Wilson Ferreira
Wilson Roberto Vieira Ferreira - Mestre em Comunição Contemporânea (Análises em Imagem e Som) pela Universidade Anhembi Morumbi.Doutorando em Meios e Processos Audiovisuais na ECA/USP. Jornalista e professor na Universidade Anhembi Morumbi nas áreas de Estudos da Semiótica e Comunicação Visual. Pesquisador e escritor, autor de verbetes no "Dicionário de Comunicação" pela editora Paulus, e dos livros "O Caos Semiótico" e "Cinegnose" pela Editora Livrus.
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Revisitando o 7X1 de Brasil e Alemanha: uma bomba semiótica na guerra híbrida?, por Wilson Ferreira

por Wilson Ferreira

“Massacre de Belo Horizonte”. “Mineiraço”. Ou ainda jocosamente “Mineiratzen” para nomear a inacreditável goleada de 7X1 da Alemanha sobre o Brasil na semifinal da Copa do Mundo no estádio do Mineirão em BH. Em meio a uma pesada atmosfera de radicalização política e ideológica iniciada pelas “jornadas de Junho” de 2013 que deram início a chamada “Primavera Brasileira”, a goleada encaixou-se tão perfeitamente em uma narrativa da mídia corporativa (um país à beira do abismo) e na sinistra cadeia de eventos (a queda do guindaste na Arena Corinthians, o “escândalo Edward Snowden, a queda de uma ponte em BH às vésperas do “mineiraço” etc.) que incendiou a imaginação dos teóricos da conspiração. Revisitado agora, três anos depois, a controversa goleada revela inúmeras “coincidências” e “conveniências” para aquele momento: uma goleada geopolítica, anomalias reveladas em vídeos, a “teratopolitização” tanto da presidenta Dilma como do técnico da Seleção Felipe Scolari e, agora, o coincidente destino de dois jogadores pivôs das “teorias conspiratórias” da época – Thiago Silva e Neymar: os dois no time francês PSG, comprado por empresa de investimentos do Qatar, sede da Copa do Mundo de 2022.

Essa postagem levou três anos para ser redigida. Em 08 de julho de 2014 ocorreu um evento tão peculiar, tão sem precedentes e tão bizarro que o primeiro impulso deste humilde blogueiro foi saltar para o teclado do computador e batucar algumas hipóteses conspiratórias. Hipóteses que quase de imediato começaram a pipocar nos blogs e redes sociais.

Mas o Cinegnose foi contido em função de um enorme problema em todas as “teorias da conspiração”: como estrelas milionárias do futebol brasileiro jogariam fora a chance de serem imortalizados como campeões mundiais, atraindo ainda mais dinheiro e contratos? É até compreensível denúncias de manipulações de resultados em torno de jogadores pobres em campeonatos africanos ou da América Central. Mas não com ricos astros internacionais. 

Porém, o 7×1 da Alemanha sobre o Brasil na partida semifinal da Copa do Mundo foi um resultado absolutamente anômalo: o futebol, por natureza, é um esporte com baixa pontuação (0-0, 1-0, 2-1 etc.), principalmente em jogos decisivos envolvendo forças futebolísticas equivalentes. 

Além disso, até aquele momento no histórico das copas do mundo, a defesa brasileira havia sofrido 89 gols em 97 jogos, uma média de menos de um gol por jogo. E em apenas um jogo, numa semifinal onde tradicionalmente forças equivalentes se enfrentam, a seleção tomou sete gols.

O chamado “massacre de Belo Horizonte” ou “mineiraço”, assim como todos os meses que antecederam desde a Copa das Confederações, foi acompanhado de pesada atmosfera política, iniciada com as “jornadas de Junho” em 2013 – manifestações de rua, polarização política, radicalizações ideológicas e a desestabilização do governo Dilma chegando à ingovernabilidade.

 

Além de uma “Operação Anti-Copa” posta em ação diariamente pela grande mídia (com direito a “barrigas” e “não-notícias” – clique aqui) com o objetivo claro de jogar pedras na vitrine internacional dos governos petistas (Copa e Olimpíadas), além de impedir qualquer clima de vitória e otimismo que facilitasse a reeleição da presidenta Dilma.

Efeito Heisenberg e esquizofrenia midiática

Naquele momento, a avaliação desse Cinegnose para o “massacre de Belo Horizonte” foi de que a Seleção foi vítima de dois fatores extra-esportivos: o chamado “efeito Heisenberg” (a Seleção pautada pelas exigências de cobertura midiática) e a esquizofrenia crônica da grande mídia – sabotar politicamente o evento e, ao mesmo tempo, faturar comercialmente com ele – clique aqui

Porém, três anos depois e colocando a bizarra goleada em perspectiva (principalmente após revelações dos detalhes que diariamente vem à tona de que a “Primavera Brasileira” fez parte de uma elaborada “guerra híbrida” planetária disparada pela geopolítica do Departamento de Estado dos EUA) não há como negar que o episódio foi, no mínimo, sincrônico e pleno de sentido. Alinhado com a sequência de causas e efeitos que era desencadeada com absoluta precisão. 

Até o desfecho, com o impeachment da presidenta em 2016 e a consumação do golpe político jurídico-parlamentar-midiático.

Esta postagem não pretende levantar ainda mais hipóteses “conspiratórias” sobre a improvável goleada da Seleção. 

Porém, vamos tentar demonstrar como semioticamente aquele fatídico jogo foi mais uma peça de dominó que caiu numa sequência sincrônica de eventos. Uma sincronia tão perfeita que é impossível não parar para pensar na “beleza” das coincidências e conveniências.

 

(a) A teratopolítica de Dilma e Felipe Scolari

Coincidentemente, Dilma e Scolari foram alvos da estratégia da teratopolítica – estratégia semiótica da criação de inimigos monstruosos, morfologicamente disformes como monstros ou simulacros humanos.

Assim como Dilma, o técnico da Seleção era figurado como teimoso, velho, ultrapassado – sintoma de um País supostamente atrasado e que não dá certo. Parceiro de um evento que roubaria dinheiro público, corrupto na sua essência, e que tiraria dos brasileiros os serviços básicos de saúde e educação.

Personagens de um Brasil que não dá certo. O “massacre de Belo Horizonte” foi o desfecho lógico de uma guerra semiótica de desmoralização tanto da mídia nacional como internacional.

Em contraste, Alemanha era aquilo que dá certo: planejamento, eficiência, foco… todo o jargão meritocrático. Além do surpreendente uniforme com as cores do Flamengo (a maior torcida brasileira) como estratégia mercadológica para ganhar a simpatia nacional. 

Após o “mineiraço”, prontamente ocorreram nas ruas manifestações de ofensas à presidenta Dilma e onda de assaltos e vandalismos foram registrados em várias cidades brasileiras, como observou a CBS News – clique aquiBandeiras brasileiras eram incendiadas nas ruas de São Paulo, mesmo antes do jogo ter terminado.

A tragédia esportiva caia como uma luva, quase como mais um ato na narrativa dominante da mídia corporativa de figurar um País à beira do abismo político e econômico. 

(b) O vídeo de Brasil X Alemanha

De toda a massa de vídeos analisando o massacre futebolístico, um deles chama a atenção: isola apenas as ações dos jogadores alemães envolvidos nos lances dos gols – 5 X 0 em 18 minutos. Observa-se que os alemães avançam e chutam sem fazer qualquer manobra evasiva, dribles ou esforços nas jogadas que resultaram em gols – veja vídeo abaixo.

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Wilson Roberto Vieira Ferreira - Mestre em Comunição Contemporânea (Análises em Imagem e Som) pela Universidade Anhembi Morumbi.Doutorando em Meios e Processos Audiovisuais na ECA/USP. Jornalista e professor na Universidade Anhembi Morumbi nas áreas de Estudos da Semiótica e Comunicação Visual. Pesquisador e escritor, autor de verbetes no "Dicionário de Comunicação" pela editora Paulus, e dos livros "O Caos Semiótico" e "Cinegnose" pela Editora Livrus.

13 Comentários

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  1. A simplicidade do óbvio
    Certas verdades são tão simples e diretas que o cérebro humano tem dificuldade em processar. Aquele resultado foi armado, ponto. Se o fato da defesa brasileira ter nitidamente parado de marcar não é suficiente para acreditar nisso, lembre que o Thiago Silva forçou deliberadamente o terceiro cartão amarelo no jogo anterior para ficar fora da semifinal contra a alemanha. Ele já sabia o que ia acontecer…

  2. Cabelo em ovo …

    Me desculpe mas isto aí é procurar cabelo em ovo , uma coisa (futebol) é uma coisa , outra coisa (situação do país) é outra coisa, minha mui modesta opinião …

     

     

    1. Seria

      Lembra-se da Copa de 1978 na Argentina?

      O gol do Zico estupidamente anulado, a vitória da Argentina por 6×0 sobre a seleção do Peru; coincidências demais até mesmo para o ilibado padrão FIFA.

  3. revisitando….

    Teoria da conspiração ou não, aquele resultado só tinha um alvo: Dilma Roussef. Lula havia sido poupado por arquitetar a Copa e o dinheiro público para a festa e estádios. RGT, CBF e FIFA naquele momento eram parceiros. Como as coisas mudam?! Dilma, Gerentona, sempre foi contra. Querendo ou não (talvez saibamos algum dia), não impediu a Polícia e MP de começarem a mexer nos porões da República. Os ratos ficaram ouriçados. O resultado está aí escrito na matéria.

  4. É só o começo

    A verdade dessa farsa só está no início.

    A ausência do Neymar motivada por aquela contusão, no mínimo estranha, foi uma assinatura.

  5. O fim de um sonho de infância
    O que mais me da raiva nessa marmelada não é nem o papelão que o Brasil fez no mineirão nem as terríveis consequências socio-políticas do resultado arranjado. É o fato de que o mundo perdeu uma oportunidade única na história de ver uma final de copa do mundo Brasil x Argentina no Maracanã.
    Desde moleque eu comentava com meus amigos como seria maneiro se uma copa acontecesse no brasil e final fosse brasil e argentina. Seria o maior jogo de todos os tempos, a verdadeira final da copa das copas. Quando soube que a copa de 2014 seria no Brasil, o sonho reacendeu, e a medida que os resultados iam saindo ele so tornava cada vez mais próximo de virar realidade. Mas o sonho acabou por causa da marmelada de um bando de babacas que achavam que derrubar a Dilma era mais importante…

    1. Concordo, Edemar, mas o

      Concordo, Edemar, mas o centro da conspiracia que o Wilson esta se referindo nao especifica como as expressoes corporais dos jogadores do “Jogo Em Questao” estavam tao perdidas em campo!

      Ate prova em contrario, essa foi a maior vinganca de Dunga contra a rede golpe.  O tecnico superbo foi deixado de lado pro “tecnico que agradava aa rede golpe”.  Deu no que deu.

      Os “jogadores” deram show de mendicancia emocional na televisao aa epoca, antes do jogo.  Eles estavam sendo tao gigolados que um dos pobres coitados foi dar entrevista chorando na televisao dizendo que tava fazendo isso “pelos pobres”!!!  Os caras tavam tao desequilibrados que entraram em campo de maos dadas!  Que porra eh essa agora?!?!?!  Eu teria estado muito mais satisfeito se eles estivessem com a mao na bunmda ou no pinto do proximo jogador, francamente.

      A derrota escandalosa pro Brasil sobrou pros pobres, de fato (ou o que quer que seja que esse maluco antiprofissional estava dizendo!).

      OS caras estavam sendo gigolados e arruinaram suas proprias carreiras por causa disso.

      Que esse “tecnico da rede golpe” morra mais rapido eh so essa a minha esperanca.

       

      (os desequilibrios dos jogadores brasileiros nao comecaram hoje, por sinal:  a evangelicada bastarda -que nunca conseguiu ser estritamente profissional em absolutamente nada em que encostam- invadiu os estadios de futebol ha mais de 10 anos atraz, note se).

      (Filhos da puta!  Vai enfiar Jesus no olho do cu, ok?)

      1. Você é inigualável,

        Você é inigualável,  postagens diretas ao ponto com linguagem clara e compreensível; sempre lembro dos seus ‘neo pentecostalistas de merda’.

  6. No dia do jogo eu estava em

    No dia do jogo eu estava em Berlim fugindo da Copa. A festa foi grande e eu achei graça ver pela tv alemã aquela coxinhada ser humilhada no Mineirão. Podia ter sido de 10. Quem ainda acredita nessa farsa chamada futebol (e demais esportes milionários financiados pelo narcotráfico) tem mais é que sofrer mesmo. 

  7. Só um doente para querer achar que isso foi tudo uma “marmelada”. Primeiramente o Brasil aceitou fazer uma copa, mesmo apos ter descoberto o maior esquema de corrupção da história do país e economicamente estando na lama. O impeachment da Dilma foi consequência do péssimo governo petista, simples assim. Os dados estão aí, ninguém inventou nada! Segundo, é um absurdo achar que os jogadores se “venderam” ou entregaram o jogo. Não faz o menor sentido! O time da Alemanha tinha a base do Bayern de Munique e do Dortmund. Atuais, na época, campeão e vice da Champions league. Uma das melhores, se não a melhor, geração alemã de toda a história. E o Brasil com a pior seleção, talvez a segunda pior, de todos os tempos. Não só na parte técnica, mas psicológica. Após a lesão do melhor jogador, todo mundo se perdeu de forma absurda. Não é a toa que a maioria esmagadora destes atletas acabaram com a sua carreira. Nunca mais foram os mesmos. Não existiu marmelada e sim total falta de competência em absolutamente tudo. Desde a escolha de alguns jogadores , do técnico totalmente ultrapassado e da falta de preparação para jogar uma copa em casa.

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