Wilson Ferreira
Wilson Roberto Vieira Ferreira - Mestre em Comunição Contemporânea (Análises em Imagem e Som) pela Universidade Anhembi Morumbi.Doutorando em Meios e Processos Audiovisuais na ECA/USP. Jornalista e professor na Universidade Anhembi Morumbi nas áreas de Estudos da Semiótica e Comunicação Visual. Pesquisador e escritor, autor de verbetes no "Dicionário de Comunicação" pela editora Paulus, e dos livros "O Caos Semiótico" e "Cinegnose" pela Editora Livrus.
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Episódio “O Mecanismo” revela a inépcia da esquerda com a comunicação, por Wilson Ferreira

Como era de esperar, a reposta da esquerda a “O Mecanismo” foram denúncias contra o conteúdo factual da série brasileira. Mordeu a isca jogada pelo diretor José Padilha e suas eminências pardas da atual guerra híbrida: de que a série era supostamente “baseada em fatos reais”. E começou a acusar o “assassinato de reputações” ao não respeitar “o tempo que os fatos ocorreram”, condenar a “distorção da realidade” e produzir “fake news”. Foi como se a esquerda levantasse a bola no outro lado da rede para o adversário dar uma violenta cortada. Como uma “obra de ficção”, a série deve ser criticada no seu próprio campo semiótico: a Operação Lava Jato foi um mero pretexto para o roteiro explorar a combinação explosiva de ressentimento com a meritocracia. Combinação que fez recentemente as ruas encherem de camisas amarelas batendo panelas. Como não consegue se descolar da visão conteudística da comunicação, a esquerda é incapaz de lutar no mesmo campo simbólico no qual Netflix milita. Além de oferecer mídia espontânea a uma série tosca e malfeita.

Durante quase duas décadas nos anos 1980-90, as campanhas da marca italiana Benetton foram provocadoras e controversas. As fotos de Oliviero Toscani para a campanha “United Colors of Benetton” eram cada vez mais polêmicas, frequentemente censuradas fora e dentro da Europa: as imagens do ativista David Kirby em seu leito de morte ou a roupa ensanguentada de um soldado bósnio morto na guerra eram altamente provocativas em um meio publicitário que, segundo Toscani, vivia alienado e fora da realidade.

Tanta controvérsia e escândalo das fotos-choque rendia o que os marqueteiros chamam de “marketing de guerrilha” ou “mídia espontânea” – graças às polêmicas e os bate-bocas com o meio publicitário, Benetton chegava a lugares que a marca jamais conseguiria alcançar. Boa forma de economizar dinheiro: pagava-se para uma mídia e suas peças eram vistas em todas as outras como um acontecimento noticioso.

Dilema midiático insolúvel: se uma mídia quiser ignorar o “buzz”, ficará por fora de um debate público; se a mídia participar, irá cair na cilada da mídia espontânea e dará publicidade involuntária (e gratuita) a uma marca.

O episódio da série brasileira do Netflix O Mecanismo foi mais um exemplo desse tipo de cilada armada para criar um dilema midiático. Uma cilada explicitamente lançada para aproveitar o timing da prisão de Lula (que não ocorreu graças à liminar do STF), prevista para essa semana. 

Oliviero Toscani: a fórmula da mídia espontânea

Cortada na rede

Vimos em postagem anterior, como essa série foi articulada, desde o ano passado, como mais uma bomba semiótica dentro do atual cenário de guerra híbrida contra a esquerda e a própria realização das eleições nesse ano – clique aqui.  

Mas José Padilha e os estrategistas dessa guerra semiótica visaram algo mais: provocar a esquerda e esperar que a sua histórica inépcia com a comunicação rendesse boas tréplicas para impactar o distinto público – e principalmente aqueles que acham que o debate atual está “muito partidarizado” e que, por isso, se entregam a repulsa à política. 

Como era de esperar, a reposta da esquerda foi através do conteúdo factual da série. Mordeu a isca de que a série era “baseada em fatos reais”, começou a criticar o “assassinato de reputações” ao não respeitar “o tempo que os fatos ocorreram”, condenar a “distorção da realidade”, inventar fatos e produzir “fake news”. 

E o que é pior. Tudo isso seria “erro de roteiro”, como disse a ex-presidenta Dilma.

Era tudo que Padilha e suas eminências pardas esperavam e pretendiam. Foi como se a esquerda levantasse a bola no outro lado da rede para o adversário dar uma violenta cortada. 

Prontamente o diretor de O Mecanismo respondeu: “na abertura de cada capítulo diz que os fatos estão dramatizados, que é uma obra de ficção que faz livre adaptação”. E completou ao estilo da truculência do MBL e congêneres: “Se a Dilma soubesse ler, não estaríamos com esse problema [de crítica].

Dilma fala que Netflix “não sabe onde se meteu”, insinuando que a plataforma de streaming está sendo usada para fazer campanha política. E que vai “alertar lideranças políticas de outros países”.

Levantando a bola na rede para o adversário dar a cortada…

Esquerda prisioneira de si mesma

Uma empresa como o Netflix, que só em 2013 dispendeu 1,2 milhões de dólares em esforços lobistas mirando na Casa Branca e Congresso dos EUA realmente sabe o que faz. E pelo seu modus operandi (séries e filmes sobre eventos que ainda estão em desdobramento), é uma empresa engajada numa tática fundamental da guerra híbrida: a intervenção na realidade através de produtos do gênero ficcional. 

Prisioneira que ainda está no cânone iluminista da representação, a esquerda cobra de Padilha realismo e precisão histórica em uma obra de ficção. Mas sabemos que o diretor, assim como personagens como Kim Kataguiri e Alexandre Frota, é um provocador. Quer mídia espontânea para alcançar lugares que talvez jamais chegaria. Como a Benetton de Olivero Toscani.

Como não consegue se descolar da visão conteudística da comunicação, a esquerda é incapaz de lutar no mesmo campo simbólico no qual Netflix milita: o campo do imaginário e da ideologia. Prefere ficar no campo confortável (porque familiar) do realismo e do escândalo moral (o escândalo contra a manipulação) ao ver um produto de comunicação que não corresponde aos fatos. 

Lutar no mesmo campo semiótico do Netflix

Em geral as críticas de O Mecanismo giram em torno do senso comum do leigo de cinema: o roteiro erra porque não é realista. Isso é o que menos se deve cobrar da série: um roteiro deve ser verossímil, e não realista.

Óbvio que O Mecanismo é uma peça de propaganda indireta. Tosca e malfeita, produzida às pressas para ser lançada no momento da prisão de Lula. 

“O Mecanismo”: combinação explosiva entre ressentimento e meritocracia

Então, o que significa dizer que a esquerda deve lutar no mesmo campo simbólico do Netflix? No caso particular dessa série, denunciar que o argumento ficcional se baseia na combinação ideológica explosiva da meritocracia com o ressentimento. E isso é uma questão de verossimilhança, e não de realismo.

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Wilson Ferreira

Wilson Roberto Vieira Ferreira - Mestre em Comunição Contemporânea (Análises em Imagem e Som) pela Universidade Anhembi Morumbi.Doutorando em Meios e Processos Audiovisuais na ECA/USP. Jornalista e professor na Universidade Anhembi Morumbi nas áreas de Estudos da Semiótica e Comunicação Visual. Pesquisador e escritor, autor de verbetes no "Dicionário de Comunicação" pela editora Paulus, e dos livros "O Caos Semiótico" e "Cinegnose" pela Editora Livrus.

24 Comentários

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  1. Brilhante texto!!! Porém esqueceu de mencionar que não há saída

    Exatamente o que eu pensei ao ver essa polêmica com a Netflix… lá vái a esquerda dar mais um tiro no pé e promover a série de forma indireta.

    É muito provável que a inserção desse “erro” tenha sido proposital… logo Lula falando uma das frases mais famosas da Lava-Jato, que foi pronunciada por um político de outro grupo de poder… que “erro” mais descarado foi esse?

    Porém, fica óbvio ao analisar o fato passado que na realidade a esquerda não tem escolha alguma, o que aconteceu foi que a própria direita usa a força da mídia para criar a “reação da esquerda”.

    Pode-se perceber que a “reação da esquerda” foi propositadamente ampliada pela própria Netflix e pelos jornais que, de repente, passaram a divulgar o que tuiteiros e blogueiros de esquerda pensavam sobre o assunto. Automaticamente as dezenas de páginas de direita foram acionadas e passaram a “defender” a Netflix de um “boicote” quase irrelevante. Mensagens individuais de pessoas eram usadas para gerar memes e comentários…

    Esse episódio me lembrou muito a “vaquinha para ajudar Zé Dirceu” que a direita tanto divulgou mas que um dos blogs de esquerda mostrou ser apenas uma invenção da própria mídia.

    A resposta da Dilma é óbvia, ela é quase obrigada a se pronunciar… dá para perceber que Padilha já esperava por isso e se aproveitou ainda mais.

    COMO INVERTER ESSE TIPO DE JOGADA???

    A esquerda/Dilma já deveria responder ao diretor e à Netflix desmascarando a jogada já no primeiro parágrafo:

    “Mais uma vez um canal de televisão/diretor utiliza a tática de provocação da esquerda para gerar uma reação que será ampliada pela mídia e usada como forma de divulgação de seu trabalho. Apesar de ser uma tática muito batida, desonesta e oportunista é impossível não apontar aqui os erros da série….”

  2. A campanha #deleteNetflix
    A campanha #deleteNetflix surtiu efeito: deu prejuizo de pelo menos 18 bi aos farsantes

    Sobre a queda da NetFlix na Bolsa Nasdaq,…..a velha midia escondeu…..a NetFlix teve prejuizo de pelo menos 18 bilhões de reais, ou seja, 6 bi de dólares…..

    Motivo: um seriado fake news, na verdade uma peça de propaganda do trio Shell e Chevron sócias NetFlix mais a viralata Globo…que contrataram o mercenário Zé Quadrilha sic Padilha para mentir…

    https://gauchazh.clicrbs.com.br/colunistas/marta-sfredo/noticia/2018/03/campanha-acionada-no-brasil-custa-quase-us-6-bi-a-netflix-cjfbkoyby026401phpe1jk3cf.html

    1. sem noção

      jclima,

      A colunista não tem a menor idéia sobre o assunto, deveria se informar melhor.

      Nos últimos trinta dias, o índice Nasdaq caiu pouco mais de  2,5% e a netflix, no mesmo período, subiu 1,5%. Ontem, a ação da netflix subiu cerca de 3,5%, ou seja, valorizou quase 5 bilhões de dólares em um único dia.

      1. Grato pelo informe,,,,.é

        Grato pelo informe,,,,.é verdade, essas bolsas são tão voláteis como picolé ao sol…..e só hoje as petroleiras amealharam trilhões de reais com a entrega do pré-sal….os ladrões que tomaram o poder de assalto estão levando áreas do pre-sal ainda não mapeadas, ou seja, vários pre-sal que poderão estar em regiões que estão sendo abocanhadas pelos abutres: e só de uma tacada só a Shell, sócia da Netflix, ficou isenta de pagar mais de 1 trilhão de reais ao povo brasileiro

        1. entrega total

          jclima,

          Sempre fui pessoa interessada nos rumos do patropi, e pela primeira vez me afastei das notícias, quando muito, apenas leio o primeiro parágrafo.

          A entrega do pré-sal, a cessão do espaço aéreo para USA e a Aeronáuitica não se manifesta, o roubo às instalações nucleares e a Marinha não se manifesta, e aí, o que sobrou de estratégico ? Nada. Existem os brasileiros que nasceram aqui, aqueles que sonham com Miami, e existem os brasileiros, é só o que posso dizer.

          Um abraço 

      2. Na dúvida…

        Vamos continuar divulgando a ideia de cancelar a assinatura da Netflix. Já fiz minha parte e estou divulgando ao máximo o boicote proposto. Aliás acho que deveria haver um boicote mundial a tudo que for produzido nos EUA pra ver se o Pentágono para de promover invasões intermináveis contra países soberanos. Eles não são a polícia do mundo, como pensam.

  3. Errou nada: tem de chamar de mentirosa mesmo

    É o que o povo entende. Uma coisa é ficção baseada em fatos reais. Outra coisa é ficção desonesta baseada em mentiras factuais. Todo mundo entende quando um filme é oficialesco de uma ditadura: vilaniza opositores de forma grosseira. Esse é oficialesco da ditadura do mercado que deu o golpe. É é tão desonesto que chega a dar tiro no pé ao contar mentiras conhecidas do telespectador: tudo mundo sabe que foi Jucá que falou o que Padilha atribui a Lula. Todo mundo sabe que Banestado é escândalo tucano. A própria série se denuncia. #deleteNetflix

  4. comunicando bem e mal

    Nassif,

    A chamada direita é, sempre foi dona da comunicação em nível mundial, enquanto a chamada esquerda, que nunca conseguiu, ou teve capacidade, para comandar o importantíssimo setor fica sem fundamentos para compreender o funcionamento do setor de comunicação de massas.

    Não posso dizer que o ponto de vista de WFerreira está perfeitamente certo, pois não tenho informação suficiente para este típo de crítica, mas errado é que ele não está.

    Me lembro de Franklin Martins deixando para o seu sucessor na pasta, paulo bernardo, o projeto de regulação da mídia e este deixando, certamente a mando de DRousseff, que chegou ao ponto de defender o controle remoto, o calhamaço no fundo de uma gaveta até a chegada do golpe, ou seja, amadorismo na veia.

    E a CPI do Cachoeira, minha nossa ? A bancada petista com a faca e o queijo nas mãos e,e aí, nada, porque o sonho dourado da bancada era aparecer no JN. Dá para imaginar o banho de sangue que a chamada direita faria, caso os papéis estivessem invertidos. E não cabe apenas ficar criticando a quadrilha da Lopes Quintas, pois se aquela programação é cínica, calhorda, sempre de braços dados com a mentira, o fato é que ela não me influencia em nada, só influencia a quem se deixa colocar a coleira.   

     

  5. Não faltam “gênios” pra criticar a esquerda
    A esquerda não entende nada, não sabe nada, só faz coisa errada, o PT é incompetente na comunicação e blá blá blá. É a modinha da “esquerda intelectualóide”.
    Deve ser por isto que ganhou QUATRO eleições seguidas e foi derrubada por um golpe, que intelectualóide nenhum previu no nascedouro: o mensalão e posteriormente a lava jato. Pelo contrário, muita gente “esperta” e que agora “dá aulas” ao PT, fez coro com a luta contra a corrupção e achou um avanço a prisão de empreiteiros.

  6. Nem Jogador de Palitinho

    A sorte da esquerda, ao engolir a isca conforme desejavam, é que a série é muito ruim e o que seria péssimo, discutir os ‘fakes’, passa a ser bom, pois soma a ruindade da série, tornando-a ainda menos palatável aos que a assistirem sem o viés político acirrado, como entretenimento, sem comprar o subreptício que pretendiam que comprassem, pela má qualidade do produto oferecido pelo ‘Tropadilha de Elite’.

    O resto, é agradecer a alguém de preferência, pela graça e/ou sorte conquistada.

    Amador, hoje em dia, nem jogador de palitinho.  

    1. Lixo vulgar e medíocre

      E assim a direita segue comprando lixo, consumindo lixo, rindo de lixo, comentando sobre lixo, gostando de lixo… no capitalismo não há nada que não possa ser tornado em vulgaridade, em mediocridade embelezada e vendida a preço mais acessível, ainda que numa embalagem que dá a impressão de especial, quase exclusiva.

  7. De fato a turma do Renan

    De fato a turma do Renan Antonio Ferreira dos Santos, Aloysio Fereira Nunes, Eliseu Padilha, José Padilha, Geddel Vieira Lima, Cassio Cunha Lima, Eduardo Consentino da Cunha, Aécio Neves da Cunha etc. devem estar rindo da ingenuidade de Dilma quando levantou a bola para o… adversário? melhor, para o inimigo cortar. O Padilha José, então, não só ri da ingenuidade como ri pela eventual turbinada que a ex-presidente deu à divulgação da sua “obra de arte”. Ou melhor, daquilo que ele obrou.

    Com gente como a turma citada e ainda Artur Moledo do Val, Kim Kataguiri, Geraldo Alckmin, José Serra, Jair Bolsonaro e outros do mesmo tipo não há a menor possibilidade de diálogo; qualquer pessoa sensata simplesmente despreza.

  8. Vamos bater no mesmo tema.

    Vamos falar do mesmo assunto, porque somos uma esquerda de merda, que não cansamos de ser medíocre (assim como o Brasil), para mostrar que devemos defender nossos interesses, voltados na figura de um ex-presidente acusado de crimes de corrupção, mas que exaltamos como um mito salvador da pátria, porque somos um país de burros iludidos, desde a época do ditador Getúlio Vargas.

    É assim que funciona aqui. Regurgitamos o mesmo assunto (Netflix e o Mecanismo, o fascismo no Brasil, os ataques contra Lula), porque não temos capacidade mental e intelectual para seguir em frente e buscar respostas. Precisamos ser hipócritas e linchar a tudo e todos, para mostrar a verdade. O Brasil é formado por escórias fascistas de esquerda e de direita, que só querem pregar o ódio e provar que são jumentos que urram mais alto que os outros.

    Ser brasileiro e pertencente a um continente de idiotas como o americano cansa.

    Até mesmo um habitante do Sudão do Sul é mais inteligente do que o brasileiro.

    Um lixo de pátria e uma bosta de povo, que merecem estar na merda.

    Viva o caos e a guerra civil, pois é isso que o povo brasileiro quer.

    1. Twig

      “somos uma esquerda de merda”

      Nós, quem, cara-pálida? Porque você não é de esquerda, nem de merda, nem de qualquer outra substância. Você é de direita, moço. E dá pra notar.

  9. Quem sabe é por aqui?

    Vi hoje o primeiro episódio da série. A queda de qualidade em relação a Narcos é evidente. Se a desculpa do Padilha é que tem liberdade para mentir por que se trata de uma obra de arte, então podemos enfrentar a discussão nesse nível também: como obra de arte, O Mecanismo é um panfleto, e um panfleto na verdade muito ruim.

    Uma coisa chama a atenção: em Narcos, havia personagens reais e personagens fictícios – e alguns personagens reais foram ficcionalizados, como D. Hermilda, mãe de Pablo Escobar. Mas os presidentes da Colômbia eram Gaviria e Samper, e havia realmente um ministro chamado Botero. Da mesma forma, Escobar, La Quica, os irmãos Rodriguez Orejuela, ou a dupla de agentes da DEA, Murphy e Peña, ainda que lhes tenham sido atribuídas ações fictícias, tinham esses nomes. Enfim, os personagens principais eram os personagens históricos mesmo. E os personagens fictícios, como Sandoval ou Fernando Duque, se encaixavam bem na trama, assim como a ficcionalização de D. Hermilda a tornou na verdade um personagem mais interessante do que a Hermilda real (que era uma bandida muito mais estereotípica do que a que foi retratada na série).

    Já em O Mecanismo, recorreu-se a um expediente um tanto ou quanto ridículo: Lula virou Higino, Dilma virou Janete, Youssef virou Ibrahim, Moro virou Rigo. Isso trai uma certa insegurança: em Narcos, já há uma certa distância no tempo; não é preciso supor o envolvimento de Botero com o Cartel de Cáli, pois esse envolvimento levou Botero a uma condenação judicial e depois ao exílio no México. Dificilmente seria do interesse dele processar os produtores. Mas agora se trata de fatos muito recentes, e, na verdade, de fatos que ainda não terminaram de acontecer. Complicado dar o nome de Lula a um personagem que aparece na série praticando atos manifestamente ilegais, se até agora isso não está estabelecido (aliás, em Narcos, as coisas são muito mais sutis: Botero passa informações aos Rodriguez, mas só ficamos sabendo disso junto com os detetives – não vemos Botero espalhafatosamente dizendo absurdos ilegais em nenhum momento).

    Isso dá a O Mecanismo o aspecto de uma série que se quer valente, mas é na verdade bastante covarde: se esconde por trás da “ficcionalização” para negar que esteja dizendo o que na realmente quer dizer. E também por este motivo é um panfleto ruim: não tem a coragem da verdadeira denúncia, é um gesto pela metade. Narrativamente beira o ridículo, como um romance policial em que já sabemos quem é o criminoso enquanto o detetive ainda se esforça em encontrá-lo; politicamente é fraco demais para ser levado a sério.

    Fraco não apenas por essa pantomima de dizer sem dizer, mas também por que o personagem Marco Ruffo é um desastre, que não pode ser salvo nem mesmo pelo talento interpretativo de Selton Melo. É um crápula invejoso, e ainda por cima um invejoso burro. Ressentido por que após vinte anos de carreira na Polícia “Federativa” (outra coisa ridícula essa renomeação das instituições brasileiras) tem apenas um carro usado e uma chácara como patrimônio, enquanto aqueles que ele investiga nadam em dinheiro. Mas o que ele queria? Ser milionário com salário de delegado de policia (que é evidentemente bem maior do que o que a choradeira dele nos faz supor, mas nunca faria, por si mesmo, alguém rico)? Como somente um imbecil completo poderia imaginar semelhante absurdo, o que transparece é que ele, como os invejosos mais reles, não quer na verdade se dar bem – quer simplesmente que todo mundo se dê mal, e esse é o seu conceito de justiça: que ninguém seja mais rico, ou mais feliz, ou mais reconhecido, do que ele.

    E isso não faz um personagem simpático, a não ser entre a pequena minoria da população que sofre de inveja igualmente patológica. E sem essa simpatia, fica muito difícil embarcar na onda de um péssimo policial, incompetente e desequilibrado, que ameaça um suspeito com uma navalha no pescoço, destrói propositalmente a motocicleta de outro suspeito, e depreda as depencências de uma Vara de Justiça por que o acordo de delação que a promotoria propôs não é do seu agrado. Um imbecil desses é o tipo de policial com quem ninguém quer se encontrar – o tipo que bate no seu carro e te dá um carteiraço para não ter de pagar o prejuízo, o tipo que dá porrada num zelador ou motoboy por não ter sido chamado de “doutor”, enfim, o prepotente amargo e irresponsável, que usa o cargo para ferrar com os outros, e não a serviço da população, ou nem mesmo da “Lei”.

    A gente pode achar os agentes Murphy ou Peña estereotipados ou equivocados – e eles são, na verdade, se a série é fiel aos fatos, maus policiais, coniventes com tortura e assassinatos sem sentido, e cúmplices, ainda que vagamente críticos, de uma “política” que consiste em fazer alianças com uma quadrilha para derrotar outra. Mas eles pelo menos são movidos por sentimentos mais “nobres”, uma sede de justiça mais autêntica, uma devoção ao dever abstrato de policiais; eles querem destruir Escobar e os Rodriguez, e estão dispostos a cometer seus próprios crimes e contravenções para isso, mas não por que invejem os chefões dos cartéis, e sim por que isso é o “certo” ou por que os crimes desses chefões são realmente revoltantes. Mas Ruffo é apenas um invejoso imbecil; seu único orgulho é nunca ter aceito uma propina – mas considerando o tipo de ilegalidades que ele está contente em praticar, a gente acaba se perguntando por que diabos ele não aceita logo propinas. E a única resposta possível, à parte algum tipo de incapacidade cognitiva, é a de que ele não aceita propina por que ele quer se dar mal. E que ele quer se dar mal apenas para poder continuar invejando, e desejando que os outros também se dêem mal…

  10. …………… VIAJÃO DE UMA NOTA SÓ.

    Brilhante artigo deste jovem, eu também pensso isso, acho que as Esquerdas deveriamm conversar com o Bonner, sei lá, as vezes uma conversa semiótica gera resultados, e a partir daí assumir a bancada do JN e aí sim, detonar bombas semióticas pra tudo que é lado . . . esse camarada é um viajão, de uma nota só . . . .

  11. Em casa de ferreiro espeto é de ferro, mas discordo de você

     

    Wilson Roberto Vieira Ferreira,

    Não deveria debater em assunto de sua competência, mas como discordo e já tenho o comentário pronto vou reproduzi-lo aqui.

    Em um de uma série de comentários que eu enviei ontem, quinta-feira, 29/03/2018 e hoje, sexta-feira, 30/03/2018, para Romulus junto ao post “Duplo Expresso 28/mar/2018” de quarta-feira, 28/03/2018, há um que eu trato da crítica da ex-presidenta às custas do golpe Dilma Rousseff à série que iria ser exibida pela NetFlix “O Mecanismo”, e que sofrera censura por dar destaque a NetFlix, a José Padilha e a série “O Mecanismo” e também ao jornal Folha de S. Paulo. Disse eu lá:

    -x-x-x-x-x-x-x-x-x-x-x-x-x-x-x-x-x-x-x-x-x-x-x-x-x-x-

    “Romulus,

    Parte IV

    Ontem [quarta-feira, 29/03/2018] em um grupo de trabalho no WhatsApp eu recebi o seguinte comentário de um colega da direita que me enviou também na sequência um vídeo com trecho da série “O mecanismo”. Disse ele antes de mostrar o vídeo:

    “Assistam a esse trecho da série “O Mecanismo” da Netflix, em que os primeiros presos da Operação Lava Jato comemoram que o caso iria para o STF e todos seriam soltos. Repassem essa mensagem e o vídeo para seus contatos até o dia 4 de Abril, para ver se ainda resta alguma vergonha na cara dos ministros do Supremo.”

    Eu não vi o vídeo. Assim, mesmo dei uma resposta cujo conteúdo tinha a ver com conversas prévias que eu já havia tido com o meu colega da direita quando do julgamento da Ação Penal 470 no STF. A minha resposta é a seguinte:

    “Como bem disse o Padilha é tudo uma dramatização.

    Como qualquer artista em uma dramatização, ele está sob a influência de o livre pensar é só pensar. Assim, José Padilha sentiu-se livre para aproveitar a defesa dos réus no Julgamento da Ação Penal 470 no STF e a transpor para os procedimentos das defesas na Ação vinculada a Operação Lava Jato e sobre a nova defesa fazer a lição de moral dele.

    É verdade, lá na Ação Penal 470, todos os réus, baseados na antiga jurisprudência do STF que exigia a prática do ato ou a omissão de praticar o ato para a condenação pelo crime de corrupção, alegaram apenas lavagem de dinheiro, crime para o qual o PT tinha pedido aumento da pena junto com o aumento da pena para o crime de corrupção, mas os deputados, talvez já querendo se proteger, aumentaram apenas a pena da corrupção. Então se fossem julgados pelo crime de lavagem de dinheiro, o crime estaria prescrito.

    Graças a insistência de um promotor de Justiça (na esfera federal, o procurador da República que trata de crimes é uma espécie de promotor de justiça) os réus na Ação Penal 470 no STF não foram julgados pelo crime de lavagem de dinheiro, mas de corrupção e acabaram sendo condenados apenas pelo crime de recebimento de vantagem indevida, isto é, crime de corrupção, sem o gravame do parágrafo 1° do Art 317 do Código Penal, isto é, aumento da pena de 1/3 pela prática do ato ou sua omissão.

    Como disse José Padilha, está nos letreiros, trata-se de uma dramatização. Quem não reconhece isto é porque não sabe ler.

    Um adendo. Joaquim Barbosa foi o primeiro, por assim dizer, promotor de justiça a ser indicado para o STF. A prática é a indicação de juízes e advogados famosos mais vinculados à proteção das garantias e direitos individuais ou da sociedade. O PT alterou esse proceder.”

    Pelo que eu disse acima, cabia sim censura à ex-presidenta às custas do golpe Dilma Rousseff. O que havia de falho na crítica dela ao cineasta José Padilha foi ela ter omitido essa dramatização equivocada e suspeita. Equivocada por não aproveitar para esclarecer o que ocorrera na Ação Penal 470 no STF e suspeita porque falsifica o que ocorrera com a Operação Lava Jato.

    E por que a ex-presidenta às custas do golpe Dilma Rousseff não fez essa crítica a José Padilha? E por que toda a blogosfera da esquerda, seja a que não quis fazer propaganda da polêmica seja a que fez, não criticou a ex-presidenta às custas do golpe Dilma Rousseff por essa omissão? Seria divisionismo eu chamar atenção para o tanto que se omite sobre esse assunto?

    Há cinco anos e poucos meses eu tenho feito a indicação do vídeo em que há a declaração de voto do revisor Enrique Ricardo Lewandowski proferido na sessão de 20/09/2012, e que pode ser visto no seguinte endereço:

    https://www.youtube.com/watch?v=m6uyOzTG2T8

    Quantos na esquerda já assistiram este vídeo? Quantos sabem que até essa declaração de voto Enrique Ricardo Lewandowski dava o voto pela inocência dos acusados do crime de corrupção. Nesse voto ele consolida de modo didático a nova direção da jurisprudência e passa a acompanhar a maioria composta de juízes mais antigos que haviam mudado de entendimento para acompanhar o relator Joaquim Barbosa e de juízes mais novos que acompanhavam o entendimento apresentado de forma tosca pelo relator?

    Eu já fiz esta questão aqui no blog e volto a repetir: quantos aqui do blog sabem que nenhum dos réus na corrupção passiva foram condenados pela prática do ato ou pela omissão. Eles foram condenados apenas pelo recebimento da vantagem indevida o que é suficiente para a condenação pelo crime de corrupção. Essa discussão, entretanto, é omitida tanto à direita como à esquerda. Não se fala que nos crimes formais o dolo está implícito na conduta.

    Faz muito bem a ex-presidenta às custas do golpe Dilma Rousseff em denunciar as mentiras que a construção livre do artista pode criar. Fez bem porque esta é uma função primordial da esquerda: prestar o esclarecimento. A esquerda é o iluminismo, o renascimento, a civilização. Onde houver oportunidade para prestar o serviço do esclarecimento é tarefa de a esquerda o fazer.

    Os artistas evidentemente podem não ser da esquerda. E podem então desempenhar outro papel. E eles têm o nihil obstat da própria classe. O poeta é um fingidor, chega a fingir que é dor a dor que deveras sente. Não há, entretanto, considerar a dor do poeta como algo mais relevante do que a realização do esclarecimento. Fez mal a ex-presidenta às custas do golpe Dilma Rousseff em não ter focado também a grossa mentira de José Padilha em trazer para a operação Lava Jato a defesa dos réus na Ação Penal 470.

    Agora, a resposta de José Padilha em dizer que a ex-presidenta às custas do golpe Dilma Rousseff não sabe ler é desqualificante dele e não da ex-presidenta às custas do golpe Dilma Rousseff. No futuro alguém ao ler o jornal e conhecendo mais o que ainda virá de toda a história não terá dúvida em ver a justificativa de José Padilha quase como se fosse de um iletrado.

    Abraços,”

    -x-x-x-x-x-x-x-x-x-x-x-x-x-x-x-x-x-x-x-x-x-x-x-x-x-x-

    O endereço do post “Duplo Expresso 28/mar/2018” é:

    https://duploexpresso.com/?p=91700

    Seus posts são como esse sempre muito bons, mas você carrega nas costas o grande problema daqueles que labutam no setor da área de comunicação. Ao ver todo mundo com o pensamento uniforme, vocês dos meios de comunicação imaginam e querem crer que são vocês que fazem a grande massa ter um pensamento uniforme. Não lhes acomete conceber que é o contrário. São os grandes meios de comunicação que reproduzem o que pensa a grande massa. Fazem isso porque vivem em um sistema capitalista em que precisam oferecer o produto que o povo quer.

    E ai imaginam que uma polêmica em um jornalão gera plateia. Uma polêmica atrai mais lados em um debate, mas não é ela que gera plateia. O que gera plateia são os milhões gastos com propaganda informando aquilo que o povo quer assistir. E o que o povo mais quer ver é crítica à corrupção.

    E há outra supervalorização no trabalho que um comunicador faz na blogosfera e que consiste em imaginar que um blog tem repercussão além mar. Há uma febre intensa em que se acredita que a internet pode tudo e que o alcance dos blogs é planetário. Não. Os blogs tem um nicho muito pequeno. Mesmo blogs ecléticos como o de Luis Nassif mantém o mesmo grupo de comentaristas, dependendo do assunto ir para o cinema, a política, o futebol ou a economia.

    Um fator a me levar a vim com frequência aos seus posts é ver na sua argumentação muitos dos meus argumentos. Começo a ler os seus textos e penso comigo: esse cara é bom, diz exatamente o que eu penso. O mundo todo age assim. Ninguém vai atrás de jornalista que pensa diferente dele. Quem consegue imitar mais o pensamento dos leitores tem mais audiência. É só isso e isso é tudo. Agora como são milhões de blogs no mundo todos tem um número muito pequeno de seguidores que  não tem poderes nem vão mudar sequer o quarteirão onde tem o seu QG.

    Essa percepção equivocada da sua importância que tanto os grandes meios de comunicação possuem como também acomete os blogs às vezes produz o resultado contrário ao pretendido.

    Parece que o Alon Feuerwerker percebeu esse engodo que a grande mídia e agora a blogosfera vive alimentando. Daí o ótimo post dele intitulado ““Fake news” é fake news” de quinta-feira, 13/03/2018 e que pode ser visto no seguinte endereço:

    http://www.alon.jor.br/2018/03/fake-news-e-fake-news.html

    Em um dos parágrafos do post, comentando sobre a interferência russa nas eleições americanas, ele disse o seguinte:

    “Na era das “narrativas”, não custa nada raciocinar de vez em quando. Os gastos com propaganda nas eleições americanas andam sempre na casa dos muitos bilhões de dólares. Se fosse possível convencer o eleitor americano flutuante, e decidir a eleição de presidente dos EUA, gastando apenas alguns milhares de dólares no Facebook, as ações da empresa de Mark Zuckerberg valeriam provavelmente bem mais que a soma de todos os outros papéis da Nasdaq.”

    É claro que com um cara com a opinião assim será sempre do meu interesse uma ida ao post dele para fazer alguma leitura, pois certamente eu vou encontrar reforço ao que eu venho dizendo há um bom tempo desde que esta polêmica da interferência russa na eleição de Trump se desenvolveu. Aliás o que eu venho dizendo é mais ou menos o seguinte:

    “Os grandes meios de comunicação estão correndo o risco de um tiro no pé quando, principalmente a mídia anti Trump peleja em fazer valer a ideia ou tenta espalhar a notícia da interferência russa nas eleições americanas. Fora a justificativa de manutenção dos gastos elevados com armamentos importante para dar impulso a economia americana, trata-se de acusação que não faz o menor sentido. Como um país com um PIB de 1 trilhão de dólares e uma população de menos de 150 milhões de dólares poderia interferi em um país com o PIB quase vinte vezes maior e o dobro da população? Se isso acontece para que eleições em países de periferia? “

    Então considero que há uma supervalorização da capacidade da mídia gerar audiência mediante a polêmica instalada nos grandes jornalões ou na chamada grande mídia. E considero equivocado não se fazer a crítica as obras de artes que não apresentam verossimilhança ainda que a obra de arte não se proponha a tal nos letreiros mais se passa por ser na propaganda.

    E há um pouco de ostentação na sua proposta de, no caso da séria “O mecanismo”, não acusar o roteirista de errar porque ele “não é realista” pois realismo, prossegue você “é o que menos se deve cobrar da série: um roteiro deve ser verossímil, e não realista” e, então, em lugar da acusação de não ser realista no caso particular dessa série, você recomenda “denunciar que o argumento ficcional se baseia na combinação ideológica explosiva da meritocracia com o ressentimento” e você acrescenta, sendo “isso é uma questão de verossimilhança, e não de realismo”. Ora, parece-me mais uma crítica para ser debatida na academia.

    E por último lembro que você fala na dificuldade da esquerda lutar no mesmo campo simbólico da direita (Netflix). Isso é verdade. E corrobora seus dizeres uma entrevista de Gilles Deleuze que podia ser vista no post “Para Deleuze, esquerda ou direita é uma questão de percepção” de segunda-feira, 18/04/2016 às 11:04, disponibilizado no blog de Luiz de Queiroz e publicado aqui no blog de Luis Nassif por sugestão de Jair Fonseca, no seguinte endereço:

    https://jornalggn.com.br/noticia/para-deleuze-esquerda-ou-direita-e-uma-questao-de-percepcao

    Provavelmente por motivações de direito autorais, a entrevista foi bloqueada para exibição. De todo modo ficaram os bons comentários a se destacar o de Horridus Bendegó enviado segunda-feira, 18/04/2016 às 12:41, em que ele diz que “a esquerda é o preço que se paga pela civilização”.

    E vale lembrar que Arkx em resposta a um comentário meu levou para o post dele “Os Brasis: dentro do labirinto, por Arkx” de quinta-feira, 21/12/2017 às 08:31, aqui no blog de Luis Nassif, o vídeo da entrevista de Gilles Deleuze que foi, entretanto, logo depois bloqueado. O endereço do post “Os Brasis: dentro do labirinto, por Arkx” é:

    https://jornalggn.com.br/blog/arkx/os-brasis-dentro-do-labirinto-por-arkx

    Para acessar a entrevista, ainda resta um link que eu deixei em comentário que eu enviei para Arkx sábado, 06/01/2018 às 20:37sexta-feira, 22/12/2017 às 00:02, e se transformou no primeiro do post porque esqueci de colocar como resposta para Arkx em uma série de comentários que se iniciava em comentário meu enviado para Arkx quinta-feira, 21/12/2017 às 17:00. Deixo então a seguir o link (a menos que tenha sido também bloqueado) com a transcrição em francês da entrevista de Gilles Deleuze:

    https://www.oeuvresouvertes.net/spip.php?article910

    E o trecho da entrevista em que Gilles Deleuze reforça o seu argumento sobre a dificuldade da esquerda lutar no mesmo campo simbólico da direita é o seguinte:

    “A esquerda não é jamais majoritária, sendo esquerda. A maioria supõe um padrão. No Ocidente, o padrão que assume toda maioria é: homem, adulto, macho, cidadãos das cidades”.

    Resta então para a esquerda esperar o julgamento da história. Se no futuro a Lava Jato ficar como a mais bem sucedida operação de combate a corrupção (Não custa lembrar que já vai a mais de 8 bilhões de dólares as multas que bancos que manipularam as taxas do libor em Londres tiveram que pagar em diversos países) vence a história contada por José Padilha para a Netflix. E o esforço da ex-presidenta às custas do golpe Dilma Rousseff em mostrar os erros da série “O Mecanismo” pode ter até tido um efeito imediato, mas no longo prazo terá sido em vão. Se ao final a Operação Lava Jato se mostrar como um grande engodo, o espetáculo patrocinado pela NetFlix resplandecerá apenas como uma operação circense.

    Clever Mendes de Oliveira

    30/03/2018

  12. Jabuticabas e o Mecanismo

    Agora nos tornamos famosos não só pelas nossas jaboticabas e dançarinas mas também pelo nosso Mecanismo.

    O Arnaldo Jabor que venha fervendo, porque o Padilha não é galinha mas botou quante.

  13. O que é isso companheiro ?

    No filme “o que é isso companheiro ?” o personagem de Fernando Gabeira interpretado por Pedro Cardoso planeja o sequestro do embaixador. Na “vida real” foi o Franklin Martins que planejou. Resultado: muitas criticas contra o filme. Gabeira teve que vir a publico e explicar como o roteirista trabalha personagens para um filme de uma hora e meia onde o essencial são as imagens; as palavras na boca deste ou daquele personagem tem a ver com modo como a trama foi costurada visualmente. 

  14. O Mecanismo
    Essa história de que a série está sendo vista por causa da reação da esquerda é , no mínimo ingênua, pra não dizer ridícula. Tropa de Elite foi um sucesso instantâneo e espontâneo. Sua continuação é a maior bilheteria do cinema nacional. E Narcos foi outro sucesso. Padilha sabe se comunicar com o público. Com essa habilidade e um tema como a Lava Jato, o sucesso era certo. Quanto a qualidade da série já não posso opinar porque não vi.

  15. Em casa de ferreiro espeto é de ferro, mas discordo de você

     

    Wilson Roberto Vieira Ferreira,

    Não deveria debater em assunto de sua competência, mas como discordo e já tenho o comentário pronto vou reproduzi-lo aqui.

    Em um de uma série de comentários que eu enviei antes de ontem, quinta-feira, 29/03/2018 e ontem, sexta-feira, 30/03/2018, para Romulus junto ao post “Duplo Expresso 28/mar/2018” de quarta-feira, 28/03/2018, há um que eu trato da crítica da ex-presidenta às custas do golpe Dilma Rousseff à série que iria ser exibida pela NetFlix “O Mecanismo”, e que sofrera censura por dar destaque a NetFlix, a José Padilha e a série “O Mecanismo” e também ao jornal Folha de S. Paulo. Disse eu lá:

    -x-x-x-x-x-x-x-x-x-x-x-x-x-x-x-x-x-x-x-x-x-x-x-x-x-x-

    “Romulus,

    Parte IV

    Ontem [quarta-feira, 29/03/2018] em um grupo de trabalho no WhatsApp eu recebi o seguinte comentário de um colega da direita que me enviou também na sequência um vídeo com trecho da série “O mecanismo”. Disse ele antes de mostrar o vídeo:

    “Assistam a esse trecho da série “O Mecanismo” da Netflix, em que os primeiros presos da Operação Lava Jato comemoram que o caso iria para o STF e todos seriam soltos. Repassem essa mensagem e o vídeo para seus contatos até o dia 4 de Abril, para ver se ainda resta alguma vergonha na cara dos ministros do Supremo.”

    Eu não vi o vídeo. Assim, mesmo dei uma resposta cujo conteúdo tinha a ver com conversas prévias que eu já havia tido com o meu colega da direita quando do julgamento da Ação Penal 470 no STF. A minha resposta foi a seguinte:

    “Como bem disse o Padilha é tudo uma dramatização.

    Como qualquer artista em uma dramatização, ele está sob a influência de o livre pensar é só pensar. Assim, José Padilha sentiu-se livre para aproveitar a defesa dos réus no Julgamento da Ação Penal 470 no STF e a transpor para os procedimentos das defesas na Ação vinculada a Operação Lava Jato e sobre a nova defesa fazer a lição de moral dele.

    É verdade, lá na Ação Penal 470, todos os réus, baseados na antiga jurisprudência do STF que exigia a prática do ato ou a omissão de praticar o ato para a condenação pelo crime de corrupção, alegaram apenas lavagem de dinheiro, crime para o qual o PT tinha pedido aumento da pena junto com o aumento da pena para o crime de corrupção, mas os deputados, talvez já querendo se proteger, aumentaram apenas a pena da corrupção. Então se fossem julgados pelo crime de lavagem de dinheiro, o crime estaria prescrito.

    Graças a insistência de um promotor de Justiça (na esfera federal, o procurador da República que trata de crimes é uma espécie de promotor de justiça) os réus na Ação Penal 470 no STF não foram julgados pelo crime de lavagem de dinheiro, mas de corrupção e acabaram sendo condenados apenas pelo crime de recebimento de vantagem indevida, isto é, crime de corrupção, sem o gravame do parágrafo 1° do Art 317 do Código Penal, isto é, aumento da pena de 1/3 pela prática do ato ou sua omissão.

    Como disse José Padilha, está nos letreiros, trata-se de uma dramatização. Quem não reconhece isto é porque não sabe ler.

    Um adendo. Joaquim Barbosa foi o primeiro, por assim dizer, promotor de justiça a ser indicado para o STF. A prática é a indicação de juízes e advogados famosos mais vinculados à proteção das garantias e direitos individuais ou da sociedade. O PT alterou esse proceder.”

    Pelo que eu disse acima, cabia sim censura à ex-presidenta às custas do golpe Dilma Rousseff. O que havia de falho na crítica dela ao cineasta José Padilha foi ela ter omitido essa dramatização equivocada e suspeita. Equivocada por não aproveitar para esclarecer o que ocorrera na Ação Penal 470 no STF e suspeita porque falsifica o que ocorrera com a Operação Lava Jato.

    E por que a ex-presidenta às custas do golpe Dilma Rousseff não fez essa crítica a José Padilha? E por que toda a blogosfera da esquerda, seja a que não quis fazer propaganda da polêmica seja a que fez, não criticou a ex-presidenta às custas do golpe Dilma Rousseff por essa omissão? Seria divisionismo eu chamar atenção para o tanto que se omite sobre esse assunto?

    Há cinco anos e poucos meses eu tenho feito a indicação do vídeo em que há a declaração de voto do revisor Enrique Ricardo Lewandowski proferido na sessão de 20/09/2012, e que pode ser visto no seguinte endereço:

    https://www.youtube.com/watch?v=m6uyOzTG2T8

    Quantos na esquerda já assistiram este vídeo? Quantos sabem que até essa declaração de voto Enrique Ricardo Lewandowski dava o voto pela inocência dos acusados do crime de corrupção. Nesse voto ele consolida de modo didático a nova direção da jurisprudência e passa a acompanhar a maioria composta de juízes mais antigos que haviam mudado de entendimento para acompanhar o relator Joaquim Barbosa e de juízes mais novos que acompanhavam o entendimento apresentado de forma tosca pelo relator?

    Eu já fiz esta questão aqui no blog e volto a repetir: quantos aqui do blog sabem que nenhum dos réus na corrupção passiva foram condenados pela prática do ato ou pela omissão. Eles foram condenados apenas pelo recebimento da vantagem indevida o que é suficiente para a condenação pelo crime de corrupção. Essa discussão, entretanto, é omitida tanto à direita como à esquerda. Não se fala que nos crimes formais o dolo está implícito na conduta.

    Faz muito bem a ex-presidenta às custas do golpe Dilma Rousseff em denunciar as mentiras que a construção livre do artista pode criar. Fez bem porque esta é uma função primordial da esquerda: prestar o esclarecimento. A esquerda é o iluminismo, o renascimento, a civilização. Onde houver oportunidade para prestar o serviço do esclarecimento é tarefa de a esquerda o fazer.

    Os artistas evidentemente podem não ser da esquerda. E podem então desempenhar outro papel. E eles têm o nihil obstat da própria classe. O poeta é um fingidor, chega a fingir que é dor a dor que deveras sente. Não há, entretanto, considerar a dor do poeta como algo mais relevante do que a realização do esclarecimento. Fez mal a ex-presidenta às custas do golpe Dilma Rousseff em não ter focado também a grossa mentira de José Padilha em trazer para a operação Lava Jato a defesa dos réus na Ação Penal 470.

    Agora, a resposta de José Padilha em dizer que a ex-presidenta às custas do golpe Dilma Rousseff não sabe ler é desqualificante dele e não da ex-presidenta às custas do golpe Dilma Rousseff. No futuro alguém ao ler o jornal e conhecendo mais o que ainda virá de toda a história não terá dúvida em ver a justificativa de José Padilha quase como se fosse de um iletrado.

    Abraços,”

    -x-x-x-x-x-x-x-x-x-x-x-x-x-x-x-x-x-x-x-x-x-x-x-x-x-x-

    O endereço do post “Duplo Expresso 28/mar/2018” é:

    https://duploexpresso.com/?p=91700

    Seus posts são como esse sempre muito bons, mas você carrega nas costas o grande problema daqueles que labutam no setor da área de comunicação. Ao ver todo mundo com o pensamento uniforme, vocês dos meios de comunicação imaginam e querem crer que são vocês que fazem a grande massa ter um pensamento uniforme. Não lhes acomete conceber que é o contrário. São os grandes meios de comunicação que reproduzem o que pensa a grande massa. Fazem isso porque vivem em um sistema capitalista em que precisam oferecer o produto que o povo quer.

    Incapazes de perceber que os meios de comunicação não tem poder de convencer a população de uma ideia nova, os jornalistas em geral tendem a acreditar que o poder deles é incomensurável. E ai imaginam que uma polêmica em um jornalão gera plateia. Ora, uma polêmica atrai mais lados em um debate, mas não é ela que gera plateia. O que gera plateia são os milhões gastos com propaganda informando aquilo que o povo quer assistir. E o que o povo mais quer ver é crítica à corrupção.

    E há outra supervalorização no trabalho que um comunicador faz na blogosfera e que consiste em imaginar que um blog tem repercussão além mar. Há uma febre intensa em que se acredita que a internet pode tudo e que o alcance dos blogs é planetário. Não. Os blogs têm um nicho muito pequeno. Mesmo blogs ecléticos como o de Luis Nassif mantém o mesmo grupo de comentaristas, dependendo do assunto ir para o cinema, a política, o futebol ou a economia.

    Um fator a me levar a vim com frequência aos seus posts é ver na sua argumentação muitos dos meus argumentos. Começo a ler os seus textos e penso comigo: esse cara é bom, diz exatamente o que eu penso. O mundo todo age assim. Ninguém vai atrás de jornalista que pensa diferente dele. Quem consegue imitar mais o pensamento dos leitores tem mais audiência. É só isso e isso é tudo. Agora como são milhões de blogs no mundo todos tem um número muito pequeno de seguidores que  não tem poderes nem vão mudar sequer o quarteirão onde tem o seu QG.

    Essa percepção equivocada da sua importância que tanto os grandes meios de comunicação possuem como também acomete os blogs às vezes produz o resultado contrário ao pretendido.

    Parece que o Alon Feuerwerker percebeu esse engodo que a grande mídia e agora a blogosfera vive alimentando. Daí o ótimo post dele intitulado ““Fake news” é fake news” de quinta-feira, 13/03/2018 e que pode ser visto no seguinte endereço:

    http://www.alon.jor.br/2018/03/fake-news-e-fake-news.html

    Em um dos parágrafos do post, comentando sobre a histeria na mídia sobre a interferência russa nas eleições americanas, ele disse o seguinte:

    “Na era das “narrativas”, não custa nada raciocinar de vez em quando. Os gastos com propaganda nas eleições americanas andam sempre na casa dos muitos bilhões de dólares. Se fosse possível convencer o eleitor americano flutuante, e decidir a eleição de presidente dos EUA, gastando apenas alguns milhares de dólares no Facebook, as ações da empresa de Mark Zuckerberg valeriam provavelmente bem mais que a soma de todos os outros papéis da Nasdaq.”

    É claro que com um cara com a opinião assim será sempre do meu interesse uma ida ao post dele para fazer alguma leitura, pois certamente eu vou encontrar reforço ao que eu venho dizendo há um bom tempo desde que esta polêmica da interferência russa na eleição de Trump se desenvolveu. Aliás o que eu venho dizendo é mais ou menos o seguinte:

    “Os grandes meios de comunicação estão correndo o risco de um tiro no pé quando, principalmente a mídia anti Trump, peleja em fazer valer a ideia ou tenta espalhar a notícia da interferência russa nas eleições americanas. Fora a justificativa de manutenção dos gastos elevados com armamentos importante para dar impulso a economia americana, trata-se de acusação que não faz o menor sentido. Como um país com um PIB de 1 trilhão de dólares e uma população de menos de 150 milhões de dólares poderia interferi em um país com o PIB quase vinte vezes maior e o dobro da população? Se isso acontece, para que eleições em países de periferia? “

    Então considero que há uma supervalorização da capacidade da mídia gerar audiência mediante a polêmica instalada nos grandes jornalões ou na chamada grande mídia. E considero equivocado não se fazer a crítica as obras de artes que não apresentam verossimilhança ainda que a obra de arte não se proponha a tal nos letreiros mais se passa por ser na propaganda.

    E há um pouco de ostentação na sua proposta, no caso da séria “O mecanismo”, de não acusar o roteirista de errar porque ele “não é realista” pois realismo, prossegue você “é o que menos se deve cobrar da série: um roteiro deve ser verossímil, e não realista” e, então, em lugar da acusação de não ser realista no caso particular dessa série, você recomenda “denunciar que o argumento ficcional se baseia na combinação ideológica explosiva da meritocracia com o ressentimento” e você acrescenta, sendo “isso é uma questão de verossimilhança, e não de realismo”. Ora, a sua proposta parece-me mais uma crítica para ser debatida na academia.

    E por último lembro que você fala na dificuldade da esquerda lutar no mesmo campo simbólico da direita (Netflix), revelando o que você chama de “inépcia da esquerda com a comunicação”. Isso é verdade. E corrobora seus dizeres uma entrevista de Gilles Deleuze que podia ser vista no post “Para Deleuze, esquerda ou direita é uma questão de percepção” de segunda-feira, 18/04/2016 às 11:04, disponibilizado no blog de Luiz de Queiroz e publicado aqui no blog de Luis Nassif por sugestão de Jair Fonseca, no seguinte endereço:

    https://jornalggn.com.br/noticia/para-deleuze-esquerda-ou-direita-e-uma-questao-de-percepcao

    Provavelmente por motivações de direito autorais, a entrevista foi bloqueada para exibição. De todo modo ficaram os bons comentários a se destacar o de Horridus Bendegó enviado segunda-feira, 18/04/2016 às 12:41, em que ele diz que “a esquerda é o preço que se paga pela civilização”.

    E vale lembrar que Arkx em resposta a um comentário meu levou para o post dele “Os Brasis: dentro do labirinto, por Arkx” de quinta-feira, 21/12/2017 às 08:31, aqui no blog de Luis Nassif, o vídeo da entrevista de Gilles Deleuze que foi, entretanto, logo depois bloqueado. O endereço do post “Os Brasis: dentro do labirinto, por Arkx” é:

    https://jornalggn.com.br/blog/arkx/os-brasis-dentro-do-labirinto-por-arkx

    Para acessar a entrevista, ainda resta um link que eu deixei em comentário que eu enviei para Arkx sábado, 06/01/2018 às 20:37sexta-feira, 22/12/2017 às 00:02, e se transformou no primeiro do post porque esqueci de colocar como resposta para Arkx em uma série de comentários que se iniciava em comentário meu enviado para Arkx quinta-feira, 21/12/2017 às 17:00. Deixo então a seguir o link (a menos que tenha sido também bloqueado) com a transcrição em francês da entrevista de Gilles Deleuze:

    https://www.oeuvresouvertes.net/spip.php?article910

    E o trecho da entrevista em que Gilles Deleuze reforça o seu argumento sobre a dificuldade da esquerda lutar no mesmo campo simbólico da direita é o seguinte:

    “A esquerda não é jamais majoritária, sendo esquerda. A maioria supõe um padrão. No Ocidente, o padrão que assume toda maioria é: homem, adulto, macho, cidadãos das cidades”.

    A dificuldade que a esquerda tem com a comunicação decorre do fato de a esquerda ser minoria. O que é majoritário é o “padrão homem, adulto, macho, cidadãos das cidades”. O discurso correto da esquerda não é aceito no campo majoritário.  A opção da esquerda se reduz a mentir como faz a direita, mas ai seu discurso pode até levar ao interesse do “padrão homem, adulto macho, cidadãos das cidades” só que se torna um discurso da direita. E a outra alternativa é continuar com o discurso de esclarecimento, o discurso iluminista, o discurso civilizatório que evidentemente se mostrará inepto na comunicação uma vez que terá pouca audiência.

    Resta então para a esquerda, manifestar-se sempre, independentemente do veículo utilizado e esperar o julgamento da história. Se no futuro a Lava Jato ficar como a mais bem sucedida operação de combate a corrupção (Não custa lembrar que já vão a mais de 8 bilhões de dólares as multas que bancos que manipularam as taxas do libor em Londres tiveram que pagar em diversos países) vence a história contada por José Padilha para a Netflix. E o esforço da ex-presidenta às custas do golpe Dilma Rousseff em mostrar os erros da série “O Mecanismo” pode ter até tido um efeito imediato, mas no longo prazo terá sido em vão. Se ao final a Operação Lava Jato se mostrar como um grande engodo, o espetáculo patrocinado pela NetFlix resplandecerá apenas como uma operação circense.

    Clever Mendes de Oliveira

    31/03/2018

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