Nosso parlamento, por trás do parlamento pintado pela mídia

Lourdes Nassif
Redatora-chefe no GGN
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Sugestão de mcn

Do sempre excelente Miguel do Rosário.

de O Cafezinho

O parlamento que mídia e vira-latas não enxergam

Miguel do Rosário

Há algumas semanas, em jantar na casa do amigo Wanderley Guilherme dos Santos, ele me dizia: “você vai achar estranho o que vou lhe falar, mas o Brasil tem um excelente parlamento!”

Na verdade, eu não achei assim tão estranho, porque eu tive uma prima, que trabalhou num grande jornal uns anos atrás, que falava algo parecido. Ela me dizia que, pese a presença de deputados de reputação suspeita, a Câmara tinha um corpo de assessores e comissões que trabalhavam muito e produziam sempre material de qualidade.

Hoje, pensando em algumas leis recentemente aprovadas, e motivado por minha tendência atual, quase orgânica, de suspeitar de tudo que vem da grande mídia, tendo a concordar com o professor.

No espaço de alguns meses, o Congresso Nacional brasileiro aprovou o Marco Civil da internet, um dos mais avançados do mundo, que servirá de modelo para Estados Unidos e União Europeia, e a Pec do Trabalho Escravo, uma lei quase inédita no mundo, que está recebendo elogios de organizações internacionais. Pela lei, quem for pego usando trabalho escravo terá seu imóvel desapropriado para fins de reforma agrária.

E ontem (28/05), às dez horas da noite, o Parlamento aprovou o texto-base do Plano Nacional de Educação, que prevê aplicação de 10% do PIB em educação, como meta para os próximos dez anos. Esse último item, se bem me lembro, nem é do agrado do professor Wanderley, que acha exagero engessar orçamentos, mesmo que seja a um item tão essencial como educação. Entretanto, no caso do Brasil, acho que a aprovação tem um valor simbólico e político importante, inclusive para o próprio Parlamento, porque mostra o esforço dos deputados em realizarem ações concretas em benefício do povo brasileiro. Mais que isso, revela a integração entre parlamento e os mais importantes movimentos sociais em prol da educação pública, visto que os 10% tem sido uma das principais bandeiras de entidades ligadas ao setor, sobretudo as estudantis.

Além do mais, com a iminência do pré-sal, será positivo termos, junto ao poder público, uma meta estabelecida para investimento em educação, ao qual poderemos associar pesquisas avançadas, sobretudo na área de ciência e tecnologia.

Wanderley denuncia, há anos, em seus livros, a campanha sistemática da imprensa contra o parlamento. Pinta-se o parlamento como um antro de inúteis e desgraçados, através de um jornalismo sensacionalista e vulgar, e logo em seguida se faz uma pesquisa para saber o que a população pensa do Congresso. O que vemos é uma crise de imagem, uma dissociação cada vez maior entre o que o parlamento realmente produz e a visão que dele tem os brasileiros, através da mídia.

Uma lei de mídia que derrubasse os monopólios e promovesse uma liberdade real de imprensa, e que, ao contrário de censurar ou controlar conteúdos, permitisse a proliferação de centenas, milhares de novos produtores de conteúdo, teria ainda essa vantagem: de aproximar a população do parlamento.

A crítica que os parlamentares receberiam de uma mídia mais democrática seria mais incisiva e mais exata, ao invés do sensacionalismo barato e, na maioria das vezes, tendencioso e chantagista, que vemos hoje. E seus projetos e estudos seriam divulgados com mais generosidade.

À mídia interessa apenas promover uma imagem idílica de si mesma. O ano inteiro, a nossa grande imprensa promove eventos se autoexaltando. Convoca ministros do STF para meio que forçá-los a dizer frases bonitas e idealistas sobre a importância da imprensa e da liberdade de imprensa para a democracia, mas na verdade confundindo, quase criminosamente, conceitos abstratos com a realidade.

Um punhado de empresas de mídia não são “a imprensa”, muito menos representam “a liberdade de imprensa”. Blogs políticos também são “imprensa” e também representam “liberdade de imprensa”, e, no entanto, nunca são mencionados nesses convescotes onde se vê uma promiscuidade lamentável entre juízes e interesses econômicos privados de alguns barões da mídia

Entidades estudantis comemoram a aprovação dos 10% para a educação

Entidades estudantis comemoram a aprovação dos 10% para a educação

 

Lourdes Nassif

Redatora-chefe no GGN

10 Comentários

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  1. O oranismo mais mal avaliado

    O oranismo mais mal avaliado pelos brasileiros consultados em pesquisa é sempre o Congresso Nacional, acrescento que essa é a forma da grande mídia, quer quer liberdade de imprensa só para ela, manter, como se diz o caipira, o cabresto curto do Parlamento.

    Esse é o jogo, os barões querem sempre manter o controle e mais dar “liberdade de imprensa” para os que se alinham com eles.

    Se fizermos um rápido senso sobre programas, artistas, jornalistas que transitam na grande mídia, principalmente a televisiva, veremos que 99% são contrários ao governo e declaradamente oposocionistas.

    O jogo é duro, mas tem que ser jogado!

    1. Sim, e daí, José Airton? Esse

      Sim, e daí, José Airton? Esse número de per si desqualifica a instituição Parlamento? Vamos fechá-lo? Ademais, sem sabermos a que se referem esses inquéritos e ações não podemos tirar nenhuma conclusão. 

      O ideal seriam 594 anjos e querubins. Mas eles saem do meio do povo, e este nem sempre escolhe certo ou com responsabilidade. 

    2. Que pendências?

      E qual é a parte do congressista na pendência ?

      Testemunha, réu, acusador? 

      Qual é o crime? Mostrar a língua para a vovó, roubar picolé de criança, chutar cachorro, grilar terras, matar desafeto, etc.?

       

      Enquanto isso não estiver claramente especificado, essa informação de pendências não serve para nada, não é? 
       

  2. O Parlamento é a

    O Parlamento é a personificação do regime democrático na forma que o exercemos. Não há democracia forte, consolidada, sem um Congresso vívido e atuante. O Legislativo é o Poder Político por excelência porque na sua essência reside a Soberania Popular,  via representatividade. Nesse sentido,depreciá-lo é o mesmo que depreciar a população.

    O que vivenciamos atualmente no Brasil é uma campanha sistemática para desmoralizá-lo, desmerecê-lo perante a opinião pública. Mas não é só certa parte da mídia que investe nisso. Há outros setores organizados, a exemplo do donos do capital, a quem pouca interessa um Parlamento altivo e atuante. Mesmo porque é lá que se trava o grande debate político-ideológico. 

    Para os críticos bem intencionados esclareça-se: o processo legislativo é moroso, e não raro dispersivo à exaustão. Mas, poderia ser diferente, considerando a gama de interesses que estão envolvidos na sua produção? Confunde-se, nesse aspecto, negociação com protelação ou mesmo incúria. 

    Se há distorções e omissões gritantes, a exemplo da tara legiferante só para atender a grupos de pressão ou interesses eleitoreiros, devemos denunciar e cobrar sem no entanto tocar na sua singularidade enquanto pilar maior da estrutura formal da nossa democracia. 

  3. Dizer que a imprensa é

    Dizer que a imprensa é nefasta é uma coisa.

    Fazer crer que o parlamento é bom por que a imprensa toca o pau é um grande exagero.

    Reformas importantíssimas como a tributária e a politica não saem do papel.

    Regulação da mídia, nem falar.

    Basta dizer, como o artigo apenas tenciona, que parlamentares submissos ao que diz a mídia não podem ser bons políticos.

    Os enormes esforços que o governo faz para avançar em alguns temas e que são obstacularizados no congresso são muitos.

    As várias matérias de cunho legislativo que saem por iniciativa do executivo é outra demonstração da fragilidade dele.

    O artigo misturou alhos com bugalhos.

     

  4. Enquanto a mídia insufla a

    Enquanto a mídia insufla a sociedade contra o congresso que, realmente tem figuras execráveis como a sociedade que ele representa, o judiciário segue impávido em seu castelo, arrogante e com direito a errar – geralmente contra os mesmos de sempre – distribuindo HC relâmpagos, participando de convescotes e lançamentos de livros, comportamento pra lá de inadequado, pra dizer o mínimo, se auto-concedendo aumentos salariais abusivos e que os demais poderes jamais alcançarão, fora alguns privilégios, entre os quais os recessos de meio de anos, de fim de ano, e por aí vai.

  5. O final da fala do Miguel me

    O final da fala do Miguel me fez lembrar de um caso real.

    “(…)e, no entanto, nunca são mencionados nesses convescotes onde se vê uma promiscuidade lamentável entre juízes e interesses econômicos privados de alguns barões da mídia”

    Certa vez, eu liguei numa turma do TRT de São Paulo para confirmar a presença do Advogado na Sustentação de um Processo Trabalhista em seu julgamento. A atendente me responde: – mas o Doutor XXXXXXXX, Advogado “renomado” de Advocacia “renomada” (o que não significa Advocacia de qualidade) já confirmou presença.

    A funcionária da turma de tão acostumada em se relacionar com a Advocacia “renomada”, talvez, pelo número de processos da Advocacia, esqueceu que existem duas partes num processo Empregador e Empregado. Eu era funcionário de uma Advocacia Trabalhista de trabalhador. 

    Não é que certo dia, quando deu o término do expediente houve uma festa em comemoração, não lembro bem, se da aposentadoria ou dos 80 anos do Advogado “renomado” e a festa foi no próprio TRT. Um Advogado do escritório que trabalhei me contou que estava havendo uma homenagem/festa no TRT para o mesmo Advogado que a funcionária da Turma disse que já havia feito a inscrição para a sustentação. 

     

     

  6. São os próprios Deputados que

    São os próprios Deputados que após conseguirem se legitimar como representantes do povo não cumprem suas funções. É só ligar na Tv Câmara pra assistir ao vivo e a cores todo trabalho que tem eles pra obstruirem projetos relevantes em prol do desenvolvimento de nosso País e também projetos que criam melhores condições de vida aos brasileiros.

    Politico após eleito não deveria ter partido e sim governar e trabalhar em prol do povo que ali os colocou para os represenatar, isso em todas as esferas governamentais. Mas o que se vê é a guerra do poder,das legendas de quem pode mais. Perdem tempo precioso nessa luta infame entre si enquanto os direitos do povo e o rumo do País é relegado a Último Plano.

    Cita a mídia, as que predominam à muito deu as caras, é parcial e oposicionista a todo Governo “populista”, trabalha em causa própria. Sem crédito.  

  7. Errado de novo!

    ” Pec do Trabalho Escravo..Pela lei, quem for pego usando trabalho escravo terá seu imóvel desapropriado para fins de reforma agrária.”

    A chance de sair coisa errada em convescote de petistas é geométrica!

    Alguém já leu a lei? Até a distância entre beliches, fora do padrão, pode ensejar escravidão; até se mandar o tratorista aparar a cerca. Qual produtor (É isto! No capitalismo tem que produzir!!!!) vai querer arriscar?

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