Sociólogo diz que sociedade está ‘enfeitiçada’ pela manipulação da mídia

Enviado por Webster Franklin

Da Rede Brasil Atual

Para sociólogo, sociedade está ‘enfeitiçada’ pela mídia: ‘Só as versões são realidade’

Em debate na Assembleia Legislativa paulista, Laymert Garcia dos Santos fala da ‘instrumentalização totalitária da linguagem política’ pela imprensa e sobre a deslegitimação midiática de Dilma

Em debate realizado pelo Fórum 21 na manhã de hoje (12), na série “Seminários para o Avanço Social”, o sociólogo Laymert Garcia dos Santos, da Unicamp, e doutor em Ciências da Informação pela Universidade de Paris VII, afirmou que a realidade atual, com o monopólio da informação pela mídia tradicional, é “desesperadora”. Para ele, a sociedade está “enfeitiçada” pela manipulação.  “Só as versões se tornam realidade, ao ponto de as pessoas não saberem mais o que é real e o que não é.”

Segundo Laymert, exemplo esclarecedor a respeito é a operação midiática de transformar a presidenta Dilma Rousseff no objeto de ataques sistemáticos e culpada de tudo o que de ruim acontece ou pode acontecer no país. A operação, lembra, começou na Copa do Mundo de 2014. “Trinta ou quarenta mil pessoas na Avenida Paulista (manifestação da esquerda em 13 de março de 2015) debaixo de chuva não é notícia. Porque para os meios de comunicação é preciso manter no ar a ideia do golpe. É preciso manter no ar permanentemente alguma coisa.”

O sociólogo lembra que o início da deslegitimação de Dilma, na Copa, partiu do camarote do Banco Itaú no estádio, onde estava a colunista Sonia Racy. “Não foi à toa que foi escolhido esse local.” Na ocasião da abertura da Copa, no Itaquerão, em São Paulo, o blogueiro Luiz Carlos Azenha registrou em seu blog: “Uma importante colunista social do Estadão, sentada no camarote do Banco Itaú, gritou a plenos pulmões – aparentemente entusiasmada – ‘Ei, Dilma, VTNC’”.

Diante da sistemática ofensiva do oligopólio de comunicação, “não existe mais” cobertura (jornalística), no sentido de processar informações reais. “A mídia é parte ativa na criação de versões e ficções sobre o que acontece. O que é de fato real soçobra.”

Entre os veículos de comunicação que fazem parte da campanha contra o governo petista de Dilma Rousseff, Laymert considera a Folha de S. Paulo o mais sofisticado e eficiente na construção do discurso da negatividade. “A Folha é a mais elaborada, porque eles estão há mais de 30 anos elaborando o discurso do ressentimento. Sempre, em qualquer momento em que há uma positividade, o discurso é negativo. Se a notícia é boa, existe o recurso: ‘mas…’”

A operação que se desenvolveu nos últimos meses para proteger o presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), que poderia ser o condutor do impeachment desejado pela direita do país, para o sociólogo, é absurda. “Ele (Cunha) está apodrecendo todos os dias e não cai. Como é possível construir essas redes de proteção? Os ladrões estão gritando ‘pega ladrão’ para quem não é ladrão.”

O grande problema, para Laymert, é que “o outro lado não consiga responder”. Segundo a análise, “estamos vivendo um fenômeno complicado para o qual a esquerda não tem respostas”. Ele diz que desde os anos 1980 observa a dificuldade da esquerda em compreender a questão midiática. Um dos principais erros de líderes petistas foi acreditar que, quando o PT chegasse ao poder, haveria uma “troca de sinal” e os meios de comunicação passariam a ser mais benevolentes com os esquerdistas. Mas o que se viu foi o contrário. “Uma vez no poder, a esquerda tem uma atitude ao mesmo tempo de submissão e fascínio pelos meios de comunicação.”

Snowden e Assange

Laymert acredita que nem mesmo setores da mídia de esquerda, como os chamados “blogueiros sujos”, entendem o processo midiático atual. “Os ‘blogueiros sujos’ não entendem, embora estejam mais perto de entender, que a política hoje não é mais a política, mas a tecnopolítica. Quem entendeu isso foram homens como Julian Assange (do Wikileaks) e Edward Snowden”, disse o professor da Unicamp. Ex-funcionário da agência de inteligência americana, a NSA, Snowden tornou público que o governo dos Estados Unidos opera um sistema de vigilância que abrange cidadãos e governos em todos os lugares do mundo que lhe interessem.

“Há uma dimensão totalitária quanto à linguagem e a instrumentalização da linguagem política. Não vejo como a esquerda possa reagir diante dessa ofensiva totalitária da mídia”, diz Laymert. “Snowden e Assange entenderam que o poder está na informação. Mais do que isso, entenderam que, ao contrário do Facebook, que fornece mais do mesmo e satisfaz o narcisismo das pessoas, o que importa é a informação que não se vê, que está oculta. No mundo atual, a informação real é a que não é exposta.”

O último debate da série promovida pelo Fórum 21 será realizado nesta sexta-feira (13), às 9h, na Assembleia Legislativa, com o tema “Impeachment e golpe”, com a participação do ex-candidato ao governo de São Paulo pelo Psol, em 2014, Gilberto Maringoni.

Redação

29 Comentários

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  1. Bem isso…

    Análise formidável… Trás luz sobre um fenômeno extremamente complexo – e que não é apenas brasileiro – que se não for revertido, algo que não é fácil pois a linguagem é cifrada, significará o caos para todo aquele que ousar contrariar a ordem do discurso vigente e que, claro, é comandado pelos interesses do grande Capital. 

  2. Creio que em verdade, se ele

    Creio que em verdade, se ele conseguir colocar em fatos esta manipulação e houver um consenso na falta e responsabilidade com que as informações são veículadas na mídia, caberia um processo social representado pelo estado de direito. Pois quando a mídia tornar-se um instrumento, não mais de informação real e passa a ser um instrumento de manipulação ficcional, a mídia deixa de cumprir o seu papel e tornar-se apenas um objeto de manipulação social que compromete a democracia que eles tanto tentam vender mas que na verdade, escondem. Todo o grande poder exige também grande responsabilidade, os fatos podem falar por si mesmos mas e a manipulação? Fala por si mesma? De quem é a responsabilidade por ela? É o mesmo que está acontecendo com as multinacionais, o sistema financeiro internacional… sabemos que há pessoas atrás das grandes corporações e seus interesses… mas estão escondidas e elas mesmas criam os mecanismos para a sua escuridão. Se não houver um mecanismo democrático que vá lá com a lanterna iluminar estes recônditos, estes recônditos estarão cada vez mais escuros e mirabolantes. 

     

  3. Excelente texto.
    A luta dos

    Excelente texto.

    A luta dos grandes grupos de imprensa é uma luta por sobrevivência não apenas financeira, eles lutam para se mostrar relevantes e necessários.

    As oligarquias midiaticas são capatazes do império e em tempos de google e facebook, eles precisam provar o seu valor para que não sejam colocados de lado.

    A situação destes grupos é desesperadora e desse desespero vem o maior perigo.

  4. Dos anos 80, e até morrer, o

    Dos anos 80, e até morrer, o esquerdista capaz de abrir os olhos de todos contra a mídia nojenta foi o gaúcho Leonel de Moura Briola. Ao ponto de ter no JN um dia, pelo menos, o direito de resposta, após sofrer mais uma das mentiras da onipotente.

    O PT, incluindo Dilma como Presidente, sem dúvida são conhecedores de tudo que esclarece a matéria. O problema é que estão todos vivendo uma submissão em função do medo. 

    Poucos são os parlamentares que sonbem à tribuna para rasgar a Veja, ou chamar os Marinhos de canalhas como fez há pouco Requião. Tivesse um número grande de políticos assim talvez a história pudesse ser contada de outra forma. 

    PHA tá sempre relembrando Dilma com Ana Maria Braga fazendo omelete, logo após sua primeira eleição, coisa que jamais deveria ter acontecido. 

    A Copa do Mundo não vingaria; seria um desastre. Não se via uma manifestação dos opositores favoráveis ao evento. No entanto, os brasileiros se sentiram felizes, realizados, enquanto todos os estrangeiros que aqui vieram saíram do Brasil com a melhor das imagens possíveis. Ou seja, tudo que o Governo prometeu cumpriu, apesar dos agourentos.

    Agora, até o Presidente do PT já admite que o PT poderá ser extinto, de acordo com as declarações de um dos procuradores da Lava Jato, que pretende incriinar o PT, além do PP e e PMDB por envolvimentos na operação, exigindo o retorno de todo o dinheiro apontado pelos delatores bandidos como tendo sido destinado a esses partidos.

    Mais nojenta fica a imprensa por não divulgar a verdade, não o que dizem os delatores, cada vez que provasa contundentes aparecem contra os tucanos, por exemplo. O livro Privataria Tuana não poderia, jamais, passar em branco, com um Serra dizendo tratar-se de um lixo, porque lixo foi o que ele e seus comparsas fizeram com o nosso patrimônio. Aécio é denunciado, igualmente como os petistas Vaccari e tantos outros, por Youssef, mas nunca vimos a imprensa citar uma linha sobre o caso.

    E assim vamos andando, mancando, até que Deus nos diga ser mesmo brasileiro.

  5. A contra informação

    Eh prestarmos atenção nas reações ao ultimo exame do ENEM. O que foi aquilo ? Como um Pais, democratico, se comporta dessa meneira, porque um exame coloca questões sobre Dirietos Humanos ? A reação descabida às questões que pontuavam Simone de Beauvoir e sobre a violência contra a mulher, nos dão um pequeno indicio de qual trilha fomos levados a trilhar. E mais, a grande imprensa fez simplesmente lavar as mãos e incentivar, através das redes sociais, os ataques aos “esquerdistas” do Ministério da Educação, do governo petista.  

    Geroge Orwell mais real que nunca. Odiar para eliminar.

  6. A FOLHA PODE ATÉ SER A MAIS EFICAZ, MAS A GLOBO É O QUE?

    A Globo captania todo esse processo de destruição, a globo não sobrevive sem dinheiro público, o GOVERNO DILMA, O PT e aliás todos nós mortais e não bilhonários como os GLOBAIS temos muito medo da GLOBO, Ela GOVERNA DE FATO, ACUSA, JULGA E CONDENA até com leitura labial além da famosa ” FACA NO PESCOÇO” se ela tem esse poder manipulador e de impor medo em todos e segundo alguns blogs, tem o poder por assim dizer de até sumir com processo de sonegação de dentro da RF e nada aconteceu, e se não paga imposto e recebe do governo então na verdade já é o país de fato pois recebe os impostos na maciota, não sei, tinha vontade de saber como conseguém as CNDs para contartar e receber desse governo de cor vermelho frouxo, esse quase rosa, tinha mesmo.

  7. omissos e covardes

    Webster,

    Texto mais que perfeito.

    Descreve à perfeição a atuação quase criminosa da grande imprensa, uma vez que manipula e omite informações diariamente – pergunte a pessoas que você conheça sobre o que elas sabem a respeito de Belo Monte, Jirau e Transposição,  e ficará bem claro o extravagante padrão de omissão de fatos relevantes.

    Se não fosse a Samarco,mas o governo federal o responsável pelo desastre em Mariana, já viu, né ? E a LavaJato, não era aquela Operação destinada a apurar sangria $$$ na Petrobras ?

    O outro lado – DR diz acreditar no controle remoto, prefere atitudes republicanas e os pilantras golpistas a aplaudem de pé. Já o PT, não sabe o que significa mídia, daí morrer de medo dela, a maioria de lá sonha em aparecer por dez segundos no JN, ou seja, daquele mato não sairá nenhum coelho. Por isto é que o ante-projeto do excelente Franklin Martins passou a ser considerado pelos medíocres como um anti-projeto. Quem tem plenas condições para reagir e não o faz, é omisso ou covarde, logo, não tem o direito de reclamar. 

    1. Caro AlfredoÓtimo seu

      Caro Alfredo

      Ótimo seu comentário! Todo poder não exercido em sua totalidade deixa espaços para que seja ocupado tanto pelos oligopólios de mídias como a oposição. A partir daí sedimentam suas manipulações das informações em grande parte da opinião pública, criando enormes dificuldades para reverter a crise política e econômica. Um grande abraço!

  8. muito bom o texto
    Somente nos blogs sujos & Carata capital vemos este tipo de analise. Obviamente para a PIG isso não interessa discutir. E quando discutem é para desinformar.

    A definição sobre a FSP é definitiva, perfeita.

    “No mundo atual, a informação real é a que não é exposta.”

    Nada tenho mais a acrescentar.

  9. Eu também lembrei do 1984,

    Eu também lembrei do 1984, mas também pensei no Mito da Caverna. Se a gente substituir as sombras projetadas na parede do fundo da caverna por uma TV, dá no mesmo. As pessoas que vivem na caverna verão imagens distorcidas da realidade do mesmo jeito.

  10. A análise é corrétissima

    A análise é corrétissima claro. Só não sou tão pessimista. É possível enfrentar a manipulação emburrecedora imposta pelo pig. O lado que quer uma comunicação democrática não é tão fraco. Há vários sinais que apontam isso

    A começar pela popularização do termo pig, feita exclusivamente pela internet. Se voce conversa na rua, embora ainda minoritária, existe cada vez mais quem considera a grande imprensa um partido a serviço do poder econômico. Em certos círculos menos coxinhas, mas não necessariamente de esquerda, se disser que acredita na imprensa passa vergonha.

    Outro sinal é que o Requião conseguiu passar seu projeto pelo Congresso, o que todos nós achávamos impossível, pelo medo que os políticos tem da chantagem do pig. Seu projeto é tão arrojado que a Dilma é que fraquejou e vetou um artigo, o mais corajoso.

    Enfim, há uma percepção no ar, mesmo que ainda não majoritária, de que uma democracia não aceita um sistema de comunicação reminicente da ditadura. Essa casta que se formou nas benesses do governo autoritário e que tinha como missão o controle das mentes da “aldeia global” 

  11.  
    A meu ver, a desconstrução

     

    A meu ver, a desconstrução de Dilma começou quando ela reduziu os juros e ganhou corpo na campanha anti-Copa do Mundo. 

  12. Imprensa

    “Só as versões se tornam realidade, ao ponto de as pessoas não saberem mais o que é real e o que não é.”

    Do sociólogo Laymert Garcia dos Santos, da Unicamp, e doutor em Ciências da Informação pela Universidade de Paris VII

     Contraponto de sociólogo de botequim , direitista, recionário, careta: Onde há fumaça há fogo.

     

  13. Não é enfeitiçada

    É envenenada diariamente pela mídia. A parte mais terrível:

    O grande problema, para Laymert, é que “o outro lado não consiga responder”. Segundo a análise, “estamos vivendo um fenômeno complicado para o qual a esquerda não tem respostas”. Ele diz que desde os anos 1980 observa a dificuldade da esquerda em compreender a questão midiática. Um dos principais erros de líderes petistas foi acreditar que, quando o PT chegasse ao poder, haveria uma “troca de sinal” e os meios de comunicação passariam a ser mais benevolentes com os esquerdistas. Mas o que se viu foi o contrário. “Uma vez no poder, a esquerda tem uma atitude ao mesmo tempo de submissão e fascínio pelos meios de comunicação.”

    1. Você tem razão, embora esteja equivocado

       

      Caetano (sexta-feira, 13/11/2015 às 10:16),

      Você tem razão em dizer que o sociólogo do texto tem lado. E tem razão também em dizer que quem tem lado não é isento. Agora, alguém que não leve um texto a sério porque o texto foi emitido por uma pessoa que não é isenta e o texto não trata de matemática, física, química e biologia, parece que reúne as condições para se colocar na posição de isenção, ou seja, parece que possui a cabeça oca. Só quem não tem nada na cabeça é que não tem lado, é que é imparcial.

      O ser humano à medida que evolui adquire uma ideologia que o ajuda a tomar posição. O cabeça oca não. Desse você pode esperar a capacidade de isenção.

      Clever Mendes de Oliveira

      BH, 16/11/2015

  14. Borges e Russell trazem… lá

    Borges e Russell trazem… lá dos anos dourados séculos XIX e XX… um con/tributo solucionático à causa sociológica-manipulativa do ativismo ligeiro em rede…

    “”Let the People Think” é o título de uma coletânea dos ensaios de Bertrand Russell. Wells, na obra cujo comentário esbocei, nos leva a repensar a história do mundo sem preferência de caráter geográfico, econômico ou étnico; Russell também dispensa conselhos de universalidade. No terceiro artigo – “Free thought and official propaganda” – propõe que as escolas primárias ensinem a arte de ler com incredulidade os jornais. Entendo que essa disciplina socrática não seria inútil. Das pessoas que conheço, muito poucas chegam a soletrá-la. Deixam-se embair por artifícios tipográficos ou sintáticos; pensam que um fato aconteceu porque está impresso em grandes letras negras; confundem a verdade com o corpo 12; não querem entender que a afirmação “Todas as tentativas do agressor para ir além de B fracassaram de maneira sangrenta” é um mero eufemismo para admitir a perda de B. Pior ainda: exercem uma espécie de magia, pensam que formular um temor é colaborar com o inimigo… Russell propõe que o Estado trate de imunizar os homens contra esses agouros e sofismas. Por exemplo, sugere que os alunos estudem as últimas derrotas de Napoleão através dos boletins do Moniteur, ostensivamente triunfais. Planeja deveres como este: depois de estudar em textos ingleses a história da guerra com a França, reescrevê-la, do ponto de vista francês. Nossos “nacionalistas” já exercem esse método paradoxal: ensinam a história argentina do ponto de vista espanhol, quando não quíchua ou querandi.”

    outras inquisições, de jorge luis borges

  15. 1955 , poucos anos antes do

    1955 , poucos anos antes do surgimento de James Dean, da juventude transviada, da juventude revolucionária européia, um belo filme joga com algumas questões que irão transformar a sociedade. O filme Sementes da Violência, de Richard Brooks, com Sidney Poitier e Glenn Ford tem lançamento próximo à edição do livro Sedução dos inocentes, cujo autor culpava as histórias em quadrinhos pelo crescimento da deliquência juvenil.  A questão da violência amparada nas teses do livro leva à criação de uma comissão especial no congresso americano para tratar do assunto. O filme se destaca por  lançar um debate mais racional e mais complexo sobre o tema, desmontando teses simplistas e entrando nas questões de luta de classes, entre o conforto das classes médias emergentes e a falta de perspectivas dos filhos de classes operárias e pobres, agravadas pela ausência de pais que estavam servindo ao país nos combates que continuaram na época da Gerra Fria. O rock  junto com o som dos melhores jazz representam dois mundos diferentes. Sidney Poitier é o líder dos alunos rebeldes de uma escola de periferia e Glenn Ford é o professor idealista em crise que por pouco não desiste de sua turma. 

    2015, 50 anos depois, no Brasil, especificamente no Distrito Federal, a PM encontra armas, soco inglês, porretes e outras coisinhas com um grupo acampado diante do Congresso Nacional. Alguns  se dizem parte dos Revoltados online, grupo que pretende derrubar um presidente do poder. Nas manifestações de 2013 surgiu um participante vestido de Batman e hoje não faltam nem juízes que se dizem fãs do Homem Aranha e outros heróis. A imprensa alimenta essas fantasias. O problema é que não são crianças nem são pobres marginalizados que promovem esse circo. São representantes de classe média emergente nos refrões da bolsa de valores, ou são pessoas desempregadas, participantes de milícias, sem outro objetivo senão ganhar algum dinheiro de grupos financeiros que fazem parte da oposição golpista, onde a mídia é a representante mais visível e com antecedentes de golpes políticos. No Congresso não tem só uma CPI, são várias, abertas pela oposição a um governo legiimamente eleito. O tema não é a violência, embora essa esteja presente no nosso cotidiano, por muitas razões, o tema atual é a corrupção, e avançou quando pegou emprestado um fato e o roteiro inteiro do que aconteceu na Itália, a operação Mãos Limpas. A questão é que agora não se trata de algo que pense nas questões de uma sociedade, a sofisticação de usar um roteiro tão antigo é que ele serve para uma guerra muito mais desleal, sem nenhum fim idealista, para a soberania não de Estados mas de um único sistema financeiro global. E tem idiotas, voltando aos anos de 1950, quando tudo começou. O Brasil não é caranguejo para andar para trás.

    1. Bravo!

      Vamos lá. Eles estão atrás do confronto direto, de produzir um cadáver – ou cadáveres – para terminar de incendiar o país, está mais do que claro isso, e o pior é que estão chegando cada vez mais perto de concretizar isso. O porrete da foto é um cabo de machado que se compra por dúzia em casas de materiais agropecuários, além de soco inglês-punhal ao mesmo tempo, correntes e furadores de coco, que são mais letais do que um punhal. Estão se formando milícias. Dilma sofre da Síndrome de Jango, não quer radicalizar porque teme que acabe em sangue e por isso vai contemporizando até o limite da ingenuidade. A inércia e a omissão vão produzir sangue do mesmo jeito. .

      PS.: De 1955 a 2015 são 60 anos, falo com “conhecimento de causa”, afinal 1955 foi a melhor safra possível. 

  16. Vai lá, Zé Banana, saca o talão e aplica uma multa neles

    As milícias fascistas já estão por aí. Bem na Praça dos Três Poderes

     

    armamento1

    Segundo a Folha, a PM do Distrito Federal apreendeu ontem  uma arma de fogo e diversas armas brancas  escondidas no carro de um manifestante “pró-impeachment” que estão acampados em frente ao Congresso Nacional.

    Mais precisamente: uma pistola Taurus .380, um soco inglês, sprays de mostarda, diversos furadores de coco e um porrete.

    O detido -ou os detidos, porque a matéria não é exata e não revela os nomes – dizia que ia matar a Presidenta da República e “jogar uma bomba no Congresso Nacional”

    Diz um tal Dom Werneck, um dos “acampados” que se dedica a pedir intervenção militar, difundir videos de Jair Bolsonaro e dizer às pessoas que estoquem alimentos, porque “a classe dos caminhoneiros é a mais importante do Brasil, por que vai decidir a ficada(sic) de um Presidente”, que foram eles que avisaram os policiais, porque seu movimento é “cristão e pacífico”.

    Acredite quem quiser.

    Aliás, parece que a Polícia Federal acredita, tanto que não providenciou uma revista – dentro da lei, sem constrangimentos e, até, usando detetores de metal, para, no mínimo, prevenir que haja outro “pacífico” como este, a poucos metros da sede dos poderes da República.

    Talvez seus agentes estejam ocupados em treinar tiro ao alvo em imagens da Presidenta.

    Sabe aquelas histórias de militantes neonazistas, armados para agredir, surrar, ferir?

    Os ovos da serpente chocaram e as víboras estão soltas, deslizando por aí.

    E bem ali na frente, o Ministro Zé Cardozo dando entrevistas bacanas.

     

    1. “Zé Cardozo” não é dono de

      “Zé Cardozo” não é dono de empresa de comunicação em massa. E se a PF não estivesse funcionando, esses antipetistas não teriam sido flagrados portando armas.

      1. Quem apreendeu foi a Polícia Militar do DF
        … a PM do Distrito Federal apreendeu ontem  uma arma de fogo e diversas armas brancas  escondidas no carro de um manifestante “pró-impeachment” que estão acampados em frente ao Congresso Nacional.Mais precisamente: uma pistola Taurus .380, um soco inglês, sprays de mostarda, diversos furadores de coco e um porrete.O detido -ou os detidos, porque a matéria não é exata e não revela os nomes – dizia que ia matar a Presidenta da República e “jogar uma bomba no Congresso Nacional”Aliás, parece que a Polícia Federal acredita, tanto que não providenciou uma revista – dentro da lei, sem constrangimentos e, até, usando detetores de metal, para, no mínimo, prevenir que haja outro “pacífico” como este, a poucos metros da sede dos poderes da República. Pelo visto, ameaças ao presidente da República não dizem respeito à PF

  17. Se aqueles que podiam fazer

    Se aqueles que podiam fazer alguma coisa – leia-se Lula, Dilma e PT – não o fazem, o que era de se esperar?

    É a terra dos covardes.

    Detalhe: cadê os ufanistas que esfolavam os tambores na época do voo de galinha acrobático?

    Sumiram todos.

  18. Informar-se é situar-se no

    Informar-se é situar-se no mundo.  É da natureza do homem, desde o Paraiso e o demônio sabe disso.  Por essas e outras, no jogo do poder com o Altíssimo, onde o homem é peça fundamental, assim comandou Satanás:   – Tomemos a informação.

     

  19. Não é preciso ser sociólogo

    para chegar a tal conclusão. 

    O PT e o Lula financiaram o PIG com a esperança da rede de televisão de esgoto fosse menos agressiva. A Dilma continua no mesmo caminho. Agora não adianta chorar. A merda já está feita. O resultado é que o PIG transformou boa parte da classe média em um bando de nazista.

  20. Imagine se a mídia apoiasse

    Imagine se a mídia apoiasse Lula e Dilma… Teria alguma conversa dessa de “a ‘esquerda’ não sabe se comunicar”? Uma que o PT nem esquerda, propriamente dito, é. E outra que muita gente vai no que disserem essas empresas de comunicação. Ou seja, se a mídia apoiasse o PT como apoia o PSDB – e nem estou falando de ser condescendente com crimes mas de ser justa – teríamos um povo todo motivado e positivo em lugar da estupidez e burrice que grassam hoje entre a classe média.

    Então não é que a “esquerda” não sabe se comunicar. A “esquerda” não tem é acesso às empresas que monopolizam o mercado das comunicações, isso sim.

    Agora, quanto aos recursos ao “mas” (“A Folha é a mais elaborada, porque eles estão há mais de 30 anos elaborando o discurso do ressentimento. Sempre, em qualquer momento em que há uma positividade, o discurso é negativo. Se a notícia é boa, existe o recurso: ‘mas…’”), o negativismo do discurso, não é exclusividade da Folha. Até aqui, entre os comentadores do GGN, o que mais se vê é meteção de pau disfarçada de crítica construtiva. Os bodes expiatórios: Cardozo e Dilma. Isso sem falar no personagem do “ex-petista arrependido” que antipetistas criam para disfarçar.

  21. A proporção do feitiço é menor do que Laymert crê

     

    Webster Franklin,

    Há alguns meses, um colega apresentou um vídeo de uma palestra de William Waack em que ele desanca com o governo da presidenta Dilma Rousseff e ao término a plateia bate palmas entusiasmada. Não há porque negar certo poder de convencimento (carisma) de William Waack junto a determinado círculo de audiência. Aqui, entretanto, vale lembrar a diferenciação que eu faço entre o carisma de Fernando Henrique Cardoso e o carisma de Lula. Fernando Henrique Cardoso tem um grande carisma entre alunos universitários. Lula tem um grande carisma junto ao povão. Para convencer os alunos universitários, Fernando Henrique Cardoso diz: “a inflação é o mais injusto dos impostos, pois atinge os mais pobres”. Para convencer o povão, Lula, como fez diante de uma loja das Casas Bahia que estava sendo inaugurada, diz: “A inflação, essa desgraça”.

    William Waack aceita dizer para a plateia dele a frase do PSDB e que Fernando Henrique Cardoso repetiu várias vezes: “a inflação é o mais injusto dos impostos, pois atinge os mais pobres”. Não lembro se ele disse essa frase ou algo parecido na palestra dele que ao final recebeu palmas, mas essa compreensão da inflação como “o mais injusto dos impostos, pois atinge os mais pobres” estava implícita na palestra dele.

    Eu sempre supus que Fernando Henrique Cardoso era suficientemente informado para saber que essa frase é falsa. Há uma série de frases ou slogans políticos que o PSDB usa, mas sabendo de antemão que são slogans ou frases falsos. São frases ou slogans que são usados porque se sabe de antemão que eles são bem aceitos pela população. Os políticos do PSDB reproduzem-nos porque desrespeitam a tal ponto o eleitor que escolhem os slogans e frases a ser propalado porque os slogans e frases são bons para convencer o eleitor de que ele, o político do PSDB, está do lado do eleitor.

    No caso específico desta frase sobre a inflação como tributo, eu posso estar enganado. Pode ser que ainda hoje Fernando Henrique Cardoso acredite na frase sobre a tributação. É quase certo, entretanto, que os melhores economistas do PSDB saibam-na falsa desde a fundação do partido. No caso de William Waack, entretanto, parece-me que ele acredita realmente na frase.

    E é importante perceber que os discursos de Lula, Fernando Henrique Cardoso têm público específico. O povão que entende “A inflação, essa desgraça” não sabe o que quer dizer a frase “a inflação é o mais injusto dos impostos, pois atinge os mais pobres”. Já a frase de Lula “A inflação, essa desgraça” é vista por muitos universitários como uma frase suja, tosca, fruto da falta de cultura e de finesse de Lula. William Waack pode comporta-se apenas como um locutor que repete, sem saber o conteúdo do que diz, o discurso de Fernando Henrique Cardoso ou de Lula. E há um discurso próprio dele ou dos redatores que são elaborados visando atingir um público mais amplo, mas que não atinge a todo mundo e pode ter o efeito limitado por circunstâncias diversas.

    Essa capacidade de influência dos meios de comunicação pode expandir-se ou encurtar-se. Já de antemão se sabe que um discurso de William Waack não vai alcançar a todos. Só um público com um conhecimento mais elaborado é que pode compreender o discurso de William Waack. É um discurso que só tem repercussão porque entremeados de trechos que, dada a situação econômica, são tidos como verdadeiros. A teimosia de Dilma Rousseff, a paralisia de Dilma Rousseff, a falta de conhecimento sobre o exercício do poder não são frases de William Waack, mas se assemelham a frases do vídeo da palestra dele ou frases que ele frequentemente trombeteia, como acusar o governo da presidenta Dilma Rousseff de populista. Essas frases, entretanto, que não podem ser demonstradas falsas, mas nem verdadeiras tão pouco, só são aceitas porque a economia vai mal. Assim não só há que se ver limite na capacidade de influência do meio de comunicação, como há que se ficar atentos para circunstâncias que reforçam ou enfraquecem essa influência.

    Quando terminou o vídeo da palestra de William Waack (provavelmente era só uma parte da palestra, pois era algo de menos de 5 minutos) eu disse para o colega que aquele discurso fazia sentido no final da década de 90, e dava um espaço de tempo para acrescentar, do século XIX. Era discurso anterior às análises do economista Adolphe Wagner que cunhou o enunciado conhecido como lei de Wagner que estabelece que a medida que a renda per capita de um povo aumenta esse povo começa a exigir do governo mais e melhores serviços públicos. E em consequência a carga tributária tende a aumentar, para evitar que déficits públicos crescentes fomentem a inflação.

    Não é por nada, mas após a crise de 2008, eu escrevi muitos comentários prognosticando que na década de 20 do século atual, a carga tributária no mundo seria uns dois pontos percentuais acima do que ela fora na década de 90 do século passado.

    Eu critiquei muito as manifestações de junho de 2013, tanto as manifestações originais que reivindicavam o passe livre como as que se seguiram com uma pauta mais aberta. Dizia que os que reivindicavam o passe livre não tinham compreensão do funcionamento do orçamento. E também as reivindicações que se seguiram pareciam-me desencontradas, sem direção, decorrentes de gente perdida que juntavam interesses particulares com críticas enraizadas na sociedade.

    Eu utilizei com frequência o post “A cegueira branca do Estado e o gigante iluminado” de quinta-feira, 20/06/2013 às 16:10, publicado aqui no blog de Luis Nassif e consistindo na transcrição do artigo com o mesmo título do post e de autoria de Rafael Araújo, professor da Escola de Sociologia e Política de São Paulo e da PUC-SP para esclarecer esse meu entendimento sobre essa falta de norte das reivindicações e ao mesmo tempo o seu componente de pertencimento a uma cultura. O endereço do post “A cegueira branca do Estado e o gigante iluminado” é:

    https://jornalggn.com.br/blog/luisnassif/a-cegueira-branca-do-estado-e-o-gigante-iluminado

    Posso discordar de um ou outro argumento, mas o conjunto do artigo “A cegueira branca do Estado e o gigante iluminado” é muito bem construído. O segundo e terceiro parágrafos do artigo são precisos e extremamente bem encadeados e trazem a fundamentação para o quinto parágrafo que eu tenho com frequência reproduzido e que transcrevo a seguir mais uma vez. Disse lá o professor Rafael Araújo:

    “É verdade que as manifestações revelam um descontentamento da população e uma falência do sistema de representação política. Há uma crise de racionalidade pelo fato do Estado de direitos não ser capaz de cumprir com aquilo a que se propõe. Os articulistas têm repetido isso como um mantra, mas até que ponto trata-se de uma crise exclusivamente brasileira? Até que ponto podemos associar o descontentamento do povo ao descaso e à corrupção? Esse é o raciocínio de superfície que estrutura os meios de comunicação tradicionais e que está por toda parte: nas músicas, filmes e novelas, nos sermões e discursos políticos, nas conversas de bar e de família, nas fábricas e escritórios, nas ruas e praças. Se todo o público que consome notícia pensa dessa forma rasa, como esperar que a velha mídia se comporte de outra maneira? São empresas que precisam de anunciantes, dizem e escrevem o que o espectador quer ouvir e ler. O jogo é esse. As fontes de informação dizem aquilo que se quer ouvir, assim garantem a audiência. Afirmar isso tem um fundo de perigo, principalmente quando estamos em um período de desequilíbrio como agora, porque essa afirmação significa ampliar as responsabilidades também para os receptores”.

    Então não é só a mídia formando a opinião da população. A população também forma a opinião da mídia. E vicejam na sociedade ideías que não tem lastro e que só eventualmente são questionadas, mas dificilmente elas podem ser provadas falsas e assim perduram indefinidamente. É por isso que vemos afirmações que saem na mídia e que quando bem analisadas se mostram sem nenhum conteúdo, ou fruto do desconhecimento e da ignorância, ou de um preconceito ou decorrem de um viés pessoal ou de uma implicância qualquer.

    Eu tive três momentos em relação às manifestações de junho de 2013. O primeiro era mais de curiosidade ou até mesmo de perplexidade, pois não sabia o que o movimento queria. Depois à medida que as manifestações assumiram uma pauta mais ampla de reivindicações eu comecei a ver nas manifestações um pouco de reflexo do julgamento da Ação Penal 4701. E pude observar que havia uma falta de conhecimento geral. Como a maioria mesmo fora dos manifestantes, praticamente ninguém entre os manifestantes perceberam que nenhum réu no polo da corrupção passiva fora sentenciado pela prática do ato objeto da vantagem indevida. Era a prática de caixa dois sendo sentenciada por corrupção passiva em razão da função exercida pelo funcionário público (Deputado federal, dirigente de partido). Ninguém foi condenado por ter vendido o voto, ou na corrupção ativa ninguém foi condenado por ter comprado o voto. Era um avanço de interpretação do STF que ninguém entendia assim. A esquerda achava a interpretação equivocada e a direita não percebia os limites da interpretação. O STF não tinha prova de que o ato que deu ensejo a corrupção tinha sido praticado e assim ninguém foi condenado pela prática de tal ato.

    No segundo momento de avaliação das manifestações de junho de 2013, eu costumava dizer que as manifestações não trouxeram nada de novo a não ser o uso das redes sociais para se aglomerarem em multidões e não trouxeram nada de bom a não ser a participação em si nas manifestações que é uma prova de vigor da democracia.

    E em um terceiro momento eu passei a ver as manifestações como um reflexo da Lei de Wagner. O que os manifestantes queriam eram serviços em maior quantidade e serviços de melhores qualidades.

    Eu compro a Folha de São Paulo de quarta-feira e de quinta-feira. A Folha de S. Paulo de quarto eu compro para ler a coluna de Antonio Delfim Netto e a de quinta-feira, para ler a coluna do Pasquale Cipro Neto. Não concordo, mas nos últimos dez anos tenho lido as colunas de Alexandre Schwartsman e há também as colunas do Marcelo Coelho e do Janio de Freitas. Na quinta-feira antes de ler a coluna de Pasquale Cipro Neto eu dei uma passagem na coluna “Painel do Leitor” e havia uma carta dentro do título “Sociedade brasileira” escrita por Arialdo Pacello que dizia o seguinte:

    “Há ruído de lógica e hermenêutica cometido, tendenciosamente, por Francisco Daudt (“Excelência”, “Cotidiano”, 11/11). O uso indevido e imerecido do termo “excelência” no Brasil não pode ser atribuído ao despautério do governo”. A impropriedade do uso deve-se mais ao despautério da injusta e desigual sociedade brasileira. E não se restringe a políticos, mas alcança magistrados e médicos, que querem ser tratados como deuses”.

    Tratei de ler o artigo de Francisco Daudt que teria sido escrito no dia anterior. O título do artigo era o que o leitor Arialdo Pacello havia apresentado: “Excelência”. Dei uma leitura sem muita atenção e acabei não encontrando a frase que o leitor Arialdo Pacello dera a entender que Francisco Daudt dissera.  Voltei à correspondência de Arialdo Pacello para certificar o que ele havia mesmo escrito afirmando que fora frase de Francisco Daqudt e voltei ao artigo de Francisco Daudt e passei a ler com atenção. Li a primeira frase do artigo com atenção e lá estava tudo que Francisco Daudt dissera e que impressionara pela falta de lógica ao leitor Arialdo Pacello. Transcrevo a seguir a frase inicial do artigo dele “Excelência”:

    ““Vossa Excelência é um bandido”, disse o ministro, produzindo mais um ruído de comunicação, mais um desses despautérios com que esse governo tenta – entre tantos outros malefícios – nos enlouquecer”.

    Pelo texto do artigo dá-se para perceber que Francisco Daudt é um homem inteligente, culto, estudioso. Fez pós-graduação em Gastroenterologia, supriu deficiências em hepatologia, a parte mais difícil, segundo ele, da Gastroenterologia com o que havia de melhor no Rio de Janeiro e hoje é um renomado psicanalista.

    Voltei à Folha de S. Paulo de quinta-feira, 12/11/2015, e fui folheando as páginas para ver os títulos das matérias, até que me deparei com o seguinte título: “No governo Dilma, cartilha do PT é vista como “tiro no pé’”, em reportagem de Catia Seabra. Fiquei a imaginar que intriga se estava querendo fazer com um título tão estranho. A notícia era realmente aquela do título que foi extraído do primeiro parágrafo da matéria como se vê a seguir:

    “Integrantes do governo Dilma Rousseff criticaram a divulgação de um[a] cartilha em que o PT ataca o juiz Sergio Moro, procuradores e delegados da Lava Jato, o ministro do Supremo Gilmar Mendes e setores da imprensa”.

    E mais à frente há uma passagem que menciona novamente o Francisco Daudt. Diz-se o seguinte na Folha de S. Paulo, observando que, enquanto o colchete anterior é de minha conta, o mostrado na frase transcrita a seguir é da própria lavra da Catia Seabra:

    “Adiante, diz que “poucos episódios […] podem ser comparados ao artigo publicado na primeira página da Folha de S. Paulo, no dia 19 de julho de 2007, atribuindo ao ex-presidente Lula a pecha de assassino por um acidente aéreo que, conforme se comprovaria [..], foi provocado por uma sequência de falhas que nada tinham a ver com o governo”.”

    É evidente que o Francisco Daudt não recebe orientação da Folha de S. Paulo para dizer o que ele disse no artigo de quinta-feira, 19/07/2007, referido na cartilha do PT, nem recebeu orientação da Folha de S. Paulo para dizer o que ele disse na Folha de S. Paulo de quarta-feira, 11/11/2015, no artigo dele “Excelência”. Lá atrás, o Francisco Daudt foi formando uma consciência anti governo e provavelmente uma consciência anti governo de um partido de trabalhadores braçais. E se toda a racionalidade e todos os estudos de Francisco Daudt levam-no a dizer frases como as ditas acima, imagina o que pensam e dizem os que não gozam da mesma racionalidade e dos mesmos estudos de Francisco Daudt.

    Em grande parte além da cultura a origem mais remota disso é o preconceito. E muito provavelmente o preconceito tem origem na cultura. E esse preconceito grassa na mídia, mas não se trata de um problema exclusivo do Brasil. No mundo todo é assim. George Walker Bush, o filho, sofria preconceito dos intelectuais americanos. Bill Clinton também sofria preconceito dentre os intelectuais no norte dos Estados Unidos. Havia um pouco de exagero em Paulo Francis, mas ele frequentemente fazia referência a como os intelectuais de Nova York faziam cara feia para Bill Clinton.

    No Brasil, o preconceito em relação a determinadas pessoas é tão grande que o preconceito só não fica mais escancarado pelo temor que a pessoa tem de revelar o preconceito. Lula cometeu e comete muitos erros que só não são apresentados para evitar mostrar-se preconceituoso. No caso de Lula, na direita mais empedernida, o preconceito manifesta-se sem temor, mas nos meios de comunicação que querem transparecer imparcialidade o preconceito é camuflado. Ainda assim, Bernardo Kucinski produziu um ótimo artigo enumerando a série de preconceitos contra Lula que saíram na imprensa brasileira. Com o título de “O preconceito contra Lula no jornalismo brasileiro”, o artigo saiu publicado no blog Vermelho de segunda-feira, 21/01/2008 às 15p5 e pode ser visto no seguinte endereço:

    http://www.vermelho.org.br/noticia.php?id_noticia=29449&id_secao=1

    E Bernardo Kucinski já não fora exaustivo, pois ele não conseguira enumerar lá todas as manifestações preconceituosas contra Lula. Não falo das que ocorreram depois da publicação do artigo, mas das que apareceram antes. Encontrei em um texto mais antigo do ótimo jornalista Cristiano Romero, de quem eu discordo ideologicamente, mas jamais imaginaria que ele escreveria um texto como o do artigo “Estados Unidos: uma oportunidade perdida” publicado no Valor Econômico de quarta-feira, 21/09/2005 e que pode ser visto no seguinte endereço:

    http://www.iconebrasil.org.br/pt/?actA=7&areaID=5&secaoID=7&artigoID=769

    No artigo há essa pérola do preconceito:

    “O jeitão tosco de George W. Bush e a antipatia que nutria pelo antecessor de Lula facilitaram a aproximação entre o presidente americano e seu colega brasileiro. Os dois chefes de Estado têm essa característica comum. Ambos odeiam intelectuais e tiveram como antecessores justamente dois deles – Bill Clinton e FHC”.

    Então o feitiço existe, o feitiço com traços de preconceito dependendo das circunstâncias pode encontrar campo para prosperar, mas não se trata de algo preparado, planejado para assegurar uma dominação. O interesse de dominação existe, mas excetuando alguns grupos que se constituem com este fito, o interesse de dominação não se sobrepõe ao próprio interesse de lucro que é o que move qualquer empreendimento lucrativo no mundo capitalista. (E até mesmo de empreendimento não lucrativo, se este empreendimento se apresenta como não lucrativo apenas para ficar infenso à tributação).

    É claro que a escolha do jornalista que vai escrever no jornal ou aparecer em outra mídia qualquer depende da ideologia do dono da mídia, inclusive a ideologia de querer aumentar os lucros. De todo modo, o dono da mídia vai querer vender o máximo possível a sua mídia. E ele não vai vender muito indo contra a população que a mídia atende.

    Então não creio que seja a mídia quem hipnotiza o povo. Tanto na própria mídia como no próprio povo há os que já estão hipnotizados. Para tirar o grande público da hipnose será necessária uma grande tarefa de educação de um povo – saber como funciona o capitalismo, como funciona a democracia representativa, como funciona o orçamento público – mas que infelizmente é totalmente esquecida.

    A mídia influencia, mas há limites na capacidade de a mídia forjar corações e mentes. Não só não há discurso capaz de atingir a todos, como há circunstâncias que reduzem (ou também aumentam) a influência da mídia.

    Aproveito para fazer menção ao comentário de JC.Pompeu enviado sexta-feira, 13/11/2015 às 10:42, aqui para este post “Sociólogo diz que sociedade está ‘enfeitiçada’ pela manipulação da mídia” de sexta-feira, 13/11/2015 às 19:55, aqui no Blog de Luis Nassif e originado de sugestão sua para matéria na Rede Brasil Atual sobre o debate realizado pelo Fórum 21 na manhã de 12/11/2015 na Assembleia Legislativa paulista com o sociólogo Laynert Garcia dos Santos. Menciono também o post “Sobre a criação de um clima de pessimismo” de segunda-feira, 19/05/2014 às 15:38, aqui no blog de Luis Nassif e originado de comentário de Andre Araujo, enviado segunda-feira, 19/05/2014 às 15:54, para contrapor ao argumento de Alexandre de Argolo apresentado no post “O catastrofismo não tem amparo nos fatos” de segunda-feira, 19/05/2014 às 08:26, aqui no blog de Luis Nassif, e o post “O Direito de Resposta e as Nove Leis de Mirian Leitão” de segunda-feira, 16/11/2015 às 00:00 (depois atualizado para segunda-feira, 16/11/2015 às 18:44), aqui no blog de Luis Nassif e de autoria dele.

    No comentário de JC.Pompeu, ele indica o livro de Bertrand Russell “Let the People Think: A Selection of Essays by Bertrand Russell”, mais especificamente o terceiro artigo do livro e que se intitulava “Free thought and official propaganda”. Não conhecia essa obra, mas JC.Pompeu faz curta resenha mostrando a importância que Bertrand Russell dava ao questionamento das notícias que aparecem nos jornais, dando ênfase às notícias vindas de fontes oficiais. Ele também indica o livro “Outras Inquisições” de Jorge Luis Borges, que também não conheço. Em relação ao livro de Jorge Luis Borges não há a resenha, mas imagino que dada a criatividade do argentino muito provavelmente ele mostra como é enganosa a realidade que se aprende, principalmente pelas fontes oficiais.

    Chamo atenção para o comentário de JC.Pompeu não só pela importância dos autores indicados e pela pertinência para este post “Sociólogo diz que sociedade está ‘enfeitiçada’ pela manipulação da mídia” do que diz Bertrand Russell no artigo “Free thought and oficial propaganda” como também porque o artigo mostra limite no que eu considero uma premente necessidade: a educação do povo. Quem ficará comprometido com a tarefa de produzir a era de esclarecimento na humanidade? Serão as fontes oficiais, será a grande mídia? Talvez mais do que uma tarefa difícil, a educação do povo seja uma tarefa impossível.

    O texto que Luis Nassif produziu para o post “O Direito de Resposta e as Nove Leis de Mirian Leitão” é muito bom e vale ser lembrado aqui e assim eu deixo a seguir o endereço onde ele pode ser acessado:

    https://jornalggn.com.br/noticia/o-direito-de-resposta-e-as-nove-leis-de-mirian-leitao%C2%A0

    E deixo também o link para o post “Sobre a criação de um clima de pessimismo”, porque ele representa uma crítica de uma pessoa abalizada à idéia, a meu ver equivocada, de que a grande mídia faz e desfaz a economia espalhando ou recolhendo clima de otimismo ou pessimismo. O endereço do post “Sobre a criação de um clima de pessimismo” é:

    https://jornalggn.com.br/noticia/sobre-a-criacao-de-uma-clima-de-pessimismo

    Dei o exemplo do post “Sobre a criação de um clima de pessimismo” e referi ao seu autor Andre Araujo como pessoa abalizada primeiro para mostrar que o poder da mídia é grande mas é limitado e segundo porque pretendo mostrar que mesmo pessoas abalizadas se deixam cair em tentação e contradizem tudo que disseram antes. Antes lembro que o post “Sobre a criação de um clima de pessimismo” é de segunda-feira, 19/05/2014 às 15:38 e se inicia assim:

    “Ninguém inventa do nada um clima pessimista em um País, muito menos a imprensa tem poder sozinha para, do nada, criar um clima de pessimismo ou otimismo. Essa crença em um poder isolado e ilimitado da imprensa é uma derivação das teorias de conspiração, que não são produto da lógica, mas sim da fé irracional em totens definidores da História”.

    Pouco mais de um ano depois, o mesmo Andre Araujo, aqui no mesmo blog de Luis Nassif da origem ao post “Lava Jato: vazamento é a alma do negócio, por André Araújo” de quinta-feira, 25/06/2015 às 17:04, em que ele diz o seguinte logo no início:

    “De todos os aspectos da Lava Jato, de sua desconstrução da economia brasileira, da criação de um clima pesado e negativo que desencoraja novos empreendimentos porque qualquer passo pode ser mal interpretado e levar à cadeia, o que chama a atenção como tática da operação é o ilimitado vazamento de informações para servir de base à desmoralização dos pretensos investigados”.

    Então, para Andre Araujo, “o clima pesado e negativo que desencoraja novos empreendimentos” pode ser criado e ter efeito na economia. E é criado via vazamentos que desaguam na grande mídia.

    O endereço do post “Lava Jato: vazamento é a alma do negócio, por André Araújo” é:

    https://jornalggn.com.br/noticia/vazamento-e-a-alma-do-negocio-por-andre-araujo

    Como eu disse em comentário que enviei sexta-feira, 26/06/2015 às 14:20, lá no post “Lava Jato: vazamento é a alma do negócio, por André Araújo”, eu sou refratário a essa percepção de que a origem de problemas econômicos como o que a economia brasileira atravessa possa ter origem no comportamento da mídia. É preciso analisar com mais detalhe tudo que aconteceu para encontrar explicações mais concretas sobre o presente.

    Pode eventualmente acontecimentos extraordinários – como me pareceu serem as manifestações de junho de 2013 – mudar a história, mas o que a mim me parece tem que ser demonstrado, ou por mim ou por que tenha capacidade para tal, como real para só então ser utilizado como fato provado.

    Clever Mendes de Oliveira

    BH, 17/11/2015

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