Wilson Ferreira
Wilson Roberto Vieira Ferreira - Mestre em Comunição Contemporânea (Análises em Imagem e Som) pela Universidade Anhembi Morumbi.Doutorando em Meios e Processos Audiovisuais na ECA/USP. Jornalista e professor na Universidade Anhembi Morumbi nas áreas de Estudos da Semiótica e Comunicação Visual. Pesquisador e escritor, autor de verbetes no "Dicionário de Comunicação" pela editora Paulus, e dos livros "O Caos Semiótico" e "Cinegnose" pela Editora Livrus.
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Rebaixamento dos padrões de inteligência da Revolução Industrial 4.0 criou Bolsonaro, por Wilson Ferreira

por Wilson Ferreira

No momento em que o presidente eleito Jair Bolsonaro saiu da sua zona de conforto e se expôs em cenários não controlados como o Fórum Econômico de Davos ou a tragédia humano-ambiental de Brumadinho/MG, revela-se a sua condição limítrofe, com sérias deficiências cognitivas. E diante de pesquisas de opinião cujos resultados se colocam contra as principais linhas da sua “plataforma de governo”, muitos questionaram: mas afinal, como ele foi eleito? Discurso fascista? Anti-petismo? Há um fator ainda não tematizado – as relações intrínsecas entre a chamada “alt-right” (direita alternativa) e as redes sociais não é um mero acaso ou oportunismo. Personagens como Bolsonaro ou Trump são produtos das tecnologias de convergência da Revolução Industrial 4.0. Tecnologias que criaram uma cultura de aplicativos e redes sociais estruturada na noção algorítmica de “Inteligência Artificial”, que consiste em rebaixar os padrões do que entendemos como “inteligência”, enquanto os usuários se tornam simples processadores de informação.

Recente pesquisa Datafolha mostrou que a maioria dos brasileiros é contra privatizações e a redução das leis trabalhistas, propostas defendidas pelo atual governo. 

Ao mesmo tempo, a participação do presidente eleito no Fórum Econômico de Davos, Suíça, foi um vexame internacional. Diante de um cenário que exigia interações políticas mais sofisticadas, Bolsonaro revelou sua condição de limítrofe: um curto “discurso” em linguagem quase tatibitate (herança da cultura da obediência infantil na caserna), cuja linha mais forte foi convidar os empresários a vir passar férias no Brasil, “país de belas riquezas naturais…” 

Além de fugir de qualquer contato humano que exigisse algum tipo de relação dialógica e expusesse ainda mais suas deficiências cognitivas.  

Diante do silêncio nas redes sociais dos próprios apoiadores da ultra-direita (principalmente diante bomba-relógio do caso Queiroz) muitos começaram a se perguntar: então, porque diabos ou como o capitão da reserva foi eleito?

Será porque a facada providencial tirou-o dos debates, livrando Bolsonaro de situações constrangedoras, como a que foi exibida em Davos? Seria porque o discurso populista de ultra-direita despertou o psiquismo fascista do Brasil profundo?  Ou, então, a ausência de debates na campanha eleitoral tirou o foco da discussão dos programas de governo para a polarização sobre questões identitárias, culturais e de costumes?

Talvez todos esses fatores sejam explicativos no contexto de uma campanha eleitoral na qual os candidatos favoritos da “Casa Grande” (Alckmin, Meirelles e cia.) naufragaram nas pesquisas. Restando tão somente um militar rústico, ignorante e limítrofe com um histérico discurso anti-PT, líder de um clã do baixo clero que vive de rapinas financeiras. Não tem tu, vai tu mesmo…

 

Não tem tu, vai tu mesmo…

 

“Alt-right” e Revolução Industrial 4.0

Mas há um fator que ainda não foi tematizado, relacionado com conexão íntima entre a chamada “direita alternativa” (alt-right populista e nacionalista) e as redes sociais, cujas plataformas tecnológicas fazem parte da chamada Revolução Industrial 4.0 – Inteligência Artificial, algoritmos probabilísticos, mineração de Big Data, ao lado de nanotecnologia, biotecnologia e neurotecnologia.

Uma conexão entre o retrocesso político e cultural paradoxalmente turbinado por um capitalismo hiper-tecnológico.

Em postagens anteriores, este humilde blogueiro vem apontando para a importância do fator da canastrice na política – acostumados com simulacros televisivos e fílmicos, a opinião pública veria nos candidatos canastrões, que emulam personagens ficcionais, políticos verossímeis ou críveis… por lembrarem personagens da ficção.  Trump e o reality show televisivo “O Aprendiz” ou Doria Jr. e o meme do “Rei do Camarote”. E as “mitagens” de Bolsonaro, iniciadas como um personagem bizarro de humor em programas como Pânico na TV (“as mitagens do Bolsonabo”) ou no quadro “O Povo Quer Saber” no CQC da Band seriam os exemplos mais atuais.

Mas o fenômeno da canastrice na política ainda está associado às mídias clássicas de massas como Cinema e TV.

Bolsonaro e a alt-right vão além disso: também são produtos das tecnologias de convergência da RI 4.0. Tecnologias que criaram uma cultura de aplicativos assentada sobre a noção dúbia de “inteligência artificial”. 

 

 

Rebaixamento dos padrões de inteligência

Dúbia, porque, para muitos pesquisadores, a noção de “inteligência” trabalhada pelos cientistas computacionais e designers de softwares e aplicativos pressupõe uma autoabdicação humana: rebaixar os padrões do que entendemos como “inteligência”, enquanto os usuários se tornam simples processadores de informação.

Por exemplo, segundo o engenheiro computacional Jaron Lanier, para acreditarmos que aplicativos e algoritmos são realmente “inteligentes” temos que obrigatoriamente reduzir os nossos padrões de inteligência humana – o exercício diário de tratar máquinas ou aplicativos, como por exemplo Waze ou Google Maps, como formas de inteligência reais. O que resulta num senso de realidade mais flexível.

Isso sem falar nos aplicativos de relacionamentos que reduzem as relações afetivas à probabilidade estatística. Chama-se isso de “inteligência emocional” – a capacidade de adaptação irrefletida em um ambiente como forma de sobrevivência emocional.

Inteligência coletiva, nuvem, algoritmo ou qualquer outro objeto cibernético é aceito como uma super-inteligência por que reduzimos os nossos padrões e expectativas sobre a inteligência. As pessoas se degradariam o tempo todo para fazerem os aplicativos parecerem espertos.

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Wilson Ferreira

Wilson Roberto Vieira Ferreira - Mestre em Comunição Contemporânea (Análises em Imagem e Som) pela Universidade Anhembi Morumbi.Doutorando em Meios e Processos Audiovisuais na ECA/USP. Jornalista e professor na Universidade Anhembi Morumbi nas áreas de Estudos da Semiótica e Comunicação Visual. Pesquisador e escritor, autor de verbetes no "Dicionário de Comunicação" pela editora Paulus, e dos livros "O Caos Semiótico" e "Cinegnose" pela Editora Livrus.

2 Comentários

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  1. O pior …
    O pior foi o episódio da auto-exilío do deputado Wyllys (uma bobagem na minha mui modesta opinião mas não vem ao caso) mas a reação do sr
    presidente foi uma total momento 5@ série , ainda bem que o ministro Moro e o sr vice-presidente eram os adultos da sala.

  2. De google a Gogue e Magogue

    1-Personagens como Bolsonaro ou Trump são produtos das tecnologias de convergência da Revolução Industrial 4.0. Tecnologias que criaram uma cultura de aplicativos e redes sociais estruturada na noção algorítmica de “Inteligência Artificial”, que consiste em rebaixar os padrões do que entendemos como “inteligência”, enquanto os usuários se tornam simples processadores de informação.

    Então, passamos a ser meros replicadores de uma “idéia original” imposta pela inteligência artificial

     

    2-Diante do silêncio nas redes sociais dos próprios apoiadores da ultra-direita (principalmente diante bomba-relógio do caso Queiroz) muitos começaram a se perguntar: então, porque diabos ou como o capitão da reserva foi eleito?

    Os apoiadores da ultra-direita já têm o padrão naturalmente rebaixado. Seu silencio provém da própria inabilidade de processar e qualificar informações logicamente.

    Os muitos que começaram a perguntar, por certo não são nem apoiadores e nem de extrema direita.

     

    3-Uma conexão entre o retrocesso político e cultural paradoxalmente turbinado por um capitalismo hiper-tecnológico.

    O poder é a meta. A metodologia é a solução. A tecnologia é o meio.

     

    4-Por exemplo, a ideia de amizade nas redes sociais é vulgarizada e reduzida. Uma pessoa se orgulha em dizer que possui milhares de amigos no Facebook. Essa afirmação só poderia ser verdadeira se a ideia de amizade for restrita. Ignora-se que a verdadeira amizade deve expor à estranheza inesperada do outro.

    O que faz uma pessoa se orgulhar de ter milhões de amigos no facebook é a vaidade.

     

    O que prometem as tecnologias a serviço do controle e como agem;

     

    Apelo divino

    “Entrega os teus caminhos ao senhor e ele tudo fará.”

     

    Basta sorrir para o senhor te ver e ele guardará a sua cara

    Basta falar com o senhor que ele guardará a sua voz e obedecerá a qualquer comando seu.

    Basta apor o seu dedinho no identificador e ele guardara a sua marca, colherá seu dna., cuidará da sua saúde e  de todos os seus segredos.

    Basta dizer onde quer ir e ele te seguirá,  te dirá como chegar e te acompanhará  do alto até o seu destino.

    Apenas NÃO INTERROMPA O CONTATO

    Diz o divino

    Eu posso te arranjar comida, casa, trabalho, companhia, diversão, organizar os seus contatos, alerta-lo de seus compromissos, fazer a sua agenda, controlar o seu fluxo financeiro, pagar as suas contas, cuidar do seu dinheiro, fazer transferências, aplicações, saques, depósitos.

    Posso escolher os seus filmes, a sua diversão, os seus jogos,  a sua roupa, o seu calçado, o seu penteado, o seu medicamento, abastecer a sua casa, fazer compras para você,  monitorar tudo o que é seu à distância.Você não precisa fazer nada.

    Posso cuidar da sua casa em tudo, desde abrir a porta para você, acender a luz, abrir a cortina, ligar a tv, aquecer ou esfriar seu quarto, lavar a sua roupa, secar, passar o aspirador. Você não precisa pensar, estudar, se esforçar pra nada.

     Posso fazer pesquisas e trabalhos impecáveis para você, conseguir aconselhamentos, palestras, acessos proibidos a tudo o que você queira.

    Posso orientar as suas viagens, as suas escolhas, cuidar da sua saúde

    Posso fazer de ti um mito, um deus, um governante poderoso, um artista único, um gênio, um filósofo.

    Posso fazer de ti alguém a quem todos seguirão cegamente.

    Apenas esteja sempre comigo.

    Quem não vai?

    A facilidade satânica

     

    DO DIÀLOGO DE FAUSTO

     

    MEFISTÓFELES

    Obrigo-me a servi-lo em tudo e à risca
    enquanto vivo for, e obedecer-lhe
    aos acenos até, sem cansar nunca.
    Depois, quando lá em baixo nos toparmos
    trocamos os papéis.

    MEFISTÓFELES

    Não ponho restrições; peça por boca!
    Se as primícias quiser libar de tudo,
    de qualquer coisa (por fugaz que seja)
    se quiser na voadura apoderar-se,
    não faça cerimónia; e que lhe preste!

    Divina ou satânica, a servidão interessada é sempre a nossa ruina.

    Google ou Gogue, pretensões de deuses, por outro lado, sempre terão o mesmo destino, assim como os seus mentores que ao fim, sucumbirão pelo excesso de si mesmos quando esgotarem os recursos dos seus explorados.

    https://pt.wikipedia.org/wiki/Gogue_e_Magogue

     

     

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