Mídia reage contra ascensão de Corbyn e Sanders, por Gleen Greenwald

Enviado por Sérgio T.

Do Opera Mundi

 
POR GLENN GREENWALD
 
Como a ascensão de candidatos e idéias à esquerda faz os conservadores perderem as estribeiras. Estudo dos casos inglês e norte-americano

A elite política e a mídia britânica perderam pouco a pouco a cabeça, após a eleição de Jeremy Corbyn para a liderança do Partido Trabalhista – e ainda não parecem capazes de se recuperar. Nos Estados Unidos, Bernie Sanders é bem menos radical; os dois não estão sequer na mesma constelação política. Mas, especialmente em temas econômicos, Sanders é um crítico mais robusto e sistêmico do que os centros do poder oligárquico julgariam tolerável. Sua denúncia contra o controle da vida política pelas corporações é uma ameaça grave. Por isso, ele é visto como a versão norte-americana do extremismo de esquerda e uma ameaça ao poder do establishment.

Para quem já tinha observado os desdobramentos da reação britânica à vitória de Corbin, é fascinante constatar que as reações de Washington e da elite do Partido Democrata à emergência de Sanders replicam o caso inglês, seguindo idêntico script. Pessoalmente, creio que a escolha de Hillary é extremamente provável, mas as evidências de um movimento crescente em favor de Sanders são inquestionáveis. Trata-se de algo consistente, que está desconcertando os dirigentes do partido, como seria de esperar.

Uma pesquisa revelou, semana passada, que Sanders tem uma clara liderança entre os eleitores mais jovens inclusive as mulheres. Como a revista Rolling Stone notou, “as mulheres jovens apoiam Bernie Sanders por larga margem”. O New York Times admitiu que, em New Hamphire, Sanders “já abriu uma vantagem de 27 pontos”, o que é “espantoso para os padrões do Estado”. O Wall Street Journalreconheceu, em editorial, que “já não é impossível imaginar este socialista de 74 anos candidato pelo Partido Democrata”

Como no caso de Corbyn, há uma correlação direta entre a força de Sanders e a intensidade e amargura dos ataques baixos desencadeados contra ele por Washington, a estrutura partidária e a mídia. No Reino Unido, esta curiosa revolta elitista passou por sete fases; e nos EUA, a reação a Sanders segue a mesma trajetória. Ei-la:

Fase 1: Condescendência polida diante do que é percebido como algo inofensivo (achamos realmente ótimo que ele possa expressar seus pontos de vista).

Fase 2: Ironia leve e casual à medida em que cresce a confiança dos apoiadores do candidato (não, caros, um extremista de esquerda não vencerá, mas é muito bom ver vocês tão animados)

Fase 3: Auto-piedade e lições graves de etiqueta dirigidas aos apoiadores, após a constatação de não estão cumprindo seu dever de rendição MEEK, temperada com doses pesadas de (ninguém é tão rude com os jornalistas, ou os ataca tanto, nas redes sociais, como estesradicais, e isso, infelizmente, está enfraquecendo as causas de seu candidato)

Fase 4: Tentar colar, no candidato e em seus apoiadores, insinuações de sexismo e racismo, afirmando falsamente que apenas homens brancos os apoiam (você gosta deste candidato porque ele é branco e homem como você – não devido a sua ideologia ou políticas, nem porsua oposição às políticas pró-guerra e pró-corporações da elite do partido).

Fase 5: Difusão escancarada de ataques de direita para demonizar e marginalizar o candidato, quando as pesquisas comprovarem que ele é uma ameaça real (ele é fraco contra o terrorismo, irá render-se ao ISIS, faz alianças bizarras e é um clone de Mao e Stalin).
Fase 6: Lançamento de alertas graves ou histéricos sobre o apocalipse à frente, em caso de derrota do candidato do establishment, quando a possibilidade de perder torna-se imenente (suas ideias irão sofrerderrotas por décadas, talvez por várias gerações, se você desobedecernossas advertências sobre que candidato escolher).

Fase 7: Derretimento completopânicoreprovaçõesameaças,recriminaçõescotoveladas presunçosasassociação aberta com a direta, completa fúria (Eu não posso mais, em sã consciência, apoiar este partido de aloprados, adoradores de terroristas, comunistas e bárbaros).

O Reino Unido está bem na Fase 7, e talvez seja capaz de inventar em breve um novo estágio (militares britânicos anônimos ameaçaram promover um motim, caso Corbyn seja eleito democraticamente primeiro-ministro). Nos EUA o establishment político e a mídia pró-Partido Democrata estão na Fase 5 há semanas, e parecem prestes a entrar na Fase 6. A passagem à Fase 7 é certa, caso Sanders vença as primárias em Iowa.

É normal e legítimo, nas eleições, que as campanhas de cada candidato critiquem duramente os demais. Não há nenhum problema nisso: seria ótimo que os contrastes aparecessem claramente, e quase não surpreende que isso seja feito com agressividade e aspereza. As pessoas chegam a extremos, para obter poder. É da natureza humana.

Mas isso não impede as pessoas de pesar os ataques que fazem, nem significa que estes estejam imunes a críticas (a exploração grosseira e cínica dos temas de gênero pelos apoiadores de Hillary, para sugerir que o apoio a Sanders baseia-se em sexismo foi especialmente desonesta, quando se que os grupos de esquerda que hoje defendem o candidato tentaram, por meses, lançar a candidatura de Elisabeth Warren – para não dizer do vasto número de apoiadoras do senador).

Gente de todos os partidos, e em todo o espectro político, está enojada com as disputas em Washington. Não surpreende que um amplo número de adultos norte-americanos busquem uma alternativa a uma candidata como Hillary. Mergulhada no dinheiro de Wall Street (tanto política quanto pessoalmente), ela mostra-se incapaz de desaprovar uma única guerra, e sua única convicção parece ser a que qualquer coisa pode ser dita ou feita, para assegurar sua própria vitória.

A natureza dos establishments é baterem-se desesperadamente pelo poder, e atacar com fervor sem limites qualquer um que desafie ou ameace aquele poder. Foi o que ocorreu no Reino Unido com a emergência de Corbyn e o que se repete nos EUA com a ascensão de Sanders. Não surpreende que os ataques a ambos sejam tão parecidos – a dinâmica dos privilégios do establishment é a mesma – mas o deixa de ser chocante que os scripts sejam idênticos.

 

Redação

7 Comentários

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      1. Sim e não
        Athos, a estabilidade do funcionalismo público por si é justificável. O diabo mora nos detalhes, então é óbvio que a legislação que fornece essa proteção laboral é frouxa e muito suscetível ao corporativismo. Por exemplo, essa de juiz que pratica maus feitos sofrer “punição” de aposentadoria com todos os direitos é uma esbórnia (mas sinto a muito, antes.do PT no governo, que o poder mais corrupto no Brasil é o judiciário). Também nào podemos esquecer que boa parte da corrupção estatal se dá nos funcionários indicados pelos políticos, com a culpa no imaginário popular sobrando para os estatutários.
        O difícil é achar um governo, um congresso e um judiciário, que queiram mudar isso. Nunca, eles se sentem vencedores e não se mexe em time que está ganhando… E o povo que se exploda!
        Um abraço.

      2. Eu achei que a discussão
        Eu achei que a discussão fosse sobre a imprensa, e não sobre o funcionarismo público. Com base em uma brincadeira com essa interminável dessa operação vaza jato o camarada ainda arruma um jeito de criticar o funcionarismo público. Típico de infelizes que não tiveram capacidade de passar num concurso. Sou funcionário público com muito orgulho, e desculpa, não falto ou durmo no ponto, nem nada que o valha

      3. No Brasil se demite e se exonera servidor

        Demissão é punição (e é possível, sim, de acordo com a Lei) e a exoneração é a pedido. Por exemplo, no DOU de 02/01/2012 tem uma série de nomeações no STJ, possíveis graças à exoneração dos anteriores ocupantes dos respectivos cargos.

  1. Não muda…
    Diante desse texto, no qual eu acredito, salta aos olhos algumas características imutáveis da grande mídia atual. Ela não é parâmetro de conhecimento político, não é comprometida com a verdade e está longe de ser guardiã da democracia.
    Está mais do que na hora do zé povinho entender que a grande imprensa tem lógica e interesses próprios. É composta de grandes corporações pertencentes ao time dos “vencedores”, ou seja, não quer mudança alguma na estrutura do poder econômico do mundo.
    Não acredito no fim da imprensa enquanto informação pulverizada nos mais diversos tipos de mídia e público. Informação sempre será uma necessidade social… Mas acredito (inclusive luto para que aconteça), no fim dessa imprensa gigante, tentacular, multi hegemônica, que propaga ideologia de interesse apenas de sua classe, o propalado “pensamento único”. Pois com tais características genéticas, ela sempre será sabotadora do interesse popular e golpista onde ela achar necessário…
    Um abraço.

  2. A Inglaterra, mátria do

    A Inglaterra, mátria do capítalismo, é a sociedade de classes por excelência. E onde há forte cultura de classes, inclusive e principalmente da classe trabalhadora, orgulhosa de seus modos de vida e manifestações artísticas, como o rock, por exemplo. E notei que até jornais supostamente mais liberais como The Guardian tem feito campanha cerrada contra Corbyn. Falam desde seu passado sexual até a matérias como esta de hoje: “Um governo Corbyn levaria a uma revolta militar?”. Também, um sujeito que anda desse jeito… Um perigo!

    http://www.theguardian.com/uk-news/2016/jan/25/corbyn-trident-military-revolt-unfriendly-fire

     

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