O futuro do jornal impresso

Do Caderno Link, do EstadãoO futuro do jornal no papel

Pedro Doria*, no Vale do Silício

Há duas semanas, o presidente do conglomerado Hearst anunciou que o Seattle Post-Intelligencer está à venda. Quer US$ 14 milhões. Se não encontrar comprador, o jornal, de 146 anos, fechará no dia 9 de março. Aqui nos EUA, a conversa a respeito de crise da imprensa não é apenas conversa.

Em outubro passado, o Christian Science Monitor, um dos jornais que melhor cobrem política internacional no país, deixou de circular em papel diariamente. A última edição do Monitor saiu poucos meses após o jornal completar um século de idade. Hoje, opera apenas como website.

Após anos se falando em crise na imprensa, a foice está começando a descer nos mais tradicionais jornais do país. Os de médio porte estão realmente começando a fechar. O New York Times, que carrega aquele que é provavelmente o nome mais conhecido na imprensa mundial, anunciou quarta-feira passada que teve uma queda de 50% em sua receita ao longo do último ano. Caiu para metade.

A crise econômica é uma das culpadas, certamente. Mas ninguém está falando de um pacote governamental para resgatar os jornais. Tais pacotes, nos EUA, vão para bancos e, talvez, montadoras de automóveis.

O problema dos jornais, nos EUA, tem a ver com as peculiaridades do país. A primeira atende pelo nome Craig’s List. Trata-se de um dos sites mais primitivos que há na internet. Serve para classificados. Qualquer um pode ir lá e postar um anúncio. A maioria deles sai de graça – alguns poucos são pagos. Craig’s List rende uma fortuna mensalmente a seu fundador, Craig Newmark, dado o volume de anunciantes.

Acontece que 40% da renda publicitária dos jornais americanos vinha justamente de anúncios classificados.

Os outros 60% da renda publicitária está sendo desviada para a internet. Não seria tanto um problema se a publicidade fosse para os sites dos jornais, mas a internet tem suas peculiaridades. Os campeões da venda de anúncios online não são veículos de mídia: são sites de busca. Google em primeiro, Yahoo em segundo, MSN em terceiro.

Entender que a tecnologia está mudando e que, portanto, negócios antigos estão deixando de operar como faziam antes é a parte fácil. A parte complicada é que jornais são importantes.

A maioria dos blogs, nos EUA, são agregadores de notícia. Publicam comentários e põem links para as notícias que repórteres de jornais apuraram. Mas blogs grandes, como o
Huffington Post, competem por leitores e por anunciantes com os sites de jornais. Para os jornais, descobrir as notícias e publicá-las custa uma fortuna: custa os salários de uma redação inteira. Para os blogs, é o exercício de copiar e colar.

Não se deve negar o fato de que blogs prestam um serviço importante. Os melhores blogs são, essencialmente, a imprensa do dia editada. O melhor de cada jornal é resumido e devidamente apontado.
O que acontece, no entanto, se todos os jornais começarem a fechar? Quem vai descobrir as notícias e reportar os fatos?

Nas redações dos EUA, já se começa a ouvir quem resmungue: ‘estamos dando as notícias de graça na internet’. Querem cobrar. Só que nada é tão simples. Há um motivo para o New York Times estar de graça online. Se o futuro é a web, é importante continuar sendo a principal fonte de notícias do público. Não importa a mídia. Quem cobra pelo acesso não tem leitores, cai no ostracismo. (A exceção é a imprensa de finanças.)

A crise da imprensa dos EUA chegou em seu pior momento. E, neste exato momento, editores em todo o país começam a buscar saídas, novos modelos. Não se fala de outra coisa. No ar, há uma mistura de desespero e esperança.

A imprensa pode estar chegando no momento de se reinventar. No caso do Seattle Post-Intelligencer, há uma esperança no ar: Bill Gates mora em Seattle. Há quem diga que ele está interessado.

O colunista Pedro Doria passa um ano em Palo Alto, na Califórnia[/PESETA]

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Luis Nassif

23 Comentários

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  1. Eu desconfio que que as
    Eu desconfio que que as grandes corporações midiáticas tupiniquim entraram de cabeça na campanha pró tucanosdemos não apenas por motivos ideológicos, mas principalmente por motivos financeiros .

    Será que estes grandes grupos midiáticos (PIG) sobreviverão nas próximas décadas sem a presença dos tucanos no planalto central ? .

    Saudações,

  2. Ontem de tarde (doming)
    Ontem de tarde (doming) enviei mensagem sobre o tema `Futuro do Jornal Impresso´ mas nada apareceu. Talvez seja porque não preenchi o espaço URL. Aliás, nunca entendi o que esta sigla significava. Favor me esclarecer. Obrigado.

    Endereço do seu blog.

  3. Sempre achei que a Internet
    Sempre achei que a Internet seria uma maneira de complememtar a imprensa escrita,em especial a dos jornais,entretanto o descaminho pelo qual a mídia escrita tomou,deixando de ser independente na verdadeira acepção da palavra,e “vendendo-se”aos interesses patronais,está levando o segmento de jornais,para esta bancarrota.
    Aqui nas terras tupiniquins,a coisa é pior ainda,pois alem de continuar reacionária e defensora dos interesses da elite,os nossos(ainda sobreviventes) jornais,entraram num caminho sem volta,ao apoiar a partidos políticos,esquecendo eles que seu compromisso deveria ser com a verdade,independente da coloração político-partidária dos seus editores e proprietários. Concordo com o FOO,tá demorando para eles desligarem as rotativas !
    Alguem perguntou qual seria o futuro dos nossos jornais ? Uma sugestão: vende-los para os feirantes.Lá eles são de uma utilidade ímpar,embalar bananas e outras cositas mas.

  4. Ao FOO.
    Eu tambem estou
    Ao FOO.
    Eu tambem estou ansioso,para que este dia(quando os nossos jornais fecharão as portas)não demore demais ! Cá pra nos,eles não farão nenhuma falta. A propósito:Quem se lembra das “finadas”Cruzeiro,Manchete,Fatos e Fotos,Visão,(o dia de Veja fechar tambem não demorará !) e dos jornais Última Hora,Tribuna da Tarde,Notícias Populares,Gazeta Esportiva,Jornal da Noite,e outras menos reacionárias que o tempo encarregou-se de fazer cair no esquecimento popular,e para a questão inicial de qual seria o futuro dos nossos jornais,a resposta é,vão acabar sendo vendidos por quilo para os feirantes embrulhar bananas e abacaxís.

  5. Nassif, temos de levar em
    Nassif, temos de levar em conta também o fator ambiental. Jornal impresso gasta muito papel, tinta, polui, portanto assassina árvores.

  6. Há exatos 7 anos deixei de
    Há exatos 7 anos deixei de assinar, ler e comprar qualquer jornal escrito. O Estado de Minas foi o último, ao apoiar descaradamente o José Serra de forma parcial nas eleições. Antes pediam, e agora imploram, para eu voltar a ser assinante. Mas a hora já passou, pois se querem fazer jornal para os tucanos, que vendam só para os tucanos. Para mim o jornal escrito já morreu, portanto, há muito tempo. Que Deus o tenha.

  7. Nassif

    Se algum dia você
    Nassif

    Se algum dia você concluir que tudo caminha para concentração das notícias em blogs, e que vale a pena investir, aviso que sou o primeirão da fila para compra de ações…anota aí a data : 2/2/2009

    e já providenciei registro do comentário em cartório virtual, reservando 20% das ações !!! rs mas topo mesmo

  8. Eu acho que o fundamental de
    Eu acho que o fundamental de um jornal não é o seu editorial ou seus artigos de opinião, são suas reportagens. Uma reportagem boa é muito cara, é por isso que se vê reportagens tão ruins aqui no Brasil. E o que o Pedro Dório falou dos blogs, se aplica a imprensa nacional também, que passou a ser repetidora de notícias já apuradas por outros veiculos. Prefiro os blogs que repetem e também comentam as notícias. Além disso, não é possível afirmar que todos os blogs são repetidores e comentadores de notícias. Vejo o exemplo do Forum Social Mundial e da guerra contra Gaza, os blogs tiveram um papel fundamental na apuração desses eventos. Ora, existe algo mais inovador que “Live Blogging” ? “Live Blogging” não é uma categoria de reportagem?

    De qualquer forma, acho que há limitações no formato blog. Por isso, não vejo outra saída senão uma discussão séria sobre financiamento público da impressa.

  9. o autor do artigo levanta uma
    o autor do artigo levanta uma preocupacao pertinente:
    quem vai apurar, reportar os assuntos, fazer materias como os reporteres fazem nos jornais, radios e teves?

    talvez ahi esteja uma das possibilidades das ramificacoes de tantos blogs na internet: bem coordenados, seriam grandes agencias de noticias (utopia?)…

    a tendencia para a intenetizacao (ou noutras midias avancadas) da informacao parece irreversivel…

    na folha de hoje, no todomidia – eh isso? – tem varios links sobre essa crise nos eua…sobre murdoch, etc…

    Uma dasquestoes interessantes a ser levantada eh a possibiliodade de desfinanceirizacao da economia e, portanto, da mudanca do enfoque da grande midia, voltando a atender os interesses dos leitores!

  10. Aconselho a todos verem a
    Aconselho a todos verem a matéria no Azenha sobre a censura dos jornais em Minas Gerais, que motivou até denúncias no exterior. Vou tentar pôr na Comunidade, se possível.

  11. A visão apocalíptica aqui e
    A visão apocalíptica aqui e acolá neste tópico e de causar medo. Não creio que o jornal impresso termine. Disseram o mesmo do rádio em relação à tv. Mas não nego que posso estar errado ou talvez eu não queira admitir que o mesmo pode acontecer com os livros. Que Deus cuide de todos. Abraços e PAZ

  12. Casamento do Sr. Estado com
    Casamento do Sr. Estado com dona midia

    O presidente Sarkozy anunciou dia 23 passado um pacote de ajuda ao jornal impresso durante 3 anos, de 200 milhoes de euros. Prometeu tbem dobrar as despesas com publicidade ( em torno de 20 milhoes de euros) anuais.Os presentes nao param por ai. Vai ajudar na modernizacao dos jornais e vai dar a todo jovem de 18 anos uma assinatura gratuita de qualquer jornal, durante um ano.

  13. Nassif, o PIG tupiniquim
    Nassif, o PIG tupiniquim pensa que a crise da imprensa é apenas uma marolinha.

    Mas como seguro morreu de velho, o PIG investe pesado no Bill Gates brasileiro: o futuro Presidente Serra.

  14. Esse é o motivo pelo qual os
    Esse é o motivo pelo qual os maiores grupos de mídia aqui no Brasil apoiam o Serra. Lula diz que só dá dinheiro pra geração de emprego. As empresas querem pra pagar dívidas. Serra não sendo eleito, quebra tudo, é o fim do jornal impresso. Acredito muito no que disse o Altamiro(13:24), “talvez ahi esteja uma das possibilidades das ramificacoes de tantos blogs na internet: bem coordenados, seriam grandes agencias de noticias (utopia?)…” Os primeiros que chegarem vão levar. As agencias de notícias, associadas a bons articulistas sempre terão vez e voz desde que sejam imparciais. Quer ver uma coisa? Vamos dizer que o Serra se eleja presidente, aí o imprensalão vai comerçar a falar a verdade? Vai se contradizer, é o seu fim.

  15. O fim do jornal impresso será
    O fim do jornal impresso será também o fim da informação.
    Com todas as deficiências da mídia impressa é ela, bem/eficiente ou não, que cumpre o papel.
    A blogosfera – ainda – [será que muda um dia?] é, na verdade, uma briga de egos.
    Ademais, a “pauta” será/é de acordo com a personalidade do blogueiro de plantão. E, obviamente, refletindo [do blogueiro] todas as suas idiossincrasias e vaidades.
    Haverá responsabilidade por eventuais erros de informação/difamação/omissão etc?

    Na sua opinião, a blogosfera permanecerá a mesma nos próximos cem anos, sem nenhum avanço na estrutura e nas formas de fazer notícia. Jamais sairá da infância. Como se as notícias da imprensa escrita não refletissem idiossincrasias, alinhamento político e interesses comerciais. Prezado, o mundo roda, a lusitana gira e quem fica parado é estátua.

  16. Nassif,a sua resposta ao
    Nassif,a sua resposta ao Orlando,com relação às mudanças na mídia impressa,foi “ótima”exceto pela piadinha final,onde você cita um comercial antigo(maravilhoso por sinal e elogiadíssimo na sua época) porem um pouco fora da atualidade,pois a Luzitana já fechou suas portas,e suas 3 citações estão mais para quem já passou dos oitenta.

  17. O artigo toca em vários
    O artigo toca em vários pontos importantes. A relação jornais impressos versus internet é ao mesmo tempo uma questão capitalista e uma questão tecnológica. Do ponto de vista tecnológico, o jornal impresso está superado; a internet informa com muito mais agilidade, traz inúmeras inovações, é interativa e não custa nada.
    Do ponto de vista capitalista, a internet é um negócio muito mais interessante do que o impresso. Considerando assim, trata-se apenas de uma sucessão tecnológica e comercial, um negócio mais moderno leva o antigo à bancarrota. Nomes e proprietários não têm importância, o capital passa de um negócio a outro e a vida segue.
    Outro ponto interessante é: se os blogs só editam e comentam notícias e os sítios que recebem publicidade não produzem notícias (Google, Yahoo etc.), o que vai acontecer com a informação? A internet estaria, assim, vivendo às custas da imprensa. Se realmente for assim, a morte do impressão significará perda de conteúdo pela internet, mas isso acontecerá?
    É possível que as empresas que atraem publicidade passem a produzir conteúdos. Além disso, é preciso levar em conta os blogs, que não apenas se alimentam de informações de jornais impressos, mas também produzem informação, um novo tipo de informação, diferente daquele produzido tradicionalmente pelas redações.
    Está tudo em aberto, porém podemos partir de algumas certezas: 1) o capital vai para onde tem lucro. Isto significa que se os impressos vão mal, vão mesmo encolher e a internet vai crescer; 2) a informação da grande imprensa nunca foi grande coisa na maior parte do mundo e vive agora não só uma crise econômica, mas também política, de credibilidade; 3) a informação é cada vez mais importante e vai depender do público, das pessoas comuns, sua difusão democrática ou sua manipulação; 4) a internet é um fantástico instrumento democrático como jamais houve outro antes e é preciso que se mantenha assim.

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