “minimex” ao preço dos combustíveis. E são corporativos, pouco lhes importando questões outras quando suas classes de pertencimento são atingidas por alguma medida. Pense em José Bové, seria ele um écolo? Ou será que apenas brigava contra as transnacionais dos organismos geneticamente modificados porque estas roubavam-lhe mercado? Fico com a segunda hipótese.

          Não convém também minimizar a capacidade organizacional do refluxo autoritário que vemos espraiar-se pelo mundo ocidental neste momento. Não apenas há a curiosa “coincidência” da eclosão dos movimentos acontecer seguindo quase o mesmo roteiro da passagem de Bannon pela UE, como o longo braço da extrema-direita já não é mais invisível na organização dos movimentos. Na França, Christophe Chalençon é um ex-candidato derrotado à Assembléia Nacional pelo (então) Front National, e um ativista de redes sociais (particularmente no Facebook), devotado a grupos de ódio.  Éric Drouet, outro porta-voz do movimento para as mídias, é caminhoneiro. Já foi preso, por clamar aos manifestantes que invadissem l’Élysée, em uma entrevista à televisão. Hoje, na Bélgica, houve também manifestações de gillets jaunes, curiosamente capitaneadas pelo N-VA, partido de extrema-direita separatista flamengo, de inspiração neofascista e interlocutor belga do “The Moviment” tutoreado por Bannon. Os partidários do Vox andaluz já estão chamando para manifestações similares amanhã. No creo en brujas, pero que los hay, los hay…

          Não me parece importante se a questão fiscal francesa não se reproduza em outros países, há um claro processo de adaptação do modelo, mantidas suas linhas-mestras de ação; transforma-se uma pequena questão focal em um movimento de ressentidos, expulsa-se a política estabelecida do jogo e parte-se para cima de quem deve ser derrubado. Creio que, concordando ser difícil estimar o futuro de um movimento baseado no ocorrido em outros, há coincidências demais para ignorarmos. Não falo apenas do Brasil, mas da Hungria, da Polônia e da Itália, onde movimentos menores mas semelhantes em caráter enfraqueceram o governo suficientemente para uma posterior tomada de poder por governos de extrema-direita. E nem falemos do Brasil, claro, por muito já haver sido dito a respeito. Acredito ainda que o mesmo pode acontecer com a Bélgica, pois sua extrema-direita é politicamente forte, e o primeiro-ministro Charles Michel é politicamente fraco. A única dificuldade é que, ao contrário da França, os belgas (francófonos, bem entendido) são antípodas da belicosidade e os flamengos não tem hegemonia política para levar a cabo seus projetos. Mas nada é impossível, é um equilíbrio instável o “compromis à la belge”.

          Evidentemente, os manifestantes se apresentam como “nem de direita, nem de esquerda, mas apolíticos iliberais” e dizem que o movimento deve varrer a política organizada, pois seus membros são “todos corruptos”. Agem com uma “descentralização” aparente, sempre muitíssimo bem organizados por lideranças de redes sociais. Extrapolam as questões iniciais para um movimento sem reivindicações claras, “contra tudo isto que está aí”, “que se vayan todos”. O apelo fácil à pulsão “revolucionária” de muitos participantes logo é substituída por dirigismo bem estruturado, e absolutamente anti-revolucionário. E isto acontece exatamente onde há uma fissura entre a aliança liberal+social-democrata, e os socialistas estejam sendo questionados por suas medidas ou fracassos recentes, logo, enfraquecidos para evitar uma tomada hostil de poder. Uma vez atingido o poder, começa a demolição do estado de direito democrático, com o aparelhamento do Judiciário e, posteriormente, dos mecanismos de escolha política, com ou sem necessidade das fardas (apesar do velho fetiche sempre aparecer em algum momento; Chalençon já sugeriu publicamente que o movimento francês deve ter por objetivo depor Macron e, em seu lugar, entronizar um general, Pierre De Villiers) ou dos púlpitos (o governo polonês tem ligação visceral com o reacionarismo católico, e nos EUA e Brasil os neopentecostais são voz forte). Mas mesmo com pequenas modificações circunstanciais ou locais, o resultado tem sido admiravelmente bem sucedido. Apelam a um difuso sentimento “revolucionário”, mas o que entregam tem outro nome. Que conhecemos muito bem.

          Esperando ter trazido alguma contribuição à discussão, reitero que não tenho intenção de “trollar” seu texto, que de fato tem muitos aspectos interessantes. Lamento novamente por seu luto. Saudações!

          1. Pensar fora das caixinhas

            Grata pelas condolências. 

            Acho que mais importante que nos preocuparmos com a possibilidade e probabilidade de manipulação e fascistização mundial, temos que pensar sobre o que permite que as pessoas escolham, livremente ou não, esse caminho político ou pior, não reajam a ele.  

            Uma metáfora um pouco grosseira: o mundo é cheio de vírus e bactérias causadores de doença. O que explica que algumas pessoas e países sejam mais sujeitos à contaminação? Se tudo é reflexo ou terreno fértil para a ação criminosa de pessoas como Bannon, o que podemos ou devemos fazer? Todas as manifestações de rua são necessariamente artificiais e teatralizadas? O surgimento do MBL (movimento brasil livre, sic, sic, sic) é culpa do MPL (movimento passe livre) do qual mimetizou até o nome? Médicos alertam para o risco à saúde do excesso de “limpeza” que, concentrando a atenção em eliminar causadores de doença, elimina até as bactérias benéficas sem as quais a vida não é possível porque impede que a imunidade seja desenvolvida (existem pesquisas nos USA (vi no programa do Bill Nye quando assistia ao canal badflix) que pretendem superar a crescente resistência aos antibióticos com o uso de culturas de bactérias benéficas, baseado no estudo do funcionamento da flora intestinal e outras funções que desempenham no corpo humano). O que quero dizer com isso? O mundo está doente, real e metaforicamente. Não se resolve o problema da manipulação cibernética e da maioria dos problemas atuais da humanidade com paranóias e fatalismos (“é assim agora, e não há nada que possamos fazer, somos vítimas de nós mesmos”), ou com excesso de “prevenções” e sem o trabalho minucioso e altamente político de entender e discernir o que está acontecendo. É um problema político e social que se resolve com mais e melhor política e sociedade. Não há saída fora do jogo. 

            O que ocorreu no Brasil depois de 2013? A esquerda continuou no poder. Um dos erros foi termos ignorado os movimentos subterrâneos que estavam se formando e o terreno fértil para sua ação, a situação (social, econômica, ética, mental no sentido de visão de mundo) da população, o que é o foco da extrema-direita e sem o que sua manipulação seria videogame restrito a internet. Mas esses movimentos já são conhecidos e em breve perderão seu poder de manipulação porque já fazem parte do establisment. Já a reação da esquerda ou de quem se lhes opõe resistência continua presa na máquina do tempo em 1960 ou antes. O saudosismo histórico não é exclusividade da direita, rs, também temos nossa responsabilidade em não termos atualizado os termos de nossa utopia de emancipação, e é aí que a extrema-direita segue seu manual nada original de manipulação, apenas atualizado tecnologicamente. 

            Você viu o vídeo de entrevista com Bannon no The Guardian? Eu assisti os minutos iniciais e ainda não consegui terminar, mas até onde vi, eles não negam que fazem o discurso de antiglobalização apenas para atrair a massa de desvalidos deixados pelo caminho. 

            Então, a lição de casa é fazer o nosso papel, entender a realidade das pessoas que estão sendo cooptadas e oferecer a nossa proposta de solução dos problemas que o mundo apresenta, que resumo a basicamente dois que se complementam na origem e solução: o empobrecimento de massas crescentes da população (ontem um comentarista disse que na França tem PhD trabalhando como hamburgueiro, e sabemos que essa é a realidade mundial, ou seja, a falácia capitalista da meritocracia não explica a crescente pauperização generalizada) e o esgotamento dos recursos naturais e da capacidade do planeta de manter seu equilíbrio diante da ação humana predatória. 

            Se ficarmos preocupados demais em elaborar mil teorias e não disputarmos a população que se sente, com razão ou não, ressentida e ignorada, elas vão buscar o que tanto a extrema-direita quanto os templos disfarçados de religiosos oferecem em cada esquina, alívio e explicação para o sofrimento. Mas como fazer isso? Apelar para a mesma estratégia de manipulação da direita não é ético, e nos manter em nossa torre de marfim de quem sabe as respostas mas não quer se “apequenar” pondo as mãos à obra é um dos motivos para a população desconfiar da esquerda e se render a qualquer um que apareça com soluções fáceis e rápidas, não importa que falsas e traiçoeiras. A esquerda, ao invés de, socraticamente, disputar com a população os temas de seu interesse, em todo o mundo, se acostumou ao jogo eleitoral, e não sabe mais falar a língua do povo. Essa a questão posta por movimentos como o da França, que tem entre seus principais pontos de reclamação e ira nas ruas a arrogância do presidente que só lhes dá atenção quando a violência é o idioma.  

            Não é o medo de manifestações nas ruas que vai impedir a extrema direita de agir e cooptar os eleitores. 

            Entre os apoiadores do levante francês, a aprovação é relacionada à classe social, ou seja, os ricos estão satisfeitos com a situação do capitalismo mundial e desaprovam o movimento, e os pobres estão insatisfeitos e se vêem representados nas pautas mais comuns apresentadas até agora. O jogo não parece favorável, ao menos inicialmente, à esquerda? E por que ela não é confiável e não toma a dianteira dos fatos? – pesquisas mostram que tanto a extrema-esquerda quanto a extrema-direita estão favorecidas com o levante, e por que? 

            Não tenho informações suficientes para discutir cada país, mas acho que estão sendo ignoradas inúmeras manifestações de rua revolucionárias, como dos ativistas de direitos civis e causas ambientais nos USA, Europa, Ásia, América Latina , e não sei por qual fetiche, a esquerda só dá atenção a movimentos que parecem se encaixar em suas teorias de dominação pela extrema-direita (será porque isso facilita o trabalho de desistir da luta sem parecer covarde?). E aí, mesmo quando não  é, acaba se tornando, como na profecia que se auto cumpre. 

            Os motivos (crise imigratória em países avessos à diversidade étnica, principalmente, e reflexo tardio da fragmentação social , econômica e cultural pós-queda do muro de Berlim e aceleração da globalização neoliberal) para o avanço da extrema-direita na Europa precedem o Bannon, que foi pra lá porque viu que já existia espaço e gente já organizada e trabalhando,  assim como ocorreu no Brasil. Então, é hora de pararmos de assistir o cara colher os frutos que estamos, por omissão e ingenuidade, ajudando a plantar, e entrarmos pra valer na disputa. 

            Por fim, quem melhor fala de como reagir a essa situação é quem se preocupa menos com os truques ruins de Bannon e sua gangue e mais com os possíveis infectados por sua doença populista, com seu sofrimento e causas para desespero social que são presas fáceis de oportunistas – regra da vida não inventada por Bannon -, os políticos e ativistas dos USA como Bernie Sanders e o jornalista Chris Hedges (para seu último livro, viajou pelos USA e verificou in loco que o abandono da população pela esquerda é o que explica a adesão quase involuntária à direita (afinal, atualmente, qual a diferença?), sem o que a manipulação populista não seria possível, é a doença que se agrava por falta de imunidade, condições de saúde ou tratamento adequado). Na Europa, Corbyn e os novos movimentos na Espanha, que falam o que se tornou um tabu estranhamente obedecido pela esquerda: o povo está passando fome, desempregado, sem perspectivas de futuro nem de presente, e os ricos de maneira obscena lucrando mais quanto maior a crise. Por que ter medo de dar nome aos bois e permitir que apelidos e bullying sejam empregados pela extrema-direita, fazendo das vítimas algozes de si mesmas? 

            Sobre a França, não se precipitem. O movimento está acontecendo: se tiver participação direta de Bannon em sua eclosão, logo se saberá – o que não tem adiantado muito saber, pois ninguém ainda apresentou antídoto que tenha funcionado; se não tiver e ele ainda assim lograr vantagem, é de se perguntar se por mérito próprio ou porque a esquerda resolve perder antes de o jogo começar, porque acha que todo jogo é roubado mas nada faz para mudar as regras ou criar seu próprio campeonato para disputar a torcida. 

            Não entendi porque sua opinião seria considerada trolagem. 

            Sua idéia principal de que os manifestantes querem apenas participar da festa do capitalismo e não revolução, se o movimento só é uniformizado no figurino e não no resto, como pode afirmar com certeza? Acho prematuro qualquer definição porque   está em andamento, e não há sinais claros do caminho que vai tomar, nem de que é marcado pelo pecado original das revoltas anteriores que serviram ao predomínio da extrema-direita. História, como medicina, não é a aplicação automática de casos anteriores aos fatos presentes, ainda que seja útil para orientar o caminho, não deve defini-lo (o físico Richard Feynman tinha uma boa definição para ciência, ele dizia que ela não era história da ciência, mas aprender com o passado e não ser dele refém. Talvez um pouco dessa ousadia esteja em falta nos preguiçosa/os cidadã/os de hoje, deitados eternamente em saudosismo, à direita e à esquerda, sem coragem de forjar um novo futuro – o movimento ecológico está oferecendo um caminho de reinvenção para as esquerdas, talvez porque não tem cara de primaveras ou  jornadas está sendo ignorado. Sorte dele. Se a revolução não será mesmo televisionada, a forma como tem sido subestimado por muita gente pode ser indicativo de que estão no caminho certo, ao menos para não perderem tempo com o sexo dos anjos. 

             

            Sampa/SP, 09/12/2018 – 14:51 – alterado às 15:04 e 15:11    (em luto). 

        3. Gentileza analítica

          Cristiane:

          1-“Não vi o vídeo, mas suponho que você esteja sugerindo que todos os movimentos de rua são manipulados. Eu acho essa uma visão tosca e amedrontada, e que ao pretender denunciar práticas utilizadas pela direita recentemente, comete o erro de não analisar a singularidade de cada movimento e permitir que seja cooptado pela direita – sabe qual é uma das reclamações dos gilets jaunes? a arrogância do presidente francês e sua incapacidade de ouvir os manifestantes, que atinge também muita gente na esquerda. “

          R-

          Fazer suposições sobre o que não vimos fatalmente nos levará a conclusões equivocadas pois que nossa opinião se baseará em idéias pré concebidas.

          Cristiane

          2-Tivemos uma greve geral pacífica no Brasil em 28/04/2017: o que a esquerda fez com essa massiva demonstração de descontentamento? Esperou a eleição, para a qual não se preparou como devia, e a insatisfação que parou o país numa greve inimaginável foi, na hora e da maneira calculada para os seus fins de manipulação,  canalizada por aplicativo de mensagem para eleger uma versão piorada do projeto que foram às ruas combater. Como explicar? A culpa é dos manifestantes, como muitos chegaram a dizer em relação ao movimento #elenão? Então não vamos mais às ruas protestar porque necessariamente é manipulado ou manipulável? – pois a direita usa a mesma retórica em relação aos protestos da esquerda, e o povo acredita. 

          R-

          Como você acha que a esquerda deveria ter se preparado para as eleições após a deposição da presidenta através do golpe, a intensa campanha de demonização da política e anulação da memória dos benefícios do governo de esquerda além da perseguição e prisão do principal candidato?

          3-Antes de opinar de orelhada, para não corrermos o risco de sermos injustos, ou de depreciarmos algo valioso para que seja apropriado por canalhas, devemos acompanhar o que acontece, ouvir o que as pessoas dizem, a cobertura jornalística que pareça a mais honesta – estou assistindo o canal France 24 (no streaming) há alguns dias e hoje o dia todo – e não partirmos de nossos preconceitos ou experiência prévia sem estarmos certos de que as analogias se aplicam ou de como se relacionam, e em qual extensão. 

          R- 

          É verdade, antes de opinar de orelhada a gente deve, pelo menos, receber a informação toda, analisá-la, se possível, de maneira isenta, para só depois opinar.

          O fato de assistir a um canal francês não vem significar segurança da informação sobre o que acontece no país.

          Um estrangeiro pode se achar convenientemente informado sobre a real situação do país assistindo a nossa principal emissora televisiva, a globo.

          A mídia mundial é hegemônica e traz ao público a versão dos fatos que interessam ao contexto político-econômico do momento.

          Você não vai amar os judeus e odiar os árabes por sua própria iniciativa e sim pelas versões que os meios de comunicação querem que você receba para fortalecer as vertentes do poder que interessam.

          O mundo odeia os cubanos não porque ele sejam hediondos e sim pelo que a mídia hegemônica deseja que pensemos deles.

          Apliquemos aos norte coreanos, e a outros inimigos do mundo essa compreensão de como a mídia hegemônica lida com as informações.

          Não analisarei os demais parágrafos pois que descritivos e opinativos.

          Conclusão

          Em respeito à verdade que você prega, será forçoso reconhecer que qualquer opinião que você tenha a respeito do que você não viu será “opinião de orelhada”.

          Abraços
           

           

          1. Sinceridade opinativa

             

            (trecho do meu comentário)

             

            1-“Não vi o vídeo, mas suponho que você esteja sugerindo que todos os movimentos de rua são manipulados. Eu acho essa uma visão tosca e amedrontada, e que ao pretender denunciar práticas utilizadas pela direita recentemente, comete o erro de não analisar a singularidade de cada movimento e permitir que seja cooptado pela direita – sabe qual é uma das reclamações dos gilets jaunes? a arrogância do presidente francês e sua incapacidade de ouvir os manifestantes, que atinge também muita gente na esquerda. “

            (Você) “R-

            Fazer suposições sobre o que não vimos fatalmente nos levará a conclusões equivocadas pois que nossa opinião se baseará em idéias pré concebidas.” 

            (Eu) Não necessariamente. Você deveria saber que a capacidade de supor é fundamental para desenvolver hipóteses. E no meu comentário, o mais importante é se a minha suposição está correta ou não, e para isso você teria que ter a coragem de dizer o que pensa, mas prefere repetição de manual para, antiecológico, atingir dois coelhos com uma só agressão: não responde e esconde sua falta de opinião ou medo de exposição com uma falsa oratória de sofista de internet.  

            (trecho de comentário meu) 2-Tivemos uma greve geral pacífica no Brasil em 28/04/2017: o que a esquerda fez com essa massiva demonstração de descontentamento? Esperou a eleição, para a qual não se preparou como devia, e a insatisfação que parou o país numa greve inimaginável foi, na hora e da maneira calculada para os seus fins de manipulação,  canalizada por aplicativo de mensagem para eleger uma versão piorada do projeto que foram às ruas combater. Como explicar? A culpa é dos manifestantes, como muitos chegaram a dizer em relação ao movimento #elenão? Então não vamos mais às ruas protestar porque necessariamente é manipulado ou manipulável? – pois a direita usa a mesma retórica em relação aos protestos da esquerda, e o povo acredita. 

            (Você) “R-

            Como você acha que a esquerda deveria ter se preparado para as eleições após a deposição da presidenta através do golpe, a intensa campanha de demonização da política e anulação da memória dos benefícios do governo de esquerda além da perseguição e prisão do principal candidato?” 

            (Eu) Hum, mais opinião de manual: a esquerda não se resume ao PT, e inclui todos que se dizem de esquerda, de cidadãos a jornalistas, de políticos a movimentos sociais, e todos falhamos em nos preparar para as eleições porque, suponho que inconscientemente, todos depositamos tanto nossas esperanças quanto nossa responsabilidade sobre Lula, o que facilitou a caçada a ele e a preparação da extrema-direita. Não digo com isso que foi um erro insistir em sua candidatura até o final, porque temos que jogar com a verdade e com a coerência, e além de correta a atitude favoreceu o desgaste da máquina institucional por trás do Golpe, tanto nacional quanto internacionalmente,  mas que deveríamos ter pensado não apenas no cenário eleitoral mas em como agir a médio e longo prazo para combater o golpe, para o que a eleição seria um passo importante mas não suficiente para lidar com a onda contrarevolucionária de extrema-direita que está atingindo o mundo. A maior prova de que fomos ingênuos é a demora em reagir ao que nos recusamos a considerar possível, a guinada à extrema-direita de um povo desorientado e desinformado, sobre o que nada de concreto vem sendo feito para resolver, e repito, não é responsabilidade exclusiva do PT, o guerreiro que impediu que a catástrofe fosse maior, mas de todos que se assumem à esquerda politicamente – é hora de reclamar menos de alguns partidos e olhar para a sociedade civil, o que ela pode ou deve e não está fazendo. 

            (trecho de comentário meu) 3-Antes de opinar de orelhada, para não corrermos o risco de sermos injustos, ou de depreciarmos algo valioso para que seja apropriado por canalhas, devemos acompanhar o que acontece, ouvir o que as pessoas dizem, a cobertura jornalística que pareça a mais honesta – estou assistindo o canal France 24 (no streaming) há alguns dias e hoje o dia todo – e não partirmos de nossos preconceitos ou experiência prévia sem estarmos certos de que as analogias se aplicam ou de como se relacionam, e em qual extensão. 

            (Você) “R- 

            É verdade, antes de opinar de orelhada a gente deve, pelo menos, receber a informação toda, analisá-la, se possível, de maneira isenta, para só depois opinar.” 

            (Eu) Concordo. 

            (Você) “O fato de assistir a um canal francês não vem significar segurança da informação sobre o que acontece no país.

            Um estrangeiro pode se achar convenientemente informado sobre a real situação do país assistindo a nossa principal emissora televisiva, a globo.

            A mídia mundial é hegemônica e traz ao público a versão dos fatos que interessam ao contexto político-econômico do momento.” 

            (Eu) A minha referência ao canal francês (que eu acompanho na versão em inglês) tem um qualificativo que você omitiu – por se preocupar demais com pompa, que não faz parte nem de longe do meu comentário -, o fato de ser uma mídia honesta – se você se der o trabalho de assistir antes de criticar poderá perceber que a cobertura deles é muito diferente do que a Globélica faz em nível nacional, eles costumam fazer debates diversificados em temas e convidados, apresentar diferentes pontos de vista sobre o mesmo assunto, não parecem ter opinião editorial opressiva sobre a pauta e os convidados, que são muitos e de vários matizes ideológicos – ontem vi uma entrevista tensa mas respeitosa com a ministra da Família da Hungria, do fascista Viktor Orban; você imagina a Globélica fazendo esse tipo de jornalismo, em amplitude de pauta, coragem editorial aliada a respeito aos convidados? Ou seja, eu tenho informação e capacidade de análise suficiente para avaliar se uma fonte de informação atende aos meus critérios de jornalismo qualificado, e repito, pelo pouco que conheço do canal, está acima da média mundial (também assisto diferentes canais dos USA e do Reino Unido, e os critérios não mudam em função do idioma e da cultura que representam). Seu raciocínio é falacioso porque considerar a fonte de informação confiável não se resume à nacionalidade do canal nem exclui a análise do que é apresentado, o que faço com os mesmos critérios, talvez mais rigorosos, que aplico à mídia nacional. 

            (Você) “Você não vai amar os judeus e odiar os árabes por sua própria iniciativa e sim pelas versões que os meios de comunicação querem que você receba para fortalecer as vertentes do poder que interessam.”

            (Eu) Isso pode servir para você mas não se aplica a mim. Além de rasteira a interpretação generalizante, ou por acaso você odeia o PT porque a Globélica quer? E livre arbítrio, autonomia, independência ficam onde? O fato de os meios de opressão desejarem que todos sejam robotizados não quer dizer que sejam, existe uma dimensão de decisão pessoal que não pode ser descartada. 

            (Você) “O mundo odeia os cubanos não porque ele sejam hediondos e sim pelo que a mídia hegemônica deseja que pensemos deles.

            Apliquemos aos norte coreanos, e a outros inimigos do mundo essa compreensão de como a mídia hegemônica lida com as informações.”

            (Eu) Seu blá-blá-blá não tem a ver com o comentário que fiz. Repito: é necessário ter fonte de informação confiável, o fato de ser um canal francês falando do que acontece na França significa que ele pode – hipótese – ter mais acesso a informações e à realidade que reporta que a Globélica ou qualquer outro canal. Mas ser francês não basta, é necessário analisar a qualidade do trabalho jornalístico, e para isso os critérios de avaliação de um/a telespectador/a não mudam porque se trata de uma mídia estrangeira, podem diferir em intensidade (no meu caso, por não conhecê-las muito bem, aumento o rigor e a desconfiança) a depender de como cada um escolhe o que assistir e acreditar. E isso é pessoal e intransferível. 

            (Você) “Não analisarei os demais parágrafos pois que descritivos e opinativos.”

            (Eu) Mas meu comentário não pediu sua análise, estabeleceu um debate de idéias que você, para não variar, evitou com tergiversações mais ou menos pretensiosas. Ou seja, o que caberia a você responder porque foi diretamente questionado, foi ignorado – é o padrão Globélica de diálogo, acusa, critica, analisa do alto de sua arrogância, mas se reserva o direito de calar quando lhe convém esconder o que de fato acha dos fatos que pretende “lecionar”? 

            (Você) “Conclusão

            Em respeito à verdade que você prega, será forçoso reconhecer que qualquer opinião que você tenha a respeito do que você não viu será “opinião de orelhada”. “

            (Eu) Sua análise não passou no teste da verossimilhança, mas revela um pouco de sua visão distorcida das coisas, que talvez expliquem sua recusa ao debate. 

            Não prego verdades, defendo o que acredito e exponho minhas opiniões com a responsabilidade de quem não se preocupa mais com a aparência do que com a coerência. O preço a pagar é ser vista por muitos como arrogante e ser provocada para debates com gente mais preocupada em aparecer do que em debater. É do jogo. 

            Não é orelhada porque não dei opinião sobre o vídeo, fiz uma suposição baseada na hipótese bem plausível do que você pretendia ao enviar um vídeo de maneira aleatória, o que, na falta de você dizer qualquer coisa sobre o vídeo ou sobre o assunto discutido, apenas me permitiu supor o que você queria dizer com ele e sobre o assunto – por acaso você queria discutir o vídeo? até para isso era necessário dizer com clareza o que pretendia, ainda que com “meias palavras” (seu comentário era composto apenas de vídeos e nenhuma palavra, rs) como “Comente”, ou “disserte em 180 caracteres”). 

            Você até agora, em vários comentários, não falou uma palavra sobre o objeto da discussão original, que motivou sua “meia palavra” com a boca alheia no vídeo que também não mereceu sua análise sobre a relação dele com a discussão original. Ou seja, muita posse de bola e pouco jogo. 

            (Você) “Abraços”

            (Eu) Desculpe, mas a urbanidade não me obriga a aceitar, ou retribuir, falsas demonstrações de cordialidade. 

            Sinceramente, acho que a troca de comentários foi apenas perda de tempo. 

            P.S. A “grosseria” é minha mesmo, não é influência do canal francês, que aliás tem jornalistas bastante educados e afáveis, diferente da imagem que se tem do país, que não sei se verdadeira ou falsa. 

            Sampa/SP, 09/12/2018 – 13:28 – alterado às 13:33 (em luto)

          2. Meus agradecimentos

            Antes de mais nada, meus agradecimentos pelo poder que você me dá.

            Você me dá o poder de incomodar você, contestar as suas idéias e por em dúvida o seu auto engrandecimento

            Agradeço mais ainda por você  me achar “um gênio” arrogante que não quer discutir com qualquer um e tem “medo” de expor as próprias idéias.

            Eu até exponho as minhas idéias. O problema é que você, no afã de me atingir, nem percebe, e quando percebe, não entende.,

            A você, que acha muita coisa a meu respeito, quero respeitosamente dizer que o que você acha de mim é problema seu

            e não há nada que eu possa fazer a respeito.

            O bem que você me faz é desenvolver o exercício da paciência.

            Um dia você vai amadurecer e essa bronca vai passar.

            Você nem é tão inteligente e articulada quanto pensa e nem eu a pessoa estúpida e arrogante que você acredita.

            Abraços sinceros

             

             

          3. Economizar o tempo alheio é gentileza

            Você tem um problema seríssimo de auto-estima. E de interpretação de texto, rs. 

            O que eu acho de você é problema seu, tão incomodado que ficou que perdeu as estribeiras: onde foi parar a urbanidade? 

            Desenvolver a paciência sim é um problema meu, e não tome como um bem que lhe faço porque não pretendo exercitá-lo ao responder seus comentários, porque não mais o farei depois desse. Como eu disse, é perda de tempo, e seu quisesse bater-boca, iria para o twitter ou facebook. 

             

            “Um dia você vai amadurecer e essa bronca vai passar.”

            Mais uma frase que você deveria repetir diante do espelho, depois de descer do pedestal imaginário. 

             

            Sinceridade sempre é bom, mas no seu caso, dispenso, como a todo o resto. 

             

            Posso só pedir um favor? Ignore meus comentários, não pretenda estabelecer diálogo, busque outra pessoa paciente para conversar e para perder seu tempo. 

             

             

            Sampa/SP, 09/12/2018 – 15:38  (em luto). 

             

          4. Problemas

            É o que eu te digo.

            Eu não quis ofender você quando eu disse que o que você acha de mim é problema seu.

            Você se ofende sozinha, nem precisa de ajuda.

            Mas eu vou ajudar você a não se ofender à toa

            Vou desenhar:

            Olha só, o que eu acho de você vai interferir, alterar, traduzir ou influenciar significativamente o que você é?

            Alguém além de você sabe quem realmente você é?

            Então, amiguinha, o que eu acho de você, é problema meu!

            Agora comigo:

            Assim como o que você acha de mim não vai interferir, alterar, traduzir ou influenciar significativamente o que sou,

            pois que só eu sei quem eu sou, o que você acha de mim é problema seu, porque é opinião sua, soberana, personalíssima.

            Nunca tive a intenção de ofendê-la porque esse é um serviço que você faz sozinha.

            Se você não está safisfeita por eu não achar você “maravilhosa”, você não precisa me responder.

            Agora se você quiser que eu a ofenda, posso me servir de delicadezas que você nem imagina.

            Abraços.

             

    1. “Coletes Amarelos” na França: a revolução não será televisionada

      algumas considerações a serem compreendidas como contribuição à conversa. note que não estou sequer polemizando, e muito menos lhe contestando.

      -> ítem 6: Não são apenas os gilet jaune que estão tomando as ruas da França, há protestos de estudantes e de ambientalistas sobre a mudança climática.

      hoje, no Acte 4 Gilets Jaunes: Protesters Over Climate Change Reportedly Join ‘Yellow Vests’

      #MarchePourLeClimat : Thousands in the streets of #Paris demanding #ClimateJustice. #YellowVest pacifically joined the demonstration. During #cop24 we must remember the need for a #JustTransition

      -> ítem1: Não será tão fácil para a extrema-direita cooptar a manifestação

      Gilets Jaunes é um campo de batalha, como sempre são as manifestações de massas. o movimento de massas é para onde todas as forças convergem. ele as catalisa. e é nele que entram em disputa. o movimento de massas é a luta de classes viva ocupando as ruas.

      vídeo: Des antifascistes sortent un groupe d’extrême-droite de l’acte IV des Gilets Jaunes à Paris

      [video: https://www.youtube.com/watch?v=MyEM4RgKzJw%5D

      -> ítem 3: Sobre Bannon, é óbvio que ele pode estar envolvido no levante

      apesar de ser assumidamente de Direita, Steve Bannon é um personagem muito mais complexo do que as estereotipadas abordagens habitualmente divulgadas no Brasil.

      Bannon tem plena consciência da brutal crise do capital, assim como da incompetência da elite globalizada para gerenciá-la. foi Bannon quem apresentou Trump a Robert Mercer.

      por este raciocínio (o qual necessariamente eu não endosso) Bannon, e Trump, seriam a última cartada do Capitalismo antes de uma devastadora guerra de extermínio global.

      vídeo: Generation Zero Documentary (2010)

      [video: https://www.youtube.com/watch?v=bsqu9gpxhk%5D

      -> ítem 2: elas foram muito diferentes nos lugares onde ocorreram, na capital de SP começaram com exigência de passe livre

      Junho de 2013 teve um perfil no RJ bastante diferente de SP, inclusive na duração e composição do movimento. já postei pesquisa sobre isto neste Blog do Nassif aqui neste link.

      vídeo com o momento (1’00’’) em que uma manifestação pacífica é brutalmente atacada pela PM, o que se tornaria rotina posteriormente e até hoje. a partir de 4’00’, cenas do enfrentamento com o “Caveirão”, gravadas lado a lado com os ativistas.

      vídeo: A Batalha da Av. Presidente Vargas – Rio de Janeiro – 20/06/2013

      [video: https://www.youtube.com/watch?v=h0wAA4fXTsI%5D

      .

    2. Certíssimo, senhora, se o
      Certíssimo, senhora, se o jogo fosse limpo. Mas não é, e o que se verifica é tentativa deslavada de desestabilizar o governo Macron, à maneira como fizeram com a sra.Roussef.

      1. Comparação estranha

        E o que Macron tem a ver com Dilma?

        Se as pautas de melhora nas condições de vida, aumento de salário mínimo e cobrança de imposto sobre fortuna como medidas para  redução da desigualdade social, forem atendidas e ainda assim o movimento continuar pedindo a queda do presidente, concordarei com você que se trata de movimento golpista, apenas e tão somente. 

        Mas por enquanto, não me parece o caso. A queda do presidente não é a pauta inegociável do movimento, mas serem ouvidos por ele, cuja recusa em sequer se dirigir a eles ou ao país – quem está encarregado de dar entrevistas e pronunciamentos são o ministro do interior e o primeiro-ministro – tem irritado manifestantes como demonstração de que de fato são ignorados completamente, não apenas suas pautas e suas péssimas condições de vida. 

        Aguardar para ver. Precipitação geralmente não favorece o entendimento. 

         

        Sampa/SP, 09/12/2018 – 15:20 – alterado às 15:24  (em luto) 

  3. “Coletes Amarelos” na França: a revolução não será televisionada

    como o que agora, neste momento, acontece na França é de total importância, e vital para a análise política da conjuntura brasileira, há outras abordagens muito além do simplificador, e alienante, estereótipo das “primaveras híbridas”:

    The Movement as Battleground

    Fighting for the Soul of the Yellow Vest Movement

    If far-right groups can hijack movements, as they did in Ukraine and Brazil, can anti-capitalists and anti-authoritarians reorient them towards more systemic solutions?

    As we fight—in France, in Belgium, and everywhere else that neoliberal governments are forcing austerity measures on us—let’s be thinking about how to come out of each fight more connected, more experienced, and with a sharper way of identifying the questions before us.

    Good luck to each of you, dear friends.

    Yellow Vests: Taking the Disorder Further

    The time of the urban riot is in itself a limit to what is currently happening: historically, it responds to two modalities, which are either the seizure of state power or its crisis to push it to concessions. […] This movement, because it is class struggle, carries everything that a communist revolution can be today, its limits, its dangers, its unpredictability: but to get there, many of these things that stand between us, whether cars or social relations, will probably have to burn again.

    .

    1. Telegramas do fim do mundo
      Acho que a disputa pela narrativa, seja aqui nesse blog, seja na França ou na Ucrânia, já nos revela a nossa incapacidade de entender o que se passa.

      Alguns textos atrás, caro amigo, falávamos exatamente isso sobre a maior importância do controle da narrativa sobre o que acontece do que o fato em si.

      Os coletes amarelos ou as Primavera híbridas de antes não eram movimentos anticapitalistas. .. nunca foram…

      Não no sentido anticapitalista que esperamos e desejamos.

      Aí minha crítica a sua percepção: não são movimentos espontâneos e nem descansaram para a direita apenas pelas nossas insuficiências táticas ou estratégicas…

      Ainda não conseguimos elaborar algo que contrapunha esse a movimentos porque ainda sonhamos em conquistar e reformar modelos (capitalistas) que derretem rapidamente.

      É o nosso paradoxo seminal, nossa moralidade solidária que nos empurra a tentar salvar um mundo que insiste em se desintegrar…

      Foi o ocaso da social democracia deles e foi o nosso com o PT.

      Aqui em escala muito pior… porque reformar o capitalismo na Europa é moleza se comparado com essa merda que temos aqui.

      Mas tais movimentos são anticapitalistas porque anunciam o fim do modelo capitalista de produção de valor estruturado nos esquemas produtivos de expropriação da força de trabalho, que se utilizam do estado e dos sistemas representativos institucionais conhecidos.

      O que o texto aqui menciona em criar sua própria oposição para dar o salto histórico.

      Aqui onde ele (Wilson) erra: não é só uma reciclagem dos modelos capitalistas de acumulação mas o fim do capitalismo como o conhecemos, com o abandono de todas as estruturas que agora lhe são inúteis, como os partidos, estado, sindicatos e até governos, que começam a ficar obsoletos em tempo recorde, vide Macron e até os bolsobostas que já balançam antes de assumirem…

      É o fim do mundo como conhecemos porque o capital nem precisa mais de si mesmo para existir (com o trabalho e acumulação de valor).

      Como defender o mundo do trabalho quando ele está em extinção?

      Nesse sentido o texto se aproxima bem do que está acontecendo… embora ele não seja denso o suficiente no campo econômico e de política econômica… mas ele não reivindica isso…

      É um texto de estudioso em comunicação com as limitações aí implicadas.

      Um abraço

      1. Alguém que viu a floresta
         

        É isso, Neandertal,

        uma nova configuração do mundo em todos os níveis, com a quebra de soberanias e reconfiguração que chegará ao nível geográfico.

        Pensei que fosse demorar mais.

        A Europa se desintegrará em breve tempo.

  4. Movimentos espontâneos
     

    Recordando-me da “espontaneidade” dos movimentos de 2013 e da “falta de lideranças” identificáveis ; considerando o dejaviu tão eloqüente na nossa pátria querida, fui ver a biografia do steve bannon lá na Wikipedia, lendo e respeitando todos os links que se abriam a cada toque.

    Foi sumamente esclarecedor, não havendo mais nada a acrescentar a não ser as perguntas:

    Como é que nasce gente com essa capacidade e poder tão grande de sacanear o mundo numa vida só?

    Ele realmente acredita nas suas motivações ou elas apenas justificam seus interesses imediatos de poder e dinheiro?

    Ou será ele um meio hábil para um fim rigorosamente planejado?

    Er, não há como não juntar os pontinhos.

    https://en.wikipedia.org/wiki/Steve_Bannon

     

      1. Biografias
         

        O Bannon, nasceu no centro do mundo civilizado e com os poderes que isso pode implicar.

        As facilidades de expansão de suas idéias e ações não se camparam às de Moro, igualmente tacanho em inteligência emocional.

        O Moro é limitado pela geografia, e por mais que ele pudesse ter influência política, não ultrapassaria o nosso território, já o Bannon tem poder para, digamos, “ferrar” o mundo, considerados os meios de poder  de que dispõe: econômicos, financeiros, midiáticos e políticos, que o Moro jamais alcançaria.

        Ambos são iguais num sentido: estão a serviço de um poder maior que,  ou pouco desconfiam ou desconhecem.

  5. Profecias cumpridas

    Não sou médium, nem jornalista, mas tenho o desprazer de ver minhas “profecias” cumpridas. Junto com Pepe Escobar, há muito já escrevia enquadrando os diversos movimentos (primaveras, Brasil, França), na mesma ação de guerra híbrida. Mandei textos para meus jornais preferidos, mas parece que os pundits não corcodaram. Agora alguns acordam. Demorooooou”. 

    Estamos no mesmo barco, afundando pelos ataques externos e pelos buracos feitos pelos ratos internos. Se não houver uma resistência enérgica estaremos na situação descrita por Orwell no 1984 – um rosto humano esmagado por uma bota, para sempre…

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