Jornalismo e a novelização da realidade política

Comentário ao post “Os últimos momentos do jornalismo de papel

A Novelização da Política

Há algum tempo venho “matutando” uma ideia que acredito que coincide com este post do Nassif: a de que se instituiu no jornalismo político brasileiro um estilo de escrita que chamo de novelização da realidade política.

Em decorrência do imenso crescimento e sucesso da TV Globo  –  consolidada ao longo dos últimos 30 ou 40 anos na posição de principal interprete e representante dos desejos da sociedade brasileira  –  um formato de mídia aperfeiçoado por ela à nossa cultura (a trama novelística) tornou-se a maneira pela qual o processo político brasileiro (mas não só ele) passou necessariamente a ser visto e interpretado. Se de início, as novelas se transformaram em vetores de contestação popular contra o campo político, de protesto contra a sua imoralidade latente, de crítica social das desigualdades, com o tempo passaram a procurar interferir na própria trama da realidade. Personagens ficcionais criados na medida certa para identificação com personagens reais “do bem” ou “do mal” são incontáveis e facilmente identificáveis.

De uns anos para cá, porém, a pretensão, digamos assim, é maior. O próprio relato jornalístico, tendo à frente seu representante maior, o Jornal Nacional, tornou-se roteiro novelístico e construção real/ficcional do que se deseja que tenha ocorrido e não do que realmente ocorreu (se é que se pode definir esta diferença, hoje em dia). É aí onde entra a importância da trama e da futrica. Dependente e viciada por anos e anos de novela na veia a chamada “opinião pública” passa a compreender e ser informada/divertida pela tragicomédia dos jogos ou tramas do poder político. É um novo padrão de compreensão social imposto pelas organizações globo através de suas novelas, que contaminou seus programas humorísticos e mais recentemente se estendeu aos seus jornais televisivos e revistas impressas. É como se a Globo não permitisse que seu telespectador tivesse o direito de distinguir entre à realidade mesma e a vivida na novela. Para quê? Não precisa disso! Tudo é uma trama, inclusive a vida política nacional.

Claro que isto não é uma realidade apenas  brasileira! Mas, aqui, se tornou dramática, dado o poder e predomínio da grande irmã. 

Luis Nassif

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