Helena Chagas: Temer refém do falso dilema TV pública e governamental

Patricia Faermann
Jornalista, pós-graduada em Estudos Internacionais pela Universidade do Chile, repórter de Política, Justiça e América Latina do GGN há 10 anos.
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Por Helena Chagas

Em Os Divergentes

O governo Temer corre o risco de ficar refém de uma falsa escolha entre comunicação pública e comunicação governamental. As duas podem e devem existir separadamente porque são coisas diferentes. Comunicação pública, com foco na cidadania, no debate, em ações educativas e abrindo espaço à diversidade e a uma programação com participação da sociedade. Comunicação de governo, tão importante quanto, destinada a divulgar amplamente, com transparência e qualidade, todas as ações e programas governamentais, numa obrigatória prestação de contas do Executivo à população.

Hoje, coexistem numa mesma empresa, a EBC, a TV Brasil, um canal de comunicação pública, e a NBR, o canal de notícias do Executivo. E há uma grande confusão, tanto perante a opinião pública quanto dentro do próprio governo, sobre quem faz o quê. Sob o mesmo chapéu do sistema estatal de comunicação, vive-se uma esquizofrenia. A TV Brasil não é e nem quer ser governo. É sustentada pelo orçamento do Executivo mas não quer ser chapa-branca. A NBR, com orçamento e recursos menores, é uma espécie de patinho feio do sistema, relegada a um papel secundário na EBC.

Não deveria ser assim e é preciso haver mudanças de desenho institucional e administrativo. A mais óbvia, a separação das duas: o público para um lado, buscando também outras formas de financiamento com prestação de serviços e interação com a sociedade, e o governista para o outro, sem medo de ser chapa-branca, com um canal forte de divulgação de seus atos, a exemplo dos outros poderes.

Parece simples mas não é, porque nada é simples quando entra no foco de uma ferrenha disputa política. Há informações de que o novo governo está prestes a baixar medida provisória com mudanças que podem acabar com o sistema público, unificando as duas emissoras numa só programação sob o argumento da racionalidade e da economia. Evidentemente, há necessidade de enxugamento de gastos, reestruturação, melhoria da qualidade e dos critérios de programação, etc. Isso precisa ser feito.

Mas qualquer mudança que ignore a necessidade de se manter, bem separados, um canal público e um canal governamental – de preferência ligados a empresas estatais ou órgãos diferentes – será um erro irreparável.

A sociedade brasileira tem direito a esses dois tipos de informação – pública e governamental -, conforme lhe garante a Constituição. E o distinto público é o único ente de nossa democracia a possuir o legítimo direito de ter uma TV para chamar de sua.

 

Patricia Faermann

Jornalista, pós-graduada em Estudos Internacionais pela Universidade do Chile, repórter de Política, Justiça e América Latina do GGN há 10 anos.

14 Comentários

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  1. Concordo com tudo, DESDE QUE

    Concordo com tudo, DESDE QUE acabe a publicidade de Entes estatais(administração pública direta e indireta) nos veículos de comunicação privados. Apenas com uma ressalva: ficando apenas as da modalidade utilidade pública. Isso para as três instâncias federativas: União, Estados e Municípios. Para as estatais que disputam mercados e que sobrevivem dos seus resultados, é outra história. 

    O que se vê hoje é um verdeiro abuso. Dinheiro do contribuinteser utilizado para proseltismos e para engordar o caixa de mídias semi-falidas. O estado de São Paulo é o pior exemplo da federação. 

  2. Peraí…

    Essa Helena Chagas não é aquela trouxa (ou safada mal intencionada) que desmontou a comunicação social do governo Dilma e que, a pretexto da primazia dos critérios técnicos, mandou um rio de dinheiro público para as grandes corporações midiáticas?

    1. a propria
      acho engraçado como

      a propria

      acho engraçado como voltou a comentar a politica como se fosse nova no pedaço e nao tivesse nada com isso…

      ¬¬

  3. Os que habitam o Palácio do

    Os que habitam o Palácio do Planalto não têm mandato popular para fazer qualquer coisa. Assim, essa discussão é, só, uma maneira de dar legitimidade à intervenção feita na EBC. 

  4. Agora ele não precisará

    Agora ele não precisará escrever mais missivas e mandar videos pelo whatsApp…

    Ele terá uma TV só para ele….

  5. O governo Temer não tem

    O governo Temer não tem nenhum interesse em desenvolver a comunicação pública no país. Muito pelo contrário, o que ele quer é que não exista comunicação pública e que tudo fique a cargo dos oligopólios privados que o apóiam.

  6. O Ministério ioiô

    Cena 1

    http://g1.globo.com/politica/blog/blog-do-camarotti/post/imortal-da-abl-telefona-para-planalto-e-sugere-recriacao-da-cultura.html

    Sábado, 21/05/2016, às 06:00,

    Imortal da ABL telefona para Planalto e sugere recriação da Cultura

    O presidente em exercício Michel Temer deu o status de “natureza especial” ao cargo de secretário da Cultura do governo federal, que será ocupado por Marcelo Calero. Mas resistiu em recriar o Ministério da Cultura. Apesar da pressão, inclusive de aliados, Temer avaliou que um recuo seria negativo.

    Diante disso, um imortal da Academia Brasileira de Letras telefonou para o Planalto. Do outro lado da linha, um auxiliar de Temer. “Não seria melhor recriar o Ministério da Cultura?”, questionou o imortal. “O recuo seria pior. Tem 10% da população que está reclamando da extinção da Cultura. Isso faz muito barulho. Mas para 90% da população, a redução de ministérios tem aceitação maior. Se recriar o ministério, Temer desagrada esses 90%”, respondeu o auxiliar.

    Cena 2

    http://g1.globo.com/politica/noticia/2016/05/temer-decide-recriar-ministerio-da-cultura-anuncio-deve-ser-na-terca.html

    21/05/2016 13p5 – Atualizado em 21/05/2016 18p2

    O ministro da Educação, Mendonça Filho, informou neste sábado (21) que o presidente em exercício Michel Temer decidiu recriar o Ministério da Cultura (Minc).

    O novo ministro será Marcelo Calero, anunciado na última quarta (18) como secretário nacional de Cultura. Com a decisão, a Cultura deixa de ser uma secretaria e não ficará mais subordinada ao Ministério da Educação.

    Mendonça Filho explicou, em sua conta no microblog Twitter, que a recriação do Ministério da Cultura será feita por meio de Medida Provisória e que a posse do novo ministro será na terça-feira (25). Ainda segundo o ministro, que disse ter conversado com Temer, o compromisso do governo com a cultura é “pleno”.

    * * * * *

    Acho que sei quem foi esse “imortal” oculto na primeira matéria.

    E suspeito que essa conversa misteriosa com o “auxiliar do Temer” jamais tenha existido. Pura propaganda política.

     

     

     

  7. TVs públicas e gastança

    Não sei quanto gastam a TV Brasil e a TV Cultura de São Paulo. Ambas são emissoras públicas sustentadas pelo estado, pelo povo. É preciso haver transparência, muita transparência. Mas sei que gastam muito em salários. A Fundação Padre Anchieta (TV e Rádio Cultura) ainda ganha muito com publicidade, algo que fere os fundamentos de sua criação. E a programação, na maioria dasvezes, deixa muito a desejar. Atualmente, investe uma boa grana em seriado estrangeiro (Sherlock Holmes), já exibido em canal pago e disponível em DVD. Por que esse investimento e de quanto? Em um de seus mandatos, quando Alckmin parecia ser mais empenhado como governador, ele mandou fazer uma auditoria na Fundação Padre Anchieta. Dizem que o resultado foi estarrecedor. Dizem, porque nunca veio a luz. Na Assembléia Legilslativa, queriam fazer uma CPI: missão impossível nos governos tucanos. No seu longo artigo, Helena Chagas poderia elucidar os custos desses veículos. Mas os leitores vão continuar a ignorar a gastança e a contra partida como, por muito tempo, ignoravam que a rádio Senado tinha um programa dedicado ao jaz, produzido por Ricardo Noblat. Relevante , não?

    1. TV Pública

      Pelo que sei o orçamento da EBC é bem baixo, comparado a outros canais de televisão, e o mais importante é dar ao telespectador a oportunidade de ver algo diferente do que ele sistematicamente ve nos  outros.canais. Gosto de política e acho que a política reflete a cultura do povo.Isto ficou provado na votação da Câmara sobre o impeachment. Nível político baixíssimo pelo nível cultural baixíssimo. A TV Brasil proporcionava programas de entrevistas com políticos que os outros canais jamais proporcionam, dando a política uma valor e consequentemente a cultura que os outros canais não dão. Para mim será uma enorme perda esta troca de direção.

  8. A tv pública oficial agora é

    A tv pública oficial agora é a rede goebbels. Se o PT mandava 500 milhões anuais pra lá, o Temer vai quintuplicar esse valor. Se com a ajuda da “máquina de fazer coxinhas” já tá difícil, sem ela seu governo acaba em 24 horas.

  9. Memória

    O Ricardo Cavalcanti-Schiel deu a dica. Helena Chagas joga a favor do iadversário ou inimigo, tal qual aquele outro que ocupou a SECOM, o Thomas Trauman. Quem tem aliados ou ‘companheiros’ como esses não precisa de adversários ou inimigos.

  10. Aos GOLPISTAS de plantão:

    Aos GOLPISTAS de plantão: hora de investir em PENITENCIARIAS para pessoas de “fino trato”. Já já …todo esse Governo Ilícito estará atrás das grades…ao menos se houver Justiça nesse país.

  11. Post atualizado hoje:

    Golpe mete a mão na TV Brasil: quer DIP do Séc. XXI                                                                               

     ROMULUS                   QUI, 19/05/2016 – 08:22                   ATUALIZADO EM 21/05/2016 – 12:08

    – Atualizado em 21/5 com novas considerações

    – Devíamos aproveitar sua luxuosa presença no gabinete do golpe e perguntar à CONSTITUCIONALISTA Flavia Piovesan o que ela acha, não é mesmo?

    – “Bem-vinda (ao golpe), querida!”

    * * *

    Claramente não há urgência, no sentido da CONSTITUICÃO, para um governo >>INTERINO<< mudar a lei sobre o funcionamento de uma TV Pública através da edição de uma medida provisória!

    É claramente uma “pedalada” constitucional para poder apresentar um prato feito ao Congresso e evitar o debate. Discussões no Congresso explicitariam o caráter ditatorial da iniciativa, qual seja: criar um novo DIP do Estado Novo varguista para o século XXI. Isso seria reverberado na internet fartamente e até em certa medida na grande imprensa, como vemos aqui. LEIA MAIS »

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