Más notícias e maus jornalistas, por Rui Daher

Por Rui Daher

Para o Jornal GGN

Por muitos anos tive um patrão que odiava funcionários que levassem a ele más notícias nas sextas-feiras. Ainda mais se resultados de balancetes contábeis, vendas perdidas, ou pedidos de demissão de bons funcionários. Se o grau da catástrofe fosse grave, o mensageiro corria sérios riscos no emprego.

Muitas vezes servi como filtro de situações assim. Olhava, analisava números e fatos, procurava erros ou interpretações que pudessem melhorar o resultado ou amenizar a notícia, eu mesmo querendo trucidar o colega que já mandara às favas o meu fim de semana. No fim, aconselhava o gajo a deixar o informe para a segunda-feira.

Foi exatamente o que aconteceu comigo ontem. Ebolas laborais, a cada duas horas, me impediram conhecer logo cedo o corriqueiro noticiário sobre nossa Federação de Corporações.

No mesmo dia, minha coluna no site de CartaCapital saíra com o título “Não há crise no agronegócio brasileiro”. http://www.cartacapital.com.br/economia/nao-ha-crise-no-agronegocio-brasileiro-4750.html

Pensei: “com o clima atual, lá vem mais chumbo”. Até que não. Talvez para me poupar, o site não postou o artigo no FB e poucas foram até aqui as manifestações (podem estar se guardando para o 15 de março).

Assim, depois de enfrentar os vários leões da sexta-feira, somente fui às folhas e telas cotidianas, à noite, em casa.

Leio no Valor os seguintes fatos, honesta e não adversativamente noticiados: “Retorno alto atrai estrangeiro para papel local”, “BRF lucrou quase R$ 1 bi no 4º trimestre”, “Ganhos da Multiplus avançam 40%”, “Fleury vai investir 60% mais em 2015”, “Grupo Raia Drogasil dobra o lucro em 2014 e inicia nova fase”.

Sim, claro, havia também notícias de maus desempenhos, como outros, de menor expressão, bons. E um artigo excelente de Cláudia Safatle, “O pior pode estar passando”.

Fui dormir imaginando que estamos como sempre estivemos, regrados que somos por um acordo secular de elites. A economia cresce aos trancos e barrancos em ciclos setoriais e, vez ou outra, deixa alguma sobra para melhorar o bem estar da população pobre.

Meu artigo para CartaCapital, enfim, já que baseado em fatos, não se tratava de devoção planglossiana.

Tudo até ler a manchete de hoje, em letras garrafais, da inestimável Folha de São Paulo: “Dilma sobe tributo em 150% e empresas preveem demissões”.

Dilma, claro, a estelionatária terrorista, e não um governo pressionado pelos berroamantes do ajuste fiscal. Até aí, tudo mal, mas que sempre pode ficar pior.

Nas páginas internas, os leitores ficam sabendo de que se trata da retirada das desonerações setoriais concedidas nos últimos anos.

São ou não sem-vergonhas?

Redação

15 Comentários

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  1. 15 de março

     

    Dia 15 de março vamos fazer a maior manifestação contra a falta de água de São Paulo. Curitiba vai espernear contra os desmandos do governador Beto Richa, vai sobrar para o PSDB também, viu Aécio, 

    Cadê o Álvaro Botox Dias, o garganta tá sumido ?

    Por que o Alckimin  cancelou várias obras em São Paulo, será que tem algo relacionado com a crise das empreiteiras ?

    Sera que o pau que bate em Chico, também bate em Francisco.

    Vamos levantar as empreiteiras que estão atuando nas obras canceladas pelo governador paulista.

     

     

     

     

     

  2. Rui Daher,

    Em respeito ao bom nível do botequim do Sr. Nassif, vamos ficar no trivial “sem vergonhas”. Estivessemos nós em outros botequins, os adjetivos seriam bem outros. 

  3. Desculpem,

    Quis escrever panglossiano. No resto, não muda nada. Abraço a todos, informando que, sim, dormi muito bem para hoje ler com muita alegria a entrevista do professor Bresser-Pereira, pasmem, na Folha

  4. Rui Daher, concereteza não

    Rui Daher, concereteza não dormiu bem.  Qualificar esses golpistas de “sem vergonha” é pouco.  Vamos a mais alguns adjetivos: desavergonhados, descarados, Impudentes e desonestos.

    É essa a mídia golpista no Brasil.

  5. rui, como sempre, excelente e

    rui, como sempre, excelente e elegante, chama essa gente de sem-vergonha.

    para a maioria, certamente, essa gente da folha e da

    grande mídia já passou de canalha há muito tempo.

     

     

  6. Aqui no RGS, foi inaugurado

    Aqui no RGS, foi inaugurado na minha cidade, Santa Vitória do Palmar. o maior parque eólico do estado e, quando ficar totalmente pronto junto com Chui e Hermenegildo, será o maior do Brasil. A notícia no jornal Zero Hora/RBS sobre o assunto – em página interna, claro: “Dilma abre parque eólico longe de vaias”. Na capa do jornaleco, a manchete era o bloqueio de algumas estradas.

    Interessante que, na inauguração,  o vaiado ao falar foi o governador.

     

    Os jornais deveriam – obrigatoriamente – virem acompanhados de saquinhos de vômitos.

     

    1. Muito bom!!!!
      E antes que nos

      Muito bom!!!!

      E antes que nos digam que somos  “desambientalistas”;  saquinhos bio degradáveis!…

    2. De Santa Vitoria do Palmar?

      Flics,

      Putz! Teu comentario me encheu de saudades. Certa vez, faz uns 10 anos, em ferias, fui de carro de SP até o Chuí. Passei por Rio Grande, Praia do Casino, conheci os molhes  e diversas cidades da rota até sua cidade, Vitoria do Palmar, praia do Hermenegildo e depois Chuí. Lembro dos bandos de capivaras da Reserva do Taim, dos queijos, vinhos e deliciosas parrilladas do Chuí uruguaio. Lugar lindo, deve ser delicioso para morar. Até hoje esse filme passa pela minha cabeça. Faz tempo que planejo retornar, ir até Cabo Polonio e avançar até Montevideu. Viva o Sul Maravilha! Abraços.

      1. Quando fizer novamente essa

        Quando fizer novamente essa viagem, não deixa de visitar o Parque Nacional de Santa Tereza, no norte uruguaio, e, se estiver com tempo, o Forte de São Miguel, instalado no alto de uma colina de mata nativa, transformado em museu, e situado a uns 10 km do Chuy uruguaio, na rodovia que segue para o interior (não a “Ruta” que vai a Montevideo, mas outra). 

  7. enquanto isso, Rui Daher

    uma multidão de 31 pessoas (“no auge”, como diz a Folha) são destaque neste diário por protestarem contra a Dilma na frente do Palácio da Cidade, RJ.

    e o poeta Ferreira Gullar acenou positivamente para a “multidão” diz lá. Como ele é um líder de massas, temos que considerar uma explosão possível no chá da ABL.

    romério

    http://www1.folha.uol.com.br/poder/2015/03/1596666-manifestantes-protestam-contra-dilma-em-frente-ao-palacio-da-cidade.shtml

  8. Jornalistas verdadeiros são

    Jornalistas verdadeiros são os do jornal francês Le Monde, não os dos jornalões brasileiros, que vivem – eu iria dizer que trabalham, mas não é verdade e mudei de ideia – de ouvir Cala Boca dos patrões. Se, por exemplo, aparecem com alguma notícia quente sobre a corrupção de algum tucano, alén de ouvirrem o Cala Boca ainda têm de anotar da boca do patrão a forma como escreverão seus artigos. E aí deles se mudarem uma vírgula. São como aquelas secretárias louras e gostosas que trabalham para empresários rentistas. Acho até que quando esses jornalistas estão saindo da sala do patrão com o bloco de anotações e com a caneta nas mãos, o patrãozinho passa a mão na bunda deles. E eles ainda dizem: Obrigado, meu amor! Se acostumaram com essa rotina por causa do gordo salário que recebem.

    No caso dos jornalistas do Le Monde, o buraco é mais embaixo. Se for o caso. são eles que passam a mão na bunda do patrão.

    “O milionário Pierre Bergé, um dos proprietários do Le Monde desde 2010, criticou o trabalho dos jornalistas do seu jornal sobre a publicação dos nomes das pessoas envolvidas no caso HSBC de evasão fiscal. Trata-se, segundo ele, de “populismo”. Esses nomes estariam sendo “lançados aos leões”. “São métodos que eu reprovo”, disse o milionário. 

    Imediatamente, a “Associação dos Redatores do Monde” reagiu ao que considerou “uma intromissão no conteúdo editorial” do jornal [veja a nota abaixo]. “Nós condenamos com força, como em outras ocasiões, essa intromissão no conteúdo editorial. O papel dos acionários é de definir a estratégia da empresa e não de tenter intervir [tenter de peser] no sentido da informação [publicada]”.

    (https://jornalggn.com.br/noticia/hsbc-jornalistas-do-le-monde-sob-pressao-dos-proprietarios-por-marlon)

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