Renan e a mídia: uma história de amor

O que os grupos de mídia, Renan Calheiros, Henrique Alves, Álvaro Dias e Pedro Taques têm em comum? Tudo. Representam a face da mesma moeda: um modelo político velho, superado e que resiste em dar espaço ao novo.

Junte-se ao grupo o atual formato do Executivo, e se terá todos os protagonistas de uma estrutura de poder que já se esgotou. Nela, as demandas da sociedade – de grupos sociais mas, principalmente, de grupos econômicos – ainda passam por sua intermediação.

É por isso mesmo que, inimigos cordiais, todos se irmanaram no combate à Política Nacional de Participação Social – o decreto que Dilma Rousseff assinou a contragosto, pressionada pela necessidade de dar uma resposta às manifestações de junho de 2013.

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Mais sábio e mais safo dos políticos, em 2009, em uma entrevista memorável o então presidente do Senado José Sarney já prognosticava os novos tempos.

Historicamente, mídia e políticos disputaram a primazia de quem falava pela opinião pública. Dos anos 90 para cá surgiram as organizações sociais que passaram a falar com muito mais autoridade que os políticos em relação aos temas que defendiam. Agora, será a vez das redes sociais ocuparem o espaço da mídia, disse Sarney em 2009.

É esse sentimento, de perda de protagonismo, que coloca do mesmo lado velhos inimigos cordiais.

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Tome-se o exemplo da Conferência Nacional da Mídia. O encontro juntou ativistas digitais, representantes das teles, da ANJ (Associação Nacional dos Jornais), da Abert (Associação Brasileira das Empresas de Rádio e Televisão).

Todos tiveram que jogar às claras  e negociar com as demais partes envolvidas.

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Qual seria a forma tradicional de atuação das teles? Uma delas seria articular o lobby junto aos grupos de mídia. Outra, a de montar lobby no Legislativo através do PMDB de Eduardo Cunha. Uma terceira, acertar o lobby no Executivo através do Ministro Paulo Bernardo. Aliás, o que têm feito com competência.

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Outro exemplo do confronto entre o novo e o velho:

A Conferência de Educação reuniu ONGs do setor privado, sindicatos da categoria e conseguiu, depois de muita discussão, um consenso inédito no setor: o professor tem que ser bem remunerado e ter as melhores condições de trabalho; atendidos os dois pressupostos, têm que ser avaliado e cobrado.

É a garantia de continuidade na política educacional, independentemente do governo de plantão – como já ocorre com a saúde. Não definem leis, mas consolidam consensos, recomendações, legitimam demandas.

A Conferência definiu a Meta 4, tornando obrigatória a aceitação de crianças com deficiência pela rede regular de ensino. O que a velha política fez? Dilma pressionou pessoalmente senadores para flexibilizar a meta atendendo a pedido de Gleize Hoffmann, candidata ao governo do Paraná.

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Hoje em dia, existem diversos conselhos empresariais reunidos no âmbito da ABDI (Agência Brasileira para o Desenvolvimento Industrial) subaproveitados, enquanto do Executivo pululam decretos sobre a indústria, mal elaborados justamente pela ausência de interlocução com o setor privado.

É esse o modelo que se quer preservar?

Varguismo, bolivarianismo e outros ismos são meros álibis. O que move essa resistência é o medo da transparência.

Luis Nassif

20 Comentários

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  1. Congresso e os 595 umbigos

    Nassif,

    Os 595 do Congrsso Nacioanl já tiveram melhores perspectivas.

    Quando preciam se mexer, sair daquele marasmo, o negócio complica, pois as entes daqueles líderes já estão carcomidas, não conseguem nada que não seja olhar para o próprio umbigo.

    Daí o pavor de todos eles em relação a uma pretensa reforma política, é o mesmo pavor que sentem em relação a qualquer demanda de interesse direto da sociedade brasileira, ou seja, pavor de tudo que não atenda a eles parlamentares.

    Se José Sarney se antecipou aos novos tempos, o mesmo deve ocorrer com  Fernando Collor e FHC, pois aquele trono ensina muito àqueles que o ocupam. 

      1. Esquecimento absurdo

        evandro,

        Fui esquecer logo dele, o Grande Lula, falha grosseira.

        Obrigado pelo puxão de orelhas, e trate de torcer, porque hoje comrça a caminhada

        Um abraço 

  2. Bateu o desespero

    Ontém vi o Alexandre Garcia defender a quebra da legalidade no ar, quando entrevistou o presidente do TSE.

    Perderam a calma, estão desesperados, o modelo esboroou.

    Existe um clima de revolução no planeta contra o dogmatismo dos políticos tradicionais brasileiros e seus sucessores.

    Minha dúvida é se a transição será pacífica ou veremos um banho de sangue.

    Dilma, acorda!

  3. Renam já  foi bonito quando a

    Renam já  foi bonito quando a mídia no desespero de impedir o sapo barbudo de chegar ao poder catapultou o caçador de marajas e sua trupe ao poder, manteve o brilho quando desembarcou da aventura colorida logo que ela começou a fazer agua, atingiu o auge da beleza quando foi ministro de Fernando II o apagador, depois foi ficando feio a medida que passou a apoiar a nova força emergente contra a qual a mídia se mobilizou, e ficou horroso quando  manteve o apoio a bulgara vermelha, acho que agora a mídia e seus macaquinhos amestrados vão novamente enxergar beleza no até então corruPTo senador alagoano. 

  4. Judiciário

    Na lista faltou Gilmar Mendes, que mostrou claramente o caráter político do atual Judiciário. Ao ser entrevistado, declarou-se contrário ao Conselho, na medida em que o Congresso estaria sendo enfraquecido. Sabe que é justamente lá, em conluio com o Judiciário, que se eterniza o Acordo de Elites que governa esta Federação de Corporações.

  5. Medo da transparência e de perder o poder que existe hoje

    Isso não pode ser desprezado. O poder é fundamental. Quem hoje decide as questões por milhões de pessoas não vai aceitar com tanta tranquilidade dividir democraticamente as decisões com o povo.

    Eu concordo com o esboço da Política Nacional de Participação Social – PNPS, como foi tratada no Decreto nº 8.243/2014.

    No entanto, as críticas com relação à constitucionalidade do referido Decreto tem sim razão de ser. Não era matéria para ser veiculada por decreto. A discussão tinha que obrigatoriamente passar pelo Legislativo. Ali é matéria para ser lançada no ordenamento por meio de lei. Decreto existe para regular direitos que já foram criados anteriormente por lei. Não pode inovar no ordenamento jurídico brasileiro da forma que fez o Decreto nº 8.243/2014. Isso é matéria para o Legislativo.

    O Executivo extrapolou e passou por cima da competência do Legislativo. Nem o art. 84, incisos IV e VI, da Constituição Federal, muito menos os arts. 3º, caput, inciso I, e 17 da Lei nº 10.683/2003 autorizam o que foi feito.

    A Política Nacional de Participação Social – PNPS tem que ser criada por lei aprovada pelo Congresso Nacional. É o ambiente natural onde tais temas devem ser discutidos. A forma de exercer a participação popular foi substancialmente modificada para que o Legislativo pudesse ser colocado de lado. Isso pegou mal e soou anti-democrático. Neste sentido, as críticas são procedentes. O Decreto possui mesmo inequívoco vício de iniciativa e é, portanto, inconstitucional.

    Nem tudo é mera vontade. Existe uma racionalidade por trás das questões políticas. Enfim, existem razões para as coisas serem de uma forma e não de outra. Não dá simplesmente para impor a vontade.

  6. democracia direta

    O que a Dilma está tentando implementar com esse Decreto é o que está inserido na CF/88; qual seja, a participação da sociedade nas suas demandas mais elementares.

  7. Nada como o tempo para curar

    Nada como o tempo para curar velhas desafenças. Renan, o ex-fisiológico corrompido pelo petismo acaba de entrar para o seleto clube dos éticos do pig.

    Vai passar um bom tempo sem que folhear as páginas da Veja e dos jornalões estrague seu café da manhã. Que alívio, einh, senador?

  8. Nassif,
    Baseado em quê você

    Nassif,

    Baseado em quê você diz que a Pres. Dilma assinou o decreto ‘a contragosto’? 

    Cordial abraço.

  9. Dilma.

    Só não concordo com essa de a Dilma assinou o decreto a contra gosto, não é o perfiu da presidenta. Ela não faz nada a contra gosto. Depois não concordo também com essa de por todo mundo mundo no mesmo balaio, a Dilma está tentando fazer algo, os outros estão tentando impedir. 

  10. Os modelos político e o

    http://mahideia.files.wordpress.com/2011/07/palmas.png

    Os modelos político e o econômico faliram pelo mundo afora.

    Bachelet foi eleita depois de perder uma reeleição por não ter avançado na política distribuitiva mesmo a Chile tendo bombado economicamente no governo dela. Foi eleita nas últimas presidenciais com promessas de reforma no ensino. Resultado há dois dias grande manifestações contra o governo dela aconteceram.

    Manifestações na UE e troca de partidos nas sucessivas eleições.

    A economia não cresce no mundo.

    O mundo grita “tem que desconcentrar” seja na política, na economia, na distribuição de riqueza.

    1. E o acesso a Dilma e outros

      E o acesso a Dilma e outros integrantes do governo. E você não tem nem acesso a mim para poder te dar detalhes.

    2. Foi o painho que baixou

      Sera que Pai Moreno tera enviado suas premonições ou uma mensagem enigmatica ao Nassif ? Do “coisa ruim”,  Pai Moreno tudo vê, tudo sabe… 

      A verdade é que Luis Nassif é um jornalista bem informado !

  11. Que modelo de governo NOVO?

    Que modelo de governo NOVO? Esse que está ai?

    Não pode fazer greve, não pode fazer mnifestação na rua, apadrinhamento politico em todas as esferas de poder…

    Ha mas são minoria… Será? Ou apenas a minoria tem coragem de enfrentar gas de pimenta e balas de borracha da policia MILITAR?

    Tudo tem justificativa, a da vez é que não podemos passar uma imagem ruim para os estrangeiros, tudo tem de parecer que está ótimo.

    Isso para mim tem cheiro de coisa VELHA.

  12. O amor revelado na CPI do Cachoeira

    Quando da convocação da Veja para depor na CPI do Cachoeira, o Congresso Nacional beijou os pés dos coronéis da mídia, enquanto que na Inglaterra, por muito menos, o Murdoch se ferrou

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