Estadão: Moraes não antecipou Lava Jato, mas deve sair por incompetência

Patricia Faermann
Jornalista, pós-graduada em Estudos Internacionais pela Universidade do Chile, repórter de Política, Justiça e América Latina do GGN há 10 anos.
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Jornal GGN – Seguindo a tradição de ditar as regras políticas do novo governo Temer, após sucessivos editoriais de defesa explícita das mudanças econômicas propostas pelo peemedebista, o Estado de S. Paulo recuou e, em um aparente gesto de se voltar aos clamores das ruas, pede a saída do ministro da Justiça Alexandre de Moraes. Mas foi pelas gafes, e não pela atuação autoritária e repressiva na pasta.
 
Neste texto opinativo, o jornal não menciona o risco de um ministro do governo de Michel Temer ter conhecimento antecipado das fases da Operação Lava Jato, presumindo que governo e autoridades trabalham em conluio, apenas caracteriza a declaração de Moraes como “gritante imprudência” e “comportamento irresponsável”.
 
Mas defende: “É bom que se diga, desde já, que não há nenhuma razão para concluir que Alexandre de Moraes tinha mesmo alguma informação privilegiada a respeito da operação que prendeu o ex-ministro Palocci”. Completa diminuindo que “é parte da rotina do ministro da Justiça encontrar-se com os chefes da PF”, o que, segundo o editorial, não garante o conhecimento do ministro sobre as investigações.
 
O texto vai além. Critica Alexandre de Moraes não por alguma responsabilidade sobre conhecer ou mostrar conhecimento do andamento da Lava Jato, ou por suas posturas autoritárias no Ministério. Critica porque o comportamento de antecipar a Lava Jato é “impróprio” e pela “falta” cometida de o fazer em reduto eleitoral do inimigo, Palocci, o alvo em questão. 
 
EDITORIAL ESTADÃO
 
 
O ministro Alexandre de Moraes não tem mais condições de permanecer no cargo
 

O ministro da Justiça e Cidadania, Alexandre de Moraes, não tem mais condições de permanecer no cargo, se é que algum dia as teve. Seu despreparo para tão importante função já estava claro havia algum tempo, mas o episódio em que ele antecipou a realização de operações da Polícia Federal (PF) no âmbito da Lava Jato, justamente na véspera da prisão do ex-ministro petista Antonio Palocci, teria de servir como gota d’água para sua dispensa, em razão de tão gritante imprudência. Infelizmente, porém, o presidente Michel Temer, sabe-se lá por que razões, preferiu contemporizar, correndo o risco de ter de enfrentar novas crises em razão do comportamento irresponsável de Moraes. No momento em que precisa demonstrar ao País que seu governo está à altura do desafio de superar o desastre herdado da administração lulopetista, Temer não pode ter ministros que sofrem de incontinência verbal e exploram a visibilidade de seus cargos de maneira oportunista.

É bom que se diga, desde já, que não há nenhuma razão para concluir que Alexandre de Moraes tinha mesmo alguma informação privilegiada a respeito da operação que prendeu o ex-ministro Palocci. Embora a Polícia Federal lhe seja subordinada, o ministro da Justiça não tem acesso antecipado a detalhes das operações em curso, conforme informou a PF em nota. Somente “nos casos que possam demandar sua atuação”, diz a nota, é sugerido ao ministro apenas “que não se ausente de Brasília”. Segundo a PF, esse foi o padrão nas “quase 500 operações deflagradas este ano”, em que “somente as pessoas diretamente responsáveis pela investigação têm conhecimento de seu conteúdo”.

Mesmo a informação de que, dois dias antes de dar a declaração sobre a Lava Jato, Alexandre de Moraes se encontrou com o superintendente regional da Polícia Federal em São Paulo, Disney Rosseti, conforme consta da agenda do ministro, não basta para que se infira que teve conhecimento antecipado da prisão de Palocci. Afinal, é parte da rotina do ministro da Justiça encontrar-se com os chefes da PF.

Nada disso, porém, diminui a gravidade do que houve. Não cabe ao ministro da Justiça jactar-se das operações da PF como se delas fosse o líder. Tal comportamento já seria impróprio em circunstâncias rotineiras, mas Alexandre de Moraes resolveu adonar-se da Lava Jato em plena campanha eleitoral, exibindo-a como troféu para ajudar um candidato. Como agravante, a reunião política na qual o ministro falou demais ocorreu em Ribeirão Preto, justamente o reduto eleitoral de Palocci.

Alexandre de Moraes diz que tudo isso foi uma enorme e infeliz coincidência. Em primeiro lugar, segundo sua versão, operações relativas à Lava Jato ocorrem regularmente, razão pela qual não seria difícil prever a realização de novas etapas. No caso de Palocci, é possível que até o próprio ex-ministro já estivesse preparado para a sua prisão, especialmente depois que o ex-ministro Guido Mantega foi detido. Logo, não era preciso ter informações privilegiadas para antecipar esses acontecimentos.

Tudo isso é bastante plausível, mas irrelevante. O maior problema é a inaptidão de Alexandre de Moraes, cuja vocação para o exibicionismo não combina com a discrição que o cargo de ministro da Justiça exige. Essa inclinação já havia ficado clara quando Moraes transformou em espetáculo a prisão de suspeitos de planejar atentados terroristas durante a Olimpíada, amplificando a ameaça em vez de tranquilizar a sociedade.

Mas só se surpreende com Alexandre de Moraes quem não o conhece. O paulistano teve a oportunidade de experimentar seu modo atabalhoado de trabalhar quando ele foi o “supersecretário” do prefeito Gilberto Kassab, entre 2009 e 2010, acumulando funções nos Transportes e nos Serviços. Naquele período, anunciou decisões sem comunicá-las ao chefe, teve de voltar atrás de medidas apressadas que atrapalharam o trânsito e, em meio a enchentes causadas pelo acúmulo de lixo em bueiros, disse que a cidade estava mais limpa do que nunca.

Só velhas relações de compadrio podem explicar como o dono desse desastroso currículo virou ministro da Justiça.

 

Patricia Faermann

Jornalista, pós-graduada em Estudos Internacionais pela Universidade do Chile, repórter de Política, Justiça e América Latina do GGN há 10 anos.

10 Comentários

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  1. Tenho nada a ver com isso,

    Tenho nada a ver com isso, Estadão: quem pariu Mateus que o embale. É fácil depois da “melada” desse canastrão inepto vir a público desnudá-lo. Por que não fizeram antes? Ora, respondo eu, porque a “causa” era mais importante! 

    Não ousem nem imaginar que com isso conseguirão reverter a CERTEZA que muitos tem de que são tão canalhas tal quanto aos que hoje vocês, tardiamente, viram às costas porque se tornaram inconvenientes. 

  2. Demonstra….

    ….o que a mim parece a autofagia, bastante previsível aliás, já começou.

    Antes tinhamos a tríade infernal  – judiciário , mídia e usurpadores  andando de mãos dadas trocando beijos e carícias públicas. Depois disso… A demonstração de força por parte da mídia agora.

    No primeiro episódio foi Faustão, a mando muito prossivelmente, nas críticas contundentes à Educação e agora o Estadão querendo provar sua força na tentativa de derrubar o Ministro…

     

    1. 2017

      prepara-se 2017 a olhos vistos.

      temer e cia serão ainda a “instablilidade”, momento necessário de se atravessar, razoavelmente bem intencionados, mas incapazes de solucionar a “desgraçada herança lulo-petista”. Será preciso um governo que nos una e estabilize, e quem mais será capaz senão o próprio PSDB em pessoa? os jornais terão orgasmos múltiplos, o país se transformará em um paraíso de boa governança, só esses baderneiros esquerdopatas que não enxergam (ou não querem enxergar, por óbvios interesses pessoais, a mamata acabou, kkk só não vê quem não quer).

      o país acabou, será o golpe pra valer.

      e tudo “dentro da legalidade”

      me dá vontade de vomitar.

  3. O que George Orwell não podia

    O que George Orwell não podia imaginar é que o Ministério da Verdade viria a ser operado por firmas privadas como “Globo”, OESP etc., pela iniciativa privada enfim, e não por um órgão do estado. Aliás que todo o estado viesse a ser conduzido pela iniciativa privada, isso niguém previu. Falar de uso inadequado do poder econômico é tabu: dinheiro, quanto mais, melhor e isso é indiscutível. Prá que serve dinheiro senão para estabelecer poder uns sobre os outros? Para comer, morar, vestir-se, realizar o potencial humano que há em todos nós são necessidades atendidas com bem pouquinho. E tabus são assim, embotam a visão mesmo.

  4. Uma autoridade pública que

    Uma autoridade pública que trata um dependente químico como ‘”nóia” dizendo isso publicamente, já mostra o grau de decadência que vivemos. Com esta mídia o Brasil em qualquer momento vai ter estas bolas de chumbo nos pés que são os órgãos de desinformação burgueses na mão de 5 ou 6 famiglias…………O Brasil eternamente vai viver assim de golpe em golpe, por mais boa intenção que tenham, nossas elites econômicas, políticas, rurais e midíaticas são perversas ao extremo, o nome de nosso país deveria ser “COUPLAND” a terra do golpe, o nome em inglês devido a subserviência histórica.

    Mudanças de fato ? somente via revolução com muito derramamento de sangue, Infelizmente! Com enormes riscos do país se fragmentar….é como penso.

  5. Onde é?

    … que eu consigo me comunicar com os manda chuvas do Estadão, para mandá-los à %@#*&!¨#?

    Estes GOLPISTAS deveriam se recolher à sua canlhice e não emitir mais “opinião” nenhuma.

    CANALHAS.

  6. Se o Ministro Temerário não tinha informação privilegiada…

    Se o Ministro Moraes não tinha informações privilegiadas acerca das operações jateiras da Polícia Federal, se ele previu e anunciou antecipadamente a realização da operação que culminou na prisão do ex-Ministro Palocci em razão das operações jateiras ocorrerem com regularidade, não sendo difícil prever a realização de novas etapas, porque ele seria lembrado apenas na etapa que culminou na prisão do Palocci?

    Esses Senhores superestimam nossa estupidez e superestimam suas espertezas,

    As prisões espetaculares dos petistas tem um recado implícito aos aspirantes ao poder e àqueles que o exercem atualmente: vocês devem roubar mas não devem trabalhar. Os petistas estão sendo preso não porque roubaram, pois se fosse por roubo, os mensaleiros mineiros, os trensaleiros e a direita em seu conjunto estaria aprisionada. Os petistas estão sendo presos porque trabalharam pela população.

  7. O Estadão não tem mesmo vergonha

    “No momento em que precisa demonstrar ao País que seu governo está à altura do desafio de superar o desastre herdado da administração lulopetista, Temer não pode ter ministros que sofrem de incontinência verbal e exploram a visibilidade de seus cargos de maneira oportunista.”

    Temer, aquele que na reunião do G20 empurraram para fora da foto oficial ? E foi chamado apenas de “lider” do Brasil.

    Temer, aquele que na ONU fez um discurso tão mentiroso, que so conseguiu aperto de mão de poucos representantes de estado?

    Temer, aquele que tem o ministério mais fantastico do planeta Terra ? A começar pelo Ministro das Relações Exteriores que comete gafe em cima de gafe? E mais um tanto de gente com uma capivara de fazer chorar tanta gente presa porque roubou merreca por ai.

    Desastre eu so vejo mesmo nessa atualidade triste, surrada, farsesca, bandida e fascista que estamos vivendo.

  8. A Insustentável Leveza…

    “Os regimes criminosos não foram feitos por criminosos mas por entusiastas convencidos de terem descoberto o único caminho para o paraíso. Defendiam corajosamente esse caminho, executando, por isso, centenas de pessoas. Mais tarde ficou claro como o dia que o paraíso não existia e que, portanto, os entusiastas eram assassinos.”

    Milan Kundera

    Nassif: sou contra a destituição gratuita desse membro do Governo.

    Se o Presidento não pagou o combinado no golpe, inscrevendo também esse representante da grande mídia no “Abre-te Sésamo” do BNDES, como dizem estar fazendo com os do Jardim Botânico e outros, os rogos deveriam dirigir-se a outro ministro, aquele do Rio de Janeiro, detentor da mão-do gato. Não a este, que pode cometer injustiça no proceder, mas é um fiel escudeiro! Pois nem só para prender Lula veio ele ao governo.

    Não nos esqueçamos ser ele, tal qual o Mandatário Maior do Pais, talvez o único que também sabe como “lidar com bandidos”. Isto é uma Arte, que requer ciência e anos de treinamento e dedicação. Os gatunos italianos tinham até escolas para o óficio.

    Debruçar-se sobre um ordenamento constitucional para lograr um Povo não é tarefa simples.

    Claro, aqueles 2/3 do Congresso vão direto ao Comando Central, recebidos com ora marcada, nos chás da tarde ou na calada da noite, dependendo do assunto e de quanto. Mas temos, além dos honrosos congressistas, os de colarinho branco, os de punhos de renda e os “sans-culotte”, com colarinhos multicoloridos e punhos despidos das rendas bordadas.

    Mas, igualmente ávidos por poder e dim-dim, desses cuida o dito-cujo. Ele, dizem, é um ícone, um símbolo exato da política administrativa e legal do momento.

    Se o pessoal da marginal do Tiete precisa urgentemente de uns trocados, situação ate admissivel, em face da crise, tudo bem. Mas, daí, querer dar golpe nos golpistas, isto já é demais. Que tenham pelo menos decência para com seus cúmplices!

  9. Maquiavel escreveu que um dos

    Maquiavel escreveu que um dos atributos do bom governante é a excelência de seus ministros, mantida, claro,  a liderança firme do comandante. Sob esses critérios  como o autor de O Príncipe avsliaria o governo Temer?

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