Wilson Ferreira
Wilson Roberto Vieira Ferreira - Mestre em Comunição Contemporânea (Análises em Imagem e Som) pela Universidade Anhembi Morumbi.Doutorando em Meios e Processos Audiovisuais na ECA/USP. Jornalista e professor na Universidade Anhembi Morumbi nas áreas de Estudos da Semiótica e Comunicação Visual. Pesquisador e escritor, autor de verbetes no "Dicionário de Comunicação" pela editora Paulus, e dos livros "O Caos Semiótico" e "Cinegnose" pela Editora Livrus.
[email protected]

Datena, Russomanno e Doria Jr candidatos em 2016? É a mídia, estúpido!

 

Por Wilson Ferreira

Junto com o midiático Celso Russomanno, somam-se para as próximas eleições à prefeitura de São Paulo os televisivos José Luiz Datena e João Doria Jr. Cientistas políticos vêm interpretando esse fenômeno como crescimento do conservadorismo de uma cidade que em outros tempos elegeu Maluf, Celso Pitta e Ademar de Barros. Ou como reflexo do “vácuo político” decorrente da judicialização da Política feita pela Operação Lava Jato. Mas haveria algo mais, um projeto que estaria sendo gestado e que tornaria São Paulo o laboratório de uma experiência de vanguarda: a midiatização total da vida pública. Esses personagens midiáticos representam a quintessência do imaginário paulistano: justicialismo, meritocracia e consumo. Mas desta vez, sem intermediários: diferente dos políticos, ainda presos na cena teatral, Datena, Russomanno e Doria Jr. vivem na cena midiática –  pelo menos sabem ler um teleprompter e se posicionam bem diante das câmeras. 

O blogue Cinegnose vem considerando em postagens recentes que São Paulo é um enclave conservador dentro do Brasil. Exemplos disso seriam os protestos e resistências a medidas civilizatórias globais como a construção das redes de ciclovias e a redução da velocidade dos carros. E, o que é pior, protestos que muitas vezes associam essas medidas a um suposto totalitarismo bolivariano cuja solução final seria um golpe militar.

Mas, temos que dar a mão à palmatória. Na verdade, São Paulo está na vanguarda. Um exemplo desse vanguardismo estaria na praça ecologicamente correta chamada de Praça Victor Civita – sincronicamente localizada ao lado da decadente Editora Abril, da sucateada Sabesp e do fétido Rio Pinheiros). Como esse blogue observou em outra oportunidade, a praça é mais do que um símbolo da sustentabilidade: é o símbolo da vanguarda de um projeto que pretende se expandir para todo o País – por meio do sucateamento deliberado do Estado, tornar escasso todos os bens tidos como universais (água, educação, energia etc.) para, depois, serem entregues à regulação do mercado como simples mercadorias – sobre isso clique aqui.

Eis que São Paulo exibe para o País mais uma prova do seu espírito vanguardista: a pouco mais de um ano das eleições municipais, dois personagens midiáticos sem vida orgânica partidária e sem experiência política entram na cena como candidatos, à espera de confirmação, para a prefeitura municipal: José Luiz Datena (âncora de programa policial) e João Doria Jr. (apresentador do programa Show Business). Somam-se a outro candidato midiático que participou do último pleito: Celso Russomanno, do PRB-SP.

Praça Victor Civita: exemplo do “laboratório vanguardista” de São Paulo

Por que vanguarda? Porque depois de décadas de um trabalho diário (da grande mídia brasileira e mundial) de desconstrução da Política e da figura do político (cuja espetacularização do Judiciário com a Operação Lava Jato é mais um episódio), a grande mídia vislumbra a possibilidade de mandar às favas os intermediários – para quê ter o trabalho em pautar e roteirizar políticos se as própria estrelas televisivas podem assumir o protagonismo?

Política: do teatro à mídia

Que a Política sempre foi um palco teatral, não é novidade para qualquer cientista político. Porém, com a instituição da chamada “Sociedade do Espetáculo” (nos termos propostos por Guy Debord) a Política deixou de ser teatral para tornar-se midiática – balões de ensaio, factoides ou pseudoeventos passaram a ser a pratica comum de políticos para buscarem o foco das câmeras. A mise en scène teatral foi substituída pelo timing midiático da logística das coberturas e horários de fechamento das redações.

 Mas apesar da espetacularização da política, ainda a figura do político exige os protocolos parlamentares, o rito das plenárias e discussões, o corpo-a-corpo com outros políticos nos bastidores e com os eleitores nas campanhas. O político ainda deve um tributo às suas origens cênicas no palco do teatro.

Políticos ainda estão presos à cena teatral

Por isso, ele ainda se mostra desajeitado diante do aparato midiático que ao mesmo tempo promove e desconstrói a Política: a performance canastrona nos vídeos, os ternos com cortes ultrapassados, a dificuldade em ler um teleprompter, os olhos injetados para as câmeras pedindo votos, o déficit telegênico. Tudo isso apenas reforça na mente do espectador a suspeita que a própria mídia alimenta: políticos são tão confiáveis (e canastrões) quanto um vendedor de carros usados.

Chega de intermediários!

Depois do incansável trabalho em desmoralizar não apenas o político, mas a própria Política, a grande mídia ensaia entrar para a fase decisiva de seu projeto histórico – a midiatização total da vida pública. Deputados midiáticos eleitos como o comediante Tiririca, o cantor Sérgio Reis, o apresentador Wagner Montes, entre outros, são ainda o estágio inicial e folclórico desse projeto.

Principalmente no momento atual da política brasileira onde, pela incompetência da oposição parlamentar em se apresentar à sociedade como projeto alternativo ao PT, a grande mídia teve que pautar e levar a reboque os opositores ao Governo Federal, parece que há uma espécie de cansaço midiático: chega de intermediários!

Há muito tempo a mídia vem construindo a percepção na sociedade de como a democracia representativa e o parlamento são lentos, obsoletos e corrompidos. Quando a grande mídia fala em “jornalismo comunitário” e de “prestação de serviços”, na verdade ela se alvoroça em provar subliminarmente, através de seus repórteres estrelas que supostamente ouvem as reivindicações por uma construção de uma passarela ou sobre a necessidade de canalização de um córrego,  o quanto os canais representativos parlamentares são ineficientes diante a rapidez ao vivo midiática.

Jornalismo comunitário supera a representação parlamentar

Para a grande mídia, uma pesquisa por amostragem sobre os índices de popularidade de um presidente ou governador vale muito mais do que o resultados de eleições majoritárias.

Nesse contexto, compreende-se a experiência vanguardista das próximas eleições em São Paulo. Se tudo der certo, será o modelo de midiatização integral da Política.

>>>>>>>>>>Leia mais>>>>>

Wilson Ferreira

Wilson Roberto Vieira Ferreira - Mestre em Comunição Contemporânea (Análises em Imagem e Som) pela Universidade Anhembi Morumbi.Doutorando em Meios e Processos Audiovisuais na ECA/USP. Jornalista e professor na Universidade Anhembi Morumbi nas áreas de Estudos da Semiótica e Comunicação Visual. Pesquisador e escritor, autor de verbetes no "Dicionário de Comunicação" pela editora Paulus, e dos livros "O Caos Semiótico" e "Cinegnose" pela Editora Livrus.

14 Comentários

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

  1. Merecemos….

    Muitas pessoas de esquerda “comportamental”, acredito que de forma inconsciente, estão trabalhando na destruição de valores importantes da nação; valores estes que foram ficando nestes últimos anos, gradativamente, em mãos da direita (pelo menos, no olhar desatento de muitos eleitores): nação, bandeira, disciplina, autoridade, ética, mérito. Até valores mais simples, como família e religião são defendidos pelos pastores e os partidos apoiados por estes, que, afugentados pela agressividade das posições da esquerda comportamental, terminam transitando pela direita.

    Perante o eleitor comum, a esquerda comportamental simboliza apena um grupo caricato de desajustados, e essa percepção é extrapolada para a esquerda, como um todo. A esquerda séria, programática e ideológica é hoje acossada pelos meios de comunicação e a justiça, tentando sufoca-la. Somente um povo mais instruído veria essa situação.

  2. Não sei porque tanto discurso

    Não sei porque tanto discurso para dizer o obvio.

    Alguem que aparece todos os dias durante tres horas na televisão tera sempre vantagem numa eleição, nem que seja o Fernandinho Beira Mar.

    So os petistas ainda não entenderam que no mundo atual é impossivel se manter no poder estando fora dos meios de comunicação.

    A esquerda no governo deveria criar as condições para o incentivo a criação de um super moderno portal de comunicação.

    Trabalhar para ter ao menos um canal de televisão para se comunicar.

    Enquanto não acontecer isso, vamos continuar nesse chororo.

  3. O tal Doria JR ainda usa

    O tal Doria JR ainda usa blusa amarrada na cintura e echarpe,

      Coisa dos riquinhos dos anos 70/80,

        Fala sério….

  4. Estou começando a achar que

    Estou começando a achar que os paulistas merecem mesmo ter Russomano, Datena ou o Zé Bundinha como prefeito de sua capital.

    Daria, fosse possível, até vontade de torcer por eles, embora vomitando, só para assistir o merecido desastre de camarote.

    Afinal burrice marta, digo mata.

    É como os debilóides robotizados que votam nos demagogos de Gezuis para deputado: mereciam ser obrigados a pagar o dízimo em triplo e tomar palmatórias, um nada para eles, pois segundo seu (deles) “piedoso” catecismo:

    “Hebreus 10:26-31

    26 Se continuarmos a pecar deliberadamente depois que recebemos o conhecimento da verdade**, já não resta sacrifício pelos pecados,

    27 mas tão somente uma terrível expectativa de juízo e de fogo intenso que consumirá os inimigos de Deus.

    28 Quem rejeitava a Lei de Moisés morria sem misericórdia pelo depoimento de duas ou três testemunhas**.

    29 Quão mais severo castigo, julgam vocês, merece aquele que pisou aos pés o Filho de Deus, profanou o sangue da aliança pelo qual ele foi santificado e insultou o Espírito da graça?

    30 Pois conhecemos aquele** que disse: “A mim pertence a vingança; eu retribuirei”; e outra vez: “O Senhor julgará o seu povo”.

    31 Terrível coisa é cair nas mãos do Deus vivo!”

    **  Silas, Edires, Valdemiros, Cunhas e Felicianos da vida?

     

    Mas a responsabilidade é também da esquerda meia boca que se acovardou descaradamente frente ao oligopólio midiático, aos exploradores da fé e ao cartel financeiro e lhes deu privilégios e financiamentos esperando alguma compreensão e isenção para construir um capitalismo “fraterno” e socialmente aceitável ; agora colhe o que plantou, pois não se deve alimentar serpentes peçonhentas, nem se aliar ou associar a ratos e a comedores de carniça.

    Muito pelo contrário.

  5. O problema não é a mídia, é a educação, ou falta dela.

    Por isso que o psdb, depois da aprovação automática e de soltar os cachorros nos professores, resolveu nem disfarçar mais: vai virar o partido do fechamento de escolas. Essa é a única explicação lógica para o grande reinado dos tucanos em são paulo: a deseducação da população.

  6. Midiaticos e demagogos

    O PSDB tem dois pré-candidatos para a prefeitura: um muito ruim outro pior ainda. Russomano é um horror de demagogo, Datena idem. Fernando Haddad é de longe o melhor quadro para SP. Quanto ao governo do Estado, pelo que temos visto, não sobrara pedra sobre pedra quando o PSDB sair de la.

  7. Os coxinhas falam em

    Os coxinhas falam em Meritocracia, e nós, não-coxinhas, aceitamos a palavra (e o conceito) inadequada. Na verdade, quem subiu por mérito não tem medo da concorrência. Há tão poucas pessoas com mérito, que 1 a mais, ou 100 a mais, seria a festa para o elemento que subiu por mérito. Quanto mais pessoas inteligentes aparecerem, mais força terão as pessoas inteligentes (independentemente do partido ou ideologia que seguem ou simpatizam).

    Mas os coxinhas (salvo as notáveis exceções, pois as há; obrigado, Odin!) subiram, não por mérito, mas por títulos: um conseguiu um diploma de “doutor” porque o pai rico pagou uma dessas universidades capitalistas pagou-passou; outro conseguiu o diploma porque tem uma ótima memória (passou no vestibular da USP apenas porisso, e não por vocação ou vontade de trabalhar; se médico, esse anti-dr.House vai ser um receitador de top-hits dos laboratórios para males catalogados e, nas horas vagas, vai ser um carniceiro cirúrgico).

    Resumindo, os coxinhas dizem defender a Meritocracia, quando na verdade defendem a Titulocracia. Mérito é mérito, venha de onde vier: tanto faz se o seu hospedeiro é judeu, palestino, chinês ou japonês, sueco ou brasileiro. Título pode ser conquistado (posição infinitamente minoritária), comprado ou roubado…

     

Você pode fazer o Jornal GGN ser cada vez melhor.

Apoie e faça parte desta caminhada para que ele se torne um veículo cada vez mais respeitado e forte.

Seja um apoiador