Reflexões sobre a mídia atual

Assim se faz jornalismo…vivendo e vivenciando onde os fatos acontecem. Abs.

Do swissinfoch.com

Mais mídias para leitores mais inteligentes

Por Marc-André Miserez, swissinfo.ch

Grande repórter, adepto de estar informado sobre o país onde trabalha, Serge Michel prepara a mudança de Genebra para Paris.

Ele vai passar do jornal suíço Le Temps para o francês Le Monde, onde foi nomeado diretor-adjunto das redações. Na entrevista à swissinfo.ch ele faz reflexões sobre a mídia atual.

Depois de ter passado vinte anos na quietude da cidadezinha suíça de Yverdon-les-Bains, nas margens do Lago de Neuchâtel, Serge Michel teve “vontade de ir mais longe”. Era em 1989.
 
Em duas décadas, o jovem jornalista cobriu a abertura dos países do Leste Europeu, deu a volta à Europa, contou os conflitos do Oriente Médio, Zurique, os Bálcãs, a invasão do Iraque, África e seus novos amigos chineses e sobretudo o Irã. Em 2001, ele foi o primeiro suíço a receber o Prêmio Albert Londres, uma das mais prestigiosas recompensas da imprensa francesa.
 
“Em todo caso, não é andar por andar. Quando vou a algum lugar, é para compreender o que acontece”, conta Serge Michel. E para compreender, é preciso ficar muito tempo.
  
Em 2005, quando as periferias das grandes cidades francesa estavam em convulsão, Serge Michel alugou uma quitinete e fez transitar por ali metade da redação da revistaL’Hebdo, chefiava por ele. A ideia, afirma, “era de acordar no lugar e não de chegar como um cabelo na sopa às 11 horas, vindo de uma redação em Paris”. O Bondy Bloghoje é feito por uma equipe do bairro e a experiência provoca muito barulho na França.
 
Nomeado em fevereiro de 2011 para dirigir o Le Monde, Erik Izraelewicz propôs a Serge Michel de trabalhar com ele em Paris em ele aceitou, depois de muita reflexão. “Estou no Le Temps (como redator chefe-adjunto) há apenas um ano e tem vários projeto que eu queria concretizar. Ao mesmo tempo, a  oferta do Monde é realmente interessante porque permite de agir em um jornal num momento crucial para seu futuro”, explica o jornalista.

swissinfo.ch:O New York Times falou do “Bondy Blog” como exemplo de “novo jornalismo”. Você prefere o terno jornalismo de “imersão”. Por que?

Serge Michel: Penso que o bom jornalismo é forçosamente imergido. É preciso entrar no mundo das finanças para contar de maneira interessante e inteligente. Um bom crítico de cinema deve estar no meio, com os diretores, os atores e os cenaristas.
 
Eu morei três ou quatro anos no Irã para ter amigos iranianos, para me levantar de manhã em Teerã e compreender a realidade desse país de outra maneira de quem passa dez dias como enviado especial, em um hotel. Quando se faz jornalismo rápido, geralmente é ruim. Isso porque somos tentados a reproduzir clichês.
 
Mas é preciso dizer que a imersão também tem riscos como a empatia e de não conseguir tomar uma certa distância. Ora, o interesse do jornalismo não é de aderir a cada causa que a gente crê ou cada pessoa que se encontra. A distância é a segunda regra de base desse ofício.

swissinfo.ch: Nem todas as redações ter recursos para trabalhar assim!

S.M.: A maioria das redações não tem realmente recursos para que jornalistas que viajam sem que suas produções sejam previstas e massivas. Imaginemos ter hoje alguém que consegue um visa para a Síria. Você espera em quatro ou cinco dias que ele envie de cinco a seis artigos. Nesse ritmo, é impossível se impregnar e o enviado especial vai contar histórias superficiais ou de atualidade, que ele talvez já tenha lido anteriormente.
 
Quando somos independentes, corremos pessoalmente o risco de encontrar o que procuramos. Somos como o pescador que arma a rede no mar, mas não sabe o que vai trazer. E é nisso que, às vezes, há boas surpresas.

swissinfo.ch: Apesar disso, com a internet, as redes sociais e outras novas mídias, você diria que a oferta global de informação é hoje mais rica do que 15 anos atrás?

S.M.: Claro que sim. Antes, o jornal tinha o monopólio da informação, dividido apenas com o rádio e a televisão. Hoje o leitor é muito mais autônomo, mais curioso do que antes. Os jornais então são obrigados de oferecer mais e melhor. Há ainda a área da informação não profissional, a mídia cidadã, com exemplos bastante interessantes.
 
Penso também que o enriquecimento da oferta tornou os leitores mais inteligentes e mais maduros. Eles têm uma exigência maior das fontes de informação, mais ou menos como os traços da carne: queremos saber de onde vem o boi que comemos.

swissinfo.ch: Dentro de alguns dias, você assume o cargo de diretor-adjunto do Le Monde. Uma das funções será aproximar as redações impressa e a online?

S.M.: O Le Monde decidiu, dez anos atrás, criar duas redações distintas. A redação em papel tem quase 250 jornalistas e 50 jornalistas fazem o site internet. Há pouca interação entre ambas.
 
A ideia é explorar o potencial para fazer um jornal mais reativo e vivo, graças ao web, e um site mais rico pela especialidade do jornal impresso. Acho que com as qualidades já verificadas das duas equipes, teremos o melhor dos Mondes.

swissinfo.ch.Com a evolução da maneira de consumir a informação e o crescimento das novas mídias, que futuro tem o jornal impresso?

S.M.: Durante muito tempo o leitor teve de se adaptar a seu jornal. Aceitar que ele tenha uma hora para fechar a edição, uma hora para a entrega do jornal ou o formato das páginas que era preciso aprender a folhear no ônibus ou no metrô.
 
Hoje a relação de forças se inverteu. É o jornal que deve seguir o leitor. Se o leitor sai muito cedo de casa, o jornal tem de dar um jeito para que seu conteúdo chegue ao leitor por telefone ou sua tablete para que ele possa ler no trajeto para o trabalho. O jornal de tornar-se disponível (e se atualizar) a cada instante que o leitor poderá lhe dedicar, porque as pessoas têm menos tempo para a informação. 
 
Mesmo assim, o papel tem um grande conforto de leitura. Tenho a impressão que os jornais impressos serão forçados a serem mais seletivos no futuro. Abandonar o noticiário de agências ou os resumos escritos rapidamente de coletivas de imprensa. Isso será para o web e o impresso deverá ter mais qualidade e análises de perspectivas.

Luis Nassif

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