As representações pastiche e retro do passado feitas pelas mídias estão criando uma espécie de “passado genérico” onde a percepção subjetiva do tempo entra em contradição com o tempo cronológico criando um “presente extenso”. Embora vivamos numa sociedade tecnológica cuja ideologia é a de que tudo muda mais velozmente do que em qualquer outra época, é paradoxal que o presente extenso crie um eterno aqui e agora onde o futuro se fecha a mudanças e o passado passa a ser uma coleção de escolhas gratuitas.
Após exibir a sequência de “Alien”, um aluno, visivelmente espantado, perguntou de que ano era esse filme. “Nossa, esse filme parece tão atual… esperava um filme parecido como o ‘Planeta Proibido’”, respondeu perplexo o aluno.
Esse espanto do jovem aluno fez-me cair a ficha: falar de moderno e pós-moderno é discutir o tempo e entender como as mudanças do espírito de época acompanham o tempo cronológico. Para ele, o ano de 1979 era muito “antigo”, afinal ele nem era nascido. Ele esperava de “Alien” mais um filme “tosco”, se possível em preto e branco. Mas se defrontou com efeitos especiais e de montagem semelhantes aos atuais. A sua percepção de tempo estava em contradição com a noção cronológica de tempo.
Em outra aula de Estudos da Semiótica, um grupo apresentou para classe um vídeo produzido por eles sobre a Teoria da Informação. Criaram uma narrativa onde um jovem do ano 1900 pegava uma máquina do tempo para cair na década de 40 onde encontrava Norbert Wiener (o criador da Teoria da Informação) que lhes explicaria a Teoria e suas aplicações. Para dar um ar de “antigo” (1900) ao personagem colocaram como áudio “As Quatro Estações” de Vivaldi, obra do século XVIII.
Essa contradição entre percepção e cronologia do tempo nada tem a ver com falta de conhecimento de História no sentido livresco. O que parece estar em jogo aqui é a mudança na percepção do tempo, uma alteração pré-conceitual em como percebemos o passado, presente e futuro.
Você pode fazer o Jornal GGN ser cada vez melhor.
Apoie e faça parte desta caminhada para que ele se torne um veículo cada vez mais respeitado e forte.