O velho e o novo bom jornalismo

Do Fazendomedia

Blogosfera: a imprensa alternativa do século XXI? Por Eduardo Sá

Da esquerda para a direita, os jornalistas Luiz Carlos Azenha, Mauro Ventura como mediador e Mauro Santayana. Foto: Bruno Monteiro.

Um com mais de 50 anos de experiência no jornalismo, o outro uma das referências no jornalismo virtual que vem emergindo no Brasil. Mauro Santayana passou por todos os veículos tradicionais da imprensa brasileira e alguns alternativos, e Luiz Carlos Azenha, atualmente na Record e com o blog Vi o mundo, foram os debatedores do evento “Blogosfera: a imprensa alternativa do século XXI?”, realizado na última terça-feira (21) no Centro Cultural do Banco do Brasil, no Rio de Janeiro. A atividade, que integra o ciclo de debates Arte e Vanguarda na internet, discutiu as possibilidades culturais através das novas ferramentas na internet.

Ambos otimistas com a pluralidade de informações que vêm circulando na internet, os jornalistas acreditam que estamos passando por uma revolução que ainda não é possível estimar suas proporções.

“ É um fenômeno que agrega. O jornalista deixou de ser o protagonista, enquanto os leitores se tornaram produtores. Isso escapa dos filtros convencionais da hierarquização. Hoje com o poder das tecnologias os consumidores produzem o conteúdo, e é natural aqueles que detém o domínio da opinião não estarem acostumados”, observou Azenha.

Ele exemplificou essa modificação com a sua própria experiência que, gastando em torno de R$ 15 mil, ao usar seu laptop, celular, câmera e a internet 3G deixa seu site em funcionamento, cujo público já passa de 50 mil visitas únicas por dia. “É muito pouco em relação ao Chateaubriand ou o Roberto Marinho com seu acordo na Time-Life, mas a revolução é por causa das tecnologias”, disse.

O veterano Mauro Santayana destacou que o papel reinou mais de 500 anos, e agora temos há 20 anos as comunicações eletrônicas sem saber no que vai dar, apenas com a certeza de que as coisas já não são como antes.

“Todos nós sabemos que comunicação é vida, política, poder, podemos começar com a bíblia. Na história da comunicação no mundo, sobretudo da escrita, cada mudança de suporte correspondeu a uma mudança considerável no homem. Antes com pedras, a argila, depois o papiro, portável e passível de distribuição de idéias que provocaram revoluções na história: civilização grega, egípcia, o renascimento, revolução francesa,  etc. Agora a internet, que é importante pela democratização da informação e da opinião. Sós os ricos podiam fazer jornal, hoje existem portais em pequenos municípios com projetos sustentados por anúncios locais”, contextualizou Santayana.

Azenha defende o Plano Nacional de Banda Larga para o Brasil avançar na pluralidade de informações. Foto: Bruno Monteiro.

Azenha sustenta que com a redemocratização, uma grande frente de jornais alternativos, como O Pasquim e o Movimento, perdeu seu espaço para os grandes meios. No entanto, na sua visão, isso convergiu com a ascensão de pessoas que não se viam representadas na mídia tradicional, fato que culminou na proliferação de sites na internet, recém inaugurada no Brasil.   Esse descompasso apresentado pelo jornalista é atribuído à implantação do modelo neoliberal, que tirou da mídia seu papel de fórum da opinião da população passando a falar para um grupo específico em nome de interesses políticos e econômicos.

“A blogosfera passou a representar a voz de muita gente que não se via representada na mídia brasileira. Nosso caminho é lutar por mais vozes, transformando atores sociais e beneficiando a mídia com a participação de pessoas que não faziam parte dos debates. O sentido da blogosfera hoje é mais ou menos o da imprensa alternativa, mas as ferramentas são diferentes. Requer uma mudança na relação do jornalista, que precisa aprender a conviver com isso, se tornando mediador dos debates”, analisou.

“Acabou-se o monopólio da informação e da opinião, estamos voltando à democracia direta grega. Mas com um bilhão de pessoas nessa ágora, talvez até com o surgimento de um novo idioma a longo prazo. Vamos ter uma anarquia total ou vamos ter um despotismo novo? O capitalismo vai tentar controlar isso, vai tentar tirar o máximo proveito econômico, mas desta vez não será possível”, destacou Santayana, que hoje escreve no Jornal do Brasil na internet.

Ele lembrou que recentemente foi anunciado o encerramento da versão impressa do Jornal do Brasil, um dos veículos mais tradicionais do país. Santayana recordou que o JB teve a primeira grande sede de um jornal no Rio, e foi o primeiro na internet.

“Sinto nostalgia no JB, o papel é a materialidade do texto, apesar disso estou trabalhando com a internet. Querendo ou não temos uma revolução, os custos de impressão e distribuição reduziram para 1/5, poderemos privilegiar o conteúdo. A ideia é de que seja pago, o [Nelson] Tanure está calculando que em dezembro haverá 100 mil assinaturas”, afirmou o colunista do jornal.

“O jornalista tem o dever de fiscalizar, mas nunca acreditei na imparcialidade: tem que ter independência”, afirma Santayana. Foto: Bruno Monteiro.

A universalização da banda larga é o caminho para a viabilização comercial da blogosfera, que fará parte da economia moderna, apontou Azenha. Ele acredita na explosão do fotojornalismo e na atuação dos cartunistas, devido ao caráter visual da internet. O blogueiro encerrou afirmando que as opiniões de qualidade e informações originais vão se destacando nesse vasto campo de informação, e antevê uma grande capilarização com os blogs locais graças às suas informações mais contextualizadas.

“Já estão florescendo blogs muito bons, mas demoram a aparecer no nosso radar. Acredito no descontrole, em filtros individualizados, a colaboração é a sua essência, garantindo a diversidade sobre a verticalidade”, concluiu.

Com um tom de prudência, Santayana apresentou uma reflexão sobre o controle na internet. “É difícil punir quem usa a internet para o mal, e às vezes até elogiar quem usa para o bem por causa do anonimato; precisamos avançar nisso. Está ocorrendo a multiplicação de uma liberdade essencial na internet, se existem calúnias, injúrias, difamações, devem ser combatidas no código penal e não com uma lei de imprensa. É preferível o excesso à rolha, é um prejuízo marginal que pagamos”, ponderou

Santayana foi instigado pelo público, que lotou o auditório, a descrever o ofício do jornalista. “O jornalista tem o dever de fiscalizar, mas nunca acreditei na imparcialidade: tem que ter independência. Os jornais não têm mais sua opinião clara, e falta pluralidade. Os jornalistas tinham mais opções e os leitores também. Hoje há patricinhas e mauricinhos nos jornais sem nenhuma relação com a vida real, contato com o povo. Éramos solidários com o povo, hoje são com os banqueiros e seus pensamentos. Os jornalistas estão de acordo com os patrões dos seus jornais, talvez a internet vai resolver parte disso”, sentenciou

Ele também foi questionado sobre a possibilidade de um golpe militar no Brasil, segundo está sendo propagado pela mídia brasileira. “Não acredito na liberdade de expressão ameaçada, não temos mais as forças armas tão politizadas como antigamente. Nossa democracia tem apenas 20 anos, e o próprio governo não é homogêneo internamente. Uma vez que a Dilma seja presidente, ela não terá condição de exercer a ditadura no país. Não há partidos políticos no Brasil, há cooperativas de interesses. E tem o poder moderador do PMDB. Muita coisa que está sendo publicada é fruto do fogo amigo, não há condição para o totalitarismo nesse momento, nem tapetão e conspiração nos próximos 8 anos”, concluiu.

http://www.fazendomedia.com/blogosfera-a-imprensa-alternativa-do-seculo-…

Luis Nassif

0 Comentário

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Você pode fazer o Jornal GGN ser cada vez melhor.

Apoie e faça parte desta caminhada para que ele se torne um veículo cada vez mais respeitado e forte.

Seja um apoiador