Uma escolha difícil 5,
Por Eliara Santana*
De volta à série do Estadão, somos brindados com a pérola “ Nem Lula, nem Bolsonaro”, que foi publicado no dia 13 de agosto e ganhou a assinatura de empresários como Horácio Lafer Piva (FIESP), Pedro Wongtschowski (Ultra-Ipiranga) e Pedro Passos (um dos fundadores da Natura). Como eu disse, a série “Uma escolha…” alcançará marca histórica até 2022.
O texto dessa versão 5 é, como sempre, repleto de clichês e lugares-comuns, com forte apelo ao emotivo e à ideia reducionista e simplista de superação e futuro. Mas não me interessa essa construção do ponto de vista de estrutura textual, e sim a construção argumentativa que marca a tentativa – pela enésima vez – desonesta, inescrupulosa, cafajeste e completamente desconectada das injunções históricos de ligar o ex-presidente Lula ao atual presidente Jair Bolsonaro como se eles se equivalessem e disputassem campos que se opõem como polos num espectro democrático. Isso seria possível dizer se estivéssemos considerando atores como Lula e FHC.
Segundo os signatários do texto, “O Brasil anda mal, muito mal. Não adianta se esconder atrás do sucesso do agronegócio, das startups, da rica, embora maltratada, cultura e até da ampla aceitação das vacinas contra a covid-19. O fato é que avançamos mal em quase tudo para onde se olhe o País, revelando um desperdício gritante de oportunidades e um desalinho criminoso diante de tantas necessidades”.
Uma constatação óbvia, que deveria ser sinalizada e discutida na perspectiva de discutir como e por que chegamos a este estado de coisas, sendo que experimentamos um cenário muito promissor em anos muito recentes. Quem foram os sujeitos históricos responsáveis por nos conduzir a esse sanatório geral?
Falar em cenários aleatórios sem estabelecer uma ligação histórico-contextual decente é balela, exercício de digressão que se torna absolutamente infrutífero. Quais são os elementos históricos fundamentais para que se compreenda nossa atual e tenebrosa situação? Essa é a pergunta ou uma das – que deve ser feita e problematizada.
Prossegue o artigo de opinião a dizer que: “Depois de tantos reveses, não se concebe o Brasil jogado noutra aventura. Já passou por dois modelos de gestão e conseguiu se dar mal em ambos. É hora de buscarmos um novo caminho – uma alternativa de equilíbrio, moderação e responsabilidade, com sentido de missão e foco em resultados”.
A maior “aventura” em que os grupos de poder – em que se inserem os tais escribas signatários desse texto – mergulharam o Brasil em tempos recentes foi o golpe, embrulhado como impeachment sem crime de responsabilidade, contra a ex-presidente Dilma Rousseff. E tal como ela vaticinou quando saiu do Planalto, não restou pedra sobre pedra. Naquele momento, sob o falacioso argumento de “pedalada fical” os grupos de poder jogaram nossa frágil democracia no buraco.
Quais os elementos para dizer que o Brasil se deu mal igualmente nos “modelos de gestão” anteriores? É honesto dizer que eles se equivalem? Quais os números, índices que mostram essa equivalência?
E, sobretudo, qual é essa maravilhosa alternativa “de equilíbrio, moderação e responsabilidade”? Onde está esse ser de luz que virá, impávido que nem Mohammed Ali, a nos salvar?
Segundo os empresários signatários, que se autodenominam “três teimosos escribas”, “ambos os aspirantes à corrida presidencial já são personagens da História, que saberá julgá-los”, e
“a solução não está nem em Lula nem em Bolsonaro. O voto é livre e soberano, mas, de tão sério, precisa ser exercido com alto grau de discernimento. Ambos os aspirantes à corrida presidencial já são personagens da História, que saberá julgá-los”.
Nunca foi e não será uma escolha difícil – em 2018, após o golpe de 2016 em Dilma e depois de toda sorte de manipulações, arranjos e ilegalidades para tirar Lula da disputa presidencial, tínhamos um professor e um projeto de genocida na disputa para a presidência da República. Naquele cenário, onde residia a dificuldade da escolha?Portanto, é no mínimo desonesto que grupos que participaram ativamente desses dois momentos históricos e de todas essas articulações venham a público reiteradamente dizer que Lula e Bolsonaro se equivalem como atores políticos e sujeitos históricos. NÃO SE EQUIVALEM.
Vou elencar aqui alguns elementos que mostram brevemente um legado das administrações petistas e então poderemos continuar esta conversa para uma nova sessão “uma escolha difícil”:
Não vou perder o meu tempo e o de vocês tentando apresentar o que foi feito por Bolsonaro.
“Quanto a nós, é daqui para a frente, e, por consequência, a partir de 1.º de janeiro de 2023, que o Brasil se mostrará tanto a quem dele precisa quanto a quem dele se quer orgulhar”. Tomo como minhas essas palavrinhas finais do artigo jogadas assim aleatoriamente e reitero: daqui para frente devemos assumir o compromisso de lutar, dia e noite, para o Brasil volte a ser um país decente, digno para o conjunto de sua população, um lugar alegre onde acreditamos em vacinas e urnas eletrônicas, onde podemos comer carne e não encher filas para pegar ossos, onde orgulhosa e alegremente saímos para trabalhar na segunda-feira, pois há emprego e condições decentes de trabalho, um país reconhecido no mundo, chamado a discutir todas as questões importante no cenário mundial. Enfim, um país que vimos emergir até 2014, com as administrações petistas. Vamos trabalhar ddiuturnamente para desconstruir essa falácia perniciosa e desonesta de “escolha difícil”. De fato, a História saberá julgar muito bem todos os atores e sujeitos envolvidos.
* Eliara Santana é uma jornalista brasileira e Doutora em Linguística e Língua Portuguesa pela Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais (PUC-MG), com especialização em Análise do Discurso. Ela atualmente desenvolve pesquisa sobre a desinfodemia no Brasil em interlocução com diferentes grupos de pesquisa.
Este texto não expressa necessariamente a opinião do Jornal GGN
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