Precisamos falar sobre a seletividade da grande mídia no caso triplex

Cintia Alves
Cintia Alves é graduada em jornalismo (2012) e pós-graduada em Gestão de Mídias Digitais (2018). Certificada em treinamento executivo para jornalistas (2023) pela Craig Newmark Graduate School of Journalism, da CUNY (The City University of New York). É editora e atua no Jornal GGN desde 2014.
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Cobertura do caso triplex, ao longo de toda a investigação e julgamento de Lula, foi tão seletiva quanto a sentença de Sergio Moro
 
Foto: Toni Pires/El País
 
Jornal GGN – 23 de fevereiro de 2017. Véspera do julgamento de Lula, em segunda instância, por causa do triplex da OAS. O Estadão, jornal porta-voz da força-tarefa de Curitiba, decide entrevistar uma das testemunhas do julgamento que ajudou na sentença condenatória proferida por Sergio Moro, em julho de 2017. Entre 73 opções, escolheu a dedo aquela que melhor retrata o caráter político e midiático do processo: o ex-zelador do condomínio, José Afonso Pinheiro.
 
Estadão quis saber se Afonso espera ver o ex-presidente condenado e preso. Afonso, um homem declaradamente anti-Lula e que repetiu à exaustão que o petista era dono do triplex, apenas porque o viu visitar a unidade, sem nenhuma outra prova. Uma pauta que evidentemente saiu da redação com o lead pronto.
 
Melhor do que apenas especular sobre o porquê do jornal ter julgado conveniente entrevistar o ex-zelator do triplex às vésperas do julgamento de Lula é lembrar das inúmeras testemunhas que contradizem a acusação e que foram escanteadas por Moro, na sentença, e pela grande mídia, na cobertura jornalística.
 
Foi por meio de vídeos da Lava Jato que o Estadão divulgou com exclusividade em seu canal no Youtube – mas que, pelo conteúdo comprometedor para a Lava Jato, não foram devidamente analisados nem ganham destaque no portal ou na edição impressa – que o GGN produziu a reportagem “É provável, ouvi o boato, não comprou, mas é dono.” Ali ficou claro que a maioria das testemunhas ouvidas pelos procuradores de Curitiba foi assumidamente influenciada pelo noticiário, que vem martelando, há anos, e muito antes da ação penal nascer, que Lula tem um apartamento no Guarujá.
 
Apesar disso, as principais testemunhas, ou seja, os executivos que trabalhavam na OAS Empreendimentos à época dos fatos investigados, admitiram a inexistência de provas cabais de que Lula fosse o dono do apartamento. Ao contrário disso, testemunhas como Mariuze Aparecida da Silva, Igor Ramos Pontes, Roberto Moreira Ferreira ajudaram a mostrar que Lula era um “cliente em potencial”, mas que desistiu da compra.
 
O próprio “Afonso do triplex” disse a Moro: “(…) tinham corretores que faziam as vendas de apartamentos no Condomínio Solaris, e pessoas compravam porque achavam que o ex-presidente tinha um apartamento lá, os corretores mesmo faziam a propaganda do apartamento.”
 
Isso não entrou na entrevista do Estadão, mas consta nos autos e reforça a tese de que era de interesse da OAS reformar o apartamento para que Lula efetivasse a compra.
 
Por que nenhuma dessas testemunhas ganhou destaque na grande mídia, se não pela seletividade escrachada?
 
Nesse aspecto, a cobertura dos veículos tradicionais, ao longo de toda a investigação e do julgamento de Lula, se assemelha à própria sentença do triplex: nela, Moro selecionou a dedo e picotou os depoimentos para que se encaixassem melhor na acusação, e descartou sumariamente, como denuncia a defesa, aqueles que desmontam a denúncia.
 
Cintia Alves

Cintia Alves é graduada em jornalismo (2012) e pós-graduada em Gestão de Mídias Digitais (2018). Certificada em treinamento executivo para jornalistas (2023) pela Craig Newmark Graduate School of Journalism, da CUNY (The City University of New York). É editora e atua no Jornal GGN desde 2014.

5 Comentários

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  1. Lula no NYT

    Senhoras e senhores que fazem a triagem: NÃO SE TRATA DE POSTAGEM; venho solicitar atenção para a matéria sobre o julgamento de Lula que saiu hoje no NYT. Se houver como publicar, posso remeter a tradução. Grato, NESTOR

  2. Worst case scenario

    Para não nos decepcionarmos, vamos pensar logo no pior cenário:

    O planeta está se encaminhando para a terceira guerra mundial, como mostra a tensão cada vez maior dos EUA com a Rússia e a China. É por isso que o império está tratando de absorver sua periferia imediata (Brasil principalmente): precisa reunir forças e não medirá esforços para ter a sua disposição os recursos naturais e as terras brasileiras, mesmo que para isso o povo deste país continental seja jogado às traças. A nuvem radioativa cobrirá o hemisfério norte e, por isso, precisam de terras no sul, para escaparem dela. Mas a consequência da guerra serão vários anos de inverno nuclear global, que reduzirá as colheitas em todo o planeta e provocará guerras civis nos países sobreviventes (os do hemisfério sul, porque os do norte terão perecido). 

    Assim, não adianta: teremos uma guerra civil no Brasil de qualquer jeito. Se ela começará antes ou depois da terceira guerra mundial, dependerá de decisões como a do TRF4.

     

  3. Sem contar que por conta da

    Sem contar que por conta da “publicidade” que foi dada pela merdiática a esse estropício, o mesmo “saiu” candidato a vereador (pelo psdb?) e obteve estrondosa derrota nas urnas. Ou seja, o povão-eleitor não quis nem saber da sua (dele) cretinice.

  4. Nem precisa falar: é raso a

    Nem precisa falar: é raso a seletividade da mídia corporativa nesse processo. Compõe,junto com o Ministério Público e…..o próprio Juízo!, a tríade acusatória. 

    Só resta, então, a galhofa:

    Bloqueio naval e aéreo em Porto Alegre por conta do julgamento de Lula?
    Hum, que chique?
    Imagino as belonaves comunistas e a FAP-Força Aérea Petista sagrando os mares e rompendo os céus do Rio Grande para salvar o ex-presidente Lula.
    Coisa de “arrupiar” mesmo! 
    Normandia e Pearl Harbor? Fichinha. 
    Ah, esqueceram dos submarinos. Dizem as más línguas que saiu um do Rio de Janeiro entupido de comunas-petistas-bolivarianos para desembarcarem à meia-noite de hoje e tomarem de assalto o TRF-4ª Região e obrigarem os bravos desembarcadores a inocentarem Lula.

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