Sugestão de Tamára Baranov
Do Blog Mexidão
Pouco mais de dois anos atrás o jornalismo brasileiro começou a sofrer regulares ataques cardíacos. Também conhecidos como “passaralhos”, essas demissões em massa atingiram grandes empresas como as editoras Globo e Trip e os jornais Folha de S. Paulo e Estadão (do falecido Jornal da Tarde). Então, logo após a morte de Roberto Civita em maio, o tsunami da crise chegou aos costados da Editora Abril. Em junho alguns executivos foram demitidos e a tal “reestruturação” anunciada mostrou sua cara feia nesta semana: foram encerradas as revistas Bravo, Alfa, Lola e Gloss, bem como os sites da revista Contigo e o abril.com.
As mais de 150 demissões previstas por esses dias alcançaram também as redações das revistas Info, Recreio, Contigo, Quatro Rodas, Viagem & Turismo, Placar, Men´s Health, Claudia e Veja, o portal M de Mulher e o site Bebê.com.
“A Abril encara esta fase como parte da evolução natural dos negócios e segue com a missão de difundir a informação, com excelência editorial, pioneirismo e integridade”, afirmou Fábio Barbosa, presidente da Abril S.A., em comunicado oficial & surreal. Claro que nem ele nem outros grandes executivos de empresas jornalísticas explicam como é possível ter excelência editorial com redações muito menores e profissionais sobrecarregados ou ganhando menos.
Precarizar a profissão jornalística é um caminho sem volta e quem perde mais com isso são justamente a credibilidade da informação e os leitores (esse caminho de mão dupla que é a essência do trabalho). Mas executivos não ligam para detalhes tão pequenos de nós todos e muito menos para os profissionais que estão na rua. Vivem de números, perdem aqui e ganham acolá, e bem podiam comandar a Comunicação de uma empresa farmacêutica ou o marketing de um banco, tanto faz.
Claro que existe uma crise no mercado e que ela tem atingido com mais contundência o jornalismo impresso que o televisivo, só que tantas demissões podem ser melhor explicadas por uma mistura de mau gerenciamento, soberba, investimentos errados, falta de visão estratégica, imediatismo e obsessão cega pelos anunciantes (Será que os anunciantes tão bajulados, e ocasionalmente intrometidos na linha editorial, continuarão juntos de um jornalismo cada vez mais raquítico?).
O jornalismo é maior que empresas jornalísticas e certamente sobreviverá a muitas delas. Para sorte de quem vive e ama a profissão, a boa notícia é que o jornalismo está se reinventando às próprias custas. Às vezes em coletivos independentes como a Pública – Agência de Reportagem e Jornalismo Investigativo, o Centro de Mídia Independente ou a Mídia Ninja e também dentro da grande imprensa por profissionais sérios e dedicados (de todas as gerações).
Vivemos também um momento no qual novas ferramentas jornalísticas estão disponíveis para todos, possibilitando que cada um crie seus próprios paradigmas de informação e comunicação (Não gosta da Folha? Não gosta da Mídia Ninja? Seja você mesmo sua mídia!). E isso é bom, caótico, transparente e renovador.
Tudo isso junto fará diferença para o futuro do jornalismo (além de pensar novas formas de negócio, obviamente) e não abraços simbólicos em homenagem a patrões.
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