Wilson Ferreira
Wilson Roberto Vieira Ferreira - Mestre em Comunição Contemporânea (Análises em Imagem e Som) pela Universidade Anhembi Morumbi.Doutorando em Meios e Processos Audiovisuais na ECA/USP. Jornalista e professor na Universidade Anhembi Morumbi nas áreas de Estudos da Semiótica e Comunicação Visual. Pesquisador e escritor, autor de verbetes no "Dicionário de Comunicação" pela editora Paulus, e dos livros "O Caos Semiótico" e "Cinegnose" pela Editora Livrus.
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Receita para fazer uma Revolução Popular Híbrida… mas não conte para a esquerda!, por Wilson Ferreira

por Wilson Ferreira

“Primaveras”, “levantes”, “jornadas”, “protestos”, não importa o nome. Egito, Ucrânia, Síria, Brasil: em todos eles, a mídia corporativa viu os acontecimentos sob a narrativa do “espontâneo”, do “novo”, da “renovação na política”. E sempre pelo mesmo viés: a “velha política” não conseguiria dar mais conta das insatisfações, principalmente dos jovens. O roteiro de todas essas “primaveras” é praticamente idêntico (ONGs e fundações educacionais dando apoio financeiro e operacional, jovens lideranças formadas em universidades dos EUA, faixas e cartazes em inglês, vítimas em manifestações principalmente femininas, vazamentos oportunos do Wikileaks etc.) sugerindo algo como uma receita de bolo com ingredientes bem definidos.  Propaganda, branding management, técnicas avançadas de psicologia de massas fermentam toda essa “espontaneidade” com objetivos geopolíticos bem definido contra o governo-alvo. Mas não conte para a esquerda – afinal, tudo não passa de “teorias conspiratórias”.

Em uma sequência do filme MIB – Homens de Preto o agente Kevin (Tommy Lee Jones) introduz o novo agente James (Will Smith) na Organização. Kevin para em uma banca de jornais e folheia um tabloide sensacionalista. “Vamos ver os relatórios”, diz diante do incrédulo agente James. Percebendo a estranheza do pupilo, Kevin explica: “são as melhores fontes do planeta… às vezes também se encontra algo no New York Times”.

Tão previsível e clichê como o último atentado em Barcelona (sempre com a mesma narrativa ao mesmo tempo fatal e enfadonha que caracterizam os “não-acontecimentos”, “false flags” e “inside Jobs”) são também as “revoltas populares” ou “primaveras” que nos últimos anos pipocaram em países como Jordânia (2013), Egito (2013), Ucrânia (2014), Georgia (2003), Hong Kong (2014), Síria (2012), Tunísia (2010), Líbia (2011) e, finalmente, Brasil (2013-16).

O modelo desses “levantes populares” de protestos desse século estão lá no século passado como a “Primavera de Praga” na Checoslováquia em 1968 ou a chamada “Revolução de Veludo” no Leste Europeu em 1989.

Previsíveis e com uma narrativa tão fixa e recorrente que falar sobre isso sempre faz o locutor ser rotulado de “sensacionalista” ou “teórico da conspiração”. Mas, principalmente as esquerdas, deveriam seguir o conselho do agente Kevin: há mais verdades nas maquinações conspiratórias e sensacionalistas do que na séria Ciência Política.

“Primaveras”, “levantes”, “jornadas”, “protestos”, não importa o nome. Em todos eles, sempre a cobertura midiática relata os acontecimentos sob a narrativa do “espontâneo”, do “novo”, da “renovação na política” ou, como no recente giro de “primaveras” pelo planeta, do papel das novas tecnologias digitais (redes sociais e dispositivos móveis) nesse processo. E sempre com o mesmo viés: a “velha política” supostamente não conseguiria dar mais conta das insatisfações, principalmente dos jovens.

 

A cilada do “novo”

E as esquerdas e intelectuais acabam sempre caindo nessa cilada do “novo”. Por exemplo, durante as “jornadas de junho” em 2013 esse humilde blogueiro assistia, incrédulo, professores da ECA/USP rumando para a Avenida Paulista para sentir, de dentro das manifestações, o irromper do “novo” na política brasileira, que a supostamente carcomida política tradicional não conseguiria enxergar.

Por isso, as esquerdas parecem evitar discutir esse assunto: uma guerra híbrida da geopolítica dos EUA por trás das “primaveras”? Isso é “teoria conspiratória!”, “sensacionalismo!”, teme a esquerda, talvez preocupada em ser levada à sério para ganhar espaço em colunas e entrevistas na mídia corporativa e não ser confundida com “chavistas” ou “bolivarianos”.  

E toca a fazer “autocrítica” dos supostos “erros de avaliação” por não ter dado “respostas” ou informações “na hora certa” para a opinião pública. 

Agentes políticos surgem do nada, em geral vindos de alguma universidade norte-americana e turbinados por alguma ONG ou fundação financiada por algum empresário brasileiro com preocupações na área da “educação”. Enquanto isso, a esquerda ou patina nas incansáveis auto-avaliações (lembrando as impagáveis sequências das reuniões da inerte e burocrática Frente de Libertação contra a dominação romana do filme A Vida de Brian do grupo Monty Python) ou joga fora jovens lideranças com origens na própria esquerda. 

 Então, esse Cinegnose vai dar uma humilde e didática contribuição descrevendo uma receita para criar o bolo das revoluções populares híbridas, diretamente inspirada nas chamadas “teorias da conspiração”.  

Se o agente Kevin estiver correto, as melhores fontes de informações do planeta estão nos tabloides sensacionalistas… mas não conte para a esquerda!

 

Receita para fazer uma Revolução Popular Híbrida (RPH)

Ingredientes:

 
  • Toneladas de dólares da CIA, MI6 e/ou George Soros e/ou irmão Koch
  • Empresários nacionais financiadores de Fundações, principalmente em áreas de Educação e Meio Ambiente
  • Grupos nacionais de defesa de “Direitos Humanos” ou “Pró-Democracia”
  • Jovens universitários idealistas e aspirantes libertários facilmente manipuláveis
  • Faixas profissionalmente confeccionadas e escritas em inglês
  • Agentes provocadores violentos para ação direta – black blocs ou policiais infiltrados (P2)
  • Jornalistas corrompíveis ou chantageáveis
  • Políticos corrompíveis ou chantageáveis
  • Acadêmicos corrompíveis ou chantageáveis

Modo de preparação

 

Passo 1

Despachar agentes da CIA, de ONGs turbinadas por George Soros e/ou irmãos Koch para a nação alvo. Eles poderão facilmente se passar como estudantes de intercâmbio, turista, ativista comunitário, jornalista, empresário, diplomata. O que importa é ser criativo.

 

Passo 2

Inicie ONGs no país-alvo. Use pretextos humanitários como “Pró-Democracia”, “Direitos Humanos”, “transparência” ou “Liberdade de Informação”. Contate empresários brasileiros que financiam fundações, principalmente na área educacional. Aquelas organizações com ideais altruístas como “formar gente boa que capacita jovens para mudar o Brasil” ou “comprometida em formar líderes no País”. 

Baixando do céu das boas intenções e colocando em prática na Terra, essas organizações tornam-se úteis para ter em mão aqueles “jovens idealistas” (vide ingredientes) no bolo final da Revolução Popular Híbrida. Essas organizações acabam dando cobertura para descontentes locais e idealistas ingênuos.

 

Passo 3

Recrutar a rede de traidores nacionais – alvos intelectuais, políticos e acadêmicos e, se possível, militares. Suborno é uma boa maneira para formar essa rede. Se não for suficiente, chantagear aqueles que têm alguma mancha na sua privada ou profissional é a solução mais drástica.

Agora estamos prontos para começar a cozinhar!

 

Wilson Ferreira

Wilson Roberto Vieira Ferreira - Mestre em Comunição Contemporânea (Análises em Imagem e Som) pela Universidade Anhembi Morumbi.Doutorando em Meios e Processos Audiovisuais na ECA/USP. Jornalista e professor na Universidade Anhembi Morumbi nas áreas de Estudos da Semiótica e Comunicação Visual. Pesquisador e escritor, autor de verbetes no "Dicionário de Comunicação" pela editora Paulus, e dos livros "O Caos Semiótico" e "Cinegnose" pela Editora Livrus.

9 Comentários

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  1. Já está ficando meio delirante

    Não é por nada, não, mas algumas premissas/hipóteses do autor parecem um pouco inconsistentes, meio delirantes.

    Tudo bem que há planos de desestabilização, mas isso sempre houve.

    O autor nada menciona sobre a mais completa omissão, no nosso caso, do governo atacado e inerme.

    Posso concluir, então, que ele fazia parte da jogada desestabilizadora? Posso chegar até aí, não?

    O ponto de vista do autor às vezes é interessante, má que se ter limites razoáveis nessas elucubrações para que não se resvale para o delírio.

  2. Uma revolução para chamar de sua

    O que me chamou atenção em relação a todas essas “revoluções”, incluindo o Brasil, é que a imprensa em geral divulgou tudo isso como ares de um novo tempo, grandes mudanças e a juventude e as sociedades acordando etc. Passado essa catarse, o que se tem, em todos esses paises, é o caos e a terra arrasada. E nenhum jornal, radio ou tevê, com rara exceção, se pronuncia sobre o que realmente aconteceu no mundo neste segundo metade do século XXI.

    1. uma…..

      Enquanto isto, Cabralzinho filho de Cabralzão, perseguido politico da Ditadura, faz pactos e trambiques com a Família Barata, “dona” da liberdade e locomoção pública dos cariocas, adquirida em tempos ditatoriais e nunca extinta.  E Maiazinho filho de Maiazão ou César Maia para os íntimos, outro perseguido político do Regime Militar, faz complô com a Direita para derrubar Dilma e levantar Temer, membro honorário e histórico de OAB. Outra Entidade que até ontem pavoneada como Liberal, Democrática, Anti-Ditadura e Progressista (para não dizer sócia da esquerda). Deve ser tudo complô da Direita ou de Malufistas. Ou coisa da CIA. O Brasil se… bem o Brasil é isto de 40 anos de tal redemocratização e Constituição Cidadã. A culpa deve ser do Trump.   

    2. Tá na cara que a imprensa

      Tá na cara que a imprensa ocidental faz parte da conspiração! Basta observar a posição deles em todos os aspectos que não estão de acordo com seus objetivos. Para exemplificar: a nova proeminência da China, a condenação da campanha militar russo-iraniana para estabilizar a Síria (e manter Assad no poder), mesmo quando o ISIS é o desestabilizador, a posição dual e incoerente no que tange aos direitos humanos na Arábia Saudita e na Coreia do Norte, e etc.

  3. Não existe nenhum ato do

    Não existe nenhum ato do Estado norte-americano que não vise o aumento de seu poder em favor das corporações financeiras e  em detrimento dos povos do mundo, inclusive em detrimento da maioria do povo norte-americano. Não é teoria, é fato.   

  4. Adorei quando você rotula de

    Adorei quando você rotula de certa cegueira a Ciência Política. Fez parte do arsenal da conspiração planetária a especialização exagerada da formação acadêmica, tal como ocorre nos EUA. Como o velho Brizola dizia: “É melhor observar a floresta por inteiro do que a raiz de uma árvore com uma lupa” (mais ou menos isto). Dividir para conquistar é um lema tão velho quanto o César romano…A criação de rótulos (memes) como: nazista, comunista, etc, contorna a necessidade de uma explanação racional e cala o raciocínio. Outro dia vi um(a) idiota dizer que o Lula comunista se inspirou em Hitler! Argh! Haja saco!

  5. Raciocínio completamente de

    Raciocínio completamente de esquerda. Isto é, se preocupar com o aspecto das manifestações serem provocadas pelo imperialismo americano e ficar focado nisso…

    Óbvio que foram estimulados e financiados pelos EUA. Todo mundo viu os vídeos de blogueiras “brasileiras” que moravam nos EUA fazendo campanha para boicotar a copa, vídeos estranhamente bem feitos e editados que pareciam serem feitos por agências de propaganda de alto nível.

    Mas o importante a ser observado é o fato da motivação ser endógena. Isto é, a insatisfação das pessoas com o sistema político brasileiro não foi incutida artificialmente pela CIA, ela existia e existe de fato como consequência das mazelas internas. É isso que o governo, a esquerda e os políticos em geral, de direita inclusive, devem focar e procurar resolver…

    …Nas artes marciais se usa a energia do seu oponente a seu favor. Este é um segredo muito mais valioso do ficar atento a frases de efeito que saem da cabeça de roteiristas de filmes. Aliás, filmes americanos.

  6. Prezado Wilson, na série 3%

    Prezado Wilson, na série 3% os sinistros são cooptados ao final. Isso também faz parte da RPH ou seria por atávica missão dos sinistros escreverem a História com  a mão direita, a exemplo de Serra, Aloisio, Jungman, Freire e diversos comentaristas de blogues de esquerda ?

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