Mudanças na Globo devem afetar clubes de futebol

Jornal GGN – Na última quinta-feira (5), o Grupo Globo oficializou uma mudança em seu departamento de esporte, com a aposentadoria, no fim do ano, de Marcelo Campos Pinto, principal executivo da área. Campos Pinto conduzia as negociações de contratos com os clubes de futebol, e seu cargo será ocupado por Pedro Garcia.

A troca na área esportiva deve significar também uma mudança na relação da emissora com os times de futebol. A Globo tinha como prática comum antecipar pagamentos de direitos de transmissão para os clubes, e deve deixar de atuar dessa maneira. O adiantamento das receitas ajudava os times a pagar dívidas, mas também criava uma relação de dependência com a emissora carioca.

Enviado por Romério Rômulo

Do Uol

Globo ajudava seu time a driblar dívidas; com nova chefia, isso deve acabar

O Grupo Globo oficializou na última quinta-feira (05) uma mudança significativa em seu departamento de esporte. Marcelo Campos Pinto (foto), que trabalha na emissora desde 1994 e é atualmente o principal executivo na área, vai se aposentar no fim de 2015, em processo que, conforme apurou o UOL Esporte, foi acelerado internamente por causa dos recentes escândalos na Fifa. E isso vai influenciar o dia a dia do seu clube.

Campos Pinto era extremamente próximo do poder no futebol brasileiro. O executivo dava expediente na CBF (Confederação Brasileira de Futebol) e conduzia pessoalmente as negociações de contratos de mídia com as equipes nacionais. A partir de 2016, o cargo dele será ocupado por Pedro Garcia, egresso dos canais Combate, Premiere e Sportv, que terá menos poder do que o atual diretor – será subordinado a um comitê de três dirigentes.

As mudanças no esporte da Globo coincidem com a presença cada vez mais constante de Roberto Marinho Neto, 31, filho de Roberto Irineu Marinho e herdeiro do Grupo Globo. Desde 2014, quando Marinho Neto se aproximou da área, a Globo mudou sua política financeira com os times brasileiros. Depois de ter sido acionada judicialmente por um débito contraído pelo Botafogo, a emissora resolveu limitar a antecipação de pagamentos e interrompeu drasticamente a prática de avalizar empréstimos. Isso teve impacto determinante no fluxo de caixa das principais equipes nacionais.

A saída de Campos Pinto deve aprofundar essa mudança. A Globo, que anteriormente funcionou como esteio financeiro dos clubes brasileiros e usou isso para construir relações políticas, vai deixar de atuar dessa maneira.

Informações sobre o processo de saída de Campos Pinto foram confirmadas aoUOL Esporte por um diretor das Organizações Globo, dois funcionários da TV Globo e três pessoas ligadas ao comando do Sportv. Procurado pela reportagem na sexta-feira (06), o Grupo Globo confirmou a aposentadoria do executivo, mas disse que não tinha nada a acrescentar a um comunicado distribuído na quinta-feira (05) para seus diretores.

Qual é a importância da Globo para o seu time

Times que detém os maiores contratos com a emissora, Corinthians e Flamengo recebem R$ 110 milhões por direitos de mídia no atual acordo – o montante subirá para R$ 170 milhões a partir de 2016. Isso representa, no caso dos cariocas, um terço do faturamento total (R$ 347 milhões). Para os paulistas, o peso é ainda maior (a equipe alvinegra teve R$ 258 milhões de receita em 2014).

Há variações percentuais no peso que a Globo tem para o faturamento dos clubes, é claro, mas o exemplo dos dois maiores contratos com a emissora mostra o quanto esse dinheiro é significativo para o fluxo de caixa do futebol nacional.

A dívida total dos clubes brasileiros, considerando apenas os 12 principais, ultrapassa a casa de R$ 5 bilhões. O líder é o Botafogo, que acumulou déficit de R$ 848 milhões (aumento de R$ 149 milhões entre 2013 e 2014). Esse valor não inclui números como o que o Corinthians ainda precisa pagar por seu estádio (o time paulista deve algo em torno de R$ 314 milhões, mas ainda tem pelo menos R$ 800 milhões a desembolsar pela arena erguida em Itaquera).

Ranking: as dívidas dos clubes brasileiros (números retirados dos balanços de 2014, publicados em abril de 2015)

Botafogo – R$ 848 milhões
Flamengo – R$ 698 milhões
Vasco – R$ 597 milhões
Atlético-MG – R$ 487 milhões
Fluminense – R$ 440 milhões
Grêmio – R$ 383 milhões
Santos – R$ 373 milhões
São Paulo – R$ 341 milhões
Palmeiras – R$ 333 milhões
Corinthians R$ 314 milhões
Internacional – R$ 280 milhões
Cruzeiro – R$ 253 milhões

O que a TV tem a ver com isso

Com tanto déficit acumulado e uma dependência enorme do dinheiro oriundo da TV, tornou-se corriqueiro o uso dos contratos com a Globo para garantia de fluxo de caixa. Clubes que não tinham como pagar contas urgentes recorriam à parceira, que criou dois mecanismos para auxílio financeiro.

O primeiro desses mecanismos é mais simples e direto: a Globo passou a adiantar valores referentes a contratos futuros. Se um clube não tinha dinheiro para bancar algo urgente, debelava a receita a que teria direito em temporadas seguintes.

A Globo também funcionou como uma espécie de avalista dos clubes. Quando uma equipe tinha dívidas e precisava de dinheiro, recorria a instituições financeiras e usava como garantia os valores de contratos com a emissora.

Os dois modelos são lícitos, mas contribuem para a criação de uma relação de dependência. Como têm dívidas com a Globo, clubes ficam atrelados a ela e perdem poder de negociação em contratos futuros.

O caso Botafogo

Em 2014, um oficial de Justiça interpelou a Globo por uma dívida de R$ 9 milhões que havia sido contraída pelo Botafogo. O time carioca usou o segundo modelo e colocou o contrato com a emissora como garantia do empréstimo. Na visão dos advogados que cuidaram do caso, isso colocou a emissora como avalista de forma indireta.

A notificação judicial foi recebida (e contestada) por um alto dirigente da Globo, que recorreu ao departamento jurídico da emissora. Internamente, a conclusão foi a mesma dos tribunais.

De imediato, a Globo notificou os clubes que interromperia o uso de contratos de TV como garantia para tomada de empréstimos. Além disso, limitou drasticamente a liberação de valores adiantados de contratos vindouros.

As mudanças no esporte da Globo

O caso Botafogo e a alteração na política de empréstimos da Globo coincidiram com uma importante mudança no organograma da emissora: Roberto Marinho Neto, único herdeiro apaixonado por esporte na família que comanda a empresa, resolveu se aproximar da área.

Neto assumiu gradativamente um espaço maior no cotidiano do esporte da Globo, com um peso determinante nas decisões estratégicas do canal. E quando isso aconteceu, o controle sobre o dinheiro passou a ser ainda maior.

A presença dele acabou com casos como o do São Paulo, que tomou R$ 50 milhões diretamente da Globo em 2014. O time do Morumbi adiantou receitas de contratos com vencimento até 2017, recebeu o dinheiro à vista e se comprometeu com taxa de juros em torno de 1,5%.

A mudança de postura da Globo, contudo, não é um caso isolado. Os clubes também sofreram impactos de aspectos como concentração de investimento de patrocinadores na Copa do Mundo de 2014, retração da economia e alta do dólar. Todos esses aspectos tiveram peso na questão dos atrasos salariais. O reflexo direto disso foi uma mudança de patamar na economia do futebol local – incremento de saída de atletas e redução de folhas salariais, por exemplo.

Por Guilherme Costa e Pedro Ivo Almeida

9 Comentários

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  1. Apenas parem!

    Essa noticia ser dada assim pela imprensa corpoarativa brasileira, vá lá….

    São todos da mesma turma e se protegem.

    Mas aqui???

    Qual o sentido disso?

    A reportagem da Folha tocou no assunto em meio parágrafo e saiu correndo do tema.

    Essa “aposentadoria” desse diretor só tem UMA única razão.

    Ele é a ponte do escândalo de corrupção da Fifa com a Globo.

    É a “chave de cadeia”  da Famiglia Marinho.

    A Globo está tentando se livrar da cueca com batom com essa “aposentadoria”.

    Se o Marin falar, não é a PF que virá atrás dele. É o FBI.

     

     

      1. E se olhar a nota da Globo

        E se olhar a nota da Globo vai ver que eles escreveram que o funcionário Marcelo “deverá se aposentar em 2016”. Ou seja, o cara não tem nem mais opção de decidir quando irá se aposentar, a empresa já decidiu por ele. No meu entendimento deveria estar escrito “o funcionário se aposentará” ou “optou por se aposentar em…”

  2. Tem mais que acabar

    Tem mais que acabar esse modelo de esporte totalmente danosa a saúde pública. Incentiva o sujeito a ficar num sofá, paradão, vendo propaganda de porcarias (cervejas horríveis) e não à prática de esportes, isto é, sair do sofá. Domingo pela manhã, F1 – duas horas perdidas. A tarde, futebol – mais duas horas perdidas. Quarta-feira, o sujeito que quiser acompanhar esse lixo, tem de dormir tarde, prejudicando novamente sua saúde.

    Esse modelo é um caso sério de saúde pública. Destruição do físico e da mente. Totalmente contrário ao espírito grego: espírio saudável num corpo saudável.

  3. Globo + futebol – futuro

    A Globo esta em queda livre,a demissão do diretor alem de ser inócua em relação ao escandalo da FIFA,as digitais dele estão em todos os negocios,financeirante a platinada em futuro proximo não tera condições de bancar estes valores.Ha outros grupos de midia interessados em transmitir o Brasileirão,Copa do Brasil.E com valores maiores e menos desiguais,eliminando o risco de espanholização com Corinthians e Flamengo muito a frente.A Copa Sul-Minas-Rio é um embrião(se der certo) de uma necessaria liga,que acabe com as federações estaduais que não servem a nada,so sustentação politica a direção da CBF.

  4. CBF e Globo cavaram a cova do

    CBF e Globo cavaram a cova do futebol brasileiro. Olha a seguinte situação: os dois jogos que podem decidir de maneira definitiva o campeonato brasileiro de 2015 acontecerão na semi-clandestinidade televisiva. Serão realizados numa quinta feira, 22 horas. Será que a TV vai mudar sua grade de programação para que milhões de torcedores que acompanharam o torneio por meses tenham direito de assistir o momento decisivo ou apenas os privilegiados que podem pagar os pay-per-views da vida terão este prazer? O resto dos torcedores de todos os times que acompanhariam por TV aberta (porque um momento de decisão interessa a todos) terão que fazer como os brasileiros faziam nos tempos em que se amarrava cachorro com linguiça: colar o ouvido no radio e ficar imaginando o que se passa em campo, ficando sujeitos à interpretação que os locutores e comentaristas dão aos acontecimentos. Ou então terão que apelar para aqueles sites horrorosos que pirateiam imagens dos canais pagos e as transmitem com atrasos, com quedas de sinal, etc. Globo e CBF, túmulos do futebol brasileiro!

  5. Globo e CBF destruíram o

    Globo e CBF destruíram o futebol brasileiro. Quero mais é que se lasquem. E os clubes, por serem coniventes, que se lasquem também.

  6. Pobres jornalistas que são

    Pobres jornalistas que são pautados (ou amestrados) para fazerem matérias banais, deixando de lado o assunto-bomba: caiu o segundo mais poderoso diretor da Globo por envolvimento em histórica e bem conhecida corrupção do futebol brasileiro.

    Fala Marin !! Fala J. Hawila !! 

    1. Vamos aguardar para ver agora

      Vamos aguardar para ver agora quem no mundo do jornalismo esportivo vai meter a mão na cumbuca. Com a palavra os Kfouris, Betings, M. Neves, Avallones, Perrones, Carsughis, PVCs, Trajanos da vida, sem contar o vendido do Galvão…

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