Síndrome do Avestruz Interesseiro: as não-notícias e os fatos incômodos, por Sergio Saraiva

Por Sergio Saraiva

Em uma atitude dicotômica, no espaço de alguns meses, os jornais brasileiros passaram da escandalização à não-notícia. Bipolaridade, negação da realidade, síndrome do avestruz? Só se for do avestruz interesseiro.

PF investiga se Odebrecht fez reforma de piscina para Lula – obra realizada no Palácio do Alvorada em 2008 teria sido troca de favores.

A manchete acima é de 13 de novembro de 2016, mas é velha de oito anos, e mesmo na época, seria uma piada.

Por ela ficamos sabendo que Lula, além de ser o dono do estádio do Corinthians, que ganhou de presente, é também dono das piscinas do Palácio do Alvorada, residência oficial do presidente da República do Brasil.

Depois do power-point de bolinhas com o qual o Ministério Publico “formou a convicção” de que Lula é a encarnação de Belzebu, uma notícia como essa é uma não notícia.

Na primeira página?

Não que falte assunto.

Neste momento, mais de mil instituições de ensino estão ocupadas por estudantes que protestam contra as medidas do governo que congelam por duas décadas os gastos com saúde e educação.

Dias atrás, pelo mesmo motivo, movimentos sociais envolvendo milhares de pessoas protestaram em dezoito Estados e na capital do país.

Procure nos jornais e revistas impressos, nenhuma menção.

A Lava Jato parece coisa de um passado distante, pelo menos quando não envolve Lula, mas um cheque nominal ao presidente em exercício – Michel Temer, o liga direto a denúncias de propina. Qual jornal repercutiu? A própria continuidade de sua presidência é incerta, está para ser julgada pelo TSE. E o assunto são os vestidos de sua jovem esposa.

Isso para não falar na delação premiada em massa da Odebrecht que poder arrastar mais de uma centena de parlamentares e governadores. Eduardo Cunha, o ex-todo-poderoso presidente da Câmara dos Deputados Federais está preso e com ele o mapa do cofre dos financiamentos das campanhas eleitorais.

Na economia, a previsão para este ano é de uma retração de menos 3,3%, queda pelo segundo ano consecutivo, e para 2017 espera-se um crescimento de 0,5%, se tudo der certo. Nenhuma referência a “pibinho”. Em outubro, a inflação estimada para 2016 era de 7,23%, a previsão anterior era de 7,25%. Essa redução de dois centésimos foi alvo de comemorações pelos jornais. Apenas em termos de comparação, no governo Dilma, antes da insurreição burguesa de 2015, uma inflação de 6,5%, dentro da meta, era chamada de alta e persistente. O desemprego atingiu 11,8% em setembro de 2016. Em 2014, quando da reeleição de Dilma, era de 4,8%.

Mas essas são não-notícias. Procure algo nos jornais.

Tomei a Folha de São Paulo como exemplo, poderia ter tomado qualquer outro grande veículo de comunicação. Algo aconteceu com o nosso jornalismo que passou a optar pelas não-notícias como se ao não divulgá-las os fatos igualmente não existissem.

Para quem “lê tanta notícia” não é difícil perceber e se espantar com mudança tão drástica na linha editorial. Voltemos a novembro de 2015.

Parece não só que estamos em outro tempo, parece que estamos em outro país com outros jornais. Mas não, os tempos, o país, os fatos e os jornais continuam os mesmos – os mesmos principalmente os jornais.

Voltaram a ser os mesmos com a saída do PT do poder.

Os fatos continuam ocorrendo, apenas não são noticiados. Trata-se de um mecanismo de defesa? Claro, só que essa negação da realidade obedece a um nome ainda não catalogado pela psicologia social – Síndrome do Avestruz Interesseiro.

As não-notícias podem ser muito valiosas, quando os fatos não interessam.

 

PS: a Oficina de Concertos Gerais e Poesia alerta sua clientela de que a ema gemeu no tronco do juremá.

Redação

3 Comentários

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  1. Sérgio , o que acontece é que

    Sérgio , o que acontece é que aquele bordão “aconteceu virou manchete” há muito está dominando a mente do brasileiro. Esses calhordas da mídia podre do brasil sabem que o povão sempre se pautou pela manchete e nunca pela notícia. Mesmo porque ele, o povão, nunca leu a notícia inteira. Então essa galera dos quintos dos infernos que dominam a imprensa, capricha na mancehte anti-pt e depois colhem os frutos com pesquisas enconmendadas sob medida para arrebentar com as autoridades do Partido dos trabalhdores. É só ver essa da piscina do alvorada ou aquela da propina em dinheiro da isto é. Pensa que o povo leu a notícia? Claro que não. E o objetivo dessa caras dos infernos foi conseguido que é colocar os petistas como os anjos caídos da política brasileira. É o cúmulo da calhordice. Nem vou me alongar, mas concluo dizendo que a Dilma caiu porque nunca se ligou nessa sacanagem. 

  2. Desinformação midiática mas com objetivo claro

    Evidência da participação da grande imprensa na desinformação é que nenhuma materia de capa e cobertura extensa foi feita para trazer luz as discuções dos impactos da PEC 55, tambem não foi noticiada a debandada do governo das 5 audiencias publicas da Comissão de Assuntos Economicos que discutiram a materia no Senado nem o comportamente infantil da base do governo retirando-se  da seção da Comissao de Cosntituição e Justiça quando o Senador Requião apresentava seu voto em separado que apontava 5 inconstitucionalidades da PEC 55 alem de rechaçar de maneira irretocavel qualquer argumentação de efeitos positivos da medida sobre o crescimento economico.

    Muito pior é ficarem deliberadamente propagando um mito de que a PEC 55 é indispensavel para o ajuste fiscal quando na verdade nem sequer ela trata de ajuste fiscal mas sim dos gastos primarios e que uma vez congelados por 20 anos retiram a capacidade de investimentos fundamentais para o país nas proximas 5 legislaturas e nos levará a niveis de investimento semelhante apenas a paises miseravies da Africa.

    Para completar não basta apenas desinformar é preciso calar os que tentam falar e assim atravez de ações judicias contra os jornais estrangeiros tentam inpedir a população de receber qualquer coisa fora do script ao mesmo tempo que se protegem de serem novamente desmascarados publicamente em fraudes jornalisticas como as que foram expostas recentemente pela midia internacional.

    A escalada dos investimentos governamentais na grande imprensa e a subsequente mudança brupta no tom das noticias deixa evidente que foram cooptados para ocultar da população a intensão deste governo de ao se remover via constituição o poder de investimento do setor publico, tudo o que for privatizado nos proximos 20 anos, incluindo petroleo ,gas e recursos naturais nunca mais podera voltar ao estado pelos 5 proximos mandatos presidenciais. Tambem fica claro quando dizem que quem é contra a PEC é contra o Brasil e que o pais vai quebrar se não for aprovado agora a intensão de enganar a população para induzi-la a aceitar sem discutir tamanho descalabro.

  3. Parece que a imprensa

    Parece que a imprensa descobriu que pode fazer absolutamente tudo o que quiser que não receberá como punição nada que realmente a faça pensar, refletir sobre o que está fazendo do ponto de vista do consumidor, o freguês de seu produto. Uma multinha aqui, um direito de resposta ali, no máximo. Mas se insistir em continuar atentando contra a saúde mental e moral das pessoas, bem… os atentos, excelentes e laboriosos advogados de Lula não têm nem tempo para examinar todo mal que essa imprensa causa à gente brasileira, já estão muito ocupados só com as mentiras contra esse seu cliente.

    Mas a imprensa, além de perceber-se acima de eventuais leis, descobriu que o nicho dos leitores da classe média burra – em contraposição à classe média “esclarecida” – confere a essas empresas, não credibilidade mas cumplicidade: ambos, essa classe média emburrecida e a imprensa mau caráter, sabem que contam e repercutem, no mínimo, boatos, ilações, “convicções” e exageros, mas em muitos casos, mentiras deslavadas mesmo. “Finge que me informa que finjo que estou informado”, parece ser o trato.

    E descobriu também que a Justiça não apenas se sente intimidada pelo seu poder de assassinar reputações como em muitas vezes também participa, como cúmplice, das mesmas tramas.

    Em qualquer caso, as firmas de comunicação social sempre podem se jogar no chão, espernear de barriga para cima alegando que estão sendo censuradas. Interessante é que quando o estado proibe um alimento de ser vendido porque detecta que pode fazer mal à saúde física, biológica, dos consumidores, a turma agradece. Mas quando é vendido algo que pode fazer mal ao discernimento, à saúde moral e mental, o pessoal não chia…

    Ninguém pode regular a imprensa no Brasil a não ser a própria imprensa. Mas isso parece que ela não vai fazer. O que ela vai fazer, com certeza de impunidade, é estrita e amplamente o que quiser.

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