Jornalismo de guerra, por Fábio de Oliveira Ribeiro

A ofensiva militar de Israel tem feito a imprensa rebolar para justificar o injustificável. Tanto isto é verdade que  nos últimos dias estamos sendo bombardeados por expressões como “trégua humanitária”, “forças de defesa se retiram de Gaza”, “justo contra-ataque israelense”, “danos colaterais”, “os dois lados do conflito”, “soldado israelense sequestrado”, “o direito de Israel de existir”, “terroristas palestinos”, “bomba atinge escola” e etc…

As expressões utilizadas pelos jornalistas são bonitas, mas não dizem nada ou escondem a verdade. “Trégua humanitária”, por exemplo, é um evidente pleonasmo. Não existe trégua que seja desumana. Toda trégua implica em cessação das atividades militares e, portanto, é humanitária.

“Forças de defesa se retiram de Gaza” dá a atender que Gaza invadiu o território de Israel e foi repelida. Isto é uma evidente mentira. Gaza não tem Exército e nenhum território se desloca sobre outro. O que se deslocou foi o Exército de Israel, primeiro para a fronteira e depois para dentro do território palestino.

“Justo contra-ataque israelense” desinforma o respeitável público. O Conselho de Segurança da ONU não autorizou operações militares israelenses em Gaza e, portanto, a agressão de Israel a Gaza é injusta.

“Danos colaterais” é um eufemismo bem ao gosto dos nazistas. Até a I Guerra Mundial os conflitos armados eram travados entre Exércitos. As baixas entre civis eram geralmente pequenas e indesejadas. Após a II Guerra Mundial, os Exércitos começaram a massacrar indiscriminadamente os civis. Foi o que ocorreu, por exemplo, Vietnã e no Iraque. Mas como os norte-americanos não gostam de ser retratados como carniceiros ou criminosos de guerra, os jornalistas inventaram a expressão “danos colaterais”. O novo nome, porém, não conseguiu esconder o massacre de crianças em Gaza.

“Os dois lados do conflito” sugere que palestinos e israelenses tem à sua disposição equipamentos militares equivalentes. Isto não é uma realidade. Israel tem centenas de tanques e de aviões modernos e os utiliza para bombardear civis palestinos. Gaza não nem mesmo como se defender dos armamentos israelenses. Nenhum tanque ou avião palestino foi filmado bombardeando Tel-Aviv.

“Soldado israelense sequestrado” tem tudo para virar um clássico da retórica pró-israelense. Apesar de admitir a existência de uma guerra ao falar em “dois lados do conflito” a imprensa sugere que um dos lados (os palestinos) não tem direito de fazer prisioneiros ou de matar soldados inimigos. Quando Israel mata civis palestinos isto é descrito como “dano colateral” e não como um crime de guerra. Sob constante ataque militar, os defensores de Gaza não podem nem prender nem matar soldados israelenses porque isto é crime.

“O direito de Israel existir” é outro clássico do engajamento militar da imprensa em favor de Israel. O direito de Israel existir não está em questão, pois Gaza nunca teve, não tem e provavelmente nunca terá condições militares de destruir Tel Aviv ou qualquer outra cidade israelense. A existência de Israel, portanto, não está em perigo. A existência de Gaza é que está em perigo, pois Israel tem atacado diariamente aquele território com bombas despejadas por aviões e disparos feitos por peças de artilharia fixa e tanques de guerra.

Quando os nazistas invadiram a França, os franceses resistiram à ocupação alemã. Os manuais de campo utilizados pelos oficiais da Wehrmacht descreviam como sendo “terroristas” os membros daquilo que os jornalistas brasileiros da época chamavam de “resistência francesa”. Os soldados israelenses bombardearam e invadiram Gaza sem autorização da ONU, mas aqueles que resistem à invasão militar injusta não são chamados pelos jornalistas de “resistência palestina” e sim de “terroristas”. Quem está usando versões atualizadas dos manuais de campo da Wehrmacht? Israel ou os jornalistas brasileiros?

“Bomba atinge escola” é uma expressão que humaniza o artefato e faz desaparecer o homem quem a utilizou com o propósito de destruir o alvo. Toda bomba é atirada por alguém. A intenção daquele que usa uma bomba deveria ser sempre evidenciado pelo jornalista, pois nenhum Exército desperdiça material bélico ou premia soldados que erram os alvos designados. Ao humanizar o objeto e esconder quem o utiliza, o jornalismo não só adota um lado do conflito como impede que a versão da vítima desperte mais atenção que a ação do agressor.  

O caráter tendencioso do jornalismo brasileiro fica mais evidente, porém, quando analisamos a forma como os “dois lados” são tratados. A versão que Israel dá do conflito é sempre aceita e reportada como se fosse notícia pela mídia brasileira. A versão dos palestinos é ou construída pelos jornalistas ou por Israel, nunca pelos próprios palestinos. O terrorismo praticado por Israel contra os civis palestinos (contra crianças indefesas em Escolas) nunca é chamado de terrorismo, pois os israelenses não podem ser descritos como “terroristas”. “Terroristas” são sempre os palestinos, mesmo quando estejam defendendo suas casas e famílias. 

Fábio de Oliveira Ribeiro

13 Comentários

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  1. http://www.independent.co.uk/

    http://www.independent.co.uk/news/people/angelina-jolies-proisrael-father-jon-voight-accuses-penelope-cruz-of-inciting-antisemitism-with-gaza-genocide-letter-9644962.html

    PENELOPE CRUZ ACUSADA DE ANTI SEMITIMISMO PELO PAI DE ANGELINA JOLIE – A atriz espanhola Penelope Cruz publicou uma carta de apoio ao povo palestino. Imediatamente o pai da atriz Angelina Jolie acusou Penelope de incitar o anti-semistismo. É um exemplo claro das couraças propagadas como DEFESA PREVIA de qualquer ataque as ações belicas de Israel. QUALQUER critica vira anti-semitismo, de modo que essa potencia agressora sempre puxa um SALVO CONDUTO para qulquer ação militar, escundado-se nesses mantras gastos.

    Nada tem a ver agressão de uma potencia de maximo poder militar com anti-semitismo. Aliás uma boa pergunta seria, PORQUE NASCEU O ANTI-SEMITISMO?  Porque não há anti-ararabismo, se os arabes tambem foram invasores de vastos territorios?  Os arabes ocuparam a metade sul da Espanha e Portugal por 700 anos, não deixaram odio dos ocupados e sim boas lembranças civilizatorias na cultura, na comida, na lingua, nos habitos.

    O anti-semitismo foi um dos processos mais universais da Idade Antiga, Media e Moderna, porque será?

    Porque povos tão distantes como espanhois e russos tornaram-se anti-semitas em varias etapas de sua historia?

    Ao contrario do que diz o pai de Angelina Jolie, o que faz renascer o anti-semitismo é o massacre promovido pelo Exercito de Israel, não é a Penelope Cruz.

    O truque já não funciona mais, Gaza abriu os olhos de muita gente.

    1. Nenhuma novidade. Tenho quase
      Nenhuma novidade. Tenho quase certeza de que este meu artigo será reportado à Universidade de Tel Aviv como um exemplo de atividade anti-semita no Brasil em 2014. Depois, meu nome será achincalhado em todos os jornais das comunidades sionistas da América Latina. Mas este é um pequeno preço que eu pagarei com prazer se uma única criança palestina for salva com minha ajuda.

      1. Imprensa prostituta……………….

        Fabio, nãos e preocupe, caso suas considerações vá parar nas Universidades de Telaviv, será um prêmio, pois você estará fazendo a diferença nese mar de vendidos, emque se transformou a imprensa, mas não só brasileira, mas no mundo.

        Mas, voce como todos que pesquisam sazbem muito bem em que mãos ela se encontra, e as Agências de Noticias são na sua maioria propriedade de judeus.

        Os jornais, as redes de televisão, rádios, só fazem repercutir o que estas Agências noticiam, então…..

        Não se surpreenda comeste comportamento, pois são no mínimo como já disseram – ” … prostitutas dos homens maus”!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!

    2. Ohohohohohohohohoh!!!!!!!! Que meda!!!!!!!!!!!!!!!!

      Motta, esta sua informaç ão, vem acrescentar somente mais um nome à enorme lista dos instrumentalizados pelo sistema judaico, e as palavrinhas mágicas, já tão desgastadas pelo uso, não fazem nos que pesquisam nenhum efeito.

      “Anti-semita” – “Anti-sionista” –  ” nazista” – “terrorista”, enfim são vocábulos que, conforme voce mesmo pergunta, não se aplicam aos mulçumanos que ocuparam durante 700 anos Portugal e Espanha, e nem por isto são rotulados!

      Esta estratégia, muito bem elaborada, diga-se de passagem, sempre causou receio em quem, como eu e voce, e agora milhares, não se intimidam em criticar o estado nazisionista de Israel pelas suas atitudes no OM. 

  2. O PIG NO BRASIL É UM ORGANISMO ALIENÍGENA?

    Excelente artigo, caríssimo. Triste realidade brasileira. Parece que a imprensa brasileira, vulgo pig, é uma estranha, em nosso ninho….Além de tudo, ultimamente,  luta e conspira  para nossa derrota  como NAÇÃO SOBERANA O ALTANEIRA. Estou desconfiando  que essa imprensa brasileira, o pig,  é de outro planeta; esta  infestada de alienígenas…..

  3. Tempo do Mal Absoluto

    Para mim esse genocídio perpetrado criminosamente pelo Estado de Israel decretou o fim do jornalismo. Vivemos inexoravelmente o tempo dos canalhas, dos covardes e dos hipócritas. (Incluam-se pliiticos, governos, jornais, religiões etc). Eu chamaria — em relação que Israel faz às crianças palestinas — de “Tempo do Mal Absoluto”. Uma sordidez sem peias. O que conta é o mercado de armas. O capitalismo se revela em sua perfeição com essa câmara de extermínio a céu aberto que é Gaza. Produção em larga escala de carne de crianças.

  4. É, o exercito israelense

    É, o exercito israelense acaba de inventar  um novo principio da  tatica militar ou, como for, da ciencia militar.

    Coisa que nem SunTzu, nem Napoleao nem Clausewitz jamais  sonharam.

    O principio que enfatiza  a importancia de  eliminar  primeiro  as crianças do inimigo.

    1. Exatamente augusto

      “futuros e potenciais terroristas”, é assim que a maiioria dos israelenses pensam sobre crianças palestinas ou iranianas ou qualquer criança no mundo que não seja educada em ambiente onde o tal “direito divino” a posse de todo Oriente Médio seja ensinado; o Estado de Israel, judeu por definição e razão de ser, após essa ofensiva em Gaza, se desnudou completamente, não ficam devendo em nada aos nazistas que, no afã de livrar o mundo dos impuros, matavem idosos e crianças aos montes; os mais velhos por representarem a cultura e a memória viva de um povo, as crianças para que as outras raças não mais se reproduzissem.

  5. A Trégua

    Ontem lendo artigo do jornalista Paul Mason do The Guardiam, ele relata:

    (http://www1.folha.uol.com.br/mundo/2014/08/1495450-opiniao-gaza-e-capaz-de-funcionar-mesmo-durante-guerra.shtml)

    “Quando esta guerra terminar, nada de bom acontecerá na faixa de Gaza enquanto não acabarem o cerco e o bloqueio. De fato, com 40% da área urbana agora inabitável devido à destruição, haverá uma crise humanitária de grandes proporções que durará meses. Essa crise não será resolvida por ONGs sozinhas. O modo como for resolvida vai determinar se a Faixa de Gaza poderá ou não sobreviver.

    A UNRWA, a agência das Nações Unidas para os refugiados palestinos, que abriu suas escolas limpas, azuis e brancas para uma enxurrada de humanidade caótica e suja, diz que o território está “à beira de um precipício”. O hospital que acabo de visitar tem seis leitos em sua UTI, mas 95 pessoas com ferimentos de bala ou bomba para tratar.

    A lógica dita que ou a ajuda chega em escala inusitada ou as pessoas saem da faixa de Gaza -não amanhã, mas à medida que as semanas transcorrerem sem saneamento ou eletricidade. Os palestinos temem que a crise humanitária seja aproveitada para tirá-los permanentemente da terra capturada pelos israelenses, acabando por levá-los a campos de refugiados no Egito. “

    Dessa forma fica mais evidente ainda a monstruosidade do Governo Israelens que agora vai deixar “fermentar” o caos. Não precisará mais gastar seu moderníssimo arsenal bélico em Gaza, o laboratório de teste que utiliza para vender armamentos ao mundo “civilizado”.

     

    1. E se um desesperado qualquer

      E se um desesperado qualquer da palestina fizer uma besteira, está arriscado recomeçar o massacre novamente. Pois é disso que se trata: massacre à população muçulmana da palestina; estão descontando o que os europeus fizeram com eles nos muçulmanos da palestina. E o ódio é ainda maior porque os muçulmanos resistem, nem que seja com pau e pedra.

    2. Este tipo de abordagem
      Este tipo de abordagem deveria ser a regra, mas é exceção no jornalismo brasileiro. Nos telejornais que acompanho diariamente predomina a construção semântica de um quadro amplamente favorável a Israel e desfavorável às vítimas da agressão israelense.

  6. Ótimo texto sobre algo péssimo.

    Acrescento duas observações às expressões-clichês da mídia corporativa, comentadas acima: 1) “Forças de defesa se retiram de Gaza”: são antes forças de ataque, não de defesa; 2) “Soldado israelense sequestrado”: confirmou-se depois que o dito soldado morreu em combate, mas o pretexto do sequestro serviu para mais alguns dias de ataques violentos.

  7. BALANÇO DA COVARDIA DO ESTADO ANÃO

    BALANÇO DA COVARDIA DO ESTADO ANÃO

    Balanço das Forças da Covardia:

    1800 civis palestinos indefesos, sendo 400 crianças e outras centenas de velhos e mulheres, massacrados num banho de sangue com precisão cirúrgica pelas Forças da Covardia do Estado Anão de Israel, contra 3 civis israelenses, assassinados a esmo pelos foguetes do Hamas.

    Balanço das Forças Militares:

    63 militares das Forças de Ataque de Israel contra cerca de 200 militares do Hamas. Os últimos lutando praticamente no braço, e os invasores com toda a parafernália de guerra de última geração de Israel/Estados Unidos. Não é difícil prever que o Estado Anão perderia de 7 a 1 se lutasse em igualdade de condições.

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    Comentário em https://jornalggn.com.br/blog/fabio-de-oliveira-ribeiro/jornalismo-de-guerra-por-fabio-de-oliveira-ribeiro

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