Instagram e o mercado das fotos de celebridades

Atualizado em  2 de maio, 2013 – 12:44 (Brasília) 15:44 GMT

Em março, a nova-iorquina Raquel Sabz encontrou por acaso, na rua, a cantora Beyoncé passeando com a filha no bairro do Brooklyn.

Sabz fez uma foto com o celular e a postou em sua conta no Instagram.

Pouco depois, a foto dela foi comprada por uma agência e distribuída para os principais órgãos de imprensa americanos como a revista People e o site The Huffington Post.

Casos como o de Raquel Sabz levaram alguns analistas a questionarem se a onipresença dos smartphones e a popularidade de redes como o Instagram colocam em risco o trabalho dos polêmicos paparazzi, os fotógrafos especializados em clicar celebridades.

Fotos próprias

Rihanna, Justin Bieber e Lady Gaga estão no grupo de famosos e usam o Instagram e postam fotos próprias que são divulgadas por sites e revistas de celebridades.

Neste contexto e também levando em conta o caso envolvendo Beyoncé, Molly Goodson, editora-chefe da revista americana PopSugar afirma que “em um mundo hiperconectado, onde todos carregam uma câmera, avistar um famoso não vale tanto como antes”.

Segundo Goodson, , as fotos de celebridades estão “desvalorizadas” e atualmente é difícil estabelecer o preço de uma fotografia, pois a foto aparece primeiro nas redes sociais como Twitter, Instagram e Facebook, o que faz com que ela seja comprada por uma fração dos preços de antes disso ser comum.

Os paparazzi ouvidos pela BBC Mundo admitem que houve uma mudança no mercado com a popularização dos smartphones e das redes sociais, mas negam que isto esteja roubando trabalhos deles.

“(Isso) afeta as celebridades, porque antes elas podiam ir às compras e talvez até haveria um paparazzo (…), e agora há um monte de gente que corre até eles e tira fotos”, disse Jack Ludlam, fotógrafo britânico que faz fotos de celebridades há 20 anos.

“Isto afeta emocionalmente as celebridades”, acrescentou.

Mas, para o paparazzo, o trabalho dele não mudou pois, para um fã conseguir uma foto exclusiva, é uma “questão de sorte”.

“Pode acontecer, mas é difícil. Nós podemos estar lá com uma lente telefoto e conseguir coisas mais naturais. É difícil ficar rico sendo paparazzi de Instagram”, afirmou.

Alberto Bernárdez, fotógrafo e paparazzo espanhol, concorda com Ludlam.

Muitos tiram fotos amadoras de celebridades, postam no Instagram e viram sucesso

“O tema do Instagram não nos afetou diretamente. Pode te afetar ocasionalmente”, disse.

“O trabalho dos paparazzi é o mais especializado que pode existir, porque (você) deve ser um detetive particular, relações públicas, ser esperto e um bom fotógrafo, por isso, apenas tendo uma câmera (você) não pode ser um paparazzo”, afirmou.

Roubo

No entanto, Bernárdez admite estar preocupado com a queda do número de paparazzi, pelo menos na Espanha. Algo que, segundo ele, não se deve ao Instagram, mas a um inimigo mais poderoso: o roubo de fotos na internet.

O paparazzo afirma que “dos 60 a 70 paparazzi que trabalhavam regularmente há alguns anos no país, agora sobraram apenas 20 ou 30 vivendo da profissão”.

“Os paparazzi estão desaparacendo porque ganham menos dinheiro, as agências estão desaparecendo”, afirmou.

Ele cita como exemplo um problema que o afetou pessoalmente, quando em 2008 fez uma foto dos atores Javier Bardem e Penélope Cruz quando comemoravam a vitória da Espanha na Eurocopa pela primeira vez em 44 anos.

“(A foto) foi publicada no mundo todo e eu ganhei apenas 70 euros (cerca de R$ 184) – ainda que a foto tenha sido destaque na capa da People”, contou.

“Ligamos para a People e nos disseram que tinham comprado (a foto) em uma agência, a agência nos disse que a enviou para outra agência, (você) começa a seguir o rastro e não sabe nem para quem reclamar.”

Paparazzi temem mais o roubo de fotos na web do que o Instagram

“O problema é que a internet não está regulamentada. Para chegar ao fundo (da questão) teria que entrar com processos contra pessoas em outros países. (…) É difícil seguir a pista”, acrescentou.

‘Lei Instagram’

O Parlamento da Grã-Bretanha acaba de aprovar uma legislação polêmica, apelidada por alguns de “Lei Instagram”, que, segundo seus críticos, não ajuda a resolver o problema do uso não autorizado de fotos e desencadeou a ira dos fotógrafos profissionais.

A nova lei, chamada oficialmente de Enterprise and Regulatory Reform Act, se refere ao que se conhece como trabalhos “órfãos”, imagens que circulam pela rede sem informações sobre sua autoria.

Agências e associações de fotógrafos na Grã-Bretanha denunciaram que, com esta lei, os grandes meios de comunicação poderiam usar fotos que encontram na internet se demonstrarem que fizeram uma “busca inteligente” para encontrar o autor.

“A lei permitirá a exploração comercial e ampliada de trabalhos não identificados, já que o usuário só precisa fazer uma ‘busca diligente’. Mas é possível que (a busca) fique sem resultados e eles continuem na impunidade”, afirmou Andrew Orlowski, jornalista especializado em tecnologia da revista Register.

Segundo Orlowski, muitas das imagens na internet são órfãs. Os metadados – a informação presente no arquivo da foto, como por exemplo os dados da câmera com que a foto foi feita – ou não foram registrados ou foram apagados por uma grande organização.

E os paparazzi não têm muito o que fazer para evitar esta prática.

Luis Nassif

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