Wilson Ferreira
Wilson Roberto Vieira Ferreira - Mestre em Comunição Contemporânea (Análises em Imagem e Som) pela Universidade Anhembi Morumbi.Doutorando em Meios e Processos Audiovisuais na ECA/USP. Jornalista e professor na Universidade Anhembi Morumbi nas áreas de Estudos da Semiótica e Comunicação Visual. Pesquisador e escritor, autor de verbetes no "Dicionário de Comunicação" pela editora Paulus, e dos livros "O Caos Semiótico" e "Cinegnose" pela Editora Livrus.
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Miriam Leitão, capas de revistas e a teratopolítica, por Wilson Ferreira

por Wilson Ferreira

A denúncia tardia da jornalista Miriam Leitão de que supostamente teria sido vítima do ódio de petistas num voo entre Brasília-Rio tem um timing preciso: o momento no qual Lula e Lava Jato estão em segundo plano diante da guerra entre os canhões da Globo e a resistência do desinterino Michel Temer em se agarrar à presidência. Além da palavra de ordem “Fora Temer!” ter evoluído nas ruas para o lema “Diretas Já!”. Miriam Leitão coloca mais uma vez em funcionamento os mecanismos da “teratopolítica” – a estratégia semiótica da criação de inimigos monstruosos (o morfologicamente disforme, o monstro ou o simulacro humano) na política. Por contraste, as recentes capas das revistas informativas nacionais sobre a atual crise política demonstram isso: enquanto as representações de Dilma e Lula derivam entre a deformidade e um simulacro humano que se quebra ou derrete, com Temer é diferente: é o enxadrista e o estrategista que mantém a morfologia humana. Diferentes planos semânticos, sintomas do atual racha na grande mídia e uma guerra fratricida entre aqueles que articularam o golpe político de 2016.

Nas últimas semanas, Lava Jato, Power Points, triplex do Guarujá, pedalinhos de Atibaia e Lula, se não desapareceram, pelos menos ficaram em segundo plano na pauta da grande mídia.

Juntamente com os repórteres e comentaristas da Globo (esbaforidos, perplexos e gaguejantes ao vivo com a repentina decisão da emissora de jogar Temer ao mar), os brasileiros ficaram eletrizados com áudio do desinterino Temer gravado secretamente por Joesley Batista, o vídeo de uma mala cheia de dinheiro conduzida às pressas em pleno bairro do Itaim/SP pelo deputado federal e assessor especial de Temer, Rocha Loures, entre outras revelações-bombas diárias que colocam em xeque o atual Governo.

 O divisão da mídia corporativa brasileira entre, de um lado, a Globo (que defendeu abertamente a renúncia do presidente e sustenta esmagadora maioria de manchetes tendo Temer como alvo), e do outro Estadão e Folha tentando apagar o incêndio marcou uma inédita ruptura na atuação em bloco das mídias nessas duas décadas de governos petistas.

Mas esse racha liderado pela poderosa Globo produziu um crescente e incômodo efeito colateral: o início da unificação das esquerdas e organizações sindicais em torno do “Fora Temer!” que evoluiu para a palavra de ordem “Diretas Já!”. Isso depois de uma bem sucedida Greve Geral em abril e o anúncio de outra para o dia 30 desse mês.

 

Certamente o lema “Diretas Já!” será o mote dessa nova greve, carro-chefe de luta pela defesa dos ameaçados direitos trabalhistas e previdenciários.

E como nas recentes coberturas de manifestações, prevê-se mais uma vez a Globo, tal como uma avestruz tautista, enfiando a cabeça na terra e tentado fazer os telespectadores acreditar que todos nas ruas estão juntos com a emissora, apenas pelo “Fora Temer!” – sobre o conceito de “tautismo” clique aqui.

Teratopolítica e vácuo político 

Nesse vácuo político do cai-não-cai do desinterino Temer, e de um governo paralisado e sem conseguir tocar as reformas abençoadas pela mídia corporativa, começa a ficar preocupante para a mídia corporativa a pretensão das esquerdas e centrais sindicais ocuparem o espaço político. E, o que é pior, ver o crescimento do capital político de Lula, como atestam pesquisas recentes, mesmo com todas as convicções da chamada “República de Curitiba” onde estão os próceres da Lava Jato.

Portanto, entra mais uma vez em ação a estratégica semiótica de “teratopolítica” – derivado da teratologia ( de “depato”, “monstro”): ramo da ciência médica preocupado com o estudo das causas ambientais que possam alterar o desenvolvimento pré-natal levando a desenvolvimentos anormais.

Teratopolítica: demonizar o inimigo através da simplificação, exagero, vulgarização até transformá-lo em uma anormalidade, aberração e perigoso veículo de contágio de patologias sociais como ódio, violência, intolerância e preconceito.

Os instrumentos semióticos para a “teratopolitização” do inimigo vão das charges, montagens “fotoshopadas” em capas de revistas, mas, principalmente, matérias jornalísticas nas quais o jornalista é a própria (e única) fonte da informação de uma matéria ou coluna inteira.

O timing de Miriam Leitão

Eis que, após o “escândalo da fraude da Wikipédia” (mais uma das bombas ideológicas diárias feitas para minar o Governo Dilma), no qual denunciava que o seu perfil na enciclopédia eletrônica tinha sido alterado a partir de um IP do Palácio do Planalto, a jornalista Miriam Leitão volta à cena – na sua coluna em O Globo denunciou que fora vítima de “duas horas” de xingamentos e gritos” contra ela e a Globo em um voo Brasília-Rio.

Denunciou que os agressores eram “representantes partidários do PT”. Leitão levou dez dias para denunciar as agressões em sua coluna, em uma narrativa repleta de lacunas como muito bem apontou o jornalista Luís Nassif e relatos de passageiros que estavam no voo, contradizendo a colunista global – clique aqui.

Assim como no episódio do “escândalo da Wikipédia”, Mirian Leitão levou dias para fazer a denúncia. Lá em 2014, o timing foi a Operação Anti-Copa (com o auxílio luxuoso dos black blocs e manifestações de rua) e a CPI da Petrobrás – clique aqui.

Enquanto aqui, a “denúncia” de Leitão acontece num momento em que o desinterino Temer não caiu tão rápido como a Globo pretendia (a derrota da emissora no Tribunal Eleitoral que absolveu a chapa Dilma-Temer foi sentida nos telejornais globais) enquanto Lula e o PT ficaram em segundo plano diante da artilharia midiática voltada agora contra o Governo.

Por isso, o escândalo do suposto linchamento dos petistas contra uma jornalista da Globo no voo da Avianca pode ser o início de uma nova escalada da estratégia semiótica teratopolítica: petistas (assim como bolivarianos, comunistas e afins) são monstros intrinsecamente violentos e intolerantes.

 

Se ficar o bicho pega, se correr o bicho come

Estamos diante de típica Fake News que evoluiu para uma pós-verdade: a presidenta do PT Gleisi Hoffmann passa recibo para a narrativa de Miriam Leitão ao pedir desculpas em nome do partido, acompanhando a solidariedade de órgãos de comunicação (Abraji, Abert, Aner, ANJ etc.).

Esse é o “double bind” (duplo vínculo – se ficar o bicho pega se ficar o bicho come) dessas não-notícias: mesmo que você desconfie que tudo seja uma Fake News e dê tempo para apurar os fatos, involuntariamente passará a percepção de que é conivente com os supostos casos relatados – o tempo da Internet é instantâneo. Por outro lado, se reage aos acontecimentos dando anuência aos fatos, dará pernas a uma não-notícia. Qualquer desmentido ou relatos posteriores revelando a falsidade das notícias serão ignorados: a primeira impressão é a que fica!

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Wilson Ferreira

Wilson Roberto Vieira Ferreira - Mestre em Comunição Contemporânea (Análises em Imagem e Som) pela Universidade Anhembi Morumbi.Doutorando em Meios e Processos Audiovisuais na ECA/USP. Jornalista e professor na Universidade Anhembi Morumbi nas áreas de Estudos da Semiótica e Comunicação Visual. Pesquisador e escritor, autor de verbetes no "Dicionário de Comunicação" pela editora Paulus, e dos livros "O Caos Semiótico" e "Cinegnose" pela Editora Livrus.

12 Comentários

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  1. Como desconfirmar o confirmado

    Uai, sô! Não estava no vôo e não posso dar razão a um lado ou outro. Porém, se a Presidente do PT, aquela simpatia loira chamada Gleisi Hofmann, pediu desculpas publicamente, deve ser porque…….. 

    1. “…deve ser porque…” se
      “…deve ser porque…” se equivocou.
      Como bem descreve o próprio artigo:(…)
      Esse é o “double bind” (duplo vínculo – se ficar o bicho pega se ficar o bicho come) dessas não-notícias: mesmo que você desconfie que tudo seja uma Fake News e dê tempo para apurar os fatos, involuntariamente passará a percepção de que é conivente com os supostos casos relatados – o tempo da Internet é instantâneo. Por outro lado, se reage aos acontecimentos dando anuência aos fatos, dará pernas a uma não-notícia.”

  2. Como deformar o oponente

    A teratopolitica é o novo modelo de deformar o inimigo, no caso o PT e seus representantes. No passado, os comunistas foram os que mais soferam esse tipo de analise em que o outro, o diferente, era visto como monstruoso. Mudam-se os costumes e épocas e no entanto os simbolos de aniquilamento ainda sao os mesmos. Miriam Leitão deveria buscar tratamento para seu caso não resolvido com os mais poderosos que ela.

    1. Ai meu jesuis cristinho……

      Miriam Leitão deveria buscar tratamento por discordar de você ou você deveria ser internada por não admitir que as pessoas têm o direito de pensar com independência? Qto ao sofrimento de comunistas…..vc caiu na terotolice.

      1. Miriam Leitão pensa com independencia?

        Mas independencia de que e de quem?

        Mas pensa com independencia dos fatos quando seus amos determinam que ela deve pensar independentemente dos fatos.

  3. Não se perca tempo com isso!

    Não se perca tempo com isso! Quem sabe da tal Míriam Leitão (que, aliás, não tem nada de economista, nem de repórter; seja por estudos, ou por capacidade – a meu ver), sabe também que ela vive de inventar e deturpar fatos.

    Esse último é apenas mais um deles.

  4. Vou repostar

    Mas avisando com antecedência, o que as pessoas não concebem para atacar o PT.

    O mundo não é mais fantástico que a gente imagina, é mais fantástico que a gente consegue imaginar:

    Miriam Leitão e a síndrome de Estocolmo

     Ricardo Kertzman & Amigos

    Deem uma pesquisada, leitores amigos, sobre o que trata a “Síndrome de Estocolmo”. Muito grosso modo falando, versa sobre o sequestrado que mantém vínculo afetivo com o sequestrador. Numa versão grotesca e brasileira, é a tal “mulher de malandro”, que, quanto mais apanha, mais se apaixona pelo algoz. Neste texto, prefiro ficar com a versão sueca, já que poderia ser acusado de machismo, misoginia, fascismo, golpista e sei lá mais do quê, que essa gente costuma atacar quem os contraria. Sabem como é, né? Mexeu com uma, mexeu com todas. Desde que não seja treta de esquerda, claro.

    O banzé é o seguinte: Miriam Leitão, lulopetista envergonhada, deu para comentar a realidade, e não mais a fantasia de esquerda propagandeada pela GloboNews sobre a quadrilha do PT. Mesmo que sempre de maneira enviesada e jamais deixando de citar algum tucano, a valente deu para — vejam que crime! — apontar as falcatruas de Lula e seu bando. Pra que, né? Tornou-se traidora, quase golpista, uma verdadeira coxinha da direita. Pode?

    O fato é que os arruaceiros vermelhos, como sempre, resolveram partir para o braço. Como estavam dentro de um avião, partiram para a gritaria mesmo. Manjam, torcida organizada violenta? Durante duas horas de voo só não xingaram a vermelhinha de santa. Alguns enfiaram o dedo na cara da ex-companheira de luta armada. Tadinha, né? Provou o próprio veneno.

    Gostei da treta? Sim, gostei. Ou melhor, adorei. Não por ver um jornalista atacado, e pouco me importa se homem ou mulher, mas por assistir cobras se picando. Miriam é tão petista, mas tão petista, que em seu relato-desabafo inocentou o partido e explicou/justificou suas críticas ao PT.Por muito pouco não se desculpou pelo ocorrido. Uma demonstração de submissão ideológica poucas vezes vista. Aliás, onde estão as feminazis para defende-la das agressões machistas e misóginas? Onde estão os grupelhos de direitos humanos? Onde está o sindicato dos jornalistas para apoia-la?

    Ainda mais grotesco que o episódio e a manifestação da agredida foi o que disse a investigada criminal e atual presidente da quadrilha Gleisi Hoffmann, esposa daquele que roubou dinheiro dos aposentados, o igualmente petista e ex-ministro Paulo Bernardo: “Não faremos com a Globo o que a Globo faz com o PT”, dando um puxão de orelhas daqueles, na sua turma de brucutus, né? Uma senhora reprimenda, não acham? Isso, sim, foi uma declaração de repúdio à violência e apoio a uma, como é mesmo que eles gostam de dizer?, mulher trabalhadora brasileira.

    A dona Rede Globo e seus jornalistas são sacos de pancadas eternos do PT. E quanto mais apanham, mais defendem este agrupamento. Seja por ideologia, interesse comercial ou mesmo medo, o fato é que o PT faz deles o que quer. Batem sem parar porque sabem que funciona. E essa atitude covarde e conivente dos globais os transformou em reles reféns da violência, seja física ou retórica, mas sempre eficaz deste bando vermelho que infesta o país.

    O episódio servirá de lição? Duvido. Miriam, a atacada, já provou que não. Resmungou da Avianca — companhia aérea — pela omissão, da PF, idem, exultou seu currículo de esquerda, defendeu-se pelas críticas ao partido, mas até hoje não se viu uma declaração mais forte ou mesmo qualquer tipo de providência jurídica contra aqueles que a hostilizaram, ou mesmo contra aqueles — né, seu Lula? — que, dia sim, dia também, incentivam a violência física contra seus opositores.

    Você decide: Estocolmo ou malandragem?

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  5. Porque o piloto da aeronave não pediu silêncio?

    “O piloto nada disse ou fez para restabelecer a paz a bordo. Nem mesmo um pedido de silêncio pelo serviço de som”. – Miriam Leitão

    Porque será que o piloto ficou omisso?

    “Alguns mais silenciosos me dirigiram olhares de ódio ou risos debochados, outros lançavam ofensas”. – Miriam Leitão

    Ora, certamente o piloto deve ter se mantido inerte porque o silêncio reinava a bordo da aeronave e, consequentemente, não tinham petistas menos barulhentos do que outros, mas petistas mais silenciosos do que outros.

  6. Tautismo

    Sobre “tautismo”, seria interessante ver até que ponto o episódio Nardoni não está ligado à novela em exibição na época, em que o namorado ameaça o filho da namorada.

    Supus, na época, que isso tenha dado maior evidência ao crime, até porque episódio semelhante ocorrera em Vitória, sme qualquer atenção do noticiário.

    O mais grave é a reação do poder público. Chegou a ser fechada uma rua para que a perícia pudesse fazer a simulação (reprodução) do episódio.

  7. Hipocrisia dos corruptos jornalistas das elites !

    Como se fazem de vítimas, estes jornalistas das elites, que espalham diariamente preconceito, ódio e manipulações todos os dias, a favor de corruptos que a própria mídia escondem.

    Será que suas consciência compradas, pelas corporações dos capitalistas, não ficam pesadas ao verem 3 milhões de pessoas desempregadas, tirando a esperança de milhões de pessoas de terem oportunidades de se desenvolverem com

    dignidade, enquanto os corruptos do “congresso de vendilhões”, lhes tiram os direitos para explorar mais, como nos tempos da colonização.

    Se vitimizam, mas esquecem dos estragos que fizeram nas cabeças de pessoas ingênuas e sem conhecimentos, manipuladas de um lado para o outro como gado !

    Praticam um jornalismo dirigido, com mentiras e escondendo os mal feitos dos corruptos verdadeiro, isto sim , deveria ser condenado.

    Que sirva de exemplo, para que tomem vergonha na cara, e sejam mais profissionais !! 

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