O governo e os brasileiros no Japão

Nassif,

Escrevi um comentário acerca de outro post e resolvi postá-lo.

Post original: http://www.advivo.com.br/blog/luisnassif/o-blogueiro-brasileiro-no-japao-e-a-cobertura-da-midia

 

Achei muito interessante e admiro a calma e o racionalismo deste ryugakusei. Aliás, é o que esperamos muitas vezes e o que a mídia martela nas nossas cabeças todos os dias como “comportamento japonês” diante da crise, com eventuais deslizes infelizmente. Mas não podemos esperar o racionalismo, sem entrar em questões psicológicas, da maioria dos brasileiros que residem por lá.

Dentro da psicologia a intercultural, a melhor adaptação se dá quando se assimila a cultura local sem prejudicar a de origem. De fato, é complicado conseguir isso, ainda que o Japão tenha optado por uma imigração com raízes étnicas para ajudar na assimilação mas, na prática, não funcionou muito bem. Os brasileiros muitas vezes irritam por ser etnicamente parecidos e culturalmente diversos do povo japonês, enquanto fazem questão de assumirem toda a brasilidade que nem aqui possuíam.  (Para discussões mais aprofundadas ler: Strangers in the Ethinic Homeland de Takeyuki Tsuda)

Até hoje, uma dos maiores apertos dos brasileiros no Japão se traduz na dificuldade com a línhgua japonesa. Ainda que existam cursos de línguas, muitas vezes gratuitos, a principal meta do imigrante em sua condição de provisoriedade é trabalhar para ganhar dinheiro e fazer a vida. Nesse sentido, ainda que no longo prazo ele se beneficiaria com a fluência na língua, o provisório guia religiosamente a vida dessas pessoas na casa, no trabalho, no emprego e fazem com que vivam com móveis retirados do lixo (ainda que em bom estado), trabalhem muitas horas por dia e evitem criar laços, principalmente com a sociedade de imigração. E por mais que muitos tenham completado o segundo grau, como no Brasil, a fluência na língua inglesa tem índices baixíssimos.

Assim, a principal cobertura dos acontecimentos que eles possuem são da IPCTV, afiliada da rede Globo no Japão, da própria Globo e em menor escala da Record Internacional. Eles não assistem a NHK, muito menos a NHK em inglês. Nossa mídia retorcida tem espalhado o temor e jogado sempre a dúvida nas informações oficiais japonesas, aumentando o pânico nos dekasseguis. Eles assistem, com atraso, ao jornal nacional como fonte mais segura das notícias que acontecem por lá. Fora isso, conversam entre eles e sempre sai um “ouvi dizer de um japonês mas não entendi muito bem”. O sentimento que se tem, então, é de preocupação, ansiedade, medo, angústia e revolta.

Os imigrantes, que já sofrem uma grande dificuldade no estabelecimento de uma identidade nacional (já que no Brasil são “japas” e no Japão “burajiru-jin”), se sentem ainda mais desamparados  com a renúncia do governo brasileiro de retirar os mais necessitados como os outros países estão fazendo, via avião. A reivindicação não é para toda a população brasileira de quase 250 mil pessoas, mas para aqueles 20 e poucos que o governo retirou de ônibus das regiões mais afetadas. Para os brasileiros desabrigados ou em situação de risco, para que possam buscar no Brasil, o apoio de familiares e amigos, já que por lá não há muitas vezes esse apoio. A impressão que se tem é de abandono e de que, caso fosse com cada um, seriam também deixados no país pelo governo. Os chineses, apesar da proximidade, possuem 600 mil imigrantes no Japão e ainda sim estão retirando os seus cidadãos.

Outro ponto muito criticado, foi a falta de um pronunciamento oficial por parte da presidenta do Brasil para os brasileiros que lá residem. Dizem que os outros paises fizeram pronunciamentos e dão instruções aos seus cidadãos a cada notícia da tragédia e, enquanto isso, a Dilma leva várias críticas por receber um violão da Shakira. (conforme página do JPTV no facebook)

Então, por mais que a cobertura da nossa mídia tenha sido criticada, não é só almadiçoá-la pois ela tem informado muito (ainda que não da melhor maneira) os brasileiros no Japão, muitas vezes, sendo a única fonte. Também devemos cobrar atitudes mais enérgicas do nosso governo ao assitir  aos cidadãos brasileiros que lá residem e trabalham com a esperança de algum dia voltar à Pátria Amada Brasil.

Luis Nassif

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