Para não dar crédito à CartaCapital, jornais publicam notícia com uma semana de atraso

Cintia Alves
Cintia Alves é graduada em jornalismo (2012) e pós-graduada em Gestão de Mídias Digitais (2018). Certificada em treinamento executivo para jornalistas (2023) pela Craig Newmark Graduate School of Journalism, da CUNY (The City University of New York). É editora e atua no Jornal GGN desde 2014.
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Jornal GGN – Para não dar crédito ao furo da CartaCapital, os jornais O Estado de S. Paulo e O Globo deram a notícia de que as investigações da Lava Jato não se limitam à Petrobras com quase uma semana de atraso. Apenas quando o juíz Sérgio Moro tocou no assunto foi que os periódicos destacaram o fato, em 5 e 6 de dezembro. Mas a revista de Mino Carta já havia publicado, com exclusividade, e no final do mês passado, uma reportagem sobre quase 750 obras que Alberto Youssef intermediou com outras empresas públicas além da Petrobras. (Leia mais aqui)

Mino Carta escreveu sobre o episódio.

O país virtual

Por Mino Carta

Na CartaCapital

As manchetes que ornam esta página encabeçaram recentemente o noticiário de dois jornalões nativos. Acima (por incrível que pareça) o Estadão de sexta 5 de dezembro, abaixo O Globo de sábado 6. As duas manchetes poderiam ter saído uma semana antes. Bastaria ter dado repercussão à reportagem de CartaCapital, nas bancas em São Paulo na sexta 28 de novembro e no dia seguinte no Rio e em todo o País. É o que teria acontecido se a nossa mídia fosse digna de um país contemporâneo do mundo, democrático e civilizado.

O Estado de S. Paulo e O Globo, cada qual a seu modo, fazem questão de ignorar CartaCapital. Não estão sozinhos nesta prática, e não me refiro apenas a uma reação midiática. Uma porção conspícua da sociedade nativa repudia o jornalismo honesto, ou, por outra, aquele que não diz, ou não escreve, quanto não aprecia ouvir ou ler. Nada disso parece digno de um país democrático e civilizado. E não se daria, digamos, na Europa e nos Estados Unidos, quem sabe não se desse na Argentina, na Bolívia, na Venezuela.

Sem levar em conta a ofensa à própria razão e às regras do bem-viver, o fenômeno confirma o desrespeito a uma equipe de colegas profissionais e a um repórter, titular da primazia, no caso o excelente Fabio Serapião. Segundo a nossa mídia, só vale o que noticia. É como se CartaCapital e seu site, frequentado por milhões de navegantes, não existissem. Fica assim demonstrado o apego selvagem à virtualidade, exato oposto da realidade.

Há sinais inúmeros de tentativa, praticada em todos os quadrantes possíveis, de construir um país virtual, nas mais diversas manifestações, ancorado à visão e às crenças do indivíduo e dos grupos. Há fatias da sociedade graúda, por exemplo, dispostas a acreditar que, ao sabor do escândalo da Petrobras, o impeachment de Dilma Rousseff é inescapável, quando, a bem da verdade factual, a presidenta só poderia ser derrubada pelo golpe, habilitado a jogar a Constituição no lixo.

A oposição tucana porta-se como se tivesse ganho a eleição, enquanto o PT apresenta-se como o partido que deixou de ser faz muito tempo, no mínimo desde que chegou ao poder. Nem se fale dos demais. E ali, no centro da reação, dispara Fernando Henrique Cardoso, o cientista político que ninguém leu, a acusar a presidenta de prometer para não cumprir, quando foi ele o autor do maior engodo eleitoral da história do País ao conduzir a campanha eleitoral de 1998 à sombra da estabilidade, para desvalorizar o real 12 dias depois de empossado para o segundo mandato. E quebrar o Brasil.

O procurador-geral pede a demissão da diretoria da Petrobras, sem motivo e autoridade para tanto. Já o ministro da Justiça, do alto de sua pompa provinciana, não perde a ocasião para proferir impávidas falastronices, convicto de impressionar o auditório. E o ministro Gilmar Mendes? Em lugar de fazer justiça, dedica-se ao exercício da política, secundado pelo jovem colega Antonio Dias Toffoli, pupilo súbito. Tivesse sido Toffoli nomeado hoje por Dilma, o mesmo Gilmar o definiria como bolivariano. Mas o Brasil é o único país em que crimes contra a humanidade prescrevem e uma Lei da Anistia imposta pela ditadura continua em vigor.

Vejam só, não fal­tava quem alimentasse a cer­teza de viver na su­cursal de Miami, ago­ra prefe­re Dubai.

8 Comentários

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  1. “Negócios”

    Nassif,

    Em condições normais, pouquíssimas licitações realizadas pelo serviço público nas 3 esferas de governo suportam uma investigação prá valer, e não me refiro apenas a licitações de obras, mas a todas elas.

    A maior parte dos “negócios” tem como participante direto o próprio chefe de governo, por vezes representando o grupo do seu superior, este pessoa necessariamente ligada a um partido político. 

    Quando se tem, e se tem há anos um DNOCS, …. de obras contra as secas, é porque ninguém jamais teve o interesse de terminar com a seca no Nordeste – se acaba a seca, acaba o Departamento, ou não ?

    Coomo eu sugeri ontem, se o rito que compõe os eventos Licitação e Execução do objeto licitado não for devidamente avaliado para imediata atualização do mesmo, nada deste circo terá servido para cumprir a finalidade que a sociedade espera, o aprofundamento do saneamento das contratações públicas, que possibilitará uma redução significativa  dos “negócios” patropi afora.

  2. Vale a pena

    A CartaCapital é a única revista em que invisto meu dinheiro, para ficar informado.

    CartaCapital publica notícias.

    As outras publicam factóides.

    Não repercutiram a notícia da CartaCapital antes porque:

    1) A notícia não era para ser divulgada (corrupção envolvendo outros governos ou partidos alem do PT)

    2) Porque ela não faz parte do cartel de factóides da imprensa nacional.

     

  3. Nassif acerta novamente

    Leio semanalmente a Carta do Mino, mas ver essa materia em seu site parece ser mais gostoso.

    Vem os comentarios, muitas vezes ornando o principal, com internatuas ótimos. 

    A frase do Mino é lapidar. É de arrepiar. 

    Mas o melhor é que continuamos a acreditar no país.

    Sempre digo: a Alemanha, ha aproximadamente 70 anos, tinha um certo lider, um carinha chamado Hitler, um louco que dizimou seu proprio país, e o transformou numa colonia americana. 

    O Brasil, pela sua juventude, esta iniciando uma democracia, contra tantos interesses e costumes arraigados. 

    Vamos vencer, tenho certeza. E um viva ao Mino com sua visão universal e sua publicação, Carta Capital, nos dando semanalmente o mundo real para ser desfrutado.

    1. Lenita, eu já não. Gosto de

      Lenita, eu já não. Gosto de ler tudo o que aparece pela frente, Carta Capital, GGN, O Globo, FSP, Estadão, Noblat, Veja, 247, Reinaldo&Constantino, Sakamoto, PHA e mais umas dezenas de Blogs  Sujos da esquerda e Blogs Limpinhos de direita. Vou de Bach a Rammstein num pulinho. 

      É só filtrar as informações e aproveitá-las, acho que todo mundo é capaz disso.

      Pior é ficar trancado com idéias fixas..

       

       

  4. Nada de novo sob o céu da Pauliceia

    Um ano e meio (dezoito meses) antes da capa da Veja “Pedro Collor conta tudo”, reportagem do Bob Fernandes para a revista IstoÉ, então dirigida pelo Mino Carta, já informava TUDO sobre o que acontecia nos bastidores do governo Collor, com o PC Farias deitando e rolando. Repercutiu? Claro que não, porque no Brasil, se não sair nas Organizações Globo ou na Veja, Estadão e Folha, não aconteceu, ainda mais quando vem do Mino Carta. 

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