Redatores do Le Monde se demitem por discordância com diretora

Sugerido por L1

Do El País

Sete redatores-chefes do ‘Le Monde’ se demitem por discordar da direção

Os jornalistas do jornal francês afirmam que perderam a confiança em Natalie Nougayrède e exigem um método de trabalho mais coletivo e funcional

MIGUEL MORA

A crise já tinha começado há alguns meses, alguns meios de comunicação antecipavam que vários redatores-chefes estavam se insubordinando contra a diretora do jornal, Natalie Nougayrède, e nesta terça-feira a notícia explodiu criando um estrondo considerável. Dos onze redatores-chefes que o Le Monde tem, sete se demitiram de suas funções por meio de uma carta à direção e à empresa na qual explicam que estão há meses alertando contra “as graves disfuncionalidades, a falta de confiança e a de comunicação com a direção do jornal”, e asseguram que já não podem cumprir as tarefas que têm por cumprir.

Os redatores que se demitiram acusam Natalie Nougayrède de ter começado um plano de reestruturação que prevê 57 mudanças de postos sem que haja um consenso com a Redação; mostram seu desacordo com a nova fórmula eleita para a edição em papel, que devia ser colocada em prática neste primeiro semestre mas foi adiada para setembro, e assinalam que o projeto do diário para os tablets foi “retocado” por um dos três acionistas do Le Monde, Xavier Niel, que, além disso, é presidente da empresa de telefonia Free.

O problema, no entanto, é o teórico isolamento de Nougayrède e seu número dois, Vincent Giret, que, segundo fontes da redação, não se comunicam com as diferentes equipes e veem como todos seus projetos editoriais são recusados e combatidos pelos jornalistas.

A crise surgiu no segundo semestre do ano passado, quando alguns redatores-chefes ameaçaram se demitir; na última semana, a Mediapart publicou um relatório da empresa Technologia, especializada em avaliar e prevenir os riscos trabalhistas, que revelava que o mal-estar dos redatores-chefes não parece ser por acaso. O relatório afirma que “a direção não dá respostas claras” e que a redação tem a sensação de que “a organização está sem fôlego”.

No domingo passado, segundo conta o Libération, Natalie Nougayrède chamou de “golpistas” os redatores-chefes que se demitiram durante uma tumultuada reunião. A jornalista, grande especialista em assuntos relacionados à Rússia e em conflitos bélicos como o da Chechênia, foi eleita por 90% dos votos da redação em março de 2013, depois da morte súbita por infarto do anterior diretor, Érik Izraelewicz, em novembro de 2012.

Nougayrède, que nunca dirigia equipes, conseguiu em seu primeiro ano dar um novo voo jornalístico ao Le Monde. O jornal é mais ágil e atrativo, suas matérias mantêm o rigor, a boa escrita e o tom didático que lhe caracterizam, a página na internet está mais bem desenhada e incorporou novas ferramentas para facilitar a leitura, e a informação internacional tem um espaço muito destacado.

 Mas, segundo afirmam em um comunicado conjunto os dois comitês de redatores do Le Monde, ocorreu “uma perda global de confiança na governança do jornal”, e existem “problemas de método e organização que exigem uma reestruturação da cúpula”.

Os redatores sugerem aos acionistas “que é hora de começar uma direção coletiva e funcional”, e exigem “que os que fazem o trabalho sejam realmente escutados”.

Redação

8 Comentários

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  1. Depois de ler o artigo,

    Depois de ler o artigo, continuo boiando.

     

    Tem outro artigo para falar o que realmente está acontecendo?

    Esses posicionamentos oficiais não esclarecem nada.

    1. Cortes

      O que esta acontecendo com Le Monde é o que esta ocorrendo em toda imprensa escrita pelo mundo: perda de leitores. Em outros jornais, a perda de leitores ocorreu pela perda de identidade desses jornais, quando não de sua credibilidade.  

      No Le Monde de terça-feira desta semana, fizeram uma reportagem de pagina inteita com Pepe Mojica, seu governo e estilo espartano. Daquelas reportagens que a gente recorta e guarda. Jornalismo com J maiusculo, que no Brasil, hoje, sinceramente, so é possivel encontrar na Carta Capital e, dependendo do assunto, nunca sobre o socialista Mojica, no Valor ou no Globo. Faz falta esse Jornalismo. 

  2. Cursinho

    A direção do Le Monde deveria vir aqui ao Brasil e fazer um curso com os magnatas do nosso glorioso PIG.

    Algo do tipo “Mantenha seus empregados bem pagos, porém descalços. A linha editorial jamais será questionada”.

  3. O retrato da realidade

    O retrato da realidade ocidental poderia resumir-se a edição de um único jornal global. Editado em Washington e traduzido para os países satélites em suas línguas natal , pouparia leitores e profissionais; Os primeiros , do esforço para  interpretar mensagens subliminares e os segundos , de fingirem independência …. 

  4. “É horrível. Eu tomo meu café

    “É horrível. Eu tomo meu café da manhã na França ouvindo rádio. Não sei como meu estômago aguenta. Tento ler um pouco o Le Monde, mas está cada vez pior. É pura propaganda. Repetem o mesmo mantra: diminuir os custos do trabalho e cortar os gastos sociais. Não há alternativa, repetem à exaustão”

    Gérard Duménil, pesquisador do Centre National de la Recherche Scientifique (CNRS), que veio a Porto Alegre para lançar seu livro “A Crise do Neoliberalismo”, lançado no Brasil pela Boitempo Editorial

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