Wilson Ferreira
Wilson Roberto Vieira Ferreira - Mestre em Comunição Contemporânea (Análises em Imagem e Som) pela Universidade Anhembi Morumbi.Doutorando em Meios e Processos Audiovisuais na ECA/USP. Jornalista e professor na Universidade Anhembi Morumbi nas áreas de Estudos da Semiótica e Comunicação Visual. Pesquisador e escritor, autor de verbetes no "Dicionário de Comunicação" pela editora Paulus, e dos livros "O Caos Semiótico" e "Cinegnose" pela Editora Livrus.
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Comercial vende carro e ética na política detonando bomba semiótica, por Wilson Ferreira

por Wilson Ferreira

Bombas semióticas 2, A Missão! O Império Contra-ataca! Após as recentes pesquisas revelarem que Lula está mais vivo do que nunca, liderando com folga todos os cenários eleitorais para 2018, e que ainda seus principais adversários estão se desgastando com a evaporação do mar de rosas que, acreditava-se, seria o País pós-impeachment, o complexo jurídico-midiático reage. Depois de novos vazamentos seletivos e busca de mais espécimes assustadores do “Brasil profundo” para figurar na capa de revistas semanais, retiram mais uma vez do paiol midiático a artilharia pesada das bombas semióticas. Dessa vez, em um comercial para TV da GM Brasil no qual se posiciona sobre temas como “ética” e “política” para vender o novo Chevrolet Cruze.  Mais uma vez, a tática de engenharia de percepção – por meio de gestalt, cores e a palavras metonimicamente contaminadas, bombas semióticas criam um pano de fundo para tornar mais crível o cenário político do momento. Reforçam subliminarmente pautas, slogans e clichês disseminados liminarmente pela grande mídia. Um exemplo de como a criação publicitária torna volátil a fronteira entre consumo e cidadania.

Depois dos resultados da pesquisa CNT/DMA mostrando que o ex-presidente Luís Inácio Lula da Silva venceria as eleições 2018 em todos os cenários, acendeu-se a luz amarela do maior partido de oposição na era lulo-dilmista: o complexo grande mídia e Judiciário. 

Mesmos com todos os escândalos associados ao PT denunciados pela Operação Lava Jato, com todas as manchetes diárias sobre um grandioso triplex no Guarujá, um suntuoso sítio em Atibaia e, agora, um curso para o filho de Lula supostamente pago pela Odebrecht, mesmo assim Lula continua favorito com folga para as próximas eleições. E o que é pior: revelando o desgaste dos oponentes Temer, Aécio e Alckmin – corroídos pela crise econômica que contrariou a expectativa de um mar de rosas após o impeachment e os respingos das delações premiadas e vazamentos nos outros partidos.

E pior ainda: colou-se à imagem de Lula, além do “sebastianismo” (sobre esse conceito messiânico na política clique aqui), a nostalgia de um país que viveu tempos melhores com o crescimento da Classe C, a expansão do crédito e do consumo.

A reação do complexo jurídico-midiático foi imediata: a ministra Carmen Lúcia decide pelo sigilo das delações que estavam sob custódia de Teori Zavascki – será que ele pagou com a própria vida? (clique aqui) Aliás, por que as investigações sobre as causa do suposto acidente aéreo desapareceram da mídia? 

Claro, a decisão pelo sigilo é a senha para iniciar a estratégia dos vazamentos seletivos que atingirão alvos selecionados, de acordo com a conjuntura política do momento. E Lula novamente é o alvo da vez depois dos alarmantes números das pesquisas. 

Espécimes de águas turvas

A segunda reação é novamente buscar no fundo das águas turvas do Brasil profundo exemplares obscuros, psicóticos e paranoicos, como fez a revista IstoÉ: a utilização de um espécime chamado Davincci Lourenço que teria levado uma mala cheia de dinheiro para Lula num período em que supostamente viveu na intimidade da cúpula da construtora Camargo Correia. Enquanto isso, Davincci fazia vídeos com gravíssimas denúncias sobre pernilongos geneticamente alterados pelo PT para criar a epidemia de Zika e desviar a atenção do povo dos problemas de corrupção da Dilma, além de posar como sniper, vestindo camiseta do FBI e com o símbolo da Polícia Federal de fundo…

Agora, do fundo do paiol da grande mídia, ressurge a grande arma detonada durante a crise política iniciada pelas grandes manifestações de rua de 2013: as bombas semióticas.

A General Motors do Brasil estreou nova campanha publicitária nesse domingo (19) se posicionando sobre os temas da “ética” e “corrupção” como estratégia de promoção de vendas dos novos Chevrolet Cruze hatch e sedan. 

O comercial

Exibido nos canais Globo, Band, AXN e Sony, o comercial mostra planos gerais de ruas desertas do Centro do Rio de Janeiro que logo depois são ocupadas com manifestantes empunhando placas e faixas exigindo ética e combate à corrupção, com a indefectível presença de policiais de choque com escudos. “Somos um povo que aprendeu a exigir mudanças e que está mudando para servir de exemplo”, inicia a locução feminina em off.

“Que não aceita menos que o justo”, continua com imagens estilizadas de engravatados sendo conduzidos por agentes também estilizados da PF com locuções de telejornal ao fundo dizendo: “esquema de corrupção iniciado em 2009…”.

“Que cansou da malandragem…”, a palavra “malandragem” com tom jocoso, entrando com som de cuíca ao fundo e um gari varrendo “santinhos” de políticos no chão de uma calçada. “E que acelera na direção certa!”, conclui a parte político-ideológica do comercial para depois, metonicamente, o comercial associar mudanças políticas com a troca do seu carro pelo novo Chevrolet Cruze.

O que são bombas semióticas?

Bombas semióticas não se prestam à inculcação político-ideológica: isso já é feito diariamente pela pauta do jornalismo e colunistas da grande mídia. Sua função pertence à engenharia de percepção mais ampla e atmosférica – reforçar o noticiário dominante criando subliminarmente um pano de fundo, um horizonte de eventos ou uma paisagem de signos com gestalts, cores e sutis alusões a slogans e clichês do cenário político do momento. 

Em outras palavras: reforçar através da estética e da percepção em filmes, vídeos publicitários, clipes da Internet etc. a memória do conteúdo já absorvido cognitivamente pelo noticiário – sobre a série das bombas semióticas analisadas pelo Cinegnose clique aqui e aqui.

E o comercial da GM é um caso exemplar dessa estratégia semiótica.

(a) O caminho inverso

Em primeiro lugar chama a atenção o caminho inverso tomado pela aproximação Publicidade/Política. Se em 2013 as manifestações “espontaneamente” tomaram slogans publicitários como “Vem pra rua” (comercial da Fiat para a Copa das Confederações) e “o gigante acordou” (comercial do uísque Johnnie Walker) transformando em palavras de ordem e hashtags, agora um comercial exorta os brasileiros a não mais tolerarem a corrupção diante da proximidade das eleições presidenciais 2018.

E convoca novamente os brasileiros irem para as ruas… com o novo Chevrolet.

A GM faz uma espécie de recall para os manifestantes e paneleiros, agora silenciosos diante das tentativas do governo do desinterino Temer em “estancar essa porra de sangria” das investigações da Lava Jato.

 

Wilson Ferreira

Wilson Roberto Vieira Ferreira - Mestre em Comunição Contemporânea (Análises em Imagem e Som) pela Universidade Anhembi Morumbi.Doutorando em Meios e Processos Audiovisuais na ECA/USP. Jornalista e professor na Universidade Anhembi Morumbi nas áreas de Estudos da Semiótica e Comunicação Visual. Pesquisador e escritor, autor de verbetes no "Dicionário de Comunicação" pela editora Paulus, e dos livros "O Caos Semiótico" e "Cinegnose" pela Editora Livrus.

12 Comentários

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  1. É que o Chevrolet Cruze é o
    É que o Chevrolet Cruze é o “Aécio” do segmento pelo qual concorre: O Toyota Corolla e o Honda Civic sempre estão na frente.

  2. Não é bem uma bomba

    Não é bem uma bomba semi-ótica, mas o título de uma matéria (leia-se excremento) da fel-lha faia de sp hj no caderno (?) de economia, que eles chamam de mercado, prova que essa faia, que não serve nem para limpar excrementos, se supera todo dia, diz assim: “Rio quer produção de água estatal e privatizar distribuição de esgoto”! É mole? É mole e fétido é da fel-lha! Ato falho ou cinismo mesmo?

    1. não…

      Todo mundo aproveita e faz seu arrastão. Nunca fomos o país da luta por liberdade e da democracia. Somos o país de grupelhos organizados, partidos, religiões, entidades, pessoas, ongs, ideologias, querendo ser o “representante do povo”. O povo mesmo se representar? Porrada !!! As filiais das montadoras salvaram suas matrizes na crise dos países industrializados, vendendo aqui carroças a preços extorsivos e estratosféricos. Um lixo que em seus países de origem não seriam permitidos nem para refugo em reaproveitamento de sucata. Não tivemos capacidade, entidades e governos para exigir pelo menos produto de similar qualidade. A GM é o maior exemplo de tal situação, a filial brasileira pagou as contas da falida matriz americana. Segundo um dos seus diretores, apenas com a melhoria da qualidade das soldas nos carros brasileiros se reduziria em mais de 30% o número de mortes no trânsito. E ainda se fala em ética? Só mesmo o Brasil tão limitado para aceitar tamanha subserviência. 

  3. Matéria exemplar. Expõe o

    Matéria exemplar. Expõe o tamanho e alcance do monstro. A realidade, na velocidade de um míssil, vai deixando a ficção na poeira. Podemos contra-atacar: já associei o nome da  GM ao golpe no Brasil.   

  4. Aguardem!

    Essa indevida, inconveniente e imoral intromissão em nossos assuntos internos de política é bem características da política imperialista norte americana e muitas de suas multinacionais gananciosas e sem escrúpulos. Talvez, no caso em questão, a Chevrolet pelo fato de ter sido ultrapassada por empresas de outros países, por ter perdido boa parte da preferência do público brasileiro e por ter perdido bastante dos abusivos lucros que facilmente ganhavam, o que tentam fazer? Puxam o saco do lado errado ( que idiotas), puxam o saco da ilegalidade, puxam o saco do lado que tem a maioria para aprovar as tiranias, o saqueamento das nossas riquezas e a mudança de leis para suspenderem e retroceder o nosso progresso. E quem ganha com tudo isso? Ganha o seu patrão, que é o país sede da matriz, mas ela só vai ganhar mais críticas, mais revoltas, mais aversões e muito menos vendas e lucros. Por incrível que pareça, ela chegou a cúmulo de invadir a contra mão do seu próprio marketing e bater de frente com o pior pecado do marketing de vendas, que é trabalhar para a conquista da maioria populacional e não de uma maioria parlamentar de muitos(as) fichas sujas. Cutucaram a onça com vara curta, e pagarão caro por essa audácia, por essa intromissão imoral, por essa incapacidade de disputar o mercado sem usar truques baixos, de mau gosto e indecentemente apelativos. Conseguiram comprar briga com a grande maioria que, talvez, mais lhes interesse, que é a população usuária. Vamos ver se nas próximas passeatas eles irão reproduzir as críticas e os xingamentos, que estamparão as faixas e os cartazes contra a Chevrolet, a mais nova apoiadora do golpe usurpador de poder. Aguardem!

  5. A Fiat foi peça fundamental na “Primavera Brasileira”

    A Fiat fez de forma subliminar a convocatória para as jornadas de junho de 2013 que desembocaram no golpe de Estado. Lembram-se do Vem Prá Rua da Fiat. E ai o bilionário Jorge Paulo Lemann criou o movimento Vem pra Rua e dias atrás levou a a tircolo o  juiz midiático Sérgio Moro para papagaiar contra a corrupção na terra do Trump..

    [video:https://www.youtube.com/watch?v=kr2mbiqseEQ%5D

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