O medo das empresas de comunicação

Patricia Faermann
Jornalista, pós-graduada em Estudos Internacionais pela Universidade do Chile, repórter de Política, Justiça e América Latina do GGN há 10 anos.
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Por Fábio de Oliveira Ribeiro

Uma das coisas mais interessantes que aprendi lendo “Ab Urbe Condita Libri”, de Tito Lívio, foi justamente sobre o medo. O medo é um sentimento comum a todos os homens e, sem dúvida alguma, o maior problema com que se depararam e deparam os comandantes militares. O medo, que pode ser provocado por alguma coisa real ou imaginária, se propaga pelos soldados fazendo-os ficar paralisados e, eventualmente, dar as costas ao inimigo fugindo em desordem. O maior medo de qualquer comandante deveria ter, portanto, era o de perder o controle de seus comandados. 

Os romanos descobriram que a única maneira de fazer isto era obrigar os soldados temerem mais seus comandantes do que os inimigos. As punições impostas aos legionários romanos que agiam como covardes eram cruéis e quase sempre mortais. Antes de uma investida, houve um comandante romano que mandou queimar o acampamento na retaguarda para que os soldados soubessem que se não vencessem os inimigos não teriam para onde voltar.

Quando uma tropa refugava o combate, o comandante submetia-a à dizimação (execução aleatório de um em cada dez soldados). Os soldados acovardados podiam ser enforcados no tronco e vergastados (espancados com varas como se fossem crianças). A punição mais temida pelos soldados romanos, porém, era o banimento do acampamento fortificado (caso em que o soldado ficaria a mercê do inimigo, da fome, do clima e das feras). 

Vencer ou vencer era um lema e para tanto os comandantes romanos sempre colocavam seus soldados entre dois medos: o medo do inimigo e o medo da punição imposta pelo comandante. Além de controlar o medo entre seus comandados, os comandantes romanos faziam de tudo para projetar medo entre os inimigos.   

Ao atacar ferozmente os Blogs as empresas de comunicação (que sofreram perdas econômicas em razão da crescente informatização da economia e da sociedade brasileira) querem projetar medo num adversário mais fraco que tem potencial para se tornar mais forte. O que conseguiram, entretanto, foi exatamente o oposto: quem se sente suficientemente seguro de si não incomoda um adversário supostamente mais fraco que sabe poder destruir completamente quando bem entender. 

O medo das empresas de comunicação é evidente. Mas ele é apenas a ponta de um iceberg de medo enterrado em balanços que provavelmente tem sido  maquiados para permitir sua sobrevivência. Seus donos sabem que se tornaram mais e mais dependentes das verbas estatais de publicidade e que terão que disputá-las com os Blogs num futuro próximo. Antecipando a derrota em razão do temerário ataque que revela apenas seu medo, as empresas de comunicação já se deram por derrotadas. 

Patricia Faermann

Jornalista, pós-graduada em Estudos Internacionais pela Universidade do Chile, repórter de Política, Justiça e América Latina do GGN há 10 anos.

11 Comentários

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  1. Está nas próximas divisões de
    Está nas próximas divisões de receitas publicitárias a tão sonhada regulação da mídia.

    Sem histeria, sem alarde.

  2. Acho que o medo maior é o da

    Acho que o medo maior é o da revelação da real audiência e circulação. 

    Novas empresas de pesquisa estão chegando. Se provarem que as empresas que bancam a publicidade estão sendo roubadas por anos a fio, pode ser grande o problema. O problema não é o dinheiro público mas o dinehiro privado. 

    Pior ainda para as empresas de publicidade que terão que prestar contas. 

  3. Fico imaginando as reuniões

    Fico imaginando as reuniões dos departamentos financeiros das grandes empresas de mídia — particularmente a mídia impressa.

    Toda empresa está sujeito a trimestres bons e ruins. O que está acontecendo na mídia impressa, porém, é uma sucessão de anos ruins.

    Mês após mês os números caem. Leitores, assinantes, receita, credibilidade e influência.

    E não há menor sinal de que isso possa melhorar.

    Até quando eles vão aguentar?

     

     

  4. … Sem falar dos impóóóstos.

    … Sem falar dos impóóóstos. Chegaram ao ponto de aliciar uma servidora da receita para subtrair criminosamente e dar sumiço num processo de sonegação milionário…

    E ainda acham que podem botar o dedo no nariz dos outros pra dar lição de moral…

    Caras de pau!

    1. Tem outra versão…

      Lucinei,

      Cê ta certo. Só que existe uma “teoria da conspiração” em que se conta OUTRA história: 1) a dona que é acusada do “roubo” realmente praticava “pequenos” delitos dentro da repartição, isto é, fazia pequenos negócios. Forjava contra evidências, acrescentava ou subtraia documentos ou “sumia” com todo o processo, tipo padrão aecioporto, “queimava” processos. Todo mundo na “repartição” sabia, mas como todos faziam… aí (2) O processo da “poderosa” levou sumiço de dentro da “repartição” e como “alguém” tinha que pagar o pato, ela foi a “escolhida” e ao que tudo indica a que demonstrava maior, digamos, fragilidade. Quem subtraiu o processo, aí sim, quadrilha padrão máfia russa, yakusa, ou delegados e auditores aposentados, foi realizado com o propósito de extorquir ou chantagear pela metade do preço (convenhamos que é uma boa grana). Para resumir, você sabe, ou devia saber que o pessoal da segurança da poderosa são oriundi do ex-SNI, P2 ou seus equivalentes nas três armas e nas policias militar e civil, e digno de um livro de aventura de John Le Carré, foram, com a grana trocar as mercadorias, com direito a escutas, helicópteros, equipes de filmagens etc… Só que deu merda, e pelo que se lê, o pessoal da poderosa subestimou os ex-companheiros, naquele momento adversários, “apagaram”  “os Zé manes” colocados no local como “iscas” e o processo, ou partes dele foi aparecendo na Indonésia, Sumatra ou Nova Zelândia, e com a “grande” ajuda do Garotinho, então candidato ao governo do RJ, o processo foi refeito e a poderosa arcou com a divida, embora as apresentadoras globais dissessem que a globo pagava em dia os seus débitos com a receita.

      1. Caramba, LACosta:

        Caramba, LACosta: sinistro!

        Faz sentido, sim! Já ouvi coisas de amigos que trabalham na receita e não acho que seja coisa de “conspiração”, não.

        Tudo é possível dado a quantidade de dinheiro envolvida. No entanto, falta qualquer prova. Precisa ser investigado e não é.

        Qualquer investigação deve começar pela regra básica do qui prodest, né? Cadê a investigação para chamar “às falas” a beneficiária direta, para, à partir daí puxar a fieira da cambada?

        Suspeito que a “dificuldade” de formar o ministério passa por esses “detalhes” – e outros mais, é claro – do mesmo modo que essa imprennsa farisaica aperta mais ainda o parafuso, por outro lado.

        Espero até coisa pior dessa turma da oposição. A tática de escarafunchar a petrobras vai persistir.

        Porém, dá o que pensar a nomeação de Garotinho, do Rio, pro Banco do Brasil. Como a nomeação ainda não foi tão escandalizada, mesmo aqui pelo Rio, é razoável supor que a oposição ainda está assimilando o golpe.

        Tem mais coisa por aí.

  5. DE PARTIDOS SEM BASE E DA

    DE PARTIDOS SEM BASE E DA IMPRENSA SEM CONSUMIDORES
    JPalmaJr

    Tradicionalmente, os partidos sociais democráticos europeus se forjaram tendo como base os sindicatos de trabalhadores. E os sindicatos forjam a social democracia. Lula já expressou qual sua vertente ideológica, todos bem sabem como o grande líder trabalhista pensa, moldado que foi na luta dos empregados pela liberdade e pela melhoria das condições de trabalho e do viver. FHC rotulou Lula como um democrata cristão. Originalmente, na luta contra a Ditadura, é certo que o tenha sido, amparado por religiosos magníficos como Dom Paulo Evaristo Arns.

    Por que a social democracia, e não o socialismo? Porque o operário, vivente da venda de seu trabalho, só tem esse mundo para viver. Ou deseja, pela vida inteira, alcançar a tranquilidade de uma boa posição de empregou e se valoriza por sua produção diante dos outros empregados ou mesmo deseja se tornar patrão e explorar essa produção. Essa é sua ideologia, e dela, poucos fogem, afinal os trabalhadores competem entre si no mercado e na empresa. Cabe à organização dos trabalhadores ampliar este horizonte, se quiser e se puder. Da forma como se estrutura o mundo do emprego, o socialismo é sonho distante, não compartilhado pelo operário com os que assim pensam.

    E Aécio com isso? No Brasil, a social democracia nasceu da mesma base do pensamento atribuído a Lula: a democracia cristã. E o ”pater familias” dela tem nome: Franco Montoro. Sob sua liderança, foi instituído um partido que originalmente se atribuiu essa mistura entre o socialismo e o mercado, e inicialmente pregou a ideologia em seus manuais. Mas, como a social democracia se forja na atuação política dos sindicatos, não houve base, e não haverá, para que o partido com esse nome mantivesse como primordial essa linha de pensamento. E pior, com FHC, um pensador de centro direita como Vargas Llosa, como presidente, espalhou-se como metástase pelo partido essa ideologia e hoje os sociais democratas brasileiros são de centro direita e chegando alguns como Francischini à direita.

    E o que tem Aécio, o PSDB com tudo isso?
    Ocorre que o espaço da social democracia, caminho para o socialismo democrático, está ocupado. Todos sabemos que o atual governo age socialdemocraticamente e isso não se discute. Em parte, porque Lula é suas circunstâncias e Dilma se construiu no trabalhismo gerado por Vargas. Ambos sabem que em um país onde a direita é irracional e predatória, o socialismo ainda é utopia.

    Mas, se a social democracia está ocupada, para onde vai o PSDB?
    Eis aí a grita de Aécio, mais do que a perda quase já firmada da candidatura presidencial de 2018 para Alckmin. Os ditos sociais democratas, sem sindicatos e sem base política, só mantêm-se pela força da mídia que virou partido e com o financiamento de campanhas por empresas engordadas na corrupção desde há muito. Não houvera Globo, Veja, Folha e Estadão, os tucanos não chegariam a Resende, como bem diz Paulo Henrique Amorim. Em alguns meses, veremos a Veja acabada, a Folha estrebuchando, o Estadão já esquelético sendo enterrado e a Globo dispensando todo mundo que não estiver atuando. E sem seus parceiros políticos, sem sindicatos e sem uma igreja conservadora (que o belo Papa Francisco está desmontando) por trás de si, os tucanos estarão acabados, até porque em 2018 será muito difícil manter o governo de São Paulo. O fim do financiamento privado de campanhas pode estar próximo, se o Ministro Gilmar Dantas permitir isso ao país.

    A grita de Aécio é a tentativa de emparedar o governo, de impedir que Dilma trabalhe e de manter o último fôlego da imprensa partidária e dos tucanos. Mas essa imprensa desmorona e já briga entre si. O portal UOL, bem posicionado na internet, quer sim, o fim ou a diminuição da publicidade estatal para que a morte venha mais rápido para as antigas mídias. Ele crescerá por inércia e coletará boa parte da publicidade que hoje se despende em papel e tubos crt ou plasma. Quer ser a nova Globo. Mas tem um grande inimigo: a capilaridade da internet. Como com pouco, muito pouco em relação aos grandes portais, a mídia progressista faz muito, muito mais, essa é a grande disputa que começou: a concentração econômica da mídia empresa versus a pluralidade democrática dos blogues progressistas.

    A Lei de Medios? Em pouco tempo, será desnecessária. Urge a expansão da banda larga no país e a melhoria de qualidade dos serviços prestados aos brasileiros. Dilma e Lula não são bobos, apenas não contavam com a falta de astúcia (?) do Bernardão.

     

  6. Cadastro negativo

    Será que o governo e suas estatatis consultam o cadastro negativo das empresas de comunicação antes de anunciar, tal qual fazem em licitações?

  7. o medo deles..

    O medo deles (grande mídia) é que num futuro não muito longiquo, os chamados “blogs sujos” “descubram” que  a grande mídia, vulgo PIG, RECEBIA E RECEBE PARTE DOS VALORES DAS CORRUPÇÕES que hoje tanto elas escondem, como PRIVATARIA TUCANA, FURNAS, BANESTADO e hoje a própria Operação LAVA A JATO, etc.. 

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