TV Brasil deixa de ser pública e vai retransmitir TV Cultura, por Tereza Cruvinel

Lourdes Nassif
Redatora-chefe no GGN
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do Brasil247

TV Brasil deixa de ser pública e vai retransmitir TV Cultura

por Tereza Cruvinel

Não se pode mais chamar a TV Brasil de TV Pública. É triste mas é a verdade. Com a extinção do Conselho Curador, do mandato do presidente da EBC e o fim das garantias de independência, será uma TV governamental. Ou estatal, como gosta de dizer a mídia privada. A não ser que, ao votar a MP 744, o Congresso impeça as aberrações que ela contém. Não tenho esperanças, está tudo dominado naquela Casa pelo espírito do retrocesso. E para completar a esquizofrenia do desmonte, a nova direção da empresa negocia acordo com a TV Cultura de São Paulo para retransmitir sua programação. Será a TV do Temer prestando reverência à TV do Alckmin. Sem falar nas irregularidades legais que cercam a nova tomada da EBC, que os iluminados do Ministério Público não enxergam.

Na vertigem política que açoita o Brasil, a percepção do sentido da desconstrução da EBC é obscurecida pelos fatos graves que acontecem todos os dias. Trata-se de um dos mais toscos e retrógrados subprodutos do golpe. Tosca e truculenta foi a tomada da EBC, pela segunda vez, pelos gestores indicados por Temer, depois da revogação da liminar do ministro Toffoli que havia garantido o mandato de Ricardo Melo. Temer deu a volta no Supremo editando uma medida provisória. Retrógrada é a decisão de rebaixar uma instituição criada e gerida com a participação da sociedade, para prestar serviços de comunicação pública, nos termos previstos pela Constituição, a um mero aparelho de comunicação governamental. Isso é involução, atraso, caranguejada. Um triste sinal dos tempos.

Depois das violências de maio, quando tomou posse pela primeira vez, sendo afastado pela liminar do STF, o novo presidente, Laerte Rimoli, voltou a ocupar a presidência da EBC com truculência: demitindo, injuriando antigos gestores, desconstruindo a institucionalidade erigida nos últimos anos. Depois que ele foi exonerado por força da liminar de Toffoli, Temer sancionou a lei das estatais, que impede a ocupação de cargos de direção em empresas públicas por quem tenha atuado em campanhas eleitorais. É o caso dele, que trabalhou na de Aécio Neves. Mas o governo contornou a situação, deu um jeitinho. A Advocacia Geral da União, sob nova direção, decidiu que não seria preciso nomeá-lo novamente, através de um decreto que trombaria com a lei. E assim está sendo.

Nos últimos oito anos, a TV Brasil construiu uma rede com emissoras educativas estaduais e independentes. Os contratos de rede foram revogados. Produziu conteúdos que alimentaram sua grade e a das emissoras parceiras. Licenciou conteúdos de qualidade, dos produtores nacionais independentes e de emissoras públicas internacionais. Tem um riquíssimo banco de conteúdos, alguns próprios, outros em parceira com  produtores brasileiros. Tem acervo e tem equipamentos modernos para continuar produzindo. Mas produzir para quê? Devem se perguntar os gestores. Está em marcha o acordo com a TV Cultura para reproduzir sua programação.

A parceria com a emissora paulista é desejável e começou em minha gestão, quando firmamos o acordo que garantiu o abrigo dos transmissores do canal paulista da TV Brasil na torre do Sumaré. Em troca, a EBC forneceu à TV Cultura seu primeiro transmissor digital.  Outros acordos foram firmados, inclusive para coproduções. Mas trocar uma grade própria pela de outra emissora tem o propósito de desmontar a TV Brasil, de reduzi-la a nada. Melhor que a reduzam logo, e explicitando isso na lei que está sendo alterada, à condição real de emissora governamental. Será jogo mais limpo.

A História não acaba em Temer. A luta pela comunicação pública não acaba com o desmonte da EBC. Será retomada, haverá reconstrução, à luz da Constituição. O que é inaceitável é não dar às coisas seu devido nome. Temer e seu governo precisam assumir que estão desconstruindo a maior experiência de comunicação pública que o país já teve. É simples. Basta que digam, inclusive na MP: não haverá mais canais públicos, apenas governamentais. Pois assim já é na prática, embora não esteja dito na MP 744, que vem recebendo dezenas de emendas, tentando consertar o estrago.

As chances de restauração da Lei 11652/2008 são poucas, sejamos realistas. Mas uma coisa devemos exigir: sem que isso aconteça, não chamem a TV Brasil de TV Pública. Eu chamarei de TV do Temer.

Lourdes Nassif

Redatora-chefe no GGN

12 Comentários

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  1. Estamos lascados!

    Na verdade, o Temer não manda nada! É a guangue paulista do PSDB quem dá as cartas neste país. Como dito em artigo neste blog pelo Sr. Wanderley Guilherme dos Santos, estamos entranto em uma nova Idade Média que durará décadas. 

  2. Paulistada filha da puta!

    Paulistada filha da puta!  Voces REALMENTE estao pensando  que vao se empurrar goela abaixo do Brasil?

    Podem escrever na pedra, gente, nao vai dar outra:  vai ser essa paulistada  filha da puta  dia e noite nessa “televisao”.

  3. Isso era mais que

    Isso era mais que previsível.

    O que os espíritos de 1932 reencarnados aspiram é continuar a caça, como nos séculos XVI, XVII e XVIII no restante do Brasil, entregando-lhe ao estrangeiro a troco de espelhinhos e centralizando tudo na República de Itu. Em linguagem clara. aspiram ser o 51º estado americano e o resto do Brasil um mero meio de troca pra isso, a seu dispor.

    Tudo tem que ser meio de propaganda do Império – no caso do Sistema Globo; ou de propaganda de seu estado favorito na América do Sul. Sem direito a coisa de qualidade, ressalve-se. Apenas um alto-falante partidário. Só.

    DUCO NON DUCOR!

    1. Paulista profundamente

      Paulista profundamente apaixonado pelo meu estado, paulistano amante da minha cidade, com dor imensa no coração comento suas palavras, DeBarros: verdade.

      1. Não misturem as bolas! Onde

        Não misturem as bolas! Onde estão acontecendo os maiores protestos contra Temer?

        Onde aconteceram os maiores protestos contra o impeachment?

        Bairrismo não leva a nada. Somos brasileiros e esse tipo de pensamento lava à divisão.

        1. Concordo

          Seja PR ou SP a escrotidão vem de seus governantes. Não há como negar que o povo paulista encabeça a luta no país e está apanhando muito por isso

  4. Todo dia uma porrada!!!
    E o pior é ver que aqueles que iam às ruas queriam era isso mesmo.

    Há ingênuos que pensavam :” eles vão cair na real”.

    Sinto muito. Queriam isso. Gostam desse atraso para se sentirem no “meio da pobretada”.

    E arrotar que os pobres “não são educados, são broncos ,tb pudera não conhecem o primeiro mundo”.

    Um país desfuncional e miserável faz bem pra esse tipo de gente. Faz eles se sentirem superiores à maioria.

    Mesmo que no fundo saibam que são toscos e ridiculos. Fazer o quê? Eles são a maioria.

    Chorar????

    1. Não lutar. Como diz Nassif na

      Não lutar. Como diz Nassif na matéria a história não acaba aqui. Lutando é que a mudaremos. Dia 22/09 preparação para a greve geral., Informe-se e junte-se a quem está lutando, se é que você já não está. Força.

  5. Previsível

    E o golpe, ainda com poucos meses de idade, promete recrudescer ainda mais. Não vejo nem as eleições de 2018 como regulares e honestas… ‘magina! 2018 é amanhã! Ainda amargaremos bons anos nessa escuridão…

    Pena, estávamos indo bem na pluralidade, na criatividade, no arejamento, na “inclusividade”…

    Virou “exclusividade”. Exclusividade do coronelato proto-capitalista brasileiro…

    Substituirá Augusto Nunes, no Roda Viva, ninguém menos que Reinaldo Azevedo. 🙁

  6. O Iraque é aqui…

    Estamos saindo de uma guerra de dominação como a acontecida no Iraque, Líbia…com a diferença de que éramos uma democracia e não sabiamos,,,o povo não demorará a perceber a enrascada em que as elites deste pais vos enfiou….interessante se notar que,  ao contrário do que ocorreu naqueles paises, não foram necessários disparos de misseis,,, ações com base na Doutrina do Choque e Pavor, uma tatica do mercado para dominar geral, tem sido tomadas….um detalhe: ao contrário dos paises citados, por aqui não foram necessários disparos de misseis na luta de dominação…mas para que mesmo se as nossas Instituições se alinharam totalmente aos golpistas…tendo um Eduardo Cunha no comando do Legislativo, para que misseis para subjarnos…o que veremos aqui, já vimos no Iraque: entrega total aos “vencedores” que no momento disputam o butim…e salve-se quem puder…

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