Imprensa enfrenta vácuo de fontes contrárias ao governo

 

Por Augusto Diniz

Com Eduardo Cunha em risco, Renan Calheiros contaminado e a cúpula do PSDB procurando um novo discurso de oposição, a grande imprensa vive hoje um breve vácuo de fontes contrárias ao governo. O recesso parlamentar atrapalha, mas é curioso como a mídia tradicional virou refém de si própria.

Seguindo a agenda do Congresso contrária a Dilma, a imprensa deitou e rolou até poucos dias atrás. Mas a queda de quem mais fomentava, na prática, o confronto com o governo, o deputado Eduardo Cunha, agora acusado de ter recebido propina grossa e ameaçado testemunhas, fez estrago também nas pautas de interesse da mídia.

Renan Calheiros, prudente como sempre foi, manda recados, mas já não circula com desenvoltura via imprensa, por que pode ser o próximo a ser acusado.

No fundo, para a mídia, manter Cunha e Renan, neste momento, na lista de pessoas que fornece informações confiáveis, é subestimar demais a inteligência se seus seguidores.

Os caciques do PSDB parecem procurar um novo discurso contra o governo, em meio à crise de credibilidade sofrida por um dos líderes oposicionistas – e aguardam se outros irão cair na mesma rede de Cunha, inclusive eles próprios (embora de forma mais remota pelo histórico que se processa a Operação Lava-Jato).

A imprensa também procura novas fontes para desgastar o governo – ou mesmo derrubá-lo. É provável que ela busque, na volta do recesso parlamentar, dentro do Congresso, parlamentares da oposição com menos risco de cair nas garras da Operação Lava-Jato, mas com perfil agressivo, para se tornarem fontes de suas matérias evasivas contra o Planalto. Isso tudo para manter seus leitores, ouvintes e telespectadores com seus vácuos de opinião sobre Dilma devidamente preenchidos.

Dos que estão aí, de Ronaldo Caiado a José Agripino Maia, passando por Paulinho da Força, são todos figuras descartáveis, passíveis de se tornarem o Cunha de amanhã, gerando riscos acima dos calculados pela imprensa no seu exercício diário de impor seus desejos.

Do PSDB, o xadrez é mais complicado. Mas sente-se desgaste de Aécio Neves como fonte na imprensa. O senador não tem mais o que dizer de novo – isso prejudica a necessidade da imprensa ser original a cada dia. O seu discurso só volta com a força de antes se, claramente, o impeachment de Dilma avançar mais do já foi nos seis primeiros meses do ano. Alckmin continua o mesmo: aguardando 2018 chegar.

É de se esperar que FHC e José Serra estejam hoje alimentando a imprensa de como sair desse vácuo de fontes contrárias ao governo, para ela se “renovar” na volta do recesso parlamentar na sua escalada contra o PT. Os dois têm acesso amplo à mídia tradicional e conhecem as profundezas do poder.

O que se extrai disso tudo é que o jornalismo brasileiro chegou ao ápice do cinismo.

Redação

8 Comentários

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  1. SUSPENSE

    Parabens pelo texto. Já estava esfregando minhas mãos, crendo que o autor estava com amnésia. Só último parágrafo desvanece o suspense, até certo ponto previsto desde o início: JS e FHC.

  2. Exatamente,

    Exatamente, Augusto.

    Infelizmente o vácuo de informação que possa ser usada contra Dilma e o Governo não significa saída do transe que envolve a maioria dos brasileiros. Tal transe foi ratificado pela recente pesquisa CNT mostrando que grande parcela dos brasileiros considera Dilma como única, exclusiva, responsável pela Lava Jato. Mas até que isso se conforma com a tentativa de atribuir tudo ao PT, coisa que era exclusiva da mídia tradicional e conservadora, e passou a ser expediente também da blogosfera dita progressista.

    Esse ponto é extremamente relevante por validar a hipótese que a ideia de dois pesos e duas medidas é errada, pois, o que há de verdade são diversos pesos e diversas medidas. Isso pode ser didaticamente dividido em dois grandes grupos: pecadinho e pecadão. Cunha, por ser antigo verno, tem seus pecados reduzidos na cabeça dos moralistas desavergonhados que acreditam piamente que erros passíveis de punição só acontecem no PT.

    1. Ao Francy

      Concordo com você – creio que a última pesquisa reflete um pouco de “transe” fruto do trabalho intenso da mídia em criminalizar o governo. Mas me surpreende também como outras pesquisas indicam a falência de todo o sistema político – isso é ruim para os dois lados.

  3. Esse revisor…

    Massificar, desta vez o revisor esqueceu de colocar tarja preta sobre o nome do José Serra. Lamentável, porque a tarja preta alude a remédios controlados, que remetem a ambulâncias superfaturadas… O negro da tarja também é a cor do petróleo que há de ser da Chevron. Mas, falando sério, por que o Vampiro da Moóca recebeu adiantamento de “15”?

  4. Análise muito lúcida. O

    Análise muito lúcida. O jornalismo chegou não apenas ao ápice do cinismo mas da desonestidade intelectual, da manipulação descarada e do golpismo.

  5. Não vejo assim.
    Estão

    Não vejo assim.

    Estão negociando.

    O Eduardo Cunha não é bobo. Ele sabe o que existe nas gavetas sobre ele. Não vai “entregar” a Dilma de bandeja pra imprensa e a oposição sem garantias de que ele não vai ser rifado logo depois de fazer o serviço sujo.

    A questão toda é que a imprensa e a oposição só podem “prometer” anistia; elas não têm como controlar o que o STF vai fazer. Não tem mais Joaquim Barbosa e Aires Brito no Supremo.

    E aquela intimidação toda do “fajutão” pode não funcionar duas vezes, sobretudo porque trata-se de um golpe contra uma Presidente, e não de deputados e tesoureiros.

  6. Ué !

    E a história do telefone do Serra estar na lista da Odebrecht ? Não vai dar em nada , como sempre ? Sr. Juiz Moro , vai ficar por isto mesmo ? É descaramento total  da mídia e do “bravo” juiz.

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