Swissleaks, um iceberg na Suíça, por Luciano Martins Costa

Lourdes Nassif
Redatora-chefe no GGN
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do Observatório da Imprensa

Imprensa & Escândalos: Swissleaks, um iceberg na Suíça

Por Luciano Martins Costa

Globo inicia na quinta-feira (12/3) uma série de reportagens sobre o caso conhecido como “Swissleaks”, ou seja, o vazamento de informações sobre contas mantidas por 106 mil clientes e 20 mil empresas na filial suíça do banco britânico HSBC. O trabalho do diário carioca vai focalizar parte dos 8.687 brasileiros que aparecem na lista como donos de pelo menos US$ 7 bilhões. Esse montante se refere apenas a um pacote de documentos revelado pelo engenheiro de software Hervé Falciani, que coletou os dados de 2006 e 2007.

Não é crime possuir uma conta no exterior, mas o caráter sigiloso desses contratos chama a atenção da Polícia Federal, conforme explica o jornal.Esse cuidado em não criminalizar a priori os proprietários do dinheiro se destaca na primeira reportagem, e nenhum dos que foram localizados pelos jornalistas admitiu ser titular das contas. No entanto, o jornal relacionou 23 deles a casos de corrupção, fraude e outros crimes investigados ou julgados nos últimos anos, o que significa que o que veio à tona pode ser apenas a ponta de um imenso iceberg.

Globo vincula esses nomes, entre outros, ao caso das licitações superfaturadas no sistema de trens e metrô de São Paulo, à “máfia da Previdência”, à falência fraudulenta do Banco Econômico, a dois esquemas ligados a compras de medicamentos no Ministério da Saúde, e a pelo menos um dos envolvidos na operação Lava Jato.

Não há como deixar de relacionar essas fortunas suspeitas também a casos ainda não citados pelo jornal, como o escândalo do Banestado, considerado por policiais e procuradores como a matriz dos esquemas de evasão de divisas no Brasil.

O cuidado do jornal se justifica pelo fato de que nem todos os correntistas são criminosos, mas levanta uma questão de método: por que essa mesma cautela, própria do bom jornalismo, não se aplica com equanimidade a outros escândalos, nos quais a imprensa transforma automaticamente em réus todos os citados?

No caso das contas suspeitas na Suíça, a primeira amostra da investigação jornalística pode impulsionar a ação policial, como observa o Globo, e daí pode nascer uma parceria capaz de fazer revelações importantes.

A questão das fontes

Qual a diferença entre o “Swissleaks” e os demais escândalos que pululam diariamente na imprensa brasileira? Basicamente, a diferença está na fonte das informações: o escândalo que nasce no banco britânico por iniciativa de um ex-funcionário está sendo destrinchado por um consórcio de centenas de jornalistas de várias nacionalidades, o que dificulta a manipulação seletiva dos dados. Uma “versão nacional” que viesse a destoar das publicações em outros países colocaria sob risco a reputação do jornal.

Nos casos de corrupção e fraudes investigados no Brasil, pode-se construir qualquer narrativa, ao sabor da vontade dos editores, porque as fontes são em geral vazamentos clandestinos de inquéritos que se desenvolvem sob sigilo oficial, mas que servem a propósitos políticos. E é isso exatamente que tem acontecido nos últimos anos, principalmente após as primeiras revelações do esquema de financiamento de campanha que resultou na Ação Penal 470.

Observe-se que, ao contrário dos períodos anteriores, os órgãos públicos de investigação e o sistema judiciário brasileiros têm atuado na última década com plena desenvoltura e sem interferências dos demais poderes. A Polícia Federal tem autonomia para conduzir seus inquéritos, a Procuradoria Geral da República simplesmente dá curso às denúncias que lhe compete conduzir e ninguém ouve falar, desde 2002, de manobras para ocultar, obstruir ou engavetar processos. Pelo contrário, é em certo gabinete do Supremo Tribunal Federal que se localiza o “triângulo das Bermudas” de alguns casos recolhidos para vistas e que em seguida desaparecem do noticiário.

Na quinta-feira (12), alguns comentaristas começam timidamente a alertar para o risco de confrontos nas manifestações marcadas para o próximo domingo, onde estarão misturadas expressões legítimas de insatisfação com o governo federal, oportunistas de todo tipo e aventureiros que defendem a volta da ditadura militar. O clima beligerante foi criado pela imprensa brasileira, ao convencer os midiotas de que a corrupção foi uma invenção do século 21.

A série de reportagens iniciada pelo Globo é o modelo que foi esquecido.

 

Lourdes Nassif

Redatora-chefe no GGN

10 Comentários

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  1. Jornalistas da “Grande

    Jornalistas da “Grande Imprensa Familiar “, do tipo fernandos rodrigues da vida,  não tocam no assunto HSBC por uma simples razão: “O NEGÓCIO TÁ FEIO E O NOME DO PATRÃO TÁ NO MEIO.” 

  2. MIDIOTAS, MARIA-NET´s E MARIO-NET´s

    Pra definir as maria-vai-com-as-outras, mal informadas… A questão é toda essa. Qual a fonte de informações de uma pessoa. Se ela lê Le Monde, El Pais, certamente não vai as manifestações. Se ela assiste Globo, SBT, lê Veja, certamente irá. O ódio sempre existe em pessoas insatisfeitas e infelizes. O fato apenas  acende,  direciona e potencializa esse ódio.

  3. Então…
    Falamos, falamos do

    Então…

    Falamos, falamos do sistema Globo e pra ter informação… precisamos do sistema Globo. É de doer. E ficamos nós com o recorte da corrupção que a Globo se dispõe a nos dar.

    O PT incompetente nem pra mandar apurar o caso presta. Será que ninguém do PT tem um funcionário de confiança na Receita para apurar o Swissleakes e passar para os blogueiros que defendem a normalidade democrática? O que esse bando de petistas faz que não ocupa o poder?

    Depois não queremos que o sistema midiatico comande o pais e derrube o governo.

    1. Verdade. A certeza que eu

      Verdade. A certeza que eu tenho de que o listão do FHSBC tá recheado de tucanos é que até agora não apareceu nenhumzinho pra tocar no assunto, nem o Álvaro Botox.

  4. “Destruir a reputação do

    “Destruir a reputação do jornal”. Qua qua. Só rindo. Essa goebbels deve ter pago bem caro pra ter essa lista pra usá-la a seu bel prazer, divulgando nomes seletivamente e deixando em banho maria outros que possam ser úteis no futuro. Por exemplo, esse tucano do Metrô pode ter sido usado pra enviar recados subliminares pra outros que estão no listão.

    Globo Overseas, quem não te conhece que te compre.

  5. “No entanto, o jornal

    “No entanto, o jornal relacionou 23 deles a casos de corrupção, fraude e outros crimes investigados ou julgados nos últimos anos, o que significa que o que veio à tona pode ser apenas a ponta de um imenso iceberg”:

    O judiciario.  Sempre o JUDICIARIO.  O unico caso que eu investiguei aleatoriamente foi de alguem que foi processado por fraude gerencial.  O caso terminou arquivado depois de uma “multa” de menos de 2000 reais.

    EH SEMPRE O JUDICIARIO. SEMPRE.

    1. (ficou sem explicacao:  o

      (ficou sem explicacao:  o unico caso de um nome aleatorio da lista que eu me dei ao trabalho de pesquisar etc…)

  6. Sem loas ……………

    Sempre leio os artgos do Luciano, mas este, sinceramente !!!!

    A principio, minha leitura é de que está dando uma nova oportunidade ao jornaleco de se redimir, mas para quem, como nós, já estamos vacinados, fica dificil acreditar que esta série de reportagens terá credibilidade.

    Sobre os vazamentos terem sido feitos pelos jornalistas investigativos, muito crédito, mas repercutido pelo jornaleco, muito descrédito. Pode-se estar armando mais uma, como é de praxe deste pasquim!!

    Então meu caro Luciano, ficamos no aguardo, sem tecer loas !!!!

  7. Globo!!!?? Faz-me rir. E

    Globo!!!?? Faz-me rir. E depois de tanto tempo? Óbvio que tenebrosas negociatas foram fechadas nesse período e todos os cachorros grandes inconvenientes foram retirados da “lista”.

  8. Não esqueçam de twittar #GloboGolpista

    #GloboGolpista. Líder de trend topics

    Às 23:00 desta quarta-feira (11) a hastag #GloboGolpista era o assunto mais comentado do Twitter no Brasil.

    Pouco tempo depois, a emissora caiu para o segundo lugar em número de comentários.

    Nas postagens, os internautas lembraram episódios polêmicos em que a Rede Globo esteve envolvida, como a edição do debate entre Lula e Collor em 1989, além do papel do grupo durante a ditadura militar.

    “Não esquecemos a edição Lula/Collor, a bolinha de papel, e nunca vamos esquecer a capa ‘Eles sabiam’, fora PIG, fora #GloboGolpista”, escreveu Ivaldo Moraes (@IvaldoMoraes).
    https://twitter.com/IVALDOMORAES/status/575838720764608512

    “Não vamos deixar que 64 se repita!!! #GloboGolpista”, twittou Danusi (@DanusiRodrigues).
    https://twitter.com/DanusiRodrigues/status/575841439013343232

    “A #GloboGolpista quer sangrar o governo até o fim. Sangram, na verdade, a população, a maior vítima desse ‘jornalismo’ golpista e criminoso!”, opinou Flavia Pais (@FlavinhaPais)
    https://twitter.com/flavinhapais/status/575841068907913216

    “A #GloboGolpista deve bilhões ao governo e na peroba quer derrubar um governo eleito legitimamente…SF #GloboGolpista…”, disse Ana Araujo (@Ana_tearaujo)
    https://twitter.com/ana_tearaujo/status/575841062436085761

    Veja outras manifestações, via twitter, com a hastag #GloboGolpista no link:

    https://twitter.com/hashtag/globogolpista?f=realtime&src=hash

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