Wilson Ferreira
Wilson Roberto Vieira Ferreira - Mestre em Comunição Contemporânea (Análises em Imagem e Som) pela Universidade Anhembi Morumbi.Doutorando em Meios e Processos Audiovisuais na ECA/USP. Jornalista e professor na Universidade Anhembi Morumbi nas áreas de Estudos da Semiótica e Comunicação Visual. Pesquisador e escritor, autor de verbetes no "Dicionário de Comunicação" pela editora Paulus, e dos livros "O Caos Semiótico" e "Cinegnose" pela Editora Livrus.
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Pesquisa coloca Brasil entre países mais “ignorantes” do planeta, por Wilson Ferreira

por Wilson Ferreira

Certa vez o sociólogo francês Pierre Bourdieu provocou: “a opinião pública não existe”. A pesquisa “Perils of Perception 2016” (Perigos da Percepção) do instituto britânico Ipsos Mori parece confirmar isso: na verdade a opinião confunde-se com percepção, assim como nos telejornais atuais as notícias são confundidas com “sensações”, seja dos jornalistas ou dos telespectadores. O resultado da pesquisa foi a criação do “Ranking da Ignorância” – a distância entre a percepção que as pessoas têm da realidade em que vivem e os dados oficiais de cada país. O Brasil ocupa os primeiros lugares, atrás da Índia, China e EUA. Entre os países menos “ignorantes”, Holanda e Coréia do Sul. Incapacidade de entender estatísticas, preconceito, atalhos mentais, ignorância racional e o “poder das anedotas” das mídias estão entre os fatores apontados pela disparidade entre percepção e realidade. Também há um fator comum entre os países primeiros colocados: o monopólio midiático.

É comum na grande imprensa as palavras “percepção” e “sensação” serem tomadas como sinônimos. Por exemplo, em um telejornal fala-se da necessidade de construir um posto da Polícia Militar na praça de um bairro com altos índices de criminalidade. Segundo o repórter, o posto criaria uma “percepção de segurança” para os moradores.

Ou então fala-se em “sensação de crise” no final do ano quando, na base do olhômetro, o repórter conta o número de pessoas que não carregam sacolas de compras em um shopping. 

Ou ainda quando se faz uma rápida enquete com populares em algum calçadão do centro da cidade para confirmar alguma “percepção” sobre qualquer coisa.

Atualmente, notícias se confundem com “percepções” ou “sensações” tomadas como evidências sobre qualquer suposta tendência, crise ou acontecimento. É o que recentemente tem sido denominado de “pós-verdade” – um grande arco que vai do menosprezo por fatos objetivos até a ignorância racional e o efeito Dunnig-Kruger – indivíduos acreditam saber mais do que especialistas por estarem abastecidos por clichês, sofismas e frases prontas.

Porém, percepções não são a realidade. É o que comprova a pesquisa do Instituto Ipsos Mori “Os Perigos da Percepção 2016”, realizada entre os meses de setembro e novembro envolvendo 40 países. O objetivo é demonstrar o quanto as pessoas têm uma interpretação equivocada da sua própria realidade – a diferença entre a percepção (desvalorização ou exaltação de determinados temas que preocupam a sociedade) e os dados estatísticos oficiais de uma determinada realidade.

A partir dos dados coletados, a pesquisa conseguiu traçar o “índice da ignorância”, listando os países cuja percepção é mais distante da realidade.

A Índia aparece em primeiro, seguida por China e Taiwan. O Brasil figura em sexto lugar, após os EUA. Na ponta oposta do índice estão Holanda, Reino Unido e Coréia do Sul

Aqui o conceito de “ignorância” não implica em falta de inteligência, mas apenas falta de conhecimento ou informação objetiva sobre uma realidade. O objetivo principal da pesquisa é levantar questões sobre o porquê da disparidade entre a percepção e os dados oficiais de cada país.

Os Resultados

Segundo a pesquisa, os brasileiros acham que a população muçulmana no País é muito maior (12%) do que na realidade (menos de 0,1%) – França, no topo, 31% contra 7% na realidade. E se equivocam ainda mais por acreditar que até 2050 que a religião islâmica chegará a 18% da população, enquanto dados reais que chegará no máximo a 1%.

Perguntados sobre a proporção da população que diz ser feliz, os brasileiros falam em 40% enquanto estudos indicam que são 92% aqueles que se consideram felizes.

Brasileiros também se equivocam quanto a proporção da distribuição da riqueza: para os entrevistados, os 70% menos ricos detém 24% da riqueza quando a realidade é muito pior, apenas 9%.

Ainda consideram que o Brasil é mais tolerante do que realmente é. Os entrevistados acreditam que mais de 50% da população acham que a homossexualidade é moralmente aceitável. Mas dados oficiais apontam que só 39% pensam assim.

Ranking de 2015

Quanto ao sexo antes do casamento, os brasileiros sobrestimam o preconceito: acham que 43% não aceitam – quando o dado real é 35%. E o inverso é sobre o tema aborto: acham que 61% devem considerar moralmente inaceitável. Dados reais indicam 79% da população.

Os dados coletados sobre a percepção dos entrevistados foram confrontados com diferentes fontes de informações oficiais e institutos de pesquisas de cada um dos países.

Bombas Semióticas

Os resultados sobre os Perigos da Percepção do Ipsos Mori confirmam os resultados do atual estágio da engenharia de opinião pública, não mais focada nas estratégias hipodérmicas de repetição e doutrinação político-ideológica do passado, mas agora concentradas na detonação do que o Cinegnose chama de “bombas semióticas” que torna-se instrumento da “Guerra Híbrida” – através da moldagem da percepção por estratégias de “agenda setting” e “espiral do silêncio” criar “climas de opinião” que evoluem para “ignorância racionalizada” através dos clichês de noticiários que confundem notícia com percepção.

Os pesquisadores do Instituto Ipsos Mori apontam para alguns motivos sobre essa discrepância entre percepção e realidade:

(a) Inabilidade com números

Somos particularmente pouco hábeis em lidar com cifras numéricas ou muito elevadas ou muito pequenas – o que afeta nossa capacidade de pensar em, por exemplo, distribuição de renda ou em supervalorizarmos os números sobre gravidez na adolescência, como mostram dados sobre crimes praticada por menores: a percepção é de 70% quando dados oficiais apontam para 20% .

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Wilson Ferreira

Wilson Roberto Vieira Ferreira - Mestre em Comunição Contemporânea (Análises em Imagem e Som) pela Universidade Anhembi Morumbi.Doutorando em Meios e Processos Audiovisuais na ECA/USP. Jornalista e professor na Universidade Anhembi Morumbi nas áreas de Estudos da Semiótica e Comunicação Visual. Pesquisador e escritor, autor de verbetes no "Dicionário de Comunicação" pela editora Paulus, e dos livros "O Caos Semiótico" e "Cinegnose" pela Editora Livrus.

20 Comentários

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  1. quando se quer coisa como

    quando se quer coisa como legalizar os maiores assaltantes da face da terra como banqueiro, precisa mesmo ser  onde haja os maiores ignmorantes da terra

  2. Isso para não falar sobre os “especialistas” de aluguel…

    Que se revezam por todos os veículos para deturpar conceitos, torcer a realidade e escamotear dados.

  3. Ne me quitte pas

     

    Não me quite o pato
    (que eu não vou pagar)

    Nem o vinho, (hic)
    nem seus vapores de acidez (hic)
    no meu estômago de fogo… 
     queimando as saudades.. (hic)
    de um tempo perdido…
    quando fui pra rua.. (hic)
    atrás de miragens amarelas
    e só vi a lua
    derramar sua falsa luz baça (hic)
    en delumiérre
    en votre derrière

    Não me quite o pato (que eu não vou pagar)
    eu só fui atrás
    mas o pato não é meu
    porque esse pato é seu!

    ilé da fiesp
    já tuá contrê
    é do skafê (hic)
    et se ton dizê

    Não me quitte o pato
    Não me quitte o pato…

    Cê pato me dexô
    Cê pato me enganô
    Cê pato me cagô

    ne me quitte pato
    não me quitte o patô (hic… hic … hic)

     

    [video:https://www.youtube.com/watch?v=q_bq5mStroM%5D

    1. ne me….

      Ignorantes nós somos. Aceitemos. Confrontemos. Mudemos. O abismo veio como uma avalnche, um tapa na cara, pela civilidade demonstrada pelos colombianos. Apenas um dos aspectos do tamanho da nossa ignorância.  

  4. Fácil para golpe

    Os EUA perceberam há muito tempo que um país de gente ignorante como o nosso não tem como proteger suas riquezas, imensas no nosso caso, e viram quão fácil seria promover um Golpe de Estado e extrair da “nossa pátria assim tão distraída” os seus maiores patrimônios “em tenebrosas transações”, como é o caso do petróleo e demais enormes riquezas naturais.

    Exemplo do nível de conhecimento dos golpistas de baixo escalão que caracteriza nossa ignorância:

    https://caviaresquerda.blogspot.com.br/2016/11/demente-que-invadiu-camara-acha-que.html

    Só não contava, talvez, contar com tanta colaboração de gente supostamente esclarecida que passava informações sensíveis ao nosso país para organizações estrangeiras (CIA), como fizeram Serra, Temer e muitos outros, segundo ampla divulgação da mídia. E, menos ainda, esperavam contar com a ativa colaboração de uma “força-tarefa”, como a Farsa a Jato, que ajuda os gringos até a recrutar delatores colaboradores. E, mais grave ainda, sob os olhares omissos e cúmplices de nossas FFAA, embora esteja claramente caracterizado o crime de traição ao país:

     

    A MISSÃO DO MINISTÉRIO DA DEFESA (Do portal: http://www.defesa.gov.br/):

    “Coordenar o esforço integrado de defesa, visando contribuir para a garantia da SOBERANIA, dos poderes

    constitucionais, da lei e da ordem, do PATRIMÔNIO NACIONAL, a  SALVAGUARDA DOS INTERESSES  NACIONAIS  e o

    incremento da inserção do Brasil no cenário internacional.”

     

     

     

     

  5. Colocação

    Certamente, na pesquisa, passaram ao largo dos leitores fiéis de certas três revistas e de alguns jornais, bem como dos que assistem à TV aberta e acreditam. Se dessem mais atenção a esse público, estaríamos na “honrosa” posição de o mais ignorante, longe do concorrente mais próximo.

  6. Elementar, nem precisava de

    Elementar, nem precisava de pesquisa. Um povo que assiste tv globo (cbn, g1, etc) 24 horas por dia, na cozinha, no carro, no trabalho, no hospital, no restaurante, no médico, na cama, na pqp. 

  7. Excelente post, mas não atribuo o erro de percepção à mídia

     

    Wilson Ferreira,

    Este seu post é daqueles da série de imperdíveis que deveriam ser destacados como posts mais relevantes do mês independentemente do número de leitores ou de comentários.

    Deixo o link para o comentário a seguir que espero em cerca de uma hora ele esteja disponível no post “Coordenador de Dória diz que apostou na capacidade de moldar o pensamento do paulistano” de quinta-feira, 15/12/2016 às 11:34, aqui no blog de Luis Nassif com texto de Sheilinha Couto via Google +, porque nele eu menciono este post seu post “Pesquisa coloca Brasil entre países mais “ignorantes” do planeta, por Wilson Ferreira, de sexta-feira, 16/12/2016 às 07:57, aqui no blog de Luis Nassif e faço um elogio a ele. O endereço do meu comentário é:

    https://jornalggn.com.br/noticia/coordenador-de-doria-diz-que-apostou-na-capacidade-de-moldar-o-pensamento-do-paulistano#comment-1031253

    E avalio como equivocada a ênfase que os comentaristas atribuem aos meios de comunicação pela nossa péssima classificação. No meu entendimento, essa percepção equivocada é prévi à atuação da mídia. A mídia vem apenas para o reforçar. Ela vem para o reforçar pela natureza capitalista da mídia. Se a mídia não fosse um empreendimento empresarial ela não se preocuparia em ter audiência e sim em informar. Se ela prefere ter audiência, ela tem que dizer aquilo que não contraria a percepção das pessoas.

    Clever Mendes de Oliveira

    BH, 16/12/2016

  8. Será
    Que há chance de estabelecer qualquer relação desta notícia com as MEDIÇÕES de QI feitas aí pelo mundo.

    Que coloca os seres que habitam o Brasil num local próximo ao que chamamos de MACACOS?

    Será que tem algo a ver?
    Tipo de uma lista de 100 o Brasil ficar em 95 ?
    Existe alguma relação?

    Eu acho que não…tem uma banana aí?

    1. Bem !  Os americanos nos

      Bem !  Os americanos nos chamam de MACACOS  desde sempre (happy monkeys?). E dizem isso sempre que pode. 

      ATÉ PORQUE colocaram uma “rede grobo” aí que sozinha mnos controla e nos diz o que é certo ou errado.

       

  9. Enviei o texto para alguns
    Enviei o texto para alguns amigos,digo, para alguns ex-amigos. Eles não retornaram com qualquer resposta.
    O que será que deu errado?

  10. Muito interessante, mas há um

    Muito interessante, mas há um problema grande aÍ neste artigo.

    Como podem os índices de ignorância de 2015 e 2016 serem tão diferentes e incompatíveis com o mínimo de bom senso?

    No caso do Brasil, tudo bem!

    De 3o mais ignorante em 2015 para 5o em 2016. Normal…

    Mas e o caso da China e dos USA por exemplo?

    A China em 2015, pelo estudo, estava em 25o lugar em 2015 e passou, em um passe de mágica, para 2o lugar em 2016?

    O USA  em 2015, pelo estudo, estava em 24o lugar em 2015 e passou, em um passe de mágica, para 5o lugar em 2016?

    A Nova Zelândia, pelo estudo, estava em 5o lugar em 2015 e passou, em um passe de mágica, para nem constar entre os 40 supostamente mais ignorantes?

    Não vale nem a pena, depois das absurdas consntatações acima, perder mais tempo e dar a mínima credibilidade a este tipo de “estudo”!

    Evidentemente não é coisa séria, científica e digna de nota.

    Por mais que eu ache que em estudos mais sérios o Brasil deve estar em posição privilegiada em um eventual ranking desta natureza, e que tende a piorar ainda mais com o congelamento por 20 anos nos investimentos em educação, e que estavam melhorando e crescendo muito nos últimos anos.

     

     

     

     

     

     

  11. Acurácia

    Não li a pesquisa no original, estou analisando apenas com os dados aqui do ggn.

    Em um país continental como o Brasil, conta tantas peculiaridades regionais fica muito difícil que se tenha uma percepção acurada do todo portanto, não vejo que seja o PIG o principal responsável pela inexatidão da percepção por parte da população. Por exemplo, a Holanda mesmo sendo um país cosmopolita e ter uma população relativamente grande, possui um território pequeno e com pouca heterogeneidade, o que facilitta uma percepção mais acurada do todo.

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