Deformidades da Roda-Viva ou a morte da entrevista, por Sergio Buarque de Gusmão

Lourdes Nassif
Redatora-chefe no GGN
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Deformidades da Roda-Viva ou a morte da entrevista

por Sergio Buarque de Gusmão

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A Roda-Viva padece de graves problemas de formato para um programa de entrevistas na TV. Originalmente, o grande número de jornalistas-entrevistadores já permitia, e ainda permite, que o entrevistado controlasse a entrevista, contornando perguntas, esticando respostas e aproveitando-se de outra deformidade que é a mudança súbita de tema de um entrevistador para outro. Cada um tem sua questão capital e a sobrepõe à que está em andamento. O sujeito está tratando de assunto importante e de repente é instado (”mudando de assunto…” a desviar para uma bobagem.

Patacoada antijornalística, outra inversão de valores é a escassez de perguntas e a abundância de teses. Os entrevistadores não se limitam a perguntar, não sem antes esgrimir um circunlóquio em que expõem suas opiniões… para o entrevistado comentar. O despautério acentuou-se com a inclusão de entrevistadores não jornalistas, supostos especialistas mais afeitos ao debate e à oportunidade de aparecer na televisão. Já houve caso de entrevistador contestar (“discordo”) entrevistado. Não compreendem, assim como muitos jornalistas, que a finalidade do programa (como de toda entrevista) é extrair do entrevistado informações de interesse público.

Se não são prevenidas, essas deformações do método da entrevista jornalística deveriam ser corrigidas ao vivo pelo apresentador-moderador. Caberia a ele o papel de editor instantâneo – cobrando a pergunta, intervindo em caso de corte abusivo ou naqueles momentos em que o entrevistado fala, fala e não responde. 

Na entrevista de Manuela D´Ávila, além do viés tucano do programa e do excesso de interrupções e perguntas cosmopolitas que davam a impressão de ela ser candidata a secretária-geral da ONU, cintilou outra deformação que cabia prevenir. Um dos entrevistadores é da equipe de outro pré-candidato à Presidência, e de ideias antípodas à da entrevistada do dia – um grave conflito de interesse criado pelo programa.

Tirando isso, desde que Moisés fez no deserto a mais famosa entrevista da História, cabe ao jornalista questionar, anotar e divulgar. Roda de samba é outro departamento.

Lourdes Nassif

Redatora-chefe no GGN

7 Comentários

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  1. Um permanente teste de maturidade para a esquerda

    Lula poderia ter-se asilado numa embaixada (golpistas queriam), mas deu exemplo de quem respeita a ordem, mesmo sendo esta ordem descumprida pelos golpistas. Manuela poderia não ter participado do debate, ou brigado “ao vivo”, mas isso é exatamente o que esse programa queria. O Brasil é como um programa de TV, onde são guardadas aparências tentando enganar a massa bovina que assiste. Se a esquerda reagir ela é imediatamente condenada e, se não reagir, eles tentarão passar as arbitrariedades como coisa normal. Devemos aguentar com maturidade e contribuir com esta leve tendência de “cair a ficha” gradativamente na cabeça do povo

  2. Roda Viva um programa da TV Cultura sem cultura

    Assistir ao Roda Vida tornou-se uma tortura. Porém sempre houve esse lado de não deixar o entrevistado concluir o raciocinio. Era algo que detestava e achava muito mal educado. Mas é assim, um entrevistador pensa que sua pergunta é mais interessante que a do colega e não hesita em cortar a resposta do entrevistado, perguntando outra coisa, nada a ver com o que estava sendo tratado. 

    E agora agora o Roda Viva se superou! Virou uma bancada de extrema-direita raivosa, mal-educada, sexista, preconceituosa.  

    1. Nem todos os “D’Ávila”s são a mesma coisa

      Boa, Maria Luisa.

      Tanto a TV Cultura não é cultura quanto o Roda Viva está morto.

      (Se bem que a raiva, o medo e a ignorância tem sido cultivados por uma parte da elite faz tempo. Será que dá para dizer que está se estabelecendo uma cultura de violência em determinados segmentos sociais? Se sim, como essa cultura está se estabelecendo? Essa cultura está a serviço de que? De quem? Quem ganha com a violência exceto os que têm acesso a recursos para dela se proteger? Quem pode estimulá-la correndo menos risco de por ela ser atingido? E por aí vai…)

  3. Direto da velhinha de Taubaté

    “Será que a Cultura convidará para entrevistar Bolsonaro e Alckmin um coordenador da campanha do PC do B? Será que convidará opositores ao entrevistado?”

    O Roda Viva morreu. Já faz tempo.

  4. Roda Viva acabou dando um enorme tiro no pé!!!

    O RODA-VIVA COMETEU UM ERRO: Escancarou sua parcialidade contra Manuela… que é irrelevante nas pesquisas. 

    Agora serão obrigados a seguir um desses caminhos: 

    -OU APERTAR CANDIDATOS DE DIREITA PARA FINGIR IMPARCIALIDADE

    -OU AFUNDAR NA PARCIALIDADE DE VEZ E PERDER A CREDIBILIDADE

    Para a direita é inaceitável entrevistas que não sejam totalmente controladas… eles não suportam o confronto. Se alguém apertar Alckmin sobre os escândalos de corrupção, ele será destruído completamente. 

    Com o programa de Manuela houve enorme repercussão e o programa vai ter que mudar. Se resolver se abrir para “entrevistadores de esquerda” fora do círculo controlado do PSDB será desastroso para o projeto de poder da direita… se não se abrir e continuar a linha partidária serão desacreditados e vão virar piada.

    Eles “pouparam” Ciro e erraram a mão com a Manuela… e tem pela frente Alckmin. Seja lá qual for a opção do programa… eles vão perder!!!

     

  5. Se o Roda Vida acabar amanhã

    Se o Roda Vida acabar amanhã não fará nenhuma falta. Deixará saudade, sim, mas somente daqueles tempos bons de entrevistadores respeitados e competentes. Em que não era aparelhada politicamente. 

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