Traficantes, únicos vilões nos combates cariocas?

Propaganda de guerra

Quem são os vilões nos combates cariocas? A imprensa corporativa simplifica-os no coletivo “traficantes”, suscitando mistificações embaraçosas. Vemos apreensões de sacos de maconha, pacotes de cocaína e até vidros de lança-perfume, o antiqüíssimo “loló”, como se pudessem, agora sim, desfalcar o imenso poder dos caubóis malvados.

Quantos quilos de maconha são necessários para pagar um fuzil de última geração? Quantos alqueires de plantações de fumo dariam troco suficiente para financiar os arsenais e exércitos que enfrentam as forças públicas nas favelas? Quantos milhões de papelotes de pó deveriam ser vendidos, em boa cotação, para erguer fortalezas luxuosas? Alguém já fez essa conta?

SeosSe os “traficantes” dominam o crime organizado, onde estão os assaltantes de banco, os seqüestradores, os ladrões de carga, os contrabandistas, os falsificadores, os proxenetas, as quadrilhas de jogo ilegal, os exploradores de pedofilia, etc? Ah, entendi, eles não são estruturados nem equipados, tampouco dispõem de recursos ou armamento. E, claro, o empreendimento criminoso caracteriza-se pela ética da especialização: quem vende “tóchico” não se permite roubar.

Por natureza, uma ação de combate dessa envergadura é permeável a todo tipo de sensacionalismo. Pode-se até discutir o caráter nocivo do discurso “mata e arrebenta” propagado pelo noticiário televisivo. Mas a insistência numa associação demagógica e irreal entre o banditismo e a droga não surgiu apenas de exigências didáticas. Há muito da ideologia retrógrada do filme “Tropa de Elite” nessa propaganda. Justamente quando a sociedade poderia questionar a estupidez proibicionista, a mídia contribui para sua apologia.

http://www.guilherme.scalzilli.nom.br/

Luis Nassif

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