O jornalismo sério e o caso Thomas Quick

O jornalismo privado pode demonstrar que este é necessário para que o público tenha acesso às noticias como fato real e, portanto, sem adiçoes de interesses particulares. A notícia dada como fato real é ingrediente básico para que o jornalismo continue sendo considerado como o quarto poder uma vez que é verdadeiro e, por isso, os cidadoes a acolhem e confirmam a forca que toda verdade emana.

Justamente agora eu estou lendo o livro “Fallet Thomas Quick” (o caso T.Quick) escrito pelo jornalista sueco Hannes Råstam. Este caso do ex-prisioneiro batisado com o nome Sture Bergwall confirma o chamado quarto poder – o jornalismo à serviço da verdade comprovada.

Este senhor hoje sexagenário tornou-se conhecido no seu país e no país vizinho, a Noruega por ter confessado à policia que era o assassino de ca 30 mortes que estavam sendo investigadas por desaparecimentos das vítimas.

Para fazer a história mais curta, ele foi julgado e depois condenado à prisao por 8 dos desaparecimentos das vítimas que ele confessou ter assassinado.

O problema é que os investigadores nao encontraram os corpos das criancas, adolescentes e jovens desaparecidos. Também nao encontraram as armas nem tao pouco foram confirmados os locais onde ele afirmou que cometeu os crimes.

Mesmo assim, sem vítimas,  sem armas e sem “locais dos crimes” ele foi condenado à prisao pelas 8 mortes que ele afirmou ter assassinado depois de ter violentado, etc.

O que Råstam difere esses 8 casos dos outros mais de 20 casos confessados por Quick é que a Justica sueca (e norueguesa, em alguns casos as vitimas viviam na Noruega) seguiu adiante com os processos e, mesmo sem comprovacoes concretas, o condenou como assassino.

O já falecido jornalista e escritor Hannes Råstam – que o cancer nao lhe permitiu participar da publicacao do seu livro – revirou os kilometros de investigacoes escritas dos 8 casos, e constatou que Quick foi condenado sem provas  juridicas concretas.

Hoje este senhor está livre e processando o Estado por danos causados à sua pessoa. Um dos investigadores publicou um artigo contando 70 erros no livro de Hannes Råstam. No entanto, o Estado nao se pronunciou sobre esses possiveis erros. E os especialistas no caso afirmam que o que eles chamam “o maior escandalo juridico” baseia-se na falta de provas concretas para os julgamentos e consequentemente falta de dados para definir a condenacao.

Quando eu leio o livro percebo que Thomas Quick, hoje usando seu nome anterior: Sture Bergwall, parece ser uma pessoa com uma capacidade verbal, intelectual e porque nao dramática capaz de convencer gregos-e-troianos.  Essas capacidades costumam ser  requisitos básicos para se conseguir manipular alguém.  

E Råstam sugere, nas entrelinhas, mostrando fatos constatados mas tambem mostrando suposicoes feitas pelos responsáveis das investigacoes, que Quick conseguiu seu sucesso em convencer a justica sueca  de que ele foi o assassino de pelo menos 8 dos ca. de 30 casos confessados como autor dos crimes. E mais: Quick consegue se manter nas páginas da midia há ca. de 20 anos.

Desde jovem  Sture Bergwall iniciou-se na anfetamina, assaltou um banco, etc. Na prisao recebeu tratamentos em  rehabilitacao psiquiátrica, psicoterápica e medicamentosa. Segundo o livro, o objetivo da psicoterapia em moda na década de 90 – teoria das relacoes objetais  – iria lhe proporcionar lembrancas já esquecidas, oferecendo-lhe dados para reflexoes sobre suas experiencias de vida passada.  Hannes Råstam constata a afirmacao do setor psiquiátrico que foi durante as sessoes psicoterápicas que Quick  “se recordou dos crimes cometidos”.  E foi, portanto, informado pelos seus psicoterapeutas sobre a obrigacao legal de confessa-los à policia.

Recordacoes ou fantasias?! That is the question!  Hannes Råstam confirma no seu livro que foi fantasia. 

Fantasias necessárias à Quick que desejava chamar a atencao da sociedade para si como um assassino  serial; fantasias necessárias às psicoterapeutas que carregavam a bandeira da nova teoria-moda, criada em USA; fantasias necessárias aos investigadores, advogados e juizes que precisavam dar um final aos crimes nao concluidos.

Em 28 de agosto de 2012 foi considerado inocente nos 8 casos de morte que ele foi culpado e condenado pela justica sueca e que ele mesmo confessou ser o assassino. Este é o resultado da forca do jornalismo sério de Hannes Råstam baseado na verdade concreta dos fatos.

Luis Nassif

0 Comentário

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Você pode fazer o Jornal GGN ser cada vez melhor.

Apoie e faça parte desta caminhada para que ele se torne um veículo cada vez mais respeitado e forte.

Seja um apoiador