Repórter Brasil está sob ataques virtuais

Patricia Faermann
Jornalista, pós-graduada em Estudos Internacionais pela Universidade do Chile, repórter de Política, Justiça e América Latina do GGN há 10 anos.
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O site da ONG, que tem como um dos responsáveis o jornalista Leonardo Sakamoto, teve reportagens apagadas e e-mails danificados
 
 
Jornal GGN – O site da Repórter Brasil está sob ataques virtuais. A invasão de hackers vem apagando reportagens da ONG (organização sem fins lucrativos) sobre trabalho escravo no Brasil desde a semana passada. Sob os cuidados de um dos seus coordenadores, o jornalista Leonardo Sakamoto, o site buscou autoridades para analisar e informar a origem do ataque.
 
A Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji) condenou os ataques e, em nota, cobra que as “​autoridades​ competentes​ identifiquem ​rapidamente ​todos os envolvidos na ação​ e aplique as sanções cabíveis”.  “A invasão em curso destrói informação jornalística e interrompe o trabalho dos repórteres da ONG. É ​um atentado, portanto, à liberdade de expressão e ao direito à informação”, afirmou a Associação.
 
Não é a primeira vez que a Repórter Brasil é alvo de ataques. No ano passado, ações judiciais censuraram a cobertura de resgates de trabalhadores em situação análoga à escravidão até ameaças​ a Sakamoto foram registradas.
 
Além de apagar reportagens, os invasores alteraram links, direcionando leitores a outras páginas fora do site e danificaram e-mails profissionais da organização. No momento, a ONG aguarda a resposta do Ministério Público Federal e da relatoria para Liberdade de Expressão da ONU, ambos órgãos notificados. 
 
Abaixo, a manifestação de Sakamoto, informando alguns do trabalhos da ONG que foram prejudicados:
 
Por Leonardo Sakamoto
 
A Repórter Brasil, organização de jornalistas, educadores e cientistas sociais que é referência no combate ao trabalho escravo e na promoção dos direitos humanos, teve seu portal invadido. Uma série de reportagens investigativas com denúncias contra importantes setores econômicos foram alteradas ou tiveram partes apagadas. E o site (www.reporterbrasil.org.br) foi retirado do ar mais de uma vez. A origem do ataque e seus objetivos estão sendo analisados e autoridades competentes já foram informadas.

O especial “Moendo Gente”, por exemplo, que mostra como produtos de frigoríficos flagrados com violações aos direitos trabalhistas chegaram a supermercados de todo o mundo, foi um dos alvos de ataque, tanto em sua versão em português quanto em inglês. De acordo com o Ministério Público do Trabalho, essa reportagem contribuiu para a mudança em normas, aumentando a proteção ao trabalhador. Além de conteúdos apagados, redirecionamentos foram instalados para que, ao invés das investigações contra setores econômicos, o leitor entrasse em outras páginas.

O ataque digital é mais uma etapa de uma campanha contra o trabalho da Repórter Brasil e de seus jornalistas. A campanha já incluiu processos judiciais por veicular ações de resgates de trabalhadores submetidos à condição análoga à de escravos, cumprindo sua missão de informar.

A campanha também envolve difamações sobre o trabalho da instituição, que há 14 anos tem sido responsável por pautar problemas trabalhistas e socioambientais entre a imprensa e a sociedade como um todo, e a denunciar o poder público dentro e fora do país. São calúnias produzidas no intuito de diminuir o impacto das denúncias trazidas pelas investigações e documentários da Repórter Brasil.

Isso sem contar as ameaças a um dos coordenadores da organização, Leonardo Sakamoto. Elas já foram comunicadas ao relator especial das Nações Unidas para defensores dos direitos humanos, ao governo brasileiro e ao Ministério Público Federal.

Infelizmente, o último ataque ao site não é algo que ocorra apenas contra a Repórter Brasil, mas ilustra bem a situação sofrida pelo jornalismo que investiga e torna público as graves violações aos direitos humanos.

Ataques assim estão se tornando cada mais frequentes, tanto nos veículos grandes e tradicionais, quanto nos pequenos e independentes. Tão importante quanto descobrir seus autores e puni-los de acordo com a lei é atuar na formação de leitores que sejam capazes de separar informação falsa e verdadeira, e defender uma imprensa livre como pilar fundamental da democracia.

Resta a nós, jornalistas, tornar essa discussão pública, continuar atuando na produção e circulação de informação de qualidade e denunciar quem tenta calar o jornalismo às autoridades.

Patricia Faermann

Jornalista, pós-graduada em Estudos Internacionais pela Universidade do Chile, repórter de Política, Justiça e América Latina do GGN há 10 anos.

7 Comentários

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  1. Talvez as pessoas que

    Talvez as pessoas que trabalham em instituições como polícia e MP interpretem tais ataques como coisinha boba, mais insignificante que aquela “bombinha’, que fez apenas um “buraquinho” na porta do Instituto Lula, como sentenciou o acadêmico ‘analista político’ Merv(d)al Pereira.

    1. Bem lembrado.
      Nem a polícia

      Bem lembrado.

      Nem a polícia de São Paulo nem a Polícia Federal vão dar uma satisfação sobre a autoria do atentado ao Instituto Lula?

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