Retrato (ou print-screen) do Brasil atual: block na fuça!, por Romulus

– o que o twitter tem a nos dizer sobre a malaise que nos aflige e nos separa

Por Romulus

7:30AM de domingo na Suíça. 2:30AM no Brasil. Acordo antes do despertador. Por que o sono me foge nos últimos dias? Ora, que pergunta…

Como de hábito, ainda grogue pego o celular para rápido passeio pelo Twitter. Ataca-me a taquicardia até conseguir me assegurar de que o Brasil não acabou enquanto dormia “tranquilo” ao pé dos Alpes. Tem sido essa a rotina todo dia.

Vou vendo um a um meus seguidos da imprensa familiar e da blogosfera. Procuro sempre a visão mais plural, mesmo que uma postura editorial esteja mais próxima de mim e da minha visão.

Dou falta de um, que teima em não aparecer na minha timeline. Decido procurá-lo. O resultado da minha busca é a foto – ou print screen melhor dizendo – que ilustra este post (link para o twitter aqui).

– Fui bloqueado por Jorge Bastos Moreno, de o Globo.

Sigo-o desde 2009, quando abri conta no Twitter. Leio sua coluna há muito mais que isso. Nem saberia dizer quanto mais, pois, tendo crescido no Rio e tido acesso aos então dois grandes jornais da cidade, certamente vi sua coluna mesmo antes de poder lê-la.

Na Suíça não se distribui O Globo. Dessa forma, minha relação com Moreno desde a infância foi cortada por um súbito BLOCK. Quando? Em algum momento entre a noite de ontem e a manhã de hoje. Pena… saiba ele que o meu sentido da ponte que nos liga continuará aberto.

Não há muito tempo para lamentar agora. Como pragmático que sou, corro disparado para fazer um “damage control”, i.e., um controle de danos, para evitar um mal maior. Vou direto a seu colega de casa e de ofício, Ricardo Noblat, relatar o ocorrido e fazer alguns pedidos.

Primeiro lhe peço que – antes de me bloquear ele também – diga-me que não tolera bem minhas críticas. São elas bastante contundentes, reconheço. Mas sempre educadas e embasadas em fatos e na visão crítica que Deus me deu e que a vida e a academia aprimoraram (ou pioraram?).

Em segundo, peço a Noblat que interceda junto a Moreno, para que esse reconsidere e desbloqueie o meu perfil no Twitter. Faço então a Noblat e a ele – e agora também aqui – a promessa de não mais o criticar. Nem mesmo sobre iluminação da foto de seu avatar, se ele assim quiser.

Ainda escrevendo a Noblat, ocorre-me um pensamento:

Ora, este é um retrato do Brasil atual. Polarizado, radicalizado e – mais importante – com pontes entre os polos derrubadas.

Como será possível reconciliação e entendimento entre aqueles que não se falam?

Nós todos fomos tragados por uma crise política sem precedentes desde 2014. Desde então nossos políticos – sem entrar aqui na discussão importante de quem começou e quem fez pior – resolveram deixar de lado a política. Mas que raios é essa tal política?

O Google me socorre e dá como uma de suas definições “habilidade no relacionar-se com os outros, tendo em vista a obtenção de resultados desejados”. Traduzo essas palavras como a arte de pressionar o outro pelo seu ponto de vista quando a conjuntura o permite e, da mesma forma, ceder à pressão do outro quando a conjuntura passa a lhe ser favorável e não a si. A conjuntura sempre muda. É da vida. Se se quer ser político (na vida comum ou como profissão) há que se aceitar esse baile de dois pra lá, dois pra cá. Alguns atributos facilitam: ter estômago forte para engolir e digerir, fígado leve para ajudar a desintoxicar e memória fraca para esquecer rápido os pisões que levou do outro no baile.

Pois bem. Nossos políticos – os “profissionais” desse ofício – perderam a ginga. Estão duros e não sabem mais dançar esse baile. Isso já é muito ruim. Mas pior ainda é que essa trava nas cadeiras ataca também a sociedade. Estamos cada vez mais suscetíveis a críticas e divergências, que causam reação contrária maior do que o saudável recomendaria.

Como já percebera há anos (tenho um maldito quê de Cassandra), as redes sociais têm muito a ver com isso. Estamos nos acostumando a ver timelines filtradas por algorítimos, que nos mostram o que se parece conosco e escondem o diferente. Já não temos tanta paciência para ouvir “na vida real” as opiniões daquele petralha/coxinha de que discordamos. Vamos nos afastando… às vezes de amigos de décadas. (Vivi isso em 2014 em primeira mão)

Onde isso vai dar, meu Deus? Não sei. Mas desconfio que não seja um lugar bom.

Será algo mais a deixar meu sono leve? Apesar da Primavera, ainda amena, chegando aos Alpes? (longo suspiro)

Melhor não pensar muito mais sobre isso agora. Então paro aqui e fecho o post repetindo meu apelo:

– Ô, Moreno! Logo você tão gaiato e bonachão… para de babaquice e me desbloqueia, rapá!

Saiba você que, mesmo não estando na política (profissional, bem entendido), minha memória para os pisões é fraquíssima – quase um Alzheimer – e esquecerei essa bobeira sua três segundos depois que você me desbloquear.

Se você assim o quiser, nunca mais o criticarei. É o preço a pagar. Não quero “ficar de mal”.

Estamos combinados? To aqui esperando.

Um abraço e se cuida nesse domingo de fortes emoções. 

Redação

14 Comentários

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  1. De minha parte, se o golpe

    De minha parte, se o golpe for oficializado, gostaria de ser capaz de bloquear a política na minha vida. Para mim, é impossível continuar tratando da política se ela está mediado pela moral penal. Nós não detemos o controle do campo penal e seremos sempre por ele criminalizados. Essa é a origem do seu e do meu block. Estamos do lado que não é criminoso, mas é criminalizado e os fariseus de plantão conferem a si mesmos o poder de nos encarcerar em solitárias. Não sei como a esquerda resistiu na ditadura, porque eu não estou aguentando nem na falsa democracia.

    1. Mas isso que você está

      Mas isso que você está vaticinando e que de fato e infelizmente pode estar se consolidando no Brasil não é política; é justamente o oposto dela. Entretanto, precisamos acreditar que isso vai mudar, ainda que talvez demore um pouco. O que não podemos é aceitar bovinamente a judicialização da política e a politização do sistema judiciário,sob pena de sermos todos condenados ao inferno. Razão tem mesmo Camus: precisamos imaginar Sísifo feliz. Continuemos rolando a pedra, quantas vezes for necessário.

  2. Bloqueado no Facebook

    Eu fui bloqueado em fazer algumas ações como comentar e postar fotos, por uma semana , na Facebook, contestei mas até agoar não obtive resposta.

  3. Orgulho

    Eu me orgulho muito de alguns Blocks. Fui bloqueado por Lobão, Roger, Roberto Freite, Moreno…e outros reacionários menos conhecidos. Tenho um block do Stanley Burburinho, acho que por engano, entrei no atacado em uma discussão em que estava do lado dele (rs).  Desploqueia aí Stanley.
    Mas o que eu mais me orgulho é esse aí de baixo. Acho que fui na veia do Gentile…me bloqueou rapidinho….kkk

     


  4. PACTO

    Prezado Romulus, não sou contra o pacto sugerido mais vezes pelo Nassif, só o considero inviável. O que aconteceu consigo é a prova do que penso. Se Jorge Bastos Moreno, o cordial, o bonachão, assim o tratou, imagine quando tiver que pactuar com Reinaldo Azevedo, Augusto Nunes e Felipe Moura Brasil? Não é melindre com suas críticas, nesse caso seriam aceitas, é que você simplesmente não pode fazê-las, bloqueado, ponto. Não quero nem imaginar o golpe vitorioso. Em sendo rechaçado hoje, que 172 deputados nos ouçam, não vou colocar Deus nessa sordidez, Dilma só tem que começar a governar, substituindo os mercadantes de seu atual governo por lulas, “criando assim uma conjuntura que perimita pressionar o outro com seu ponto de vista”. Grande abraço.

  5. Bloqueado é quem

    Copo Vazio  

    É sempre bom lembrar

    Que um copo vazio

    Está cheio de ar.

    É sempre bom lembrar

    Que o ar sombrio de um rosto

    Está cheio de um ar vazio,

    Vazio daquilo que no ar do copo

    Ocupa um lugar.

    É sempre bom lembrar,

    Guardar de cor que o ar vazio

    De um rosto sombrio está cheio de dor.

    É sempre bom lembrarQue um copo vazio

    Está cheio de ar.

    Que o ar no copo ocupa o lugar do vinho,

    Que o vinho busca ocupar o lugar da dor.

    Que a dor ocupa metade da verdade,

    A verdadeira natureza interior.

    Uma metade cheia, uma metade vazia.

    Uma metade tristeza, uma metade alegria.

    A magia da verdade inteira, todo poderoso amor.

    A magia da verdade inteira, todo poderoso amor.

    É sempre bom lembrar

    Que um copo vazio

    Está cheio de ar.

     

     https://youtu.be/Em9t116mOpA

  6. Tem importância?

    Quando se está aberto para o diálogo e ha maturidade para não fechar a questão, lamenta-se. Quando não tem remédio, remediado está.

  7. Eu não esqueço o fato,

    Eu não esqueço o fato, esqueço a pessoa. Ela deixa de fazer parte da minha vida.

    Golpista por opção, como o Moreno, não me fará falta, pois não me acrescenta nada.

  8. Eu não esqueço o fato,

    Eu não esqueço o fato, esqueço a pessoa. Ela deixa de fazer parte da minha vida.

    Golpista por opção, como o Moreno, não me fará falta, pois não me acrescenta nada.

  9. a única coisa que não podemos

    a única coisa que não podemos nloquear é a mente pára inventarmos

    saídas para esse turbulento momento nacional…

  10. Suiça

      Meu caro, é que vc. está na Suiça, portanto das duas uma :

      a) foi visitar as suas “verdes”

      b) foi procurar “verdes” de outrem.

       Ambas as opções acima são motivos validos para bloquea-lo.

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