Diário da política: juiz, policial, editor-chefe, por Alex Solnik

Patricia Faermann
Jornalista, pós-graduada em Estudos Internacionais pela Universidade do Chile, repórter de Política, Justiça e América Latina do GGN há 10 anos.
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Por Alex Solnik

Da Revista Brasileiros

Não me lembro de nenhuma outra época da nossa história dos últimos 50 anos em que a imprensa de massa tenha se deixado aviltar e apequenar tão acintosamente como hoje.

Não à toa, escuta-se cada vez mais comentários tais como “não leio mais a Folha”, “cancelei a assinatura da Veja”, “não consigo mais ver a Globo News”, “não ouço mais a Jovem Pan”.

Nunca, em alguma outra ocasião, os editores-chefes dos principais órgãos de imprensa falada, escrita e televisiva abriram mão dos princípios básicos do jornalismo, tais como somente publicar depois de checar a informação com ao menos duas fontes, não publicar informações que não respondam satisfatoriamente às cinco perguntas – o que, onde, porque, quando, como – e jamais levar à manchete do jornal ou à capa da revista informações que a matéria publicada no miolo não confirma.

Na vigência da ditadura militar, muitas vezes, tais critérios foram abandonados, mas não por decisão dos editores e, sim, pela imposição da censura ou dos patrões.

Mesmo submetidos ao tacão militar, os jornais, comandados por grandes jornalistas, tais como Mino Carta e Claudio Abramo, para citar apenas dois, lutavam contra as imposições da forma que podiam e, quando eram obrigados a abrir mão do exercício pleno da imprensa livre e ética, preferiam demitir-se ou ser demitidos, tal como ocorreu com os dois citados, Mino defenestrado daVeja e Abramo, da Folha.

Comandados agora por jornalistas que envergonham os colegas, e que serão lembrados no futuro pela subserviência, ignorância, covardia e mau-caratismo os principais jornais, revistas e telejornais tornaram-se porta-vozes de um juiz de primeira instância chamado Sergio Moro, que também assumiu o papel de policial e é cada vez mais, o editor-chefe de toda a grande imprensa.

Ele se transformou no oráculo, na fonte única, usando a seu bel prazer os meios que deveriam informar a verdade, com a conivência dos editores e dos patrões para atingir seu objetivo que é criminalizar a classe política e convencer a população de que é preciso derrubar o governo atual.

Todas as “informações” oriundas do chefe da “República de Curitiba” são publicadas sem nenhum questionamento, sem serem checadas. Tudo o que acontece nesse pedaço do Brasil onde ele faz e desfaz é imediatamente acatado e aplaudido pelos editoriais, pelas manchetes, pelas capas, como se fosse a verdade absoluta, sem nenhum respeito aos direitos humanos. Todas as flagrantes ilegalidades, que chegaram ao auge com o grampo da presidente da República são vendidas aos leitores como eventos normais de uma suposta democracia.

Tais “editores” e “colunistas”, com honrosas exceções, das quais a voz mais sensata e ao mesmo tempo mais incisiva é a de Jânio de Freitas, com seus 83 anos honrados e bem-vividos se esquecem das duas fases que seus colegas mais antigos enfrentaram em anos recentes.

Antes do golpe de 64, os mesmos órgãos de imprensa que agora pregam a deposição da presidente Dilma e com suas manchetes incendiárias alimentam os artificiais “movimentos de rua”, também se apressavam em pedir e até exigir a deposição de João Goulart com manchetes tonitruantes tais como “Basta!”, “Chega!” e ofereciam espaços generosas a manifestações golpistas como a “Marcha da Família com Deus pela Liberdade”.

No entanto, consumado o golpe militar, com seu decidido apoio, patrões e jornalistas acordaram para a realidade de que as principais vítimas, depois dos políticos, seriam eles.

Os mesmos jornais que em letras garrafais aplaudiram a ruptura democrática tiveram as redações invadidas por censores a serviço dos generais e, para não rodarem seus exemplares com espaços em branco publicaram receitas de bolo na primeira página.  

Não existe imprensa livre sem democracia, nem democracia sem imprensa livre.

Patricia Faermann

Jornalista, pós-graduada em Estudos Internacionais pela Universidade do Chile, repórter de Política, Justiça e América Latina do GGN há 10 anos.

8 Comentários

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  1. Lidando legal.

    Sim, Alex: os donos da imprensa que apoiaram o golpe militar tiveram depois que lidar  com a censura dentro das redações.

    Mas nem por isso deixaram de prosseguir apoiando o golpe e nem de contribuir emprestando seus veículos para a ditadura trasnportar suas vítimas.

    Essa gente não vale o que o gato enterra, parceiro. 

  2. Eu até assistia alguma novela

    Eu até assistia alguma novela da Globo, mas nos últimos tempos elas se tornaram tão ruins que decidi assistir as novelas da Band. Primeiro por serem editadas na Turquia. Dá gosto ver como é possível se ter uma ideia de como funciona o país, com seus contrastes sociais, sua cultura, seus costumes. As músicas são quase todas eruditas, semi-eruditas, e é muito lindo ouvir os artistas cantarem as músicas populares. Tô satisfeita.

    Ainda engolia, há pouco tempo, os jornais da Record. Mas essa emissora mudou e está no mesmo ritmo da gloobo e demais. Por isso, sartei fora de todas. Ocupo meu tempo nas noite com tudo que posso fazer de melhor do que assistir essa ladainha nojenta. 

    Quero me informar sobre política: assisto a Tv Brasil, e venho pra Internet, com muito gosto, seugir os blogues e os diversos comentaristas, muitos deles com um nível intelectual e um senso crítico invejáveis. Aprendo demais. 

    Se quero ler Jânio de Freitas, Fernando Veríssimo, ou ver vídeos de Bob Fernandes, como exemplo, não preciso ligar essas televisões. Comprar jornal e revistas, isto deixei de fazer há muito tempo, e graças a Deus. Só compro Carta Capital, porque é a única revista que merece meu dinheiro.

  3. O que acontece hoje é

    O que acontece hoje é consequencia, alimentaram a globo, se tivessem partido para uma imprenssa estatal tipo BBC, mas faltou ousadia, se tivesse partido para eleger uma bancada maior sem coligação de esquerda e se livrado do Pmdb, mas não acomodou, ficou na zona de conforto, tem o presidente e o vice é do partido de maior bancada……..cãos anunciado.

  4. Já eu penso que a Globo e o
    Já eu penso que a Globo e o resto da imprensa a reboque é que conduziram o golpe.

    Moro foi mais induzido do que condutor.

    Todo o convencimento de que os atos de Moro e do Congresso foram legais partiu da Globo.

    Mesmo perdendo audiência a Globo está mais forte do que nunca. Fracas estão as Instituições, as lideranças, e o ser humano.

    plin plin

    1. Também vejo assim, Assis.

      Também vejo assim, Assis. Essa lava jato não resistiria a dez dias de jornal nazional se o foco fosse outro. A escolha por investigar a partir de 2002 foi definitiva, mesmo com os funcionários corruptos que foram demitidos em 2012 tendo falado que recebem dinheiro desde 96!

      A prisão da cunhada do Vaccari, a indulgência com a esposa do Cunha e a mobilização desse no primeiro dia do recesso parlamentar não eram pra deixar mais nenhuma dúvida – além de todo o cronograma de vazamentos, é claro.

      É mpressionante como tem gente acordando só agora, inclusive “intelectuais”…

      Há uma concordância sobre os objetivos e os métodos, ponto. Dizer que a imprensa está sendo dirigida por Moro…

      E digo mais: os donos da comunicação sabem muito bem que essa ridícula subideologia do “sinistro projeto de poder petralha” é pura empulhação, veneninho retórico eleitoreiro.

      Mas os crianções concurseiros acreditam mesmo nisso, assim como os leitores dessa máquina de propaganda e desinformação.

  5. O comandante

    A Globo comanda o golpe. Atendendo os interesses do irmão do norte, do sistema financeiro internacional e de nossa patriótica elite. Temers, Cunhas, Moros, Gilmares, Janotas, Aécios, Serras e FHCs são seus capitães. O resto é perfumaria. 

    E pelo que se viu até agora não adiantam manifestações em contrário de ninguém, sejam de  ilustres figuras públicas, grandes jornalistas ou mesmo de entidades,  associações de juízes, promotores, como já vimos.

    Estão c……  e andando para quem diz que é golpe.

    Sob a comando general da Globo vão até o fim.

  6. ótimo artigo, o desfecho

    ótimo artigo, o desfecho lembra bem as consequencias da ditadura sobre a grande mídia….

    gostei tb do comentário do assis….

  7. Corrupção, só se for do PT.

    Corrigindo: a dupla Janot-Moro criminaliza o PT, do outro lado só o Cunha, mas aí nem dava prá livrar mesmo. Denúncias sobre os do PSDB são todas arquivadas. Em áudio de interrogatório em Curitiba o inquisidor, ao ouvir o nome de tucano, pergunta sobre ação do José Dirceu! 

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