Na Europa, imprensa vê ‘insurreição de hipócritas’ na votação do impeachment

Jornal GGN – A imprensa da Europa enxergou a votação do processo de impeachment da presidente Dilma Rousseff de maneira extremamente negativa, com alguns veículos classificando a sessão na Câmara como um carnaval e a “insurreição dos hipócritas” e criticando o comportamento dos deputados federais.

A revista alemã Der Spiegel disse que o Congresso nacional mostrou sua verdadeira cara, enquanto outro veículo alemã, o semanário Die Zeit, disse que a votação “mais parecia um carnaval”, e que uma pessoa desavisada poderia não ter ideia da gravidade da situação. O britânico The Guardian afirmou que o Congresso é “manchado pela corrupção”, enquanto o francês Le Monde falou sobre a “descida ao inferno de Dilma”. Na Irlanda, o The Irish Times afirmou que o Brasil mandou seus palhaços para votar, dizendo também que os deputados tinham o comportamento de “torcedores bêbados em um jogo de futebol”.

Da Deutsche Welle

Imprensa europeia vê carnaval e “insurreição de hipócritas” na votação do impeachment
 
Deputados aos berros, entoando canções e tirando selfies não estavam à altura da gravidade da situação, afirma a imprensa europeia, que destaca ainda que “inúmeros parlamentares são alvos de processos por corrupção”.

A imprensa europeia destaca nesta segunda-feira (18/04) a derrota sofrida pela presidente Dilma Rousseff na votação do impeachment na Câmara dos Deputados, com especial atenção para o comportamento dos deputados federais no plenário.

Numa análise assinada pelo correspondente Jens Glüsing e intitulada “A insurreição dos hipócritas”, o site da revista Der Spiegel afirma que o Congresso brasileiro mostrou sua “verdadeira cara” e, com o uso de meios “constitucionalmente questionáveis”, colocou o “avariado navio Brasil” numa “robusta rota de direita”.

“A maior parte dos deputados evocou Deus e a família na hora de dar o seu voto. Jair Bolsonaro até mesmo defendeu, com palavras ardentes, um dos piores torturadores da ditadura militar”, escreve o jornalista, que lembra que tanto o presidente da Câmara, Eduardo Cunha, como o vice-presidente Michel Temer são alvos de investigações por corrupção.

Segundo a revista, os deputados que votaram a favor do impeachment vão cobrar postos no governo de Temer, caso ele assuma a Presidência da República, e que muitos deles esperam que, com a vitória da oposição, as investigações da Operação Lava Jato desapareçam.

O site do semanário alemãoDie Zeit afirma que a votação na Câmara “mais parecia um carnaval” e que uma pessoa desavisada que visse a sessão não poderia ter ideia da gravidade da situação. “Nesse dia decisivo para o destino político da sétima maior economia do mundo, o que se viu foram horas de deputados aos berros, que se abraçavam, tiravam selfies e entoavam canções”, relata o correspondente Thomas Fischermann.

“Nos discursos dos representantes do povo havia tudo o que se possa imaginar: lembranças aos netos, xingamentos contra a educação sexual nas escolas, paz em Jerusalém, elogio a um torturador do antigo governo militar, o jubileu de uma cidade e assim por diante”, afirma o jornal.

Já o diário alemão Süddeutsche Zeitung destaca que “inúmeros parlamentares que impulsionaram o impeachment de Dilma são, eles próprios, alvos de processos por corrupção”. O correspondente Benedikt Peters lembra que o processo contra Rousseff é controverso e é considerado político. “Contra Dilma nenhum ato de corrupção foi comprovado.”

Segundo o jornal britânico The Guardian, um Congresso “hostil e manchado pela corrupção” votou pelo impedimento da presidente. “Uma derrota esmagadora”, afirma o jornal, que também destaca a votação no plenário. “O ponto mais baixo foi quando Jair Bolsonaro, o deputado de extrema direita do Rio de Janeiro, dedicou seu voto a Carlos Brilhante Ustra, o coronel que comandou a tortura do DOI-Codi durante a era ditatorial”, e levou “uma cusparada do deputado de esquerda Jean Wyllys”.

Para o jornal, é “improvável” que Temer também perca suas funções se for provado que ele praticou as chamadas “pedaladas fiscais”, já que tem “forte apoio” da maioria dos deputados.

O jornal espanhol El País diz que a aprovação do impeachment era mais do que esperada e que Dilma “está a um passo” de ser tirada do poder. “Dilma Rousseff recebeu um empurrão, talvez definitivo, para sair da presidência do Brasil pela porta de trás da história”, diz o artigo. “Uma derrota completa para o governo e Rousseff.”

El País diz que a votação na Câmara foi marcada por tumulto e “cânticos um tanto ridículos às vezes” e destaca que a condução de Cunha, acusado de manter contas milionárias na Suíça com dinheiro da Petrobras, é “um sintoma da estrutura moral de boa parte do Congresso brasileiro”.

De acordo com o jornal espanhol, o “capital político” da presidente “será completamente diluído” com o voto favorável do Senado, “coisa que agora parece muito provável”, e o posterior afastamento dela do cargo por 180 dias, como prevê o rito do impeachment.

O francês Le Monde destaca a “descida ao inferno de Dilma Rousseff”, dizendo que até as últimas horas “ela acreditou” no voto dos 54 milhões de brasileiros que a elegeram em 2014. O jornal diz que o marketing do governo sobre a prática de “golpe” contra a presidente não teve sucesso, apesar de boa parte dos deputados favoráveis ao impeachment também serem acusados de corrupção.

Segundo a publicação, Dilma paga por “erros econômicos, diplomáticos e políticos que ajudaram a fazer dela a chefe de Estado mais impopular da história da jovem democracia brasileira”.

Redação

4 Comentários

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  1. Para variar o Le Monde tenta culpabilizar Dilma por tudo.

    O Le Monde já foi um bom jornal há algumas décadas, hoje é um espectro de seu passado.

  2. Imprensa estrangeira

    Acho que a imprensa estrangeira continua nadando na superfície, ignorando que a baixa popularidade de Dilma foi empurrada à força pela imprensa e sobretudo pela rede Globo. Ignoram ou esquecem que o Fernando Henrique Cardoso também saiu do segundo mandato com aprovação baixíssima, mas pelo menos conseguiu completar os quatro anos, apesar de uma tentativa de impeachment que logicamente foi rejeitada pelo mesmo Congresso que misteriosamente votou pela sua reeleição.

    Ignoram ou esquecem que gente com FHC e Cunha provavelmente criaram uma teia de aranha que ninguém quer desfazer, porque se cai um fio, pode cair toda teia, além da aranha.

    Eles continuam ignorando o motivo verdadeiro para querer remover a Dilma (e o Lula), esquecem que desde que foi reeleita o Congresso só atrapalhou a atividade da presidente e que a crise não é exatamente culpa dela, apesar das suas tentativas terem talvez piorado a situação. E que os colegas brasileiros nunca noticiaram qualquer inauguração, entrega de chaves, de escolas, de pontes, de ferrovias. Parecia que a Dilma não fazia nada de nada.

    Não falam do clima de ódio, do país dividido por culpa de uma imprensa reacionária e poderosa, apoiada por interesses enormes que só querem o PT destruído para sempre e as diferenças sociais voltarem como antes. Querem o país da senzala de volta. Isso a imprensa estrangeira esquece ou ignora.

    É uma pena.

     

  3. Esquecem alguns “detalhes”

    TODOS, mídia nativa ou não, esquecem alguns detalhes.

    Dilma teve um enorme AZAR.

    Claro que ela não tem todo o jogo de cintura político de Lula, mas pouquíssimos tem.

    Lula governou numa época em que a economia do mundo crescia, e mesmo depois de 2008, a China comtinuou a crescer, e não sofremos muito.

    No primeiro mandato de Dilma é que começaram os problemas, e a China desacelerou.

    Esses problemas afetam o mundo inteiro, mas isso não é dito pela mídia nativa.

    Lula e Dilma sempre tiveram a mídia nativa contra eles, mas enquanto a economia ia bem, a popularidade de Lula crescia.

    Com os problemas na economia, a mídia nativa colocou toda a culpa em Dilma.

    Ela deve ser culpada pelo péssimo desempenho econômico dos gurpos de mídia, também…

    Ficou mais fácil colar em Dilma a culpa por tudo, falavam sempre mal, nos erros e nos acertos.

     

    Esse ataque maciço da mídia é algo que nenhum tucano conhece.

     

    Com o governo fragilizado, começou o ataque do esquadrão do golpe, impaciente pelo afastamento do poder, culpa da própria incompetência para comquistar eleitores.

    Os coxinhas filhinhos de papai do MPF (Máfia Política Federal) atacaram.

    O rtesto já sabemos.

  4. Essa camara do Cunha me

    Essa camara do Cunha me devolveu o complexo de vira-lata. Mas como vira-lata não aceita coleira vou sair por aí mordendo os fundilhos dos golpistas. Só tem um jeito deles governarem, com o exército nas ruas e estado de sítio. Mesmo assim…

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