Para se opor aos metroviários, Estadão se contradiz sobre inflação

Enviado por Nilva de Souza

Do Observatório da Imprensa

Um punhado de contradições
 
Por Luciano Martins Costa

Quando o jornalismo se desvia de seus princípios, sendo instrumentalizado como recurso para outros fins que não a criação de conhecimento, entra-se numa zona cinzenta onde se torna difícil vislumbrar a realidade.

Um dos sinais dessa circunstância, na qual a busca da objetividade perdeu espaço para a perseguição de objetivos políticos ou econômicos, é a eclosão de contradições aqui e ali, que vão minando a confiança por parte daquela fração do público ainda capacitada a interpretar o noticiário. Por exemplo, quando um jornal passa meses insistindo que o país vive imerso na inflação e na carestia, e de repente precisa afirmar que a inflação, afinal, não é assim tão grave, um texto é suficiente para invalidar todos os discursos anteriores.

Ou quando outro jornal, diante de manifestações violentas, exige uma ação mais rigorosa da polícia e, no dia seguinte, se vê obrigado a dar um passo atrás, porque o rigor preconizado acabou gerando mais violência, agora contra seus próprios repórteres, o que fazer da verdade anterior?

Situações como essas podem ser observadas na imprensa brasileira quase diariamente, e refletem um aspecto determinante da prática que pode ser chamada de “jornalismo de campanha”. Como numa guerra, a atividade da imprensa hegemônica do Brasil tem sido marcada pela obsessão em tirar do poder o grupo político que chegou ao Planalto em 2002, pela via democrática das eleições.

Como não há justificativa possível para um golpe como o que foi patrocinado e insuflado pela imprensa em 1964, trata-se de minar a confiança do eleitor com a construção de um cenário catastrofista. O objetivo é implantar a insegurança nas classes médias, sempre mais vulneráveis a crises, porque seus integrantes, empenhados em consolidar o bem-estar conquistado a duras penas, tornam-se suscetíveis a variações bruscas em suas rotinas.

Porém, quando a campanha do pessimismo passa do ponto e começa a ameaçar os interesses do negócio jornal, o discurso muda subitamente.

Escolhendo o pior

Observe-se, por exemplo, como o noticiário sobre a inflação traz uma mistura deliberada de análises que ignoram variações sazonais de preços e a volatilidade característica de países cuja economia depende muito do mercado interno de consumo. Registre-se, também, como uma campanha explícita pelo aumento da taxa oficial de juros ou do câmbio acaba produzindo uma situação incômoda para as empresas, e de repente o discurso muda de direção.

Circunstâncias como essas podem ser encontradas reiteradamente nos arquivos da imprensa. Mas, ainda que o leitor possa apenas vasculhar jornais de dois ou três dias atrás, vai identificar essas variações até mesmo nos editoriais. Veja-se, por exemplo, o que publicou o Estado de S. Paulo no último fim de semana: no sábado (7/6), para contestar os metroviários que deflagraram uma greve na capital paulista, o diário afirma que a reivindicação de 16,5% de aumento salarial é escandalosa, porque a inflação ficou em 5,2% nos 12 meses encerrados em abril – a data-base dos metroviários.

Então, o leitor atento corre a procurar a manchete na qual o Estado teria informado o público de que a inflação havia caído em abril – e vai ficar muito frustrado, porque, naquela ocasião, o jornal escondeu essa informação em meio a previsões alarmistas.

Ora, se a informação é boa como argumento contra os grevistas, também deveria ter sido destaque no noticiário – ou não interessa arrefecer a campanha de terror sobre uma suposta carestia? No dia seguinte ao desse editorial, domingo (8/6), o tema inflação volta à página de opiniões do jornal, sob o título: “Inflação ainda ameaça”.

Vai o leitor prestigiar o editorialista e se depara com um texto no qual se afirma que também a inflação de maio foi mais baixa do que o esperado pelos analistas – subiu 0,46%, “bem menos que em abril”. Note-se: desta vez, o editorial evitou a análise ano a ano, e optou por comparar dois meses seguidos.

Evidentemente, esses números, isoladamente, pouco falam sobre o que irá acontecer no futuro próximo, porque, numa sociedade onde um grande contingente de indivíduos amplia seu potencial de consumo, ocorrem movimentos bruscos de preços conforme a demanda massiva. Mas pode-se apostar que, se houver duas alternativas, a imprensa vai escolher a projeção mais pessimista.

 

Redação

13 Comentários

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  1. Mas quem procura distorcer os

    Mas quem procura distorcer os dados é a senhora autora do post.1) A inflação foi de 5,2%? Sim. 2) Os metroviarios reinvidicaram e radicalizaram nos 16,5% ? Sim. 

    O fato da inflação em abril ter baixado não tem nada a ver com a greve.

     

    1. Vamos dar mais uma chance pro

      Vamos dar mais uma chance pro amigo? 

      Leia o texto novamente, com calma, procure entender o que a autora diz e depois comente oura vez.

      Caso continue sem entender e quiser comentar de novo, fique á vontade, mas vai passar mais um pouco de vergonha.

  2. O esqueleto fétido da grande

    O esqueleto fétido da grande imprensa demonstrado de forma clara.

    As carpideiras de plantão adoram esses corpos em decomposição.

  3. Punhado de contradições

    O artigo acima começa fazendo suposições, ou melhor, acusações contra os jornais, que não podem ser comprovadas, parecendo simples engano ou má-fé da articulista.

    Os exemplos que ela toma para suas conjecturas não fazem chegar à conclusão desejada.

    Vejamos o primeiro caso: o jornal achou escandaloso o pedido de reajuste salaria dos metroviários, de 16,5%, contra 5,2% da inflação; a articulista acha então absurdo o editorial do mesmo jornal, no dia seguinte, ter alertado contra a alta inflação. Não vejo incoerência nenhuma: na questão do reajuste, era feita comparação de índices, sem entrar no mérito de a inflação ser alta ou baixa. No editorial do dia seguinte citado criticava-se a inflação, que realmente está alta para qualquer país civilizado; onde está a manipulação do jornal?

    No segundo caso, critica o fato de o jornal ter exigido maior rigor por parte da autoridade policial, para no dia seguinte dar um passo atrás. Qual o problema? Maior rigor não significa rigor exagerado, e sim rigor na medida certa (que não é fácil definir). Fuzilar manifestantes seria um aumento de rigor que ninguém apoiaria, por exemplo.

    Por fim, a articulista aparentemente tenta justificar a inflação, isentando o governo de culpa, porque “numa sociedade onde um grande contingente de indivíduos amplia seu potencial de consumo, ocorrem movimentos bruscos de preços conforme a demanda massiva”. Então quer dizer que o aumento de crédito, com consequente aumento de consumo, não foi incentivado pelo governo?

    Em resumo, o “punhado de contradições”, título do artigo, está no próprio desenvolvimento do raciocínio da articulista.

     

      1. Parece que para o senhor

        Parece que para o senhor Gilson tudo se resume ao PT. Até a palavra usada pelo mesmo demonstra isso – interpetrar

        . Não bastaria ao senhor usar interpretar ?  Parece que a volta à escola da democracia é necessaria.

  4. Situações como essas podem

    Situações como essas podem ser observadas na imprensa brasileira quase diariamente, e refletem um aspecto determinante da prática que pode ser chamada de “jornalismo de campanha”. Como numa guerra, a atividade da imprensa hegemônica do Brasil tem sido marcada pela obsessão em tirar do poder o grupo político que chegou ao Planalto em 2002, pela via democrática das eleições.

    Como não há justificativa possível para um golpe como o que foi patrocinado e insuflado pela imprensa em 1964, trata-se de minar a confiança do eleitor com a construção de um cenário catastrofista. O objetivo é implantar a insegurança nas classes médias, sempre mais vulneráveis a crises, porque seus integrantes, empenhados em consolidar o bem-estar conquistado a duras penas, tornam-se suscetíveis a variações bruscas em suas rotinas.

    Só nesses dois parágrafos, Luciano Martins Costa, mostra claramente, de forma cristalina, translúcida, límpida, etc., a que se presta a grande mídia, se presta a burguesia direitosa e facista que infesta esse páis, esses retrógrados egosistas, sepulcros caiados.

  5. Bom, não vi nenhuma

    Bom, não vi nenhuma contradição.

    Os Metroviários, leitores assíduos do Estadão, sabem que o ano fechará com inflação de 17% e, dessa forma, antecipam o pleito de aumento, ora bolas! 

  6. VAI ENTENDER O PIG

    sobre “jornalismo de campanha” foram esquecidas as seguintes pérolas:

    1) FSP: inflação decresce, porque a SABESP deu desconto na conta de água, 

    2) O PIG: economia cresce apesar do governo. Economia mingua por causa do governo.

     

  7. Não sabem

    Muitos aqui criticam, falam que outros não sabem nem interpretar texto, mas não nem com atenção a “cabeça” da matéria e criticam “a” articulista.

    Senhores, rpestem o mínimo de atenção :

    Enviado por Nilva de Souza

    Do Observatório da Imprensa

    Um punhado de contradições Por Luciano Martins Costa Nilva de Souza enviou, quem escreveu foi Luciano Martisn da Costa, do Observatório da Imprensa.Querem criticar dizendo que outros não sabem interpretar texto sendo que não sabem nem diferenciar quem escreve de quem envia ? Tenha santa paciência.

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