“Isto É” entre a hostilidade publicada e a ternura inconsciente

Por Fábio de Oliveira Ribeiro

A hostilidade da imprensa em relação ao governo é evidenciada pelas capas das principais revistas do país. A violência simbólica da capa da “Isto É” desta semana é, contudo, desmedida. A revista sugere e justifica um golpe de estado ao empossar jornalisticamente o vice e tratar como se fosse inexorável o afastamento de Dilma Rousseff da presidência.

É evidente que através de sua capa “Isto É” se colocou à frente dos Partidos Políticos, acima do Congresso Nacional, do TSE e do STF. Mais do que isto, a revista retirou do respeitável público que não a lê qualquer protagonismo político, atribuindo ao seu editor uma supremacia mágica absoluta: o idealizador da capa da “Isto É” pode rasgar a Constituição, invalidar a eleição, conduzir a política ignorando as instituições e proferir a única decisão jurídica válida para por fim à crise e contentar a massa ignara.

Ontem, durante o dia, vi várias vezes a capa da “Isto É” nas bancas de jornais e numa livraria. Ri e lembrei dos outros vices que chegaram ao poder no Brasil. João Goulart era indesejado pela Casa Branca, que usou a imprensa brasileira para fomentar a crise que levou ao golpe de estado de 1964. José Sarney era desprezado pelos jornalistas por não ser sudestino e por ter pertencido à Arena. Itamar Franco fez o impensável, governou ao invés de ser governado pelos jornalistas. Marco Maciel governou de fato enquanto a imprensa fazia propaganda do fanfarrão tucano que gostava de viajar e de ser cortejado pelos jornalistas.

A noite sonhei que estava no Teatro Municipal de São Paulo. Meu lugar era lá em cima na última fila do Anfiteatro. Distante do palco, eu não conseguir ver e ouvir a peça nem saber se a mesma era cômica ou dramática. Mas então o teatro passou por uma imensa transformação. O teto desapareceu, as paredes se afastaram, as galerias se inclinaram e se desdobraram em volta do palco e a plateia ficou ao rés do chão. Aqueles que sempre foram capazes de compreender melhor do que eu o que estava sendo encenado estavam agora no centro de uma arena romana. Cercados pelo povo e pelos soldados eles haviam se tornado protagonistas involuntários de um espetáculo que não conseguiam entender, mas ainda se comportavam como se estivessem na plateia do teatro.

Não sei se meu sonho tem alguma relação com a capa da “Isto É”. Talvez tenha, pois fui dormir depois de assistir um filme sobre o assassinato de JFK e lembrei-me da agressiva capa da revista antes de pegar no sono. Não me atrevo a interpretar a imagem onírica acima transcrita. Mas sou atrevido o suficiente para interpretar a violência simbólica e a hostilidade desmedida da “Isto É”.

Após descrever as relações entre os súditos e os soberanos em diversas culturas, Freud tenta dar uma explicação para a relação contraditória entre os mesmos. Afirma ele que:

“…Se submetermos à análise o estado de coisas descrito, como se ele se encontrasse no quadro sintomático de uma neurose, nosso primeiro ponto de partida será o excesso de preocupação ansiosa que é apresentado como fundamento para o cerimonial do tabu. A presença dessa ternura exagerada é muito comum na neurose, em especial na neurose obsessiva, à qual recorremos em primeiro lugar para nossa comparação. Compreendemos bem a origem dessa ternura. Ela surge sempre que existir, além da ternura dominante, uma corrente oposta, porém inconsciente, de hostilidade, ou seja, sempre que se concretizar o caso típico da disposição ambivalente de sentimentos. Então a hostilidade é encoberta por uma intensificação excessiva da ternura, que se manifesta como angústia e se torna obsessiva porque de outro modo não daria conta de sua tarefa de manter recalcada a contra-corrente inconsciente.” (Totem e Tabu, Sigmund Freud, L&PM, Porto Alegre, 2013, p. 95/96).

A agressão exagerada da imprensa em relação a Dilma Rousseff pode ser interpretada como um sintoma da neurose obsessiva que esconde uma imensa ternura inconsciente dos jornalistas. Eles atacam a presidenta de forma impiedosa porque desejam desesperadamente ser amados e adulados por ela como eram no tempo do PSDB. Fernando Henrique Cardoso preferia deixar seu vice governar para pode se dedicar às regalias da boa vida de Relações Públicas entre colegas de profissão. Dilma Rousseff é mulher séria, aferrada ao cargo e às obrigações que o mesmo lhe impõe, não pode dar-se ao luxo de ficar prestando muita atenção a jornalistas ansiosos e carentes e, em razão disto, tem reforçado as neuroses deles.

Fábio de Oliveira Ribeiro

14 Comentários

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  1. Irrelevância total

    Essas revistas são completamente irrelevantes. Ninguém mais comenta, ninguém mais lê.

    Valem menos (e fedem mais) que um monturo de esterco. O esterco pelo menos vira adubo.

    1. Ruy, antigamente eu

      Ruy, antigamente eu lia.

      Depois, passei a ler apenas a capa, a manchete.

      Hoje, só vejo a foto da capa porque ao passar pela banca, ela está lá.

      Amanhã… estaremos lutando pelas árvores.

  2. Eu nao sei como essas

    Eu nao sei como essas revistas sobrevivem do que  por eu não vejo ninguém comprando. O número de assinantes deve ser mínimo. Acham com esse derespeito todo vãoconseguir assinantes, só um imbécil alienado politico compra.

  3. Se ousarem tirar o

    Se ousarem tirar o protagonismo dos eleitores brasileiros, nas próximas eleições não comparecerei, pagarei multa, o diabo a quatro, mas vai ser meu ato mais radical de protesto.  Porque o momento  vai exigir. Isso porque acredito no voto como manifestação soberana democrática. Se não o respeitam mais, minha trincheira será outra. Também não vou desistir de dias melhores e menos subjugados à farsa da governabilidade. Blefe é para golpistas. Meu caminho é outro e sei que, de muitos que, como eu, estão cheios de tanta loucura.

  4. Só a midia que é contra o

    Só a midia que é contra o governo é “ruim”.

    “se fosse inexorável o afastamento de Dilma Rousseff” sim é inevitável.

    A Melhor coisa para o país é ela renunciar, é o menos traumático.

    Dia 16 de agosto continua o processo que não tem limites ate que se consiga a derrubada do atual governo.

     

     

    1. Algumas duzias de moleques

      Algumas duzias de moleques autoritários querem governar um país de 200 milhões de pessoas. Se começarem uma guerra civil vocês serão tratados como um fenômeno criminal menos importante que o PCC. Ha, ha, ha…

      1. Milošević pensava o mesmo do

        Milošević pensava o mesmo do OPTOR.

        “Se começarem uma guerra civil” não vai ser necessário guerra civil, o governo Dilma cai com muito menos esforço.

         

         

        1. A presidenta eleita pelo povo

          A presidenta eleita pelo povo brasileira é pacífica e está em Brasília.

          Pegue sua pistolinha de água e vá lá derrubar ela!

          Mas não estranhe se levar chumbo. Ha, ha, ha… 

          1. Fábio você é ou esta numa

            Fábio você é ou esta numa fase infantil, politica é coisa séria para se ficar nestes termos..

            Senão entende que o impedimento faz parte do processo democrático paciêmcia não vai ser eu que vou lhe ensinar o que é republica e democracia.

            lembrando que p PT já articulou o impedimento de Collor e 4 pedidos de impedimento de FHC, ambos da mesma forma eleitos pela maioria do povo e “pacificos”.Antes não era golpe hoje é golpe.

          2. Não estamos diante de um
            Não estamos diante de um Impedimento e aqueles que querem julgar Dilma estão mais sujos que a presidente. Os mandatos de centenas de deputados e dezenas de senadores foram financiados mediante corrupção. O que você chama de Impedimento é um golpe de estado para limitar a soberania popular e afastar o povo do poder e do processo decisório. Nestes termos a legalidade reside em defender a presidenta e o caráter popular do mandato dela contra a violência premeditada dos derrotados. A violência contra Dilma é uma violência contra o povo e será objeto de resistência popular. Se ela fechar o Congresso tem meu total apoio.

  5.  
    Não li a matéria, mas no

     

    Não li a matéria, mas no Brasil prevalece o preconceito consciente de que mulher não têm capacidade, interrogue as vanguardas do atraso da direita brasileira e sonda se mulher não é para encontar o umbigo na pia, “lavar, passar, cozinhar e chuliar”, esta de tirar a Dilma, TODOS sabem que politicamente e administrativamente Temer é inferior à Dilma, Presidente do Brasil. Na Dilma que o povo votou.

  6. A capa da semana passada com

    A capa da semana passada com o rosto da Dilma absolutamente enrrugado foi uma “blasfêmia”, espero que quem a planejou, um dia, pague por isso. É praga mesmo.

  7. Quem planta vento colhe tempestade…

    Será que a direita vai segurar a bagaça quanto o pau quebrar?

    Sei não. Acho que os coxinhas estão navegando por um mar, que eles não conhecem e não sabem até onde podem chegar.

    Espero que depois não coloquem a culpa no governo em nem no PT por terem tacado fogo no barraco.

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