O verdadeiro pecado de Mario Sergio Conti, por Paulo Nogueira

Por LN
 
Na série “O caso de Veja” situo o início da degradação editorial da Veja – refletida nos demais veículos da grande mídia – na campanha do impeachment de Collor. No livro “O jornalismo dos anos 90” analiso esse episódio assim como a entrevista de Pedro Collor, que deflagrou o processo de impeachment, um dos episódios mais vergonhosos da história da imprensa brasileira. Nao seria publicado em nenhum jornal sério.
 
A partir desses episódios, do poder político decorrente da manipulação das notícias, que instaurou-se o vale-tudo jornalístico no país, o desrespeito aos fatos, o uso despudorado da ficção.
 
Paulo, que trabalhava na Abril na época, traz sua visão dos fatos.
 
Por Paulo Nogueira
 
 
A entrevista com o falso Felipão entra na crônica do jornalismo brasileiro como uma das maiores besteiras já cometidas.
 
A pergunta que emerge para o autor, Mario Sergio Conti, é a seguinte: em que planeta ele vive?
 
Mas é algo no terreno da anedota.
 
Conti tem razão quando diz que ninguém morreu por conta do erro, e nem a bolsa se movimentou, ou coisas do gênero.
 
Conti, é verdade, vai passar para a história como aquele jornalista do Felipão.
 
Mas seu real pecado, na carreira, é algo muito mais sério.
 
 
Conti, como diretor de redação da Veja, comandou uma das coberturas mais abjetas e mais canalhas do jornalismo nacional: a que levou ao impedimento de Collor.
 
Ali a Veja mostrou, sem que ninguém percebesse, o que faria depois: o abandono completo do compromisso com os fatos na sede de derrubar inimigos.
 
É uma opinião que tenho desde sempre, e a compartilhei várias vezes com jornalistas da Abril nos anos em que trabalhei lá – durante e depois  do crime jornalístico feito pela Veja.
 
A Veja se baseou, essencialmente, em declarações. Mais que tudo, o depoimento envenenado e raivoso de Pedro Collor foi vital no material jornalístico que a revista produziu naqueles dias.
 
Nasceu da vingança de Pedro a célebre capa cujo título era: “Pedro Collor conta tudo”.
 
Meu ponto, desde o início, era o seguinte. Imagine que o irmão do presidente dos Estados Unidos batesse na porta do diretor de redação da revista Time e dissesse que tinha coisas hirríveis para contar.
 
A Time publicaria?
 
Jamais. Antes, caso achasse que ali coisas críveis, investigaria profundamente as acusações. Só publicaria com provas, primeiro porque de outra forma sua imagem jornalística ficaria arranhada. Depois porque a Justiça americana, ao contrário da brasileira, não aceita blablablás como evidências.
 
Num caso notável, Paulo Francis chamou diretores da Petrobras de corruptos. Como a acusação foi feita no Manhattan Connection, os executivos puderam processar Francis na Justiça americana, a despeito da pressão de FHC, então presidente, para que não agissem assim.
 
Os americanos pediram provas a Francis e ele nada tinha além de sua verve. Na iminência de uma multa que talvez o arruinasse, ele se atormentou. Morreu de enfarto durante o processo, e amigos atribuíram o coração quebrado ao pavor da sentença iminente.
 
Não espanta que, anos depois da queda de Collor, ele tenha sido absolvido no STF por ausência de provas.
 
Este fato é, em si, uma prova espetacular da inconsistência da cobertura da Veja.
 
Por trás de tudo, de todas as maldades jornalísticas praticadas pela Veja, estava Mario Sergio Conti, uma das figuras mais amplamente detestadas pelos jornalistas brasileiros.
 
Mario Sergio posaria, depois, como “derrubador de presidente”, o que não fez bem a sua carreira na Veja.
 
O dono da Veja, Roberto Civita, também gostou do título de “derrubador de presidente”, e a revista, embora grande, era pequena demais para dois derrubadores.
 
RC, pouco depois, deu um jeito de mandar embora Conti. (Antes de ser demitido, ele teve a chance de inventar Mainardi como colunista.) Foi uma demissão florida: Conti teve dois anos remunerados ao longo dos quais escreveu Notícias do Planalto, um livro sobre o episódio Collor.
 
É um livro no qual ele bajulava todos os donos de jornais e revistas, e ao mesmo tempo atacava jornalistas dos quais não gostava, a começar pelo homem a quem devia o cargo de diretor da Veja, JR Guzzo.
 
Um dia o jornalismo brasileiro haverá de realizar um trabalho arqueológico sobre o caso Collor.
 
E então se perceberá que a origem do horror em que a Veja se transformou nos últimos anos estava ali, sob as mãos malévolas de Mario Sergio Conti, o cara do Felipão.
Redação

43 Comentários

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  1. Os alienados

    Além do Agnaldo Timóteo encontrei mais um que acredita que Collor pagou os 2,5 milhões de dólares na reforma da Casa da Dinda com aqueles cinco milhões de dólares tomados por empréstimo em ouro do doleiro Hifraim…

    Collor não foi absolvido pelo Supremo. Seus crimes prescreveram por decurso de prazo, o que é bem diferente.

     

     

     

    1. Concordo, o inimigo do meu

      Concordo, o inimigo do meu inimigo não é meu amigo.

      Não entendo essa polarização em que para defender um projeto político é preciso esquecer a história.

      O Collor apoia o atual governo por motivos muito diversos de qualquer conquista social que o PT tenha obtido.

      Prefiro manter a memória a defender um pilantra neoliberal desses. Só falta um desagravo ao Maluf agora.

    2. Para inocentar o Lula…

      …é preciso santificar o Collor. É o único jeito de dizer que o barba e os seus asseclas também são vítimas.

      1. Irresponsabilidade golpista
        De ilação em ilação se tenta transformar em réu condenado quem sequer foi acusado. Este comentário é um exemplo emblemático do festival de acusações levianas que assola a internet tendo como único fundamento o desejo de dar ares de criminosos aos desafetos políticos. É o golpismo judicializado no varejo.

      2. E o confisco?

        Santificar o Collor? AGora? E o confisco da poupança? ALguém explica, justifica? Foi um golpismo nos direitos adquiridos (a poupança com a sua livre movimentação). É verdade que teve a cumplicidade do Congresso Federal, porque as besteiras daqueles economistas estava impostas por medida provisória. Não tenho certeza, mas a minha memória traz a lembrança de votos tucanos no Congresso aprovando o confisco. ALguém pode me dizer quem eram os senadores e/ou deputados que votaram a favor? De qualquer maneira, mesmo tendo sido absolvido pelo lerdissimo poder judiciário do Brasil, a mancha do confisco está colada no arrogante Collor.

    1. Claro… que vai vomitar…

      …não sei se por engolir sapos ao defender o lulopetismo, a barba deve arranhar a garganta, ou por achar inacreditável que uma pessoa como o Paulo Nogeira, que se diz jornalista, seja capaz de tamanha subserviência…

    1. Assis por favor elenque as invenções…

      …contra o Rambo das Alagoas, o super herói de Macéio, o playboyzinho dourado da ditadura militar e ex-presidente Fernando Collor de Mello…

  2. Opa..ele foi absolvido sim.

    Opa..ele foi absolvido sim. Os crimes já estavam prescritos, é verdade. Mesmo assim, o merito foi analisdo pelo STF e lhe deu absolvição por falta de provas. Adicionou a Ministra Carmen Lucia “…não é um primor de acusação..” apontando o MPF.

    Abs

  3. Para justificar o modo petista de governar…

    …vale até canonizar o Collor.  Se existe algo mais patético que o tal do Conti é este Paulo Nogueira, consegue atingir o ápice da perfeição numa questão que eu considerava como maior expoente o Paulo Henrique Amorim: o puxa-saquismo interessado do governo de plantão. 

    Como o PT demonstrou o seu verdadeiro caráter, ou melhor, a falta de, neste dozes anos, podemos ver o deprimente espetáculo dos apoiadores da amoralidade absoluta dos atuais ocupantes do governo. 

    Pergunto aos senhores defensores do caçador de maracujás: quais foram as mentiras contadas pelo falecido Pedro Collor? 

  4.  
    Isso é publicidade;
      Como

     

    Isso é publicidade;

      Como pode confundir um clone do original depois de 40 minutos de conversa?

               Fala sério!

  5. Esporte Nacional

    Esse assunto está cansando. Estamos em plena Copa celebrando o Esporte Nacional: o futebol. E sabemos que o segundo esporte nacional é chutar cachorro morto. O Mario Sergio Conti já foi desmoralizado pela ingenuidade e o comprometimento de sua trajetória profissional é punição suficiente. O Paulo Nogueira já teve uns dez posts aqui para humilhar e destilar suas diferenças pessoais contra o jornalista. Tem mais: Notícias do Planalto é um excelente livro e Collor, se não merece ofensas por aqui, também não merece defesa. 

    A vida é assim: melhor esquecer coisas desagradáveis, o caso sexual do Ronaldo Fenômeno, o “relaxa e goza” da Martha, um discurso  infeliz do Lula ou da Dilma ou outro do FHC, etc. E por que não a cagada do Conti? Qual a diferença entre o Paulo Nogueira e o Conti? Um bajula donos de jornais e outro os donos do poder. É democrático.

     

    1. A vida é assim: melhor

      A vida é assim: melhor esquecer coisas desagradáveis, o caso sexual do Ronaldo Fenômeno, o “relaxa e goza” da Martha, um discurso  infeliz do Lula ou da Dilma ou outro do FHC, etc. E por que não a cagada do Conti? A cagada do Conti,infelismente nao vai ser esquecida as outras acima descritas pode ate ser,mais a do Conti nao, lembra do boimate,foi esquecida? Esse tipo de cagada suja o jornalismo de cima a abaixo ou seja o Conti jogou um balde de m… no jornalismo da grande midia.

    1. Passa na transmissão da copa

      Passa na transmissão da copa pela FOX SPORTS o tempo todo. Aliás tem muita gente, como eu, assistindo na FOX 573NET. Não aderiram na última hora como os outros canais.

      1. sobre a vinheta…

        a vinheta da copa é linda e passa regularmente na espn. fui obrigada a assistir dois jogos em casa de amigos – da onça – e não a vi na globo.

        1. É a vinheta da FIFA

          A Globo tb passa essa vinheta antes e depois de cada transmissão da Copa. Todas as emissoras passam, pois é a vinheta da transmissão da FIFA, que é quem gera as imagens dos jogos. É linda!

      2. Cara Tania
        Minha ignorância

        Cara Tania

        Minha ignorância não tem limite. Nem sabia disso.

        Vi em um comentário, achei legal, não sabia que já estava sendo divulgado.

        Agradeço informação.

        Saudações

  6. Tá ruim, mas tá bom

    Paulo Nogueira argumenta que o falecido Pedro Collor mentiu porque Fernando Collor foi absolvido no STF por falta de provas. Perguntam aqui, mesmo assim, quais foram as mentiras contadas por Pedro Collor. Ora, as mentiras são aquelas lançadas contra o irmão Fernando que não restaram provadas no STF. A questão então é essa: Pedro Collor mentiu, pois teria de provar o que disse (mesmo que no plano geral se possa dizer que a falta de prova não implica ter mentido, no plano judicial, que é o que vale, significa). Portanto, Pedro Collor mentiu. Obviamente, o fato de alguém ter criticado Fernando Collor no passado nada tem a ver com o reconhecimento subsequente de que Pedro Collor mentiu, claro, desde que o observador seja honesto intelectualmente. Não é porque se discorda de alguém, que é aceitável negar a esse alguém tratamento justo, tratamento assentado na honestidade. Então, como diria Zeca Pagodinho, o artigo do Paulo Nogueira pode estar (tá) ruim, mas tá bom….

  7. Como eu retirei esse esgoto

    Como eu retirei esse esgoto de minha casa.

    Ano: 1997.

    Paul Krugman acabava de publicar um artigo, alertando ao governo brasileiro, que nossa economia iria sofrer um golpe especulativo. Golpe Especulativo é uma rapinagem de especuladores, que forçam os papéis de um governo a baixar, então eles compram esse papel na baixa e trocam pelos valores correntes. Mas o governo tem que engordar os papéis, o que foi feito pelos agentes econômicos brasileiros do Banco Central e da Fazenda, aumentando os juros.

    À frente do Golpe Especulativo um homem de duas nacionalidades (brasileira e americana) chamado Armindo Fraga. O outro, o mega especulador Georges Soros.

    Esta revista publicou uma matéria onde o tal FHC dizia que nossa economia estava segura, e a revista Veja corroborava com a afirmativa do Principe. Mas, numa noite de setembro daquele ano, a dupla Armindo e Georges, com a senha do Chico Loes no Jornal Nacional, o Brasil sofreu o Golpe Especulativo. Foi dormir com 70 bilhões de dólares em caixa e acordou falido. Foi a primeira falência do governo do Rei da Privataria. 

    Jurei que nunca mais esta revista entraria em minha casa. Se ela não foi capaz de fazer uma matéria investigativa para confrontar as afirmações do futuro Prêmio Nobel de Economia, como eu iria acreditar no que vinha escrito naqueles papeis higiênicos sob a forma de página?

    Em tempo: Armindo Fraga é especialista nesse tipo de ação. E ele agora faz parte da equipe econômica de Aécio Neves. Convém lembar que o nosso caixa, hoje,ultrapassa a 400 bilhões de dólares. Ele tem um banco que trabalha com especulação financeira. Já disse que o nosso Salário Minimo está alto e os juros tem que subir (engordar) para conter a inflação.

  8. Os chefes não riram da piada de Conti

    Paulo Nogueira pegou leve dessa vez. Ele já havia adiantado um capítulo inteiro sobre Conti de seu livro ainda inédito sobre o jornalismo brasileiro.

    O link está na mesma página do post acima.

     

    Por que as piadas dos chefes são tão populares nas redações

     

    Abaixo, um capítulo de “Minha Tribo — o jornalismo e os jornalistas”. É o livro que estou finalizando sobre as experiências que tive em redações, e sobre a minha visão de jornalismo. Ele será lançado até o final deste ano.

    Um tipo comum que você encontra nas redações é o que ri de acordo com quem conta a piada, e não com a piada em si.

    Para mim, esta é uma das marcas mais vívidas de Mario Sergio Conti. Trabalhamos na redação da Veja nos anos 80. Dali eu saí para a Exame, e ele permaneceu até se tornar diretor de redação.

    Humor fluido traduz caráter também fluido.

    Mario era um dos tipos mais mal humorados da Veja. Magro, sempre com um cigarro nas mãos, passava todos os dias pelo corredor da redação sem cumprimentar ninguém exceto os superiores. Não sem algumas razão, um jornalista que conviveu com ele na seção cultural da Veja, Luís Antônio Giron, o definiria depois — ao descrever a equipe como se se tratasse de animais — como um corvo.

    Mario guardava suas risadas nervosas e entrecortadas para tiradas de chefes como o diretor de redação José Roberto Guzzo e o adjunto Elio Gaspari. Uma vez, quando ele era editor de artes e espetáculos e eu da Veja São Paulo, fiz uma resenha do livro Só Deus Sabe, de Joseph Heller. Era um romance satírico sobre o Rei David. Quem tinha me pedido que resenhasse era a chefe de Mario, Dorrit Harazim, de cujas graças ele ria também.

    Dorrit, mulher de Elio, era brilhante e dura como poucos. Só a vi falhar uma vez como jornalista. Foi quando ela foi cobrir em Londres o casamento entre Charles e Diana. Seu texto, enviado por telex, teve que ser reescrito por Ricardo Setti. Sobre sua dureza, a melhor evidência é uma cena com o mesmo Setti. Setti, editor de Internacional, respondia a Dorrit, editora executiva.

    Num fechamento,  Setti tinha dispensado, já no começo da madrugada, duas jornalistas que trabalhavam sob ele. Elas estavam no corredor da redação, a caminho do elevador, quando passaram em frente à sala de Dorrit. Dorrit perguntou a elas onde iam. Quando ouviu que elas iam embora, mandou que voltassem.  Setti — de quem me lembro a curiosidade de que ele tinha um banco de lides para todas as circunstâncias — pediu demissão naquela madrugada mesmo.

    Tão temida era Dorrit que um tarimbado redator da revista, quando sob sua chefia na seção de Internacional, punha as mãos no escapamento do carro dela, no pátio da Abril, para ver se ela chegara muito antes que ele.

    Demitida depois da última legenda

    Escrevi a resenha de Heller e passei a Mario para que ele lesse e fechasse. Eram laudas, ainda. Sem mexer o rosto por um segundo, Mario me perguntou algumas vezes qual era a graça de certas passagens. Não que eu seja um comediante. Mas eu transcrevera piadas de Heller, um dos maiores escritores “cômicos” americanos do século passado. (Só Deus Sabe é talvez o romance mais engraçado que li na vida, com o Rei Davi de Israel conhecendo biblicamente Betsabá com volúpia ferozmente divertida.) Eu já estava desistindo de explicar quando fui salvo pela chegada de Dorrit. Ela pediu as laudas a Mario, leu a resenha e riu, em aprovação. Jamais esqueceria aquele episódio pelo que ele revelara de Mario.

    O caráter fluido se revelaria em várias ocasiões, de maneira menos cômica.

    Mario cometeu uma das demissões mais abjetas que vi em minha carreira. Ele era editor da seção de Brasil, que reunia política e outros assuntos brasileiros. Numa sexta-feira de fechamento, ele esperou que uma jovem integrante da editoria terminasse todo o seu trabalho. Isso significava fechar a última legenda, ou coisa parecida, num momento em que o sol de sábado já estava se anunciando.

    E então a demitiu. Ali mesmo. Naquela hora. Depois de uma jornada de quase um dia inteiro.

    A jornalista, como ele e eu iniciando a carreira, se chamava Míriam. Míriam Leitão. Mais tarde, ela se tornaria, nas Organizações Globo, uma das jornalistas mais conhecidas do Brasil, uma espécie de rainha das donas de casa em busca de conselhos sobre como lidar melhor com a escassez do orçamento.

    Mario era aquele chefe que ninguém queria ter.

    Nossos caminhos quase se cruzaram, depois, por acaso. Ele estava prestes a ser demitido da Veja e eu liderava, como diretor de redação da Exame, as bolsas de apostas sobre quem o substituiria. Sua saída, acertada num final de ano, se daria em meados do ano seguinte. Mario precipitou as coisas e destruiu o planejamento sucessório ao chamar os editores executivos da Veja a sua sala e anunciar, meses antes do estipulado, que sairia.

    Disse, à platéia surpresa e amedrontada, que não tinha controle sobre sua sucessão. Não ficara nem um pouco satisfeito ao ouvir meu nome. Tínhamos estilos e idéias completamente diferentes. As notas de jornais que saíram naqueles dias traziam dois nomes como os prováveis sucessores de Mario: Marcos Sá Corrêa, um dos discípulos cariocas mais talentosos de Elio Gaspari, e eu.

    A escolha acabou sendo interna mesmo: Thales Alvarenga, diretor adjunto, um mineiro que compensava a falta de cultura e de criatividade com uma dedicação ao trabalho fora do comum e uma boa habilidade para fazer as coisas do dia a dia de uma redação: colocar textos no tamanho, dar título às matérias, fazer legendas etc.

    Thales, quando soube que seria eu o diretor, entrou na sala de Roberto Civita para pedir demissão. Saiu de lá diretor. O que ele terá dito ali para mudar tanto a situação? Jamais saberemos, dado que ambos estão mortos. É provável que ele tenha dito que era contra as coisas que Mario vinha fazendo na Veja e que desagradavam RC — desde o tamanho longo de muitos textos até críticas ao processo de privatização.

    Civita também estava claramente incomodado com a postura imperial que Mario assumira depois do Caso Collor, em que a Veja comandou as denúncias — muitas delas jamais provadas — que levariam ao impeachment. A Abril não era tão grande assim para ter dois derrubadores de presidente.

    Circulavam na empresa comentários sobre episódios como o dia em que Roberto Civita foi com amigos à redação para falarem com Mario sobre Collor. Mario, com um gesto, deteve os visitantes na entrada de sua sala. Estava conversando ao telefone com Claudio Humberto, assessor de imprensa de Collor.

    Civita teve que esperar muitos minutos para ser atendido por Mario, uma provação tornada ainda mais dura pela presença de testemunhas que viram a baixa consideração do diretor da Veja pelo patrão. Isso não podia durar muito tempo, e não durou. Mario era um editor já morto em seus últimos meses no comando da Veja. Multiplicavam-se as queixas contra ele, e já estava claro que a revista sob ele perdera imensamente em qualidade em relação à gestão anterior.

    Quase todos os dias, quando eu subia os elevadores da Abril, alguém me perguntava: “Quando você assume a Veja?” Internamente, havia uma grande torcida por mim na Abril, da qual eu próprio não fazia parte. Eu estava imensamente feliz como diretor de redação da Exame, meu melhor período no jornalismo antes da experiência incomparável do DCM.

    Thales morreu antes que pudéssemos conversar sobre o episódio, com a tranquilidade que a passagem dos anos traz. O que me chamou a atenção foi o sentimento de culpa que ele parecia ter em relação a mim. Trabalhamos juntos, no começo dos anos 2000, no Comitê Executivo da Abril, sob a chefia de Maurizio Mauro, então presidente executivo da empresa. Num seminário de planejamento no interior de São Paulo, Maurizio falou um dia longamente das atribuições que gostaria de ver num executivo. Thales pediu a palavra. “A gente fica falando tanto de pessoas lá de fora quando temos um cara aqui como o Paulo Nogueira”, disse Thales.

    Não era a primeira vez que ouvia, do nada, uma manifestação pública de admiração de Thales, quase 15 anos mais velho que eu. A única razão que encontrei para tanto foi a sucessão na Veja, em que ele não era cotado e eu era quase certo. Talvez ele tenha dito coisas sobre mim, na conversa famosa com Civita, que lhe pesaram depois na consciência.

    É certo que a velha guarda da revista estava em polvorosa com a perspectiva de minha ida. Eu mudara muitas coisas na Exame ao dirigi-la, e era fácil perceber, por aquelas mudanças, as que eu faria na Veja caso fosse efetivado.

    O que quer que Thales e Roberto tenham falado, o fato é que Thales entrou demissionário na sala de Roberto — um duplex impressionante — e saiu dela com o cargo com o qual tanto sonhara.

    Dorrit era admirada e temida

    No decorrer dos anos, ouvi algumas vezes a mesma pergunta: não ter ido para a Veja naquele momento me frustrou? A resposta sempre foi imediata e genuína: não. Eu vivia meus melhores anos na Exame. Tudo parecia dar certo. Não tinha vontade nenhuma de sair, mesmo que fosse para a Veja. Àquela altura, meados dos anos 90, a Veja já não exercia o mesmo fascínio que tivera sobre mim na década anterior. Eu sabia que para levar o espírito da Exame para a Veja teria um trabalho imenso e de resultado incerto. “Não se faz revolução sem revolução”, disse Robespierre. Teria que mudar pessoas e fazer uma cosia que eu conseguira eliminar na Exame: avançar nas madrugadas. Os caciques da redação sabiam disso, e não estavam confortáveis com a possibilidade de que eu os chefiasse. Thales queria, muito mais que eu, ser diretor da Veja. Houve uma justiça poética em que, contra todos os prognósticos, ele tenha afinal sido o escolhido para erradicar a revista das malvadezas que Conti tinha posto nela.

    Mario, demitido, ganhou como prêmio da Abril um período em que recebeu sem ter que trabalhar. Escreveu, então, Notícias do Planalto, em que narra a queda de Collor, que cobriu da posição privilegiada de diretor da Veja. Como de hábito, Mario jogou veneno e louvores seletivamente no livro. Foi baixo em relação a um homem que bajulara intensamente enquanto fora chefiado por ele: Guzzo, sobre quem despejou calúnias. Não era a primeira vez que ele mordia a mão de quem o alimentara.

    Com Mário Watanabe e Píndaro Camarinha na Exame: nunca fui tão feliz em minha carreira

    Uma das cenas marcantes de minha carreira foi a entrada de Mario na redação da Exame, onde Guzzo estava depois de sair da Veja, para avisá-lo de que a revista publicaria uma reportagem de alguma forma desconfortável para ele. Cigarro na mão, levemente curvo, Mario ao caminhar pela redação da Exame em direção a Guzzo parecia imaginar que uma facada poderia ser mitigada com o anúncio de que seria dada.Em Notícias do Planalto, Mario tomou o cuidado de tratar com delicadeza os donos das empresas de mídia. Pouco depois, trabalharia na Folha. Em sua busca incessante de Mecenas, ele acabaria encontrando um num milionário com pretensões intelectuais, João Moreira Salles.

    Desse encontro surgiria uma das revistas mais superestimadas do Brasil: a Piauí.

     Paulo Nogueira

    Sobre o Autor

    O jornalista Paulo Nogueira é fundador e diretor editorial do site de notícias e análises Diário do Centro do Mundo.

     

    1. Os chefes não riram da piada de Conti.
      Mão de penugem de Roberto Marinho, cuja bilionária riqueza advém das maracutaias, das tramóias, das Trampas, das manobras marginais incofessáveis, em conluio e promiscuidade, com os dólares do grupo da TIME-LIFE, representado, na TV GLOBO, em seu embrião, 1965, por Mr.Joe Wallach, com quem privaria, já em 1973, conversas diletantes sôbrê, o também fútil e pueril, o colunista das Dondocas, o turco espertalhão, Ibrahim Sued. Na verdade, um Negocista. ” Notícias do Planalto “, cuja recepção, além de não entusiasmar, também já deixara nítido, seu viés de parcialidade e nenhuma credibilidade, ganha, agora, com esta performance estapafúrdia, este vexame , esta mancada de Conti, seu epitáfio. Conti, em respeito, ao significado e importância da atividade Jornalística, a consistir, em uma prestação de serviços, estrategicamente vitais à orientar e a conduzir a população rumo à porto seguro e à alicerce fundamentado documentalmente, exprimindo,de modo irreversível, a verdade dos fatos em pauta, deveria aposentar-se da função e, arranjar alguma outra atividade mais afeita à ficção, à exemplo da VEJA. Àquele, responsável, pela divulgação, na Folha de São Paulo, pelas erratas, aconselho-o, a propósito do Acácio, famoso por suas inspirações, a que abandone o cinísmo, pois dizer que Mário Sérgio Conti, há anos, em estrada, já eivada de atalhos e buracos, fora vítima de trote, é nós ombrear aos incautos e imbecis. Poupe-nos o ridículo da empreitada. Saudações cordiais, do Planta do Deserto, a quem, basta, tão somente, o orvalho do alvorecer…

       

  9. O Collor foi cassado por que

    O Collor foi cassado por que quis governar sem o congresso. O restante, meras suposições, agora, resultantes em absolvição no STF (mesmo que prescritas). A entrevista do Pedro foi de total sordidez. A do motorista, então, beiraria ao ridículo, não fosse o “apoio” piguento. Sem contar, obviamente, a inépcia do então PGR (Aristides Junqueira) que fez de tudo para que o caso acabasse assim. Aliás, onde trabalha o AJ? Pois é. Esse Conti é outra cria ditatorial, sabujo. Deixei a Veja quando das sacanagens praticadas contra o Brizola naquela eleição (Interessante, o Brizola sempre “boca grande” – pegou os marinhos no proconsult, não foi capaz de denunciar a maior maracutaia de todas: foi roubadíssimo naquele primeiro turno; ele efetivamente foi o segundo colocado, não o Lula; houvesse 2º turno entre o Brizola e o Collor, quem ganharia?

  10. O próprio Lula em palanque de

    O próprio Lula em palanque de Alagoaas ao lado de Collor já lhe pediu perdão, pois a canalhice feifta contra esse imnpediu o Brasil de ter um dos melhores governos. Nisso se juntou o PIG e um bando de canalhas que tudo que queriam era se projetar na política se bilhões de vezes mais corrutpo do que a turma do collorida. O mais justo a fazer agora, se esse pa´si tivesse gente de vergonha, era suspender eleição para que Collo cumprisse dez vezes o tempo que perdeu

  11. verdadeiramente espantoso…

    parece que estamos lendo coisas da época das cavernas do jornalismo brasileiro e, infelizmente, pelo que tem acontecido nos últimos anos, continuamos sem poder afirmar que hoje não é mais assim……………….

    às vezes fico a pensar: quem ou o que impossibilitou o desenvolvimento pela seleção natural de bons jornalistas?

    mas, justiça seja feita, da última vez que encuquei no assunto concluí que só pode ser por causa da justiça partidária que temos, pois justiça que acolhe até mesmo acusações forjadas é capaz de impedir o desenvolvimento de qualquer atividade mesmo que não seja intencionalmente, tendo crer desde então

  12. Paulo Nogueira e Mario Sergio Conti

    Não conheço pessoalmente os jornalistas Paulo Nogueira e Mario Sergio Conti, e suas disputas profissionais na Editora Abril me interessam muito pouco. Ainda assim, li até o final o texto do primeiro falando mal do segundo, movido por minha curiosidade a respeito do estranho caso da entrevista com o falso Felipão. Tive uma desagradável surpresa, no entanto, ao ver no último parágrafo uma menção gratuita e agressiva a João Moreira Salles, que não tinha nada a ver com a história. Não tenho qualquer vínculo profissional com o João, mas tenho por ele uma amizade já antiga e muita admiração. É inaceitável alguém tentar qualificá-lo como um “milionário com pretensões intelectuais”. Milionário ele é de fato, mas, ao contrário do que imagina o articulista, isto não o desqualifica nem é, sequer aproximadamente, aquilo que define melhor a sua personalidade. Chamá-lo de um homem com “pretensões intelectuais” beira o ridículo. Para todos que o conhecem, João é de fato um intelectual ao mesmo tempo brilhante e totalmente despretensioso. Discreto, avesso a publicidade e de um temperamento reservado, onde foi que o articulista viu a “pretensão” de João Moreira Salles? Talvez a resposta esteja na frase seguinte, onde o frustrado articulista tacha a Piauí de uma revista “superestimada”. Errou mais uma vez. Piauí é apenas estimada pela maioria dos seus leitores pelo que se propõe a fazer: oferecer textos longos e interessantes, de diferentes origens, e reportagens bem feitas sobre a realidade brasileira. Alguns números são melhores, outros nem tão bons, algumas matérias brilham, outras são lidas com alguma indiferença. Isso é o que se espera de uma publicação, e João teve a coragem de não ficar apenas no plano das ideias, mas levar a cabo um dos seus sonhos. Ele não se intitula jornalista, não fala mal de ninguém, nem está lutando por nenhuma benesse pública ou privada. Se todos os milionários brasileiros fossem como o João, o Brasil seria um país melhor.  

    1. Alberto, você se equivocou.

      Alberto, você se equivocou. Em NENHUMA linha deste artigo. Paulo Nogueira cita ou critica João Moreira Salles. Leia de novo o artigo, antes de comentar. Paulo Nogueira trabalhou com Mário Sérgio Conti e deve conhecê-lo bem melhor do que nós, simples leitores; é jornalista experiente, também. Se Paulo critica um colega de profissão, ele o faz com conhecimento de causa. Podemos ou não concordar com  a crítica. Eu concordo. Assim como outros jornalistas, Paulo Nogueira tem o direito de criticar qualquer empresário que venha a escrever um livro, assim como ler e criticar a publicação ‘literária’ desse empresário. Novamente, podemos concordar ou não com a crítica. O que não podemos é inserir comentários criticando o jornalista Paulo Nogueira pelas  críticas ao empresário João Moreira Sales, num artigo em que esse empresário não é citado sequer uma vez.

  13. Lei Geral dos Factóides :

    Lei Geral dos Factóides : Jornalista que se sustenta de factóides, será morto – cedo ou tarde – por um deles… RIP, Conti! 

  14. A veja foi fundamental para a

    A veja foi fundamental para a criação da figura do Caçador de Marajás e, finalmente, sua eleição. Depois, foi fundamental para sua derrubada. Tá vendo, candidato, a mão que dá, também toma.

  15. Paulo Francis

    Prezado,

     

    Paulo Francis só falou a verdade!

    Isso está historicamente comprovado. Era Brilhante e corajoso! Pagou o preço por isso!

    A verdade continua escancarada! Collor continua envolvido em inúmeras denuncias de corrupção!

    As provas são contundentes! Não há como nega-las! 

    Não concordo com tudo o que se publica na Veja!

    Mas hoje é um veículo jornalistico que presta um serviço ao país! Se expõe, corre riscos e é ameaçada e criticada por fazer jornalismo independente.

    Folha de São Paulo, Estado de SãoPaulo, O Globo, Época, Isto É, e outros semanários e veículos de imprensa

    falada, televisiva tem ratificado as reportagens da Revista Veja, quase na totalidade.

    Vivemos uma crise ética na nossa sociedade sem prescedentes!  Não da para tapar o Sol com a peneira.

    Independente de seu viés politico, é preciso fazer uma reflexão sobre o que aí esta escancarado para quem quiser ver!

    Meus pais me formaram dentro de valores de igualdade, fraternidade e liberdade. Minha irmã formada dentro da PUC/SP sempre foi uma entusiasta dos movimentos estudantis e alinhada com o pensamento de esquerda. Eu por ser 10 anos mais novo fui influênciado por ela. Votei no Lula, na Marta, no Genoíno, no Suplici! Jamais darei meu voto para essas pessoas em nenhuma circunstância. 

    Ajudaram a destruir nosso país! Meus filhos e netos pagarão um preço muito alto por isso!

    Saudações

    Evandro

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