Wilson Ferreira
Wilson Roberto Vieira Ferreira - Mestre em Comunição Contemporânea (Análises em Imagem e Som) pela Universidade Anhembi Morumbi.Doutorando em Meios e Processos Audiovisuais na ECA/USP. Jornalista e professor na Universidade Anhembi Morumbi nas áreas de Estudos da Semiótica e Comunicação Visual. Pesquisador e escritor, autor de verbetes no "Dicionário de Comunicação" pela editora Paulus, e dos livros "O Caos Semiótico" e "Cinegnose" pela Editora Livrus.
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Por que agora a Globo apoia movimentos identitários? Brizola explica, por Wilson Ferreira

por Wilson Ferreira

Em toda sua história, a Rede Globo foi acusada de sexismo e racismo: uma teledramaturgia com um cast de atores que mais parecia ter saído de algum país nórdico, enquanto os poucos negros ocupavam papéis subalternos; as mulheres eram objetificadas em programas de entretenimento e o machismo sempre figurado como uma prova do verdadeiro amor. Ao mesmo tempo, o seu diretor de Jornalismo dizia que o Brasil nunca foi racista e que isso não passava de uma invenção da esquerda para dividir o País. Mas de repente, a emissora começou a apoiar e dar visibilidade a movimentos identitários e culturais (movimentos de gênero, étnico-raciais, geracionais que postulam a diversidade, alteridade e reivindicação de direitos sociais) como nunca antes. Política de “controle de danos” para tentar descolar a sua imagem do Golpe de 2016 e dar alguma credibilidade ao telejornalismo? Ou há algo além? De natureza estratégica em um ano eleitoral decisivo. “Se a Globo é a favor, somos contra!”, alertava o velho Brizola. E se nesse momento a emissora estiver pondo em prática outra velha máxima: “dividir para conquistar”? A Globo estaria desempenhando o seu derradeiro papel? Ser o para-raio do ódio tanto da esquerda quanto da direita?
 
“Quando vocês tiverem dúvidas quanto a que posição tomar diante de qualquer situação, atentem: se a Rede Globo for a favor somos contra. Se for contra, somos a favor”
(Leonel Brizola)

“Leva-lo a dividir suas tropas, e será mais fácil dominá-los”
(Sun Tzu)

Durante os anos de guerra midiática que culminaram no impeachment de 2016, a Rede Globo deu visibilidade a pequenos escroques, acadêmicos e intelectuais obscuros, músicos que fizeram sucesso no passado e foram esquecidos, ex-anônimos que confundiam militância profissional com fundamentalismo religioso e oportunistas de toda sorte para engrossar o caldo de oposição ao Governo.

Como, por exemplo, um manifestante pró-impeachment que organizava acampamentos em frente à Fiesp na Avenida Paulista que vivia de recrutar mulheres para feiras e acusado de estelionato e de assédio sexual a modelos; ou o procurador do Ministério Público Federal, de controversa militância religiosa, acusado de agredir a esposa e mantê-la em cárcere privado – clique aqui.

Esses, e muitos outros, exemplares do Brasil Profundo costumavam ganhar visibilidade no dia-a-dia dos telejornais da emissora para atiçar ainda mais a extrema-direita a embarcar na cavalgada do Golpe.

Enquanto isso, crescentes atentados racistas e homofóbicos na ruas de São Paulo eram reportados de forma anódina pelo telejornalismo. Apenas como notícias da pauta policial. Como fossem eventos análogos a acidentes de carros ou roubos de celulares a mão armada.

Meros casos isolados, já que para a linha editorial da Globo, comandada pelo diretor de Jornalismo Ali Kamel e autor do livro “Não Somos Racistas”, as críticas contra o racismo não passavam de manobra da esquerda e do lulopetismo para “construir uma separação entre cores que nunca existiu, de fato, no Brasil”.

Talvez, o ponto de inflexão tenha sido em 2015 quando a ascensão profissional da jornalista negra Maria Júlia Coutinho (a “Maju”) na emissora despertou o ódio de grupos racistas nas redes sociais – clique aqui.

Naquele momento o roteiro para o impeachment já estava traçado e a massa de manobra nas ruas já organizada. A Globo teve que, então, tirar o pé do acelerador e iniciar o trabalho de rescaldo pós-golpe: uma política de “controle de danos” para tentar tirar das mãos a lama psíquica que teve que remexer por anos para dar o tranco subliminar nas massas e tornar o golpe político verossímil. E salvar a credibilidade comercial e jornalística da emissora.

Diante do sentimento de traição, a direita começou a acusá-la de “petista” quando viu perplexa a Globo colocar em ação um rolo compressor do politicamente correto na programação da emissora: a agenda da igualdade racial e de gênero, cidadania, tolerância etc. tomou conta não só do Jornalismo, mas também dos programas de entretenimento e teledramaturgia.

Os movimentos identitários e culturais (movimentos de gênero, afro-brasileiro, indígena, movimentos de jovens e idosos) passaram a merecer o apoio do jornalismo da Organização Globo, numa escalada até subliminar – não importa sobre do que se trata a pauta: repórteres nas ruas fazem enquetes procurando preferencialmente mulheres, negros e jovens (tanto melhor se o entrevistado reunir essas três características). Enquanto isso, o veterano William Waack era demitido por ser pego fazendo galhofas racistas diante das câmeras e o jornalista negro Heraldo Pereira ganhava protagonismo com o programa “Jornal da Dez” na Globonews no lugar do “Painel” apresentado pelo afastado Waack.

Muito além do “controle de danos”

Fica a questão: por que depois de décadas de ínfima participação de protagonistas negros no jornalismo e teledramaturgia, e de relegar causas de gênero a alguns programas femininos matinais, de repente a Globo tornou-se promotora de movimentos identitários?

Há algo mais além da política de “controle de danos” de uma empresa preocupada em se descolar da imagem de “TV golpista” – que aliás, se confunde com a própria história da emissora desde o golpe militar de 1964. Será que devemos levar em conta o alerta do falecido Leonel Brizola – se a Globo for a favor, então somos contra?

Talvez a direita seja intelectualmente tão primitiva que não perceba o que está por trás desse repentino alinhamento da Globo: o chamado “neoliberalismo progressista” que levou Obama ao poder nos EUA e que anima a atual agenda cultural da Globalização.

O aparente oximoro dessa expressão esconde um alinhamento perverso entre correntes dos movimentos sociais (feminismo, LGBT, antirracismo, multiculturalismo, entre outros), o setor de negócios baseados em serviços simbólicos e tecnológicos (Vale do Silício e Hollywood) e o capitalismo cognitivo representado por Wall Street e a financeirização.

Segundo a professora de Filosofia e Política da New School for Social Research de Nova York, Nancy Fraser, esse movimento dos “Novos Democratas” ficou bem distante da tradicional coalizão entre trabalhadores sindicalizados, indústrias, setores afro-americanos e classe média. Mas agora uma aliança entre empresários, classe média dos subúrbios e novos movimentos sociais. Todos emprestando um carisma jovem com a boa fé moderna e progressista – a aceitação da diversidade, empoderamento, multiculturalismo e os direitos das mulheres – Leia FRASER, Nancy. “The End of Progressive Neoliberalism” IN: Dissent Magazine, 2/1/2017 – tradução aqui.

Quando a pauta identitária é assumida, nos EUA, pelos Democratas e todo o setor tecnológico e de negócios que impulsiona a Globalização e, aqui no Brasil, pela TV Globo, começamos a desconfiar de uma estratégia ideológica: retirar a pauta do paradigma “materialista” das esquerdas para ser incorporada à agenda das reivindicações liberais pelos “direitos humanos”.
 

O discurso dos “direitos humanos”

Para o pensador francês Jean Baudrillard o discurso dos direitos humanos é um “valor piedoso, fraco, inútil e hipócrita” porque “se baseia numa crença iluminista na atração natural do Bem, numa idealidade das relações humanas” – leia BAUDRILLARD, Jean. A Transparência do Mal, Campinas, Papirus, 1990, p. 93.
Ademais esse Bem, valor ideal, é sempre concebido de modo protecionista, miserabilista, negativo, reacional. É a minimalização do Mal, profilaxia da violência, segurança. Força condescendente e depressiva da boa vontade, que no mundo só aspira à retidão e se recusa a encarar a curva do Mal, a inteligência do Mal – BAUDRILLARD, Jean, IDEM, p. 94.
O discurso dos direitos, tão facilmente incorporado pela grande mídia e pela pauta do politicamente correto,  tende a ver o outro pelo olhar da piedade como vítima do “racismo e intolerância”, como alguém fragilizado que deve ser protegido pelos “direitos” que se recusam a encarar “o Mal” – a estrutura econômica da exploração do homem pelo próprio homem, da reprodução perversa da desigualdade como condição intrínseca para produção de valor e riqueza para poucos.

Dois exemplos do destino de discursos críticos materialistas que se converterem em lutas em defesa dos “direitos”: o ecológico e o feminista.

De movimento contracultural de crítica ao modo de produção capitalista e ao modelo de civilização Ocidental, o pensamento ecológico facilmente se transformou em movimento ambientalista corporativo – ONGs ambientalistas como o Greenpeace, por exemplo, contam com o apoio financeiro de grandes empresas petrolíferas, Fundação Rockfeller e mercado de energia elétrica – clique aqui.

 Da estrutura perversa da sociedade de consumo cuja produção de riqueza de exploração humana gera desperdício e destruição, tornou-se a luta pelo “direito ao meio ambiente” que execra empresários gananciosos e contempla empresas “do Bem”. Como se a luta pelo direito ao ar e à agua naturalmente atrairia almas bem intencionadas (principalmente do meio corporativo), mantendo o “Mal” (o mecanismo econômico perverso e impessoal) fora de qualquer ação política.

Enquanto isso nos seus 200 anos de lutas das mulheres, o feminismo deixou de ser uma luta contra o sistema do capitalismo (cujos fenômenos como a prostituição, objetificação da mulher, desigualdade, violência e o determinismo machista eram extensões da ordem do patriarcado e da manutenção da propriedade privada) para se transformar na reivindicação pelo direito à igualdade dos gêneros.

Em artigo no Jornal GGN, Vitor Fernandes descreve que ficou “cada vez mais comum os discursos começarem apresentando a identidade do falante. Ex: ‘eu, mulher, negra, periférica, lésbica…, Eu, homem, LGBT. Ou Eu. Mulher, negra’”.

Nessa perspectiva, podemos começar a entender porque a Globo vem ativamente apoiando o discurso identitário politicamente correto dos chamados novos movimentos sociais. Para o viés jornalístico da emissora a vareadora Marielle Franco (PSOL/RJ) foi morta não porque investigava a intervenção militar no Rio e a violência policial em áreas pobres, mas porque era mulher, negra e lésbica.

Dividir para conquistar

O foco na pauta identitária da reivindicação por direitos resulta em quatro consequências: (a) falsa consciência; (b) fragmentação; (c) despolitização; (d) crescimento da extrema-direita.

(a) como falsa consciência o discurso do direito, como um véu, esconde a “curva do mal” a que se refere Baudrillard: uma sociedade, ao mesmo tempo produtora da consciência dos seus próprios direitos, e que simultaneamente fundamentada na desigualdade porque somente consegue produzir riqueza através da luta de classes.  Os conflitos políticos e econômicos são desviados para a esfera cultural das relações humanas idealizadas.

Racismo, intolerância e preconceito são sempre vistos por um olhar abstrato entre a compaixão e uma indignação movida muito mais pelo ressentimento do que pela consciência política.

o clamor das ruas para a institucionalidade parlamentar. Com isso, o sistema triunfante retira a pressão da panela dos conflitos de classe para diluir no discurso abstrato da “cidadania”, do “respeito”, da “tolerância”, da “dignidade” e toda uma constelação de palavras que se tornam abstratas na medida em que se afastam do conflito fundamental da sociedade.

Por exemplo, com a ascensão das redes sociais surgiram os inúmeros coletivos ligados a pautas LGBTs, feministas e negras. Promoveram uma batalha linguística, caminhando separado das questões de classe.

(c) Muitos movimentos identitários se dizem apartidários. Fruto do discurso profilático e abstrato dos direitos. Como ilustra o depoimento de Vitor Fernandes em seu artigo:
Em outra situação um coletivo Ana Montenegro, um coletivo feminista-marxista, tentou levar para a marcha das vadias (um importante ato do movimento feminista) no Rio de janeiro, uma faixa, com claro teor marxista dizendo: “gênero nos une, classe nos divide” (ou algo do tipo) e foi impedida pela liderança do movimento (FERNANDES, Vitor, Jornal GGN, ).
Por isso, ideologicamente movimentos identitários caem como uma luva para a atual estratégia despolitizadora da Globo às vésperas das eleições – reforçar a aversão à Política como parte da estratégia do “dividir para conquistar”: neutralizar a crítica materialista da sociedade na qual se fundamentou historicamente a esquerda. Ou transformá-la em uma coisa chamada “marxismo cultural”.

(d) O ardil em apoiar os movimentos identitários pela grande mídia visa principalmente o cidadão médio, despolitizado, vivendo de um trabalho precarizado e, em decorrência, movido por uma visão de mundo conservadora. Por isso, um voto que se entrega facilmente ao discurso fascista de Bolsonaro ou congêneres.

A Globo repete a mesma tática de comunicação indireta criada pelos provocadores da direita do calibre Kim Kataguiri, Rodrigo Constantino ou Fernando Holiday – não se trata de ter a esquerda como interlocutora ou rival. Se trata de provocar, para de forma indireta falar com o cidadão médio despolitizado, desmobilizado e nutrindo o asco pela Política incutido pela Globo.

Por essa razão, a Globo assume um papel estoico e derradeiro: se converter no para-raio do ódio tanto da esquerda quanto da direita. Pelo menos, até as eleições.

O velho Brizola continua bem atual.

Wilson Ferreira

Wilson Roberto Vieira Ferreira - Mestre em Comunição Contemporânea (Análises em Imagem e Som) pela Universidade Anhembi Morumbi.Doutorando em Meios e Processos Audiovisuais na ECA/USP. Jornalista e professor na Universidade Anhembi Morumbi nas áreas de Estudos da Semiótica e Comunicação Visual. Pesquisador e escritor, autor de verbetes no "Dicionário de Comunicação" pela editora Paulus, e dos livros "O Caos Semiótico" e "Cinegnose" pela Editora Livrus.

16 Comentários

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  1. De novo esse besteirol?

    Para começar é BURRO. Querer pôr as esquerdas contra os movimentos identitários só os jogaria para os braços da direita. Nenhum militante vai deixar de lutar pelas suas causas porque alguns tolos acham que isso prejudica o desempenho eleitoral das esquerdas. Depois — na verdade, em primeiro lugar, mas para mim, nao para quem aceita esse tipo de besteirol — é IMORAL DO PONTO DE VISTA DE ESQUERDA. Ser de esquerda nao é somente ser pela igualdade de renda ou pela defesa das riquezas do país, é tb ser CONTRA A OPRESSAO.

    1. Pelo Contrário

      Não se trata de ser burro, nem besteirol, nem de colocar a esquerda contra movimento algum.

      Trata-se de diversionismo, desvio de foco. Ser simpático às reinvidicações das minorias não implica em achar que se encontram no mesmo patamar de importância e prioridade de discussão e luta do que a destruição dos direitos trabalhistas, por exemplo.

      1. Ou seja, deixar para as calendas…

        É burro, deixa de agregar, e é imoral do ponto de vista de esquerda. Até porque nao há contradiçao nenhuma em lutar por uma coisa e outras.

        1. Burrice é não ter um pé atrás.

          Anarquista Lúcida, além da sua excelente contra argumentação (chamando o interlocutor de burro) e do deslumbre com esse movimento lacração, quais são suas fontes para dizer que não se pode críticar os movimentos identitários?

          Existem muitos elementos proto-fascistas, neo liberalistas e racistas nos movimentos identitários que MERECEM sim ser críticados através de uma perspectiva à esquerda! Se eu não puder criticar o que adianta ser de esquerda? É melhor entrar logo numa igreja e dizer amém a tudo.

          Essas questões que MERECEM ser críticadas têm ficado mais clara ao longo do tempo. Vejamos alguns desses elementos e algumas referências que reforçam e fundamentam essas possíveis críticas (eles são burros?) no campo da esquerda. E veja só, citarei autores ligados aos Cultural Studies e à New Left, imagine a esquerda classista.

          1)  a importação ridicula de uma sociologia norte-americana para pensar as relações sociais e raciais no Brasil (Pierre Bordieu e Loïc Wacquant escreveram em conjunto um excelente artigo chamado Sobre as Artimanahas da Razão Imperial e falam do Brasil, eles são burros?)

          2) a centralidade de referenciais biológicos em detrimento dos sociais e históricos. Fanon (ao menos este vc já leu?) Achille Mbembe (Crítica da razão nrgra), Anthony Apphia (Na casa de meu pai), Paul Gilroy (Atlântico Negro) eStuart Hall (Da Diáspora) apontam para as armadilhas dessa posição.

          3) uma aposta em identidades estereotipadas, essencializadas e fixas (mais uma vez Stuart Hall foi outro burro em criticar isso, né?);

          4) a ideia de que um negro rico ou uma mulher “bem sucedida”, empreendedor e protagonista de grandes corporações seja o bastante melhorar a estima de negros e mulheres pobres;

          5) a transformação dos “pardos” em mero joguinho por disputas por poder (Exemplo: pardo na universidade é branco, no presídio é negro. Só consultar qualquer estatística interpretada por esses grupos);

          6) o uso de conceitos como “lugar de fala”, “apropriação cultural” e “empoderamento” de forma superficial, irrefletida e autoritária (Francisco Bosco escreveu um bom livro sobre isso, tem em e-book).

          7) a ênfase absurda, para quem se quer de esquerda, em tradições fixadas, estereotipadas e em culturas fixas e essencializadas. Tal crítica, à esquerda,  à noção de tradições fixas pode ser vista em Hobsbawm. A crítica a ideia de uma cultura homogênea: cultura negra, cultura branca, etc, pode ser vista em historiadores como Gruzinski: culturas mestiças; Canclini: culturas híbridas; Edoard Glissant: pós estruturalismo e culturas poéticas.

           

          Todo mundo acima é burro? Só a bonitona é inteligente e vê o que ninguém mais vê, né?

          Já que você acha tudo isso uma burrice, pode-me dar um pouco de luz e explicar a razão de não criticarmos esses elementos acima. Seria mais honesto. Pode responder?

           

          1. É preciso ter fontes para ter opinioes? Céus! Haja pedantismo

            Nao gostava muito de Millor nao, mas sempre concordei que livre pensar é só pensar… Preciso fontes para corroborar dados, nao posiçoes.

            Posso até concordar que às vezes haja exageros nos movimentos identitários. Mas em geral há várias posiçoes dentro de cada eixo deles. E nao sou eu, que nao sofro o racismo na pele, que vou ditar para os movimentos negros o que é ou nao exagero.  Sei, como mulher, que muitas coisas que homens criticam nos movimentos feministas como exageros (por ex, a campanha contra o fiu-fiu) nao o sao, sao pontos importantes para as mulheres. Nao sao os homens que sao amolados com fiu-fius desde os 10 de idade, sao? Cada um sabe do que lhe toca…

            Referenciais biológicos? Você acha que ser negro, ser mulher ou ser homossexual, é uma questao biológica? Até é, em parte, mas nao é a biologia que causa os problemas, nem a luta é em nome de aspectos biológicos, muito pelo contrário, em grande parte é exatamente contra o determinismo biológico (pelo menos no caso das mulheres). Tb no caso das mulheres, que é sobre o que me sinto mais à vontade para falar, a questao nao sao culturas fixas (outra vez, PELO CONTRÁRIO, luta-se contra estereótipos culturais fixos sobre homens e mulheres). Pessoalmente nao tenho nada contra apropriaçao cultural, adoro o movimento antropofágico de Oswald de Andrade…

            E deixe de dar carteirada pretensamente intelectual. Alguns dos autores que vc cita conheço (aliás de Bourdieu gosto muito), outros nao, todos eles sao discutíveis, e suas interpretaçoes nao sao necessariamente melhores que quaisquer outras. Que vc diga que as interpretaçoes que os movimentos identitários fazem dos conceitos de lugar de fala e empoderamento sao superficiais só quer dizer que vc acha isso, nada mais.

          2. Não se trata de carteirada

            Não se trata de carteirada “pretensamente intelectual”, mas responder alguém a partir de algum fundamento, sem obscurantismo. Responder alguém que está chamando qualquer um que critique os movimentos identitários de burro, como é o seu caso. Trata-se, sobretudo, de fundamentar os posicionamentos ao invés de ficar no puro achismo e na doxa, que é a especialidade da Globo.

            Pelo que entendi da sua resposta, as interpretações desses autores (quais? Fanon, Gruzinski, Hobsbawm?) não são melhores que quaisquer outras. Quais outras? Fala ai, mano. Nem que seja para citar, seila, Djamila Ribeiro, que infelizmente não conheço. O que garante o contraponto a esses autores? O seu “lugar de fala”, seu “empoderamento”, os testemunhos do programa de variedades da Fátima Bernardes?

            Desde quando fundamentar o debate em estudos é dar carteirada? Só se for para ignorantes, que preferem continuar ignorantes, quem costuma fazer isso é a direita chucra (eu sei que você não se enquadra nela, mas nesse caso, no meu entender, aproximou-se bastante desse povo).

            Seja mais anarquista e fundamente suas opiniões em alguma “racionalidade”, numa episteme,  que permita o diálogo e o consenso e não a imposição de ideias na base da experiência pessoal e subjetiva.

          3. Haja má fé…

            Em primeiro lugar, nao chamei ninguém de burro. Disse que um dado posicionamento é burro, mas há uma diferença de aspecto importante entre ter uma posiçao burra — o que eventualmente qualquer um pode ter — e ser burro. Se vc nao é capaz de entender isso, nao domina bem a língua portuguesa (o que talvez seja o caso, dado o pseudônimo que vc escolheu). 

            Também nao disse que minhas interpretaçoes sao melhores do que as dos autores que vc citou. Disse que as posiçoes deles sao sujeitas a discordâncias e a várias interpretaçoes, e que as SUAS interpretaçoes deles nao sao melhores do que quaisquer outras

            Nao tenho nada contra fundamentar posicionamentos em autores. Mas nao foi o que vc fez. Vc nao usou argumentos dos autores, apenas os mencionou, num tom arrogante, como se todo o mundo tivesse alguma obrigaçao de ter lido os mesmos autores que vc, e usando o conhecimento como arma retórica, o que é elitista e significa sim “dar carteirada”. 

            E uma coisa é nao ter nada contra fundamentar posiçoes em autores, para aquela pequena parcela da sociedade que teve a felicidade (e nao o mérito…) de ter uma vasta educaçao, e outra, muito diferente, é achar que para ter posiçoes sobre assuntos que dizem respeito a vida de todos é preciso ter essa bagagem. Muito diferente. Outra vez, elitismo e uso do conhecimento como arma retórica.

            E para certas questoes — entre elas os posicionamentos quanto a racismo, machismo e homofobia — nada substitui a experiência vivida, subjetiva sim. Mas desde quando ser um sujeito é algo desprezível?

            Menos elitismo, menos arrogância, menos pretensao…

          4. Então seguimos assim. Eu de

            Então seguimos assim. Eu de carteirada “elitista” e você de carteirada identitária. Segue o jogo.

    2. A questão fundamental é

      A questão fundamental é conseguir que os movimentos identitários possam desenvolver uma visão da conjuntura política que seja abrangente, a ponto de perceberem sua inserção na engrenagem do sistema capitalista considerado em sua totalidade. O perigo que os afeta é o foco exclusivo em suas pautas, desconsiderando que tais posicionamentos poderão torná-los massa de manobra por parte dos agentes midiáticos, que sempre estão dispostos a diluírem as reivindicações sociais como se fossem algo inexorável, próprio dos tempos modernos e descolados da engrenagem macroeconômica e política.

      1. Com isso concordo, MAS

        Fico besta com a insistência nesse tema, como se esse perigo estivesse acontecendo, o que nao é o caso, a maioria dos movimentos identitários integra sua militância com a defesa de outros ideais de esquerda. O que eu tenho visto é um discurso conservador, de gente que “veste” sua própria intolerância com ares de “defesa da luta de esquerda”, quando é só intolerância mesmo, conservadorismo nojento. Nao há contradiçao nenhuma entre as lutas.

  2. A questão nåo é de ser a

    A questão nåo é de ser a favor ou contra, mas de exposição dos movimentos. A parte política dos movimentos como a falta de representação no congresso da real população brasileira para formação democrática é sempre deixada de fora, a globo foi um instrumento da ditadura para a formação do pensamento único, e agora cumpre uma função anti-democrática ao não respaldar a constituição agravando a situação de crise do país consideravelmente.

  3. A Globo não é ingenua, muito pelo contrário: manipula os 2 lados

    1-A GLOBO É 100% LIBERAL PARTIDÁRIA NA POLÍTICA E ECONÔMIA

    Sempre esteve do mesmo lado: PSDB e Cia + Mercado. Sempre varrendo para debaixo do tapete as cagadas tucanas e do sistema financeiro… colocando os holofotes sobre as cagadas da esquerda e movimentos sociais.

    2-GLOBO UTILIZA PAUTAS POLÊMICAS DA ESQUERDA PARA GERAR ANTIPATIA DO CIDADÃO

    Ao mesmo tempo, a Globo fica “provocando” a direita conservadora brasileira com temas em novelas e programas “para a família” como direitos dos homossexuais, negros em ascenção social, beijo lésbico, transsexuais, pobres etc.

    RESULTADOS:

    1-PAUTAS ESQUERDISTAS IRRELEVANTES EQUILIBRAM O PARTIDARISMO GLOBAL

    A direita acusa a Globo de ser “petista”, comunista, esquerdista… com isso ela mantém seu jornalismo 100% partidário e pseuso-liberal e ainda é cusada de ser do PT.

    2-PARA GLOBO POUCO IMPORTAM NEGROS, GAYS, POBRES… SÃO USADOS PARA FINGIR IMPARCIALIDADE

    O que importa mesmo para eles é a parte política-econômica, aí Globo não arreda o pé de suas posições.

     

    É muito ingênuo quem acha que a Globo é odiada dos dois lados ou que está dando tiro no pé… faz me rir!

    Cada programa ali tem uma função estratégica para aquela maldita empresa.

  4. PLIMPIG

    “tomou conta não só do Jornalismo, mas também dos programas de entretenimento e teledramaturgia.”

    Isso mesmo, a globo age em bloco. O patrão escolhe muito bem quem representa a sua ideolgia em TODOS os momentos. Na prática parece um campeonato de puxa saquismo corporativo. No futebol, na novela, no vale a pena, no dominguinho (às vezes manda um recado pela boca velho animador), no jornal, etc. O resto do PLIMPIG replica porque acha uma honra compartilhar os interesses com uma das dez famiglias mais ricas do Brasil. O pior e mais deprimente não é o complexo cucaracha, é a servidão voluntária do povo das comunicações, dos comandantes militares e serventuários da justiça graduados ou não. Nem podem ser chamados de “intelligentzia”, meros serviçais que o são. E tome falcatruas que cometem e se lambuzam para depois acusar o PT e as esquerdas de serem os bandidos.

    O povo global, imbecializado continua a torcer contra os seus próprios interesses. Quando tudo dá errado é só por a culpa no LULA, “o homem que acabou com o Brasil”.

     

  5. A Globo não apoia.

    “Por que agora a Globo apoia movimentos identitários? “

    Em verdade a Globo não apoia.

    Ela encena apoio “para inglês ver”.

    As pautas identitárias são defendidas pela ONU, pelo Partido Democrata americano e pelas realezas do norte europeu.

    As pautas identitárias são pressupostos da globalização e do multiculturalismo.

    A Globo coloca sua infraestrutura à serviço da ONU, exalta os Democratas americanos e tem uma paixão colonial pelas realezas europeias.

    A aderência da Globo às pautas desses grupos acima não é por “nobreza” de seus proprietários. Tendo protagonismo no assunto, ela também é capaz de controlar a opinião pública sobre qualquer tema polêmico.

    Mas, o fato é que a Globo sempre fez a política “para ingles ver” com o povo.

    Sempre inebriou o povo com fantasias e meias-verdade, jogando sua autoestima para cima ou para baixo conforme suas conveniências.

    O período negro de FHC foi o casamento perfeito entre farsantes políticos e da mídia hipócrita e cínica.

    Fantasiavam um “grande e moderno Brasil”, enquanto dezenas de milhões de miseráveis jaziam nos grotões da nação.

    Centenas de crianças morriam de fome e por doenças por dia no semiárido (documentário da própria Globo!).

    Então, em resumo, é o seguinte:

    O casamento perigoso e danoso para o Brasil, entre a Globo e os Tucanos forjou um país de fantasia, feito apenas para enganar ou ludibriar (um pelo menos tentar…) os grupos estrangeiros aos quais eles são submissos.

    Com o golpe contra Dilma e com a prisão política de Lula, o sistema entrou em séria contradição e inconsistência, pois os grupos  exógenos já citados, os quais Tucanos e Globo são submissos, foram colocados em uma saia justíssima.

    O golpe contra Dilma e a perseguição de Lula rompem as barreiras da comunicação oficial chapa branca que sempre foi imposta pela mídia engajada.

    O mundo começa a ter ciência do que aconteceu aqui e parece sensibilizar justamente aqueles grupos identitários internacionais que a Globo e Tucanos se alinhavam na tentativa de enganar o povo brasileiro também.

    Este é o verdadeiro problema da Rede Globo e dos golpistas tucanos.

    As pautas identitárias foram jogadas bem à esquerda e, eles, foram jogados bem à direita.

    Está difícil fantasiar agora.

     

    Em tempo: A entrada de Bernie Sanders na luta do Lula Livre é fundamental para deixar os golpistas no ar.

  6. Natureza estratégica

    Discrimina para explorar, explora para discriminar. Bola levantada no volei para corte e ponto estratégico, vantagem no placar. Backlash pan-patriarcal em escala global de machistas que perdem de respeito o que ganham de ridículo.

    Difícil parece uma solução para o caso da Imprensa, quando aquilo que outrora foi chamado de jornalismo acaba dia a dia mais absorvido no contexto da comunicação estratégica. Por exemplo:

    “…a 24/7 news cycle, the rise of social networking sites, and the interconnectedness of audiences in and beyound NATO nations territory, directly affects how NATO actions are perceived by key audiences. That perception is always relevant to, and can have a direct effect on the success of NATO operations and policies. NATO must use various channels, including the traditional media, internet-based media and public engagement, to build awareness, understanding, and support for its decisions and operations.”

    stratcomcoe.org/about-strategic-communications

     

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