O ninho das ratazanas do futebol na mídia, por Luciano Martins Costa

Cintia Alves
Cintia Alves é graduada em jornalismo (2012) e pós-graduada em Gestão de Mídias Digitais (2018). Certificada em treinamento executivo para jornalistas (2023) pela Craig Newmark Graduate School of Journalism, da CUNY (The City University of New York). É editora e atua no Jornal GGN desde 2014.
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Por Luciano Martins Costa

O ninho das ratazanas

No Observatório da Imprensa

A imprensa brasileira se regozija com a prisão, na Suíça, do ex-presidente da Confederação Brasileira de Futebol (CBF), José Maria Marin, por conta das investigações de autoridades americanas sobre corrupção na organização internacional do futebol profissional. Nas edições de sexta-feira (29/7), um dos destaques é a fuga do atual presidente da CBF, Marco Polo Del Nero, que deixou a conferência da Fifa em Zurique e preferiu se refugiar no Brasil.

O noticiário equivale a uma bomba num ninho de ratazanas.

Os jornais abrem algumas frentes para abordar o assunto, e a principal delas é a chance de retomar as apurações da CPI da Nike, aberta no ano 2000 e concluída no ano seguinte. O relatório (ver aqui) já apontava irregularidades nas relações da CBF com a empresa de material esportivo e o Grupo Traffic, cujo dono, José Hawilla, fez um acordo de delação com o FBI.

O senador e ex-jogador de futebol Romário de Souza Faria (PSB-RJ) protocolou o pedido de abertura da CPI e é tido como provável relator, por sua familiaridade com o assunto e por haver denunciado, sucessivas vezes, irregularidades na gestão do futebol brasileiro. O assunto também mobilizou o senador Zezé Perrella (PDT-MG), que em 2013 se empenhou em abortar uma iniciativa semelhante, convencendo vários colegas a retirar a assinatura de apoio à abertura de uma investigação sobre a CBF.

Perrella, que se notabilizou como presidente do Cruzeiro Esporte Clube e foi citado na crônica policial, em 2013, quando um helicóptero de propriedade de sua família foi apreendido com 450 quilos de cocaína, saiu coletando adesões para uma CPI já na manhã de quarta-feira (27/5), quando as prisões de dirigentes da Fifa ainda chegavam aos portais noticiosos da internet.

Evidentemente, o destino da investigação no Congresso estaria selado se fosse criada a CPI de Perrella e não a de Romário.

Essa é, aliás, uma das táticas mais comuns que levam muitas Comissões Parlamentares de Inquérito à desmoralização: deputados ou senadores que têm alguma coisa a temer se antecipam, participam ativamente ou tratam de ocupar um posto estratégico, como a relatoria ou a presidência, para conduzir o trabalho a resultados inócuos.

Um “encosto” da ditadura

Mas esse é apenas um dos aspectos presentes na profusão de reportagens, entrevistas e opiniões abrigadas pela imprensa. Nas entrelinhas, pode-se colher alguns detalhes que devem orientar a ação da Polícia Federal, que também deu início a uma investigação para apurar crimes previstos na legislação brasileira. A abertura dessa nova frente ganha destaque na mídia, mas não parece assustar alguns protagonistas, como Marco Polo Del Nero, que substituiu Marin na presidência da CBF.

A fuga do dirigente para o Brasil faz sentido, porque aqui ele tem mais chances de se safar da prisão e de evitar a deportação para os Estados Unidos: segundo a Folha de S.Paulo, a Polícia Federal já abriu, nos últimos 15 anos, 13 inquéritos sobre a gestão do futebol nacional, e nenhum deles teve qualquer resultado. Nesse período, a entidade patrocinou congressos e viagens de policiais e até cedeu a Granja Comary, centro de treinamentos da Seleção Brasileira, para um torneio de futebol de delegados federais.

Del Nero trata de se distanciar de seus padrinhos, José Maria Marin e Ricardo Teixeira, que renunciou à presidência da CBF em 2012, para fugir das acusações que pesavam contra ele, e passou a viver em sua casa em Miami. Sabedor das investigações nos Estados Unidos, Teixeira voltou a morar no Rio de Janeiro, onde também espera estar a salvo da Justiça.

Ricardo Teixeira ainda não se manifestou, Marin está recolhido a uma pequena cela num presídio comum de Zurique, e Del Nero trata de se distanciar dos dois. Mandou retirar o nome de Marin da fachada do edifício-sede da CBF, no Rio, e entregou ao Ministério Público Federal cópias dos contratos que estão sendo investigados pelo FBI.

Todos os dedos apontam para José Maria Marin, embora as investigações da polícia americana citem negociatas iniciadas na gestão de Ricardo Teixeira e alcancem o atual presidente da CBF, Marco Polo Del Nero.

O esquema criminoso remonta ainda ao longo mandato de João Havelange, mas é a figura de Marin que acende essa espécie de catarse que excita a mídia: com seu passado de sabujo da ditadura, um dos incentivadores da repressão que resultou no assassinato do jornalista Vladimir Herzog em 1975, Marin é um fantasma do passado que o Brasil moderno quer ver exorcizado.

Cintia Alves

Cintia Alves é graduada em jornalismo (2012) e pós-graduada em Gestão de Mídias Digitais (2018). Certificada em treinamento executivo para jornalistas (2023) pela Craig Newmark Graduate School of Journalism, da CUNY (The City University of New York). É editora e atua no Jornal GGN desde 2014.

9 Comentários

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    1. Não é por aí

      Não, Bruno, o Perrela tentou criar a CPI “dele”, pra não dar em nada, mas o Romário foi mais rápido no gatilho.

  1. Chega de bravata!

    O Romário chama o Marin, o Teixeira, o Del Nero e o Havelange de ladrões e que acabaram com o futebol brasileiro. Isto é como chutar cachorro morto. Quero ver ele chamar os irmãos Marinho, da Globo, para depor e responsabilizá-los por todo mal que fizeram e fazem ao futebol e a tudo que diga respeito ao desenvolvimento do Brasil e de seu povo. A Globo e a família Marinho são o que há de mais reacionário no país, portanto, se o Romário não estiver bravateando, e estiver mesmo afim de dar um jeito no futebol, ele terá que ir para cima da Globo e seus propietários. Aliás,a ascendência da Globo no futebol, não é só sobre a CBF mas também, sobre a Fifa.

    1. As bravatas do Romario


      É isto aí, Alberto! Concordo com voce. Quero ver o Romario acusar a Globo. Fica parecendo aquele outro, o Kfouri, o moralista que sabe tudo do Ricardo Texeira, mas não diz um um a sobre a Globo. Tudo bem encomendado…

    2. Isso mesmo. Também estou

      Isso mesmo. Também estou cansados desses bravateiros. Ou enfrenta a goebbels ou põe o rabo entre as pernas e reduza à sua insignificância.

  2. O baixinho fala grosso com

    O baixinho fala grosso com Teixeira e fino com a Globo.

    Aliás, nesse país, somente uma pessoa falou grosso com a Globo:  Leonel Brizola.

    Somente um macho num país de 200  milhões de habitantes.

  3. Uma teoria, talvez fuleira,

    Uma teoria, talvez fuleira, mas fruto de minhas elocubrações. O brasileiro é ordeiro, pacífico, nada belicoso, bastante acorvadado. Quando exibe arroubos de valentia, geralmente o faz em grupo, sabendo-se protegido pela malta. Herança, talvez, da nossa herança genética. Índios que não lutaram até a morte como os Incas, fugindo das áreas litorâneas para o interior do País, cada vez mais a única forma de manter a sobrevivência de poucos. Os negros, trazidos aos milhares, raras vezes se rebelaram. A história da escravidão revela poucos líderes dispostos à morrer em defesa de uma sobrevivência digna.. Os portugueses, desde que aqui aportaram, preferiram se entregar às delícias que o paraízo descoberto lhes oferecia. Foram vencidos pelos invasores, franceses, holandeses, várias vezes. Só os venceram com a ajuda dos indígenas já aculturados. Exemplos de ações heróicas como as que America Latina afora exibiu amiúde, são raros. Nossos poucos herois não sebreviveram para levar adiante sua luta e suas pregações  e foram cruelmente e covardemente executados pelas armas dos moralmente mais fracos. O catolicismo e sua pregação pacifista para as massas, embotaram os sentimentos de dignidade e justiça. Mais recentemente, frente à uma ditadura cruel e covarde, poucos são os nossos heroir a comemorar. Vejam-lhes os sebrenomes e nenhum deles tem apenas o sangue miscigenado de nossas origens: Lamarca, Mariguella, Isto, para dizer da nossa apatia, passividade e capacidade de resignação frente à tantas barbaridades que vivemos presentemente. Os direitos dos menos favorecidos são aberta e cinicamente violados e usurpados, e nenhuma reação corajosa se vê. Há um acovardamento que domina e dispersa todos nós. Como na ditadura, deveremos esperar mais de duas dezenas de anos para que a ignomínia se exaure, fruto de sua própria degradação? Nâo creio que teremos outra saída.

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