Internet vai engolir mídia tradicional, diz Paulo Bernardo

Por foo

Do Brasil Econômico

“Empresas de internet engolirão mídias tradicionais”

Octávio Costa  e Edla Lula 

O ministro das Comunicações, durante entrevista exclusiva, comentou a sobreposição da Internet aos tradicionais veículos e questionou o conceito de oligopólio e concentração de propriedade do segmento.

Com um aparelho celular dotado da mais moderna tecnologia para Internet móvel, a 4G, o ministro das Comunicações, Paulo Bernardo, recebeu a equipe do Brasil Econômico entusiasmado com o desafio de reformar a infovia no país. 

Mesmo antes de iniciar a entrevista, comentou a sobreposição da Internet aos tradicionais veículos. Questionou o conceito de oligopólio e concentração de propriedade, num momento em que a Internet ocupa o espaço de todas as formas de comunicação – do telefone à televisão, passando pelo jornal e o cinema. 

“O que é oligopólio se o poder agora está na Internet?”, indagou citando o exemplo do Google, que se tornou o segundo maior recebedor de verba publicitária no Brasil. Mais tarde, ao falar sobre a regulação da mídia no país, insistiu no assunto: “Hoje nós temos empresas de Internet que vão engolir as telecom, as rádios, as televisões e todas as mídias”, disse. 

Amante das novas mídias, mas também assíduo ouvinte de rádio, o ministro defendeu com veemência a implantação do novo marco regulatório. E disse que a lei deve proibir a propriedade de emissoras de rádio ou televisão por políticos.

Em quantos anos essa cobertura de 90% dos domicílios seria alcançada?

Projetamos inicialmente em 10 anos. Mas a Casa Civil achou muito e solicitou um plano menor. Estamos fazendo uma modulação, com uma meta para três anos e outra para cinco anos. 

A nossa intenção é atingir 90% dos domicílios em cinco anos. Naquelas regiões mais complicadas, de mais difícil acesso – umas 200 cidades – chegaríamos num prazo maior, de 10 anos, cobrindo a totalidade dos municípios.

Para os municípios cuja infraestrutura é mais difícil a solução será o satélite?

É o satélite. Estamos com uma parceria com o Ministério da Defesa para isso. Os satélites modernos dão uma velocidade muito boa. Além disso, nas cidades pequenas nós achamos que com rádio 4G será possível atender em boa condição. 

Estamos montando uma estratégia com a visão de que precisamos fazer um grande plano na infraestrutura, assim como está sendo feito nas estradas e nos aeroportos. O número de passageiros nos aeroportos cresceu a uma média de 20% ao ano nos últimos quatro anos. A Internet móvel cresceu 100% em 2011 e 65% no ano passado.

E a tendência é que a Internet móvel cresça ainda mais, não é?

Com certeza. A tendência é essa. Para o consumidor, quem fica parado é poste. Você tem hoje o catador de papel que tem celular. Ele não vai poder gastar dinheiro com o celular e mais a assinatura da Internet fixa. Então, a tendência é crescer a Internet móvel, porque ele vai catar o papel com a Internet na mão.

O senhor andou criticando o preço dos aparelhos. Ainda é alto o preço?

Sim. Existem vários problemas ligados a isso. O preço é alto e, na medida em que vai massificando o produto, é natural que o preço baixe. Quando quisemos inserir o computador na Lei do Bem, em 2006, o computador de mesa custava R$ 2.500. O laptop custava R$ 4.000. 

Reduzimos impostos, deu escala e hoje se encontra computador por R$ 1 mil. A tendência do smartphone é essa. Pesquisa da GSMA, a associação mundial das empresas de tecnologia móvel, diz que vamos saltar de 65 milhões de aparelhos que usamos hoje para 130 milhões em 2014. Vai dobrar o número de aparelhos com tecnologia móvel.

Quanto à regulação da mídia, qual é a sua posição? O PT criticou o senhor pela falta de regulação. O senhor acha que o Brasil necessita de uma lei semelhante à da Argentina, por exemplo?

Necessita, sim. Está previsto na Constituição. A mídia é um setor, do ponto de vista econômico, tão regulável quanto qualquer outro. Mas tem muita confusão nisso. Eu fiquei mais insatisfeito e protestei porque misturaram a regulação da mídia com a desoneração das teles. Não tem nada a ver uma coisa com a outra. Todo mundo concorda que o imposto é alto.

Nós estamos reduzindo tributos para investir em infraestrutura e logo o PT faz uma nota contra. Foi um erro. A desoneração para infraestrutura de energia já existe há seis anos. Passou uma ministra de Minas e Energia por lá e determinou isso. Se você pode fazer para incentivar infraestrutura de energia, por que não de telecomunicações, quando está todo mundo falando que banda larga é importante?

O argumento é que o senhor protege as teles e, ao mesmo tempo, posterga a discussão da regulação da mídia…

Isso mesmo. Falaram que sou “vendido”. Virei um agente das teles. O que aconteceu foi que alguns militantes digitais foram lá e convenceram os dirigentes do PT. E eles não refletiram sobre isso. É razoável ter a regulação. 

Temos diferenças sobre qual seria o modelo exato e qual seria o momento para ser deflagrado, mandar para o Congresso Nacional. Acho ruim quando recebo demandas cobrando marcos para impedir que as revistas façam capas contra determinada pessoa.

Não vamos fazer marco para isso. Nós defendemos a liberdade de expressão. E a Constituição não prevê isso. Tem que fazer o que o Senado está fazendo: criar uma lei de direito de resposta. 

As empresas se expressarão como bem entenderem. Quem tiver incomodado, peça o direito de resposta. Agora, temos também um problema de conjuntura política. O presidente da Câmara já falou que é contra, o presidente do Senado é contra. O presidente do PT já falou que é contra. Como resolver isso?

O senhor acha que a Internet é a tendência?

A tendência agora é a televisão, o rádio, toda mídia trafegar por dentro da Internet, seja no computador, no smartphone, no  na TV. Daqui a muito pouco tempo a televisão será usada para ver Google Maps, para postar nas redes sociais, para navegar, jogar e até para ver televisão.

Daqui a quanto tempo?

No ano que vem 80% dos televisores fabricados no Brasil terão tecnologia para navegar na internet. Será possível plugar no cabo ou com uma tecnologia 4G. Com essas mudanças todas que vêm acontecendo, eu tenho um pouco de dúvida em relação ao conceito de propriedade cruzada. Mas a Constituição fala que não pode ter oligopólio, então teremos que ver como vamos definir isso

Luis Nassif

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