Em editorial, Folha agora sugere que oposição recue com impeachment

Cintia Alves
Cintia Alves é graduada em jornalismo (2012) e pós-graduada em Gestão de Mídias Digitais (2018). Certificada em treinamento executivo para jornalistas (2023) pela Craig Newmark Graduate School of Journalism, da CUNY (The City University of New York). É editora e atua no Jornal GGN desde 2014.
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Em abril, a Folha não parecia se preocupar com a repercussão “internacional” e os impactos econômicos do impeachment. Escreveu que era “animador” ver instituições fortes e sem medo de abrir o caminho para que o Congresso afaste a presidente de suas funções. Hoje, pede cautela aos opositores liderados pelo PSDB

Jornal GGN – Quatro meses depois de publicar um editorial defendendo que as instituições demonstrassem força, e não medo de abrirem o caminho para o impeachment de Dilma Rousseff (PT), a Folha de S. Paulo recuou e pediu cautela por parte da oposição liderada por Aécio Neves, indicando que não há fundamentos jurídicos para processar e afastar do cargo a presidente reeleita em outubro de 2014.

Nesta terça-feira (25), no editorial “Sem bananas”, a Folha comentou a estratégia de “PSDB, DEM, PPS e SD” para “encaminhar” o impeachment sem colocar toda a carga de culpa nas costas do presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB).

A ideia é que as legendas cheguem a um consenso sobre qual é o motivo para tirar Dilma do poder. Depois, Cunha engavetará algum dos requerimentos de impeachmnent e, em seguida, com ajuda de maioria simples na Casa, os deputados de oposição irão recorrer ao plenário para colocar o assunto em debate. O afastamento, independente do motivo, depende de um processo político ratificado por dois terços da Câmara e, depois, dois terços do Senado.

“Mas, se o julgamento do impeachment é sobretudo político”, escreveu a Folha, “não se deve ignorar que ele também contém muito de jurídico.” Para o jornal, agora a ideia de uma “deposição assentada em razões banais” traria “instabilidade interna” e “mancharia a imagem do país aos olhos da comunidade internacional”. “O Brasil superou sua fase de república das bananas”, acrescentou.

E concluiu: “o afastamento de um presidente é um remédio amargo a ser ministrado somente diante de circunstâncias extremas. Sendo mecanismo sempre traumático, não pode, ao contrário do que parte da oposição quer fazer crer, ser empregado sem que profundas razões o exijam.”

Em abril, a Folha não parecia se preocupar com a repercussão “internacional” de um impeachment. No dia 19, no editorial Sem passo atrás, o jornal publicou, em alusão à possibilidade de o TCU (Tribunal de Contas da União) rejeitar as contas de Dilma e abrir o caminho da deposição, que era “animador” assistir à “vitalidade” das instituições “num contexto de desalento provocado pela letargia econômica e pelo acúmulo de notícias sobre escândalos de corrupção.”

“Caso prevaleça o entendimento do TCU, estará aberto o caminho para o Ministério Público Federal processar os gestores envolvidos. O tribunal também poderá recomendar ao Congresso a rejeição das contas do governo Dilma, o que seria inédito e permitiria, em tese, a abertura de processo de impeachment contra a presidente. Sejam quais forem os desdobramentos, o TCU terá dados mostras de que zela pela Lei de Responsabilidade Fiscal.”

Ao final, o jornal deu sinais de que apoia a “punição” de agentes que ferem a Lei de Responsabilidade Fiscal – ainda que a sentença final para este “crime” fosse o impeachment. “Manobras que enfraqueçam o espírito da LRF constituem inegável retrocesso; devem ser combatidas pelas instituições e pela sociedade. O melhor remédio contra esse passo atrás é a punição, nos termos da lei, de desmandos que sejam devidamente comprovados.”

O que mudou?

O julgamento das contas de Dilma pelo TCU ainda está em processo. Nada mudou em relação à expectativa de que um parecer negativo será enviado ao Congresso para análise.

O que mudou, na verdade, foi a adesão de inúmeros empresários à manutenção da petista no poder.

Em entrevista à mesma Folha, Roberto Setúbal defendeu que mesmo que a presidente tenha as contas rejeitadas pelo TCU, que a sentença seja encarada como uma jurisprudência sobre como lidar com as pedaladas fiscais no futuro, e não como senha para impeachment no Congresso.

Cintia Alves

Cintia Alves é graduada em jornalismo (2012) e pós-graduada em Gestão de Mídias Digitais (2018). Certificada em treinamento executivo para jornalistas (2023) pela Craig Newmark Graduate School of Journalism, da CUNY (The City University of New York). É editora e atua no Jornal GGN desde 2014.

27 Comentários

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  1. Os nóias da Folha descartaram

    Os nóias da Folha descartaram os nóias do PSDB. O pó está dividido, não vai ter carreira para todo mundo. Nóia é foda mano, quando sente que ficará sem pó alopra e mete o pé na bunda dos camaradas para cheirar sozinho. 

  2. Estão mudando o tom apenas

    Estão mudando o tom apenas depois que os protagonistas do país rejeitaram o impeachment.

    Para minha pessoa, é um eloquente sinal da perda de protagonismo da Folha na política nacional.

  3. Pra quê tirar a Dilma se ela

    Pra quê tirar a Dilma se ela está fazendo o programa deles? E ainda vamos ouvir militontos argumentando que os grandes empresários se renderam à Dilma. Então tá. A gente sabe quem realmente se rendeu.E dá-lhe 8,2% de desemprego, por enquanto…

  4. Pra quê tirar a Dilma se ela

    Pra quê tirar a Dilma se ela está fazendo o programa deles? E ainda vamos ouvir militontos argumentando que os grandes empresários se renderam à Dilma. Então tá. A gente sabe quem realmente se rendeu.E dá-lhe 8,2% de desemprego, por enquanto…

  5. Parece que,

    Que, quem manda de fato no Brasil não são os presidentes, nem legislativo, nem judiciário. Quem realmente manda e com a ajuda inestimável da imprensa e dos cabinhos eleitorais da oposição, está mt mais acima de nós, como sempre. E tem olhos de águia p/ ver tudo, até as mais remotas camadas de petróleo perdidos em nossos mares. E trataram  loguinho de baratear os preços do mesmo, patrocinar a lava-jato com mt dinheiro verdinho.

    Quando o ex presidente Lula anunciou o pré-sal, uma pulguinha entrou nos meus ouvidos e não consegui ficar contente. Onde tem mt petróleo, as guerras pipocam, como se iniciaram em 2014. Após a criação dos BRICS, outra pulguinha. E assim, de pulguinha em pulguinha…… caminha o Brasil desde a descoberta. Somente nos é permitido plantar soja e cana e, já ia me esquecendo… plantar bananeiras tb.

  6. A sutileza do paquiderme.

    O que entendi nas entrelinhas do editorial do jornalão é que a oposição busque, sem alarido, na surdina, motivos mais consistentes para o impedimendo da presidente além da bobajada que vem das ruas e dos próprios congresistas.

    E aponta a tal Lei de Responsabilidade Fiscal como o caminho mais “promissor” ou mais “aceitável” para depor Dilma.

    Não me iludo, não se iluda, a conspiração golpista permanece na ordem do dia e ainda vai longe. E foda-se o país, a economia, o povo, a pova…

    1. Infelizmente

      Infelizmente acho que é por aí mesmo. O golpismo não está sepultado, simplesmente caiu em um ridículo que não permitiu continuar.

      Vão usar esse recuo estratégico para preparar outro ataque.

  7. Isto mostra o óbvio: nem

    Isto mostra o óbvio: nem Otávio nem seu jornal merecem crédito  ou respeito. Com que prazer eu digo aos vendedores de assinatura que me ligam frequentemente: Este jornal não entra em minha casa nem de graça. Pobres telemarqueteiros, acaba sobrando para eles sem terem culpa nenhuma.

  8. Tudo começou quando a direita

    Tudo começou quando a direita percebeu, mais uma vez, que não tinha votos suficientes para derrotar Dilma em 2014. Ardilosos, tentaram então deslegitimar os votos que nunca teriam: quem recebe bolsa família não deveria votar, alegaram, enquanto faziam contas. Computaram e acharam que ainda lhes faltavam votos. então, ampliaram a canalhice: também não deveriam votar os que se beneficiam das cotas nas universidades, quem conseguiu comprar uma casa própria pelo Minha Casa Minha vida, quem foi atendido pelo Mais médicos… refizeram as contas e ainda lhes faltavam votos. passaram a tentar constranger os que não votavam neles.  Que os votos dos nordestinos não tinham valor porque, bovinos, nordestinos não sabiam votar; a não ser os que por acaso voltavam na direita. Feito os ajustes, tudo com a força e a farsa da grande imprensa, o PSDB se viu como um cachorro que cai da mudança, sem rumo, sem norte e nem nordeste, preso ao sudeste e a uma elite desmiolada e midiotizada.

    Elitista, sem liderança popular, sem projeto de Brasil para o futuro, sem carisma (vide Serra e FHC) e sem caráter (vide Aécio e Sampaio). Perceberam, tarde demais, que tudo o que sempre tiveram foi uma mídia amiga. São tão frágeis que uma simples menção a um aeroporto construído nas terras da família do tucano, para benefício próprio, comprometeu seriamente sua candidatura. Não foram reportagens, esmiuçamentos, escarafunchações, foi uma nota na Folha e uma pergunta de Bonner. Pronto, o candidato perdeu o equilíbrio emocional ao sair de sua zona de conforto e nunca mais retomou a sanidade. 

    Após perder a quarta eleição presidencial seguida, o tucanato, os inocentes úteis midiotizados e seus colegas midiosos, partiram para o tapetão. Covardes, se apoiaram na figura minúscula do Pequeno Kim e dos Retardados Online. Bisonhamente, queriam sair do xeque-mate enchendo o tabuleiro de piões.

    Começaram pedindo a recontagem dos votos, quem não se lembra? queriam auditar as urnas. Deram com os burros n’água. Aí partiram para o impugnação da candidatura, entrou grana suja na conta da presidenta e tal. 
    o TSE pediu para que tirassem o cavalinho da chuva. Impeachment, gritaram em coro nas varandas gourmetizadas.  Ela é corrupta, gritaram garotões com fardamento da CBF; ela é assassina, se encartaizavam pelas ruas senhoras anacrônicas a pedir a morte da presidenta; ela não tem marido e é contra família, diziam umas jovens peladas, entre uma pose e outra, a exibir as cirurgias plásticas pelas avenidas.

    Não há nada contra ela, as investigações a inocentam, não se pode impedi-la de governar sem provas concretas de cometimento de crimes. Parem de relinchar, alegaram os legalistas. Aí, cansada de micar, a mídia pulou fora. cansados da brincadeira com coisa séria, empresários e banqueiros desautorizaram o golpe. 
    até a imprensa internacional se cansou dos patetas patéticos.

    Mas, obcecados pelo poder, ele insistem. FHC, córvicamente, pediu para a presidenta renunciar, no que foi copiado por seus papagaios. Dilma respondeu: nem que a vaca tussa. Agora, ato final, num descarado e abjeto desespero, Noblat sugere que ela se suicide. Ao que ela responderá, nem morta!

    O clima é de fim de feira. Os que gritavam contra a corrupção saem do embate sujos de lama, Cunha pode pegar mais de um século de cadeia. Tucanos históricos demonstram, publicamente, sentir vergonha do que Aécio fez com o partido.

    Em um quiosque na praia de Ipanema, curando a ressaca com uma água de coco geladíssima, Aécio houve uma canção, alegro ma non troppo: “é pau, é pedra, é o fim do caminho…”
     

    1. UM SOPRO PRIMAVERIL NO MEIO DA INVERNADA

      Brilhante. Humor perspicaz, irreverente e sugestivo é um catalisador fantástico para discursos políticos tocantes. Uma brisa benfazeja para amenizar a tormenta.

    2. Perfeito relato

         Perfeito relato Geraldo. Mesmo com um amadorismo dos seus principais assessores, como Mercadante e J.Cardozo, a Pres. Dilma deve agradecer por uma oposição tão medíocre. E nossa mídia ainda não entendeu que não  possuem mais o controle da informação. Agora só falta a nossa justiça entender que não aceitamos mais as suas atuações parciais, preconceituosas e corporativistas. Avante Brasil.

  9. Simples, a situação econômica

    Simples, a situação econômica do país está tão ruim que ninguém quer pegar essa batata quente. O PSDB que se divide, Aécio sabe que só terá chance se Dilma sair rápido, mesmo sabendo que seria um risco enorme governar. Já Serra e Alckimin querem esperar um pouco pra política econômica ficar tão ruim que poderiam arriscar um economista pós-keynesiano na fazenda como o Nakano sem bater de fente com os donos da nação: banqueiros, latifundiários e grandes empresários oligopolistas.

    O PMDB só quer se safar e continuar mamando nas tetas da politicagem, não tiveram sucesso com Sarney e não querem repetir a experiência. 

    Marina e Luciana Genro observam pois não sabem como seria governar agora nessa situação caótica, torcem por 2018.

    Lula também sonha em ver o PT se arastando até 2018 e tentar fazer um milagre depois, entrar como ministro agora  nem pensar…

     

  10. Simples, a situação econômica

    Simples, a situação econômica do país está tão ruim que ninguém quer pegar essa batata quente. O PSDB que se divide, Aécio sabe que só terá chance se Dilma sair rápido, mesmo sabendo que seria um risco enorme governar. Já Serra e Alckimin querem esperar um pouco pra política econômica ficar tão ruim que poderiam arriscar um economista pós-keynesiano na fazenda como o Nakano sem bater de fente com os donos da nação: banqueiros, latifundiários e grandes empresários oligopolistas.

    O PMDB só quer se safar e continuar mamando nas tetas da politicagem, não tiveram sucesso com Sarney e não querem repetir a experiência. 

    Marina e Luciana Genro observam pois não sabem como seria governar agora nessa situação caótica, torcem por 2018.

    Lula também sonha em ver o PT se arastando até 2018 e tentar fazer um milagre depois, entrar como ministro agora  nem pensar…

     

  11. Folha e a dor na consciência

    Até hoje  Folha e  Globo pagam pelo fato de ter apoiado o Golpe de 64.  Por isso a mudança de estratégia desses grupos midiáticos.

  12. Tão óbvia a posição atual da

    Tão óbvia a posição atual da folha, quem nem vale a pena “destrinchar” o artigo. O poder econômico é o patrão desses jornalecos. Sem o patrão, não são nada. Apenas obedecem o que o poder econômico manda. Nesses jornalecos, imprensa propineira, não está inserida a dignidade, a informação como objetivo, mas os interesses do $. Há muito tempo, a imprensa é apenas empregada do patrão,, unicamente dependentes do mando. Eles não têm LIBERDADE DE EXPRESSÃO, apenas se sujeitam.

  13. Republiqueta

    A solução é empossar o Aécio numa republiqueta (Cláudio? Leblon?), com o título de Napoleão Bananaparte I e o lema “Aos Perdedores as Bananas”.

  14. Luis Nassif, acredito que vc

    Luis Nassif, acredito que vc foi um dos responsáveis por não haver golpe.

    Foi aqui no GGN que vazou a trama de Cunha e do PSDB, logo depois da matéria ter vazado na internet Cunha apressou-se em desmentir e toda a trama foi pro vinagre!

    Depois disso as barbar dos golpistas foram colocadas de molho.

    Valeu Nassif!

  15. A opção do perigo

    Agora é tarde! A população já sabe que os recuos, anunciados ou não, feitos por algumas empresas jornalisticas integrantes do núcleo golpista da mídia, não tem mais qualquer importância ou relevância. Tentaram, e ainda tentam, através desses recuos, camuflar o vergonhoso comportamento que ainda estão tendo com a democracia, com a população e com o Brasil. Tentaram, e ainda tentam, desestabilizar e derrubar um governo legítimo para abrir caminho com uma aposta ao caos e ao horror do atraso. Que tolos! Fazem de tudo para camuflar essa recente derrota que  sofrem pela tentativa ilegal de golpe e pela imperdoavel traição ao estado de direito. Porém, para o bem da nação, provaram definitivamente aquilo que o país inteiro já percebeu e comprovou: que são um bando de amadores e trapalhões, que são um bando de chorões sem nenhum compromisso com a responsabilidade e que são uma despreparada, incompetente e perigosa opção de poder para o Brasil.

  16. Triste sina os jornais que se

    Triste sina os jornais que se tornaram apenas um panfletinho dos donos do dinheiro. Pra nos considerarmos um pais civilizado nos faltam ainda vários atributos, dentre os quais uma imprensa madura e competente, seja em que formato for. Felismente existem uma quantidade razoável de blogs que estão contribuindo com o Brasil nessa direção. 

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