Uma pesquisa oportunista, por Luciano Martins Costa

Patricia Faermann
Jornalista, pós-graduada em Estudos Internacionais pela Universidade do Chile, repórter de Política, Justiça e América Latina do GGN há 10 anos.
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Por Luciano Martins Costa

Do Observatório da Imprensa

Os principais diários de circulação nacional trazem na quarta-feira (18/3) duas reportagens valiosas para a análise da crise política. Numa delas, a Folha de S. Paulo apresenta um levantamento da popularidade da presidente da República, onde ela, evidentemente, aparece com alta taxa de reprovação. No outro assunto, tanto a Folha como o Estado de S. Paulo e o Globo citam um documento supostamente reservado, com uma análise extremamente negativa sobre a política de comunicação do governo federal.

A pesquisa Datafolha não pode ser considerada apenas em seus aspectos estatísticos. Aliás, embora o jornal dê toda ênfase aos números – que apontam o mais baixo índice de aprovação de um governante desde o fim do mandato de Fernando Collor de Mello –, o que importa aqui é a circunstância em que foram colhidas as opiniões. Os pesquisadores do instituto saíram às ruas precisamente nos dias 16 e 17, logo após as manifestações de protesto contra o governo – estimuladas pela imprensa –, o que, com certeza, condiciona um grande número de respostas.

Interessante observar também que o levantamento inclui perguntas sobre a situação econômica, que revelam igualmente um aumento do pessimismo, curiosamente numa circunstância em que o noticiário aponta perspectivas mais otimistas sobre a economia (ver aquiaqui e aqui).

Evidentemente, as respostas sobre a avaliação da presidente sofrem forte influência das manifestações e da cobertura intensamente negativa feita pela imprensa no período. Da mesma forma, é ocioso afirmar que, no clima conflagrado, a perspectiva dos consultados sobre a situação econômica tenderia a ser a pior possível.

Para os observadores da imprensa, a quarta-feira produz um exemplo de como funciona o círculo de convencimento da mídia tradicional. Como se sabe, a Folha de S. Pauloestimulou a participação dos leitores nas manifestações do domingo, dia 15, oferecendo espaço em seu portal, o UOL, para fotos e vídeos dos protestos. A iniciativa foi copiada por outros jornais e portais da internet. Em seguida, o Datafolha sai a campo para referendar, com uma pesquisa oportunista, o que seria o ânimo da população com relação ao governo e à economia do país.

A comunicação errática

O outro assunto destacado pelos jornais – um estudo interno do Planalto sobre a crise política – é o reverso do quadro. Esse quadro mostra, de um lado, uma imprensa partidarizada agindo de maneira extremamente eficiente no processo de demonizar o grupo político que ocupa o Planalto e, do outro, um governo incapaz de produzir uma estratégia de comunicação minimamente funcional.

O próprio vazamento do estudo, apontado como um “informe interno”, revela a incapacidade do Executivo de sequer manter em território restrito documentos de seu interesse. Trata-se de um relatório não assinado (ver aqui), portanto anônimo e, por isso, possivelmente apócrifo.

O que fez com que os três principais diários de circulação nacional o aceitassem como um documento oficial? Evidentemente, o que dá credibilidade ao texto é sua fonte, ou seja, quem vazou o documento é reconhecido como alguém ligado ao governo.

A situação lembra um episódio ocorrido durante o governo do ex-presidente Lula da Silva, quando a Folha de S. Paulo publicou uma nota dizendo que havia um “espião” no Planalto vazando informações para a imprensa. Ora, conforme se revelou posteriormente, o “espião” era um funcionário de confiança da Secretaria de Comunicação, que havia feito carreira na própria Folha, e que se dedicava, em suas relações sociais, a contar anedotas sobre reuniões ministeriais e sobre o próprio presidente Lula.

Não é de hoje, portanto, que os governos do Partido dos Trabalhadores se veem em situação desconfortável diante da chamada opinião pública, por conta de uma comunicação amadorística, sem rumo e, quase sempre, vulnerável às manipulações da mídia tradicional. Nos três mandatos sucessivos da aliança que governa o país desde 2003, são raros os momentos em que a Secom deu demonstrações de ter uma estratégia coerente com o que se espera de um governo com o perfil petista.

O relatório que a imprensa reproduz diz que o Brasil vive “caos político”, conforme destaca o Estado de S. Paulo em manchete, e afirma que o governo produz uma comunicação “errática”.

Não se pode afirmar que se trata de um documento válido, ou se é parte de conspirações internas entre assessores da presidente. Mas a surra que o Planalto está sofrendo na disputa pelo apoio da população mostra que o autor do texto sabe do que está falando.

 

Patricia Faermann

Jornalista, pós-graduada em Estudos Internacionais pela Universidade do Chile, repórter de Política, Justiça e América Latina do GGN há 10 anos.

12 Comentários

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  1. Tudo falso

    Todos amam a Dilma o Lula e o PT

    é Tudo mentira

    Não houve trensalão, mensalão, petrolão

    E qualquer coisa do BNDES sobre financiamentos secretos, tb é mentira.

  2. Inacreditável, então “jornalistas profissionais”

    recebendo salario do governo federal, repassam informações de cocheira para os ex-colegas, e agora um documento “interno” que talvez nem interno seja.

    E há uma cambada de “jornalistas profissionais” escrevendo diariamente sobre “corrupção.

    Com que direito. A força do cinismo?

    Imagino que a familia inteira com baba e tudo foi na Paulista no dia 15/03/15…

     

  3. Toda pesquisa é oportuna ou

    Toda pesquisa é oportuna ou oportunista.

       Depende de quem é beneficiado ou prejudicado.

           Foi oportunista depois do dia 15? Mas as pessoas que foram estavam determinadas a ir antes do dia anunciado.

               O que me leva a perguntar: Dias antes ou até mês antes do dia 15 de março, as pesquisas seriam diferentesa?

                   Ouso dizer que nem em dezembro de 2014 ou janeiro de 2015 não faria muita diferença.

                      E ai vem um cara tentar explicar que ”não é bem assim”.

                  Ou está fora da realidade(igual  a Dilma) ou é remunerado com palavras, dinheiro ou elogios pra escrever isso.

                      E creia: 12 de abril será muito mais gente ainda.

                      Dilma escapa do impedimento.Quem não escapa somos nós pra atura-la mais 46 meses.

                        É DOSE PRA MAMUTE!!!!

  4. Não foi uma “pesquisa

    Não foi uma “pesquisa oportunista”..

    Ela foi pensada e planejada para auferir esses resultados.

    Não há ninguém bobo na imprensa golpista. Tudo é calculado.

    Já no governo….

    1. Pois é. Uma jogada manjada

      Pois é. Uma jogada manjada dessas, corriqueira, até, e tratam como se fosse um “grande ardil”.

      Mas esse pessoal da comunicação do governo é de fato muito amador.. Pode ser que depois desse episódio a coisa mude; ou, ao contrário, signifique que nada vai mudar, só os ocupantes do cargo.

      Era hora de cair de sola dizendo que basta de mentira e desinformação por parte da oposição e da imprensa… E manter um combate diário nessa área

      Mas, é claro que isso não vai acontecer…

       

  5. Aguardo aquelas análises que

    Aguardo aquelas análises que o pessoal sabe fazer. 62%? Isto tá com cara de pesquisa feita em Higienópolis, Jardins, Morumbi e Moema.

  6. A utiização do termo “circulo

    A utiização do termo “circulo de convencimento” é extremamente feliz. A mídia partidarizada, nesse sentido, é de uma esperteza invulgar. 

    Quando dão um informe positivo,  há sempre uma proposição adversativa na sequência: mas, porém, contudo, entretando. A inflação baixou MAS………….. Aumentaram as vagas nas creches, PORÉM………

    No jornal HOJE da Globo, por exemplo: 

    Noticiário sobre a solenidade no Planalto na qual a presidente assina propostas de Lei e Emenda à Constituição tendo por escopo o combate a corrupção. Na sequencia o apresentador pede a intervenção da repórter em Brasília. Qual a sua primeira fala? Invocação de medidas do mesmo teor já feitas no passado(nas entrelinhas: só mais blá blá blá) e informes acerca da Operação Lava Jato, citando, inclusive a quantia assombrosa de quatrocentos bilhões de DÓLARES que supostamente estariam nos bancos da Suiça por remessas de fundos provenientes do escãndalo citado. 

    Eis como  se desqualifica, se deprecia uma notícia que supostamente seria favorável a parte contrária a ela, mídia.

     

     

  7. problema todo é o vício de querer falar bonito sem ser capaz…

    os que falam pelo governo raramente são diretos. Mesmo em situações em que se faz necessária a negação imediata, rodam, rodam, rodam, gracejam e mais confirmam do que negam

  8. Igualzinho a “pesquisa boca

    Igualzinho a “pesquisa boca de túmulo”, feita com propósito de alavancar a candidatura da Marina.  A Folha não consegue esconder seus propósitos golpistas.

    1. Acho que não.
      A inflação está

      Acho que não.

      A inflação está baixa, em torno de 7% ao ano. Não pode ser o motivo da instatisfação.

      Quanto ao desemprego, ele é de fato um problema. Mas não por que esteja alto demais, e sim porque está baixo demais, como muito bem diagnosticou o Armínio Fraga. O Deus Dinheiro requer sacrifícios humanos, e não vem sendo atendido a contento.

      Diminuir o desemprego ainda mais, além de ser muito difícil, só vai piorar a crise. E evidentemente, os compromissos políticos do governo com a classe trabalhadora tornam medidas recessivas realmente duras (não novas regras para o defeso ou acabar com a pensão viúva alegre) praticamente impossível.

      As pesquisas serão revertidas, mas isso exige medidas políticas de maior impacto.

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